Capítulo 1

2383 Words
10 anos antes - O que estão fazendo?- Pergunta a pequena Amanda, de apenas 8 anos de idade. - Nada que seja da sua conta.- Responde Arthur, seu irmão mais velho, revirando os olhos para demonstrar sua paciência. - Estão jogando?- Os olhos castanhos da garota brilham ao tentar olhar para a tela do notebook de Arthur, ainda que fosse estranho, pois eles sempre usavam controles para jogar, e nunca era no notebook. - Vai embora daqui!- Impaciente, Arthur fecha a tela e salta da cadeira, empurrando Amanda na direção do sofá que tinha em seu quarto. Nicolas, melhor amigo de Arthur, pisca aturdido, pois sabia muito bem o que vinha depois daquilo. O natural era que Amanda criasse o maior berreiro, fosse aos prantos contar para a sua mãe que Arthur a empurrou e que não a deixa " jogar" com eles. Verdade fosse dita, se a mãe de Arthur abrisse a tela do computador portátil, veria muito bem do que se tratava o conteúdo, e não tinha nada a ver com jogos. Pelo menos, não com os jogos convencionais. Agindo totalmente ao contrário do que Nicolas esperava, as bochechas da irmã caçula de seu amigo criaram um tom vermelho vivo tão ardente, que seria capaz de tocar fogo em mercúrio, o planeta mais próximo do sol. - Você é um... Um... Um...- Amanda, em seguida, levanta-se do sofá com um pulo, e se aproxima de seu irmão mais velho, apontando o seu dedo magrelo na direção do mesmo, enquanto pensava em um adjetivo adequado que o denegrisse. Ele revirou os olhos novamente e esperou pacientemente ( ou nem tanto) que ela concluísse sua frase. - Você é uma megera!- Por fim, berrou Amanda, acertando-lhe um chute no joelho que ele recém machucara jogando futebol. O mais velho praguejou todos os tipos de impropérios existentes e quase voou na própria irmã, se não fosse Nicolas a segura-lo. - Se encostar nela, seu pai acaba com você.- Disse Nicolas ao amigo. - Essa pirralha desgraçada!- Amanda deu de ombros, com indiferença. - Foi bem merecido, não se empurra uma dama.- Ela rebateu. - Uma dama? Uma dama não faz xixi na cama e sabe lavar a própria bunda!- Disse o menino, furioso, ainda acariciando o ponto que foi golpeado. Nicolas comprimiu os lábios para prender uma gargalhada. O mais engraçado era Arthur, com seus quatorze anos, discutindo com uma criança de oito. - Então isso significa que você é uma dama? Só porque sabe limpar a própria bunda? Pois saiba que você não lava direito, todo dia a casa fica com um cheiro horrível por sua culpa!- Aquilo já era demais para Nicolas suportar. Seu corpo chacoalhou inteiro devido à gargalhada que escapou. - Saia do meu quarto! Não vamos jogar com você, você é uma pirralha burra que não sabe fazer nada que preste.- Rosnou Arthur. - Quer brincar comigo, Nicolas?- Amanda ignorou as ofensas do irmão, dirigindo-se ao outro. - Ah...- Nicolas tentou falar que não, mas não queria magoar uma criança, ainda mais a irmã de seu melhor amigo. - O meu computador tem uma capa rosa, é mais bonito do que o dele.- - Acredito que seja- Foi tudo o que Nicolas conseguiu dizer, agora era Arthur quem estava rindo dele. - Mas podemos tomar chá com as minhas bonecas, hoje é aniversário da Clarice e mamãe está assando os biscoitos.- Amanda segurou uma das mãos de Nicolas e tentou puxa-lo.- Venha, vamos brincar com as minhas bonecas- - Vá, Nicolas, brinque com as bonecas dela.- Zombou Arthur, o que deixou o outro completamente vermelho. - Eu não vou brincar de bonecas, chame suas amigas.- Disse Nicolas, secamente. - Mas...- Amanda tentou argumentar. - Você está nos atrapalhando, por que não vai ajudar sua mãe a assar biscoitos?- Nicolas não quis ser tão grosseiro, mas a verdade é que sua masculinidade fora atingida, de uma forma ridícula, pelo comentário de Arthur, e ele acabou disferindo sua raiva na mais nova. - Quer saber? Não te convido mais para nenhum aniversário, nem para o meu! Eu odeio você!- Gritou Amanda, saindo do quarto às pressas. - Hum... Acho que a minha irmã foi a primeira garota que você magoou.- Arthur leva o indicador ao queixo, pensativo. - Vá para o inferno.- Resmunga Nicolas. - Se quiser voltar atrás, as bonecas estão esperando-o.- - Cale a boca e abra logo a maldita tela.- Nicolas revirou os olhos, já estava farto da brincadeira sem graça de Arthur. E Arthur fez o que o amigo pediu, achou melhor não provocá-lo mais. E os dois puderam voltar a assistir o que estavam assistindo, sem as interrupções de Amanda, ou qualquer outra pessoa. ... Março, 2019 - Você é um imbecil!- Amanda grita, enfiando o indicador no tórax do Theo, ao voltar-se rispidamente para trás. Ambos estavam parados na frente do prédio da moça, e ela ainda se perguntava de quanta experiência precisava, para entender que jamais entenderia os homens. - Foi só um beijo! Eu estava confuso e...- Ele percebeu que não adiantava tentar se explicar, nada justificava.- A culpa foi da Daphne, ela que me seduziu e...- - Quem tinha um relacionamento comigo era você, não ela.- Amanda cruzou os braços, olhando para aquele homem uma última vez antes de abrir a porta de vidro do prédio. - Espera... Você disse " era"? No passado?- Theo caminhou em sua direção, agarrando-a pelo cotovelo.- Mandy, não está sendo racional- Amanda puxou o braço bruscamente - Você faz parte do meu passado- - Não estou acreditando que vai terminar comigo por causa de um beijo, eu sou homem, Amanda, tenho as minhas fraquezas, mas é você quem eu amo.- Theo diminuiu a distância que havia entre os dois gradativamente, praticamente encurralando a Amanda na segunda porta de vidro que ela teria que passar para adentrar o prédio. - Se afasta, ou eu não respondo por mim.- Disse ela, trincando os dentes. - Não vou sair daqui até que me escute, é que resolvamos isso. Além do mais, o que você pode fazer?- Como resposta, Amanda acertou uma forte joelhada em suas partes íntimas, fazendo-o cair ajoelhado no chão. - Sua vadia!- Bradou, com suas mãos ainda ali. - Foi bem certeiro.- Uma voz conhecida veio da entrada da primeira porta. - Nicolas?- Indagou, surpresa. Obviamente era o Nicolas, que pergunta idiota. Eram aqueles mesmos olhos verdes, cabelos castanhos e sorriso malicioso. Ainda mais bonito, os anos lhe fizeram muito bem. Não que Amanda tivesse passado aqueles dez anos sem ver Nicolas, de forma alguma, ele e Arthur continuavam inseparáveis. - Esse aqui não é o seu namoradinho?- Ele perguntou com uma sobrancelha arqueada. Amanda apenas cruzou os braços, irritada. Odiou o fato dele ter falado “ namoradinho” no diminutivo, isso fazia com que ela se sentisse uma criança de dez anos. - Era o namorado dela, depois disso, não quero ver essa vadia nem pintada de ouro.- Respondeu Theo, ainda ajoelhado, com as mãos segurando o volume no meio de suas pernas. Antes que Amanda pudesse retrucar, Nicolas ergueu aquele homem pela gola da camisa, carregando-o porta a fora. - Acho bom aprender a tratar as mulheres com respeito, principalmente aquela dali, que é como se fosse minha irmã mais nova- Nicolas empurrou o Theo sobre o carro, sem economizar na força.- Eu não sei o que você fez com ela, mas a moça não quer falar com você, então vai embora- - Já entendi tudo com esse seu papo de " minha irmã mais nova", mas não tem problema, já fiz bom proveito, pode ficar com os meus restos para você- Em resposta, Nicolas acertou dois fortes golpes contra o rosto do Theo, e em sequência disferiu mais uma joelhada em suas partes íntimas. Amanda fez uma careta, pensativa. Chegou a conclusão que com certeza, o homem enfrentaria sérias dificuldades para produzir espermatozoides decentes. Se é que algo de decente poderia vim de Nicolas. - Você vai retirar agora o que disse!- Ele voltou a agarrar o outro pela gola da camisa.- Vai pedir perdão a ela!- Apontou o indicador para Amanda, que estava novamente na calçada da rua, de frente para o prédio. - E-eu...- Foi tudo o que o agredido conseguiu dizer, antes de ter novamente o nariz esmagado por Nicolas. - Quantas vezes terei que soca-lo para pedir perdão a Amanda? Estou disposto a fazer isso o resto da tarde.- Ele trincou os dentes, cerrando o punho pela quarta ou quinta vez. - Perdão, Amanda, eu retiro tudo o que disse!- Theo grunhiu, era difícil assumir o próprio fracasso diante da ex namorada e do amigo do irmão mais velho dela. - Fale mais alto.- Rosnou Nicolas, sacudindo o rapaz pela roupa. - PERDÃO, AMANDA, EU RETIRO TUDO O QUE DISSE.- Dessa vez ele gritou, dane-se caso todo o quarteirão tenha escutado. - Agora, você vai embora com o seu carro miserável e nunca mais vai se aproximar da Amanda novamente, você entendeu?- Theo engoliu em seco, e balançou a cabeça na mesma hora. - ENTENDEU?- Agora foi Nicolas quem gritou. - Entendi! Não chegarei mais perto dela!- Repetiu Theo, apressando-se em correr para dentro do carro, quando Nicolas o soltou. Com certeza ele ficaria sumido, aqueles dois olhos roxos demorariam a normalizar. Nicolas encarou a irmã caçula de seu melhor amigo, ainda estava perplexa com o que acabara de acontecer, emudecera completamente. Ele caminhou para próximo da garota, envolveu um de seus braços ao redor do corpo da garota e conduziu-a para dentro do prédio. ... Os dois permaneceram quietos durante todo o caminho para o apartamento, para Amanda, estava um pouco desconfortável todo aquele silêncio, quanto a Nicolas, não parecia se importar muito, era muito raro algo deixá-lo desconcertado. Quando o elevador abriu, Amanda deparou-se com a última pessoa que gostaria de encontrar naquele momento, aquela que um dia fora sua amiga de infância. - Daphne.- Disse mais para si mesma do que para a moça em questão. - Mandy.- A garota de cabelos loiros e olhos negros, esperou até que Amanda saísse do elevador para abraçá-la. E a abraçou, ou melhor quase, mas tentou. Como se nada tivesse acontecido. Como se não tivesse beijado o Theo só para fazer a Amanda sofrer. Levada por uma raiva incontrolável, Amanda agarrou os braços da outra no ar, apertando o local até que seus dedos deixassem marcas vermelhas. - Não adianta fingir que está feliz por me ver, você é falsa demais até para ser diplomática. Não somos amigas desde o primeiro ano do ensino médio, e você deixou muito claro que minha amizade não te interessa.- Amanda foi afrouxando os dedos que ainda pressionavam a pele da garota. - Queria dizer que sinto muito pelo término, você sempre teve dificuldades em manter um relacionamento... Deve ter herdado isso de sua mãe.- Daphne pretendia que sua frieza e indiferença ao falar aquelas palavras, magoassem Amanda profundamente. Ela odiou Amanda desde o momento em que entraram na puberdade. A outra sempre chamava mais a atenção dos garotos, principalmente de um em especial, o Theo. Daphne gostava dele secretamente, não tinha coragem nem de falar para si mesma em voz alta. Na época, ela era só uma magrela desengonçada, enquanto Amanda, era linda e curvilínea. Com o tempo, Daphne também foi reformando, se tornou uma linda garota. Agora, era a hora perfeita para dar o troco. Além da traição, aquelas palavras seriam o grand finale. Até seriam, se Amanda não tivesse reagido. Amanda prontamente cerrou os dedos, girou o punho e o levou diretamente de encontro ao nariz da Daphne. Nicolas, que até então assistia quieto a interação das garotas, arregalou os olhos surpreso, agora teria que separar uma briga de duas mulheres furiosas. - Você é uma filha da p.u.t.a, Amanda Delyon.- Bradou Daphne, segurando o nariz com uma das mãos, em seguida, tirando-a para olhar o sangue que escorria entre seus dedos. Ela não deixaria aquilo barato. Também cerrou o punho da mão que estava livre, e tentou revidar o golpe, mas Amanda a segurou com maestria, e a empurrou contra o quadro que tinha no corredor. - Acho que isso já foi o suficiente.- Calmamente, Nicolas, com seus quase dois metros de altura, caminhou para o meio das duas garotas que estavam prestes a se engalfinhar. - Saia da frente!- Gritou Daphne, com os olhos fuzilando fúria. - Quer apanhar mais?- Amanda cruzou os braços de uma forma insolente, retesando o maxilar para ficar mais intimidadora. - Eu disse para as duas que já CHEGA!- O tom de voz de Nicolas foi um tanto ácido para o cara brincalhão que sempre foi. Daphne sabía que era inútil continuar perdendo tempo com aquilo, por isso, pisou duro até o outro elevador, enquanto Amanda se limitou a respirar fundo, e se voltar para a porta de sua casa. Por que aquela criatura detestável precisava morar justo no mesmo prédio que ela, e o p.i.o.r, ser sua vizinha de porta. Amanda odiava esses tipos de discussões, mas foi a outra quem começou com as provocações, ela apenas continuou. - E então, galo de briga? Será que podemos entrar?- Perguntou Nicolas, não resistindo a oportunidade de alfinetá-la. Amanda o olhou de cara f.e.i.a, antes de tomar a iniciativa de passar a chave na fechadura, e puxar a maçaneta da porta. - O Arthur não está aqui, com certeza ele...- Disse a garota, enquanto caminhava pela sala de estar, indo até o sofá espaçoso e confortável, que estava a alguns metros. - Deve estar no próprio apartamento, eu não sei, não vim aqui para ver seu irmão.- Nicolas encostou-se na pilastra que tinha no meio da sala, com um sorriso de lado. - Não? Então o que veio fazer?- - É assim que recebe um convidado?- Amanda suspirou, pesarosa. Ele tinha razão, e graças a essa aparição que ela foi salva das garras de Theo, e nem lembrou de agradecê-lo. - Eu vim para o aniversário de sua avó, o Arthur chegará em poucos minutos.- Ele responde, cansando de torturar a Amanda. - Obrigada por me defender.- - Se meter com você, é como se meter com a minha irmã caçula, eu sempre vou te defender.- Ele bagunçou-lhe o cabelo, exatamente como fazia quando ela era criança. Mas Amanda não tinha mais oito anos.
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