O mundo tinha resolvido girar pro lado certo.
GIOVANNA HERNANDEZ
Deixe-me resumir um pouco da minha vida aqui para que possam entender melhor.
"Eu sou uma bastarda e não mereço o melhor da vida". Essas são palavras do meu pai de criação.
Quando tinha dezessete anos de idade meu pai deu a minha mão para o desprezível herdeiro de Nova York, para que podesse expandir território e poder. Ele não ligava para mim! Tudo que ele queria era se livrar da bastarda que ele teve que criar como filha para não perder o respeito dos anfitriões da máfia. E foi então que todo o pesadelo começou com o meu futuro marido.
Tem coisas que eu não posso contar e isso acaba comigo, pois eu realmente preciso de ajuda, e olha que eu não sou de assumir fraqueza pra ninguém. É sempre mais fácil deixar uma máscara a amostrar do que contar a verdade e causar uma guerra. Nunca foi fácil para mim saber que não era bem vinda na própria casa, e isso fez eu criar uma força dentro de mim muito cedo e é por isso que estou viva até hoje.
Eu sou humilhada quase todos os dias e hoje tenho que fingir melhor do que nunca que estou felize. Hoje é o meu jantar de noivado e até o capô está presente e tudo que eu queria era fugir para longe, mais o motivo que me faz passar por tudo isso roda a minha cabeça como sempre. Estou na varanda da minha casa quando sinto uma presença atrás de mim.
ALEJANDRO MUÑOZ Narrando
Eu a encontrei de costas, na varanda, sentada de cabeça baixa e olhando tristemente para as mãos. Percebi que ela tentou, a todo custo,disfarçar sua decepção, só que falhou miseravelmente.
Encostei-me na parede, ao seu lado, puxei meu Zippo do bolso e acendi um cigarro para relaxar, olhando-a com curiosidade e tentando entender o que se passava em sua mente. Ela parecia perdida, em algum lugar longe dali.Um soluço solitário lhe escapou e eu vi o momento em que suas lágrimas escorreram pelo seu rosto de porcelana.
Aproximei-me dela e passei, em silêncio, as pontas dos meus dedos sobre sua bochecha, querendo limpar, junto com suas lágrimas, a dor que ela estava sentindo. Sua postura mudou quando notou que não estava sozinha e,imediatamente, a sua fisionomia também, tornando-se fria e desdenhosa. Giovanna era tão transparente para mim quanto a água.
Sentindo seu sofrimento tão palpável, o instinto de proteção tomou conta de mim. Tudo que eu queria era fazê-la se esquecer de tudo que estava acontecendo imediatamente. Mas, como? Ela estava noiva daquele babaca.
— Sabe? Você não parece feliz aqui fora. — puxei conversa,acompanhando, com fascínio, uma miríade de sentimentos cintilar em suas
írises.
— Engano seu. Estou emocionada. — seu tom soou esnobe, porém pude ouvir o tremor em sua voz. Sorri com a rapidez de como ela arrumou uma justificativa, sabendo que sempre iria negar, até a alma, que teve um momento de fraqueza.
— Vejo que sim. Acredito que sempre sonhou com esse momento- Uma faísca de tristeza cruzou seu rosto e, rapidamente, foi substituída por determinação. Máscara! Ela usava sempre uma.
— Acha mesmo que eu, Giovanna Hernandez, iria me sujeitar a uma cerimônia pobre como essa?
— Tenho certeza que não. Você é do tipo que gosta de grandeza, pompas e muito luxo. — falei com sarcasmo.
— Claro. Já que terei que me casar com um homem que não amo,mereço o melhor.
— Com certeza merece, linda. Mas acontece que esteve investindo na pessoa errada o tempo todo.- Ela me olhou por alguns segundos, séria, e depois estalou a língua.
— Do que adianta planos se, em breve, serei entregue como um cordeiro ao Miguel?
— E aceitará tudo calada? Estou decepcionado com você. A Giovanna que
conheci na infância e na adolescência demonstrava ser forte e jamais abaixaria a cabeça para concordar com um destino desse. — Pensando bem,não via aquela Giovanna há tempos.
— Não tenho escolha.
— É óbvio que tem. E está bem aqui, na sua frente, gata. — Apontei para mim. — Sou muito melhor do que o babaca do seu marido. Eu tento te dizer isso há anos e você nunca me dá uma chance.
— Dar uma chance para você? Ficou louco, Alejandro? — zombou de mim, deixando-me puto.
— Sim. Qual é o seu problema comigo?
— Não é óbvio? — Revirou os olhos.Sorri, revoltado e entendendo onde ela queria chegar.
— Não sou da máfia — pronunciei as palavras que sabia que ela iria me falar.
— Não é isso. É que... — Suspirou. — Você não iria entender meus motivos. Sem contar que é filho do irmão do capo. Não quero mais nenhum problema na minha vida. Já é doloroso demais vê-los nos eventos juntos, e tendo que suportar muitas coisas.
— Covarde! — acusei.
— O quê? — Olhou-me confusa.
— Prefere ficar chorando pelos os cantos e se casar com outro que te viu algumas vezes na vida, em vez lutar pela sua liberdade? — sem pena, taquei na sua cara.Eu a queria. Ela não podia ver isso?
— Quem pensa que é para me criticar, Alejandro? — Fechou as mãos em punhos e se levantou para me enfrentar. Agora sim! Essa era a Giovanna que sempre admirei e por quem meapaixonei no passado. Aproximei-me dela, puxando-a para mim, e acariciei seu rosto com a ponta de um dedo, elevando-o à altura do meu.
— Eu serei aquele que mostrará a você o quanto um Moretti é gostoso e sabe satisfazer uma mulher na cama e fora dela.- Seus olhos se arregalaram e ela lambeu o lábio inferior.
— É muito atrevimento! — Empurrou-me e se afastou, tentando negar que não mexi com ela, sendo que sua respiração descompassada e bochechas ruborizadas a entregavam.Sorri de felicidade ao constatar que ela não era tão imune a mim quanto
pensei ser.
— Se quiser ter uma vida cheia de aventuras selvagens, esse cara sou eu. Venha comigo! E juro que farei meu melhor para te fazer feliz. Mas, se quer viver em um casamento arranjado e fadado ao fracasso, vá em frente! —Virei-me para sair dali antes que me humilhasse ainda mais.Antes de eu alcançar a porta, ela segurou em meu braço, e vi em seus olhos um brilho quase desesperado. Não sabia como fazê-la se abrir comigo e
me dizer o que estava a perturbando, porque parecia estar tão perdida. Era muito óbvio para mim que havia algo de errado a acontecendo. Após anos me mantendo afastado, ainda conseguia enxergar dentro dela. Como ninguém mais percebia?
— Talvez você tenha razão em uma coisa. — afirmou.
— Em que seria? — Levantei uma sobrancelha, questionando-a.
— Eu sou dona do meu corpo e não irei dar ao meu futuro marido algo que não o pertence. Guardei minha virgindade para a pessoa que eu iria me apaixonar e veja o que recebi em troca! -Como é? Eu a encarei incrédulo.
— Conte outra, Giovanna! Nunca foi santa. Duvido que tenha algo virgem em você ainda. — Mentiras para cima de mim não! Tudo, menos isso.
— Não ligo se acredita. Quero te pedir um favor. — Desviou os olhos de mim, envergonhada. — Quero somente uma vez com você. Depois esqueceremos de tudo e voltaremos a ser como antes.- Foda-se! Ouvi direito? Meu pau deu sinal de vida e meu coração falhou uma ou duas batidas. Ela me queria. Uma única vez, mas, ainda assim, havia me escolhido.
— Está falando sério? — indaguei embaraçado.Ela foi de uma menina frágil a uma mulher vulgar em um estalar de dedos.
— Como nunca falei antes.
— É só me dizer quando e onde, minha bela, e eu estarei lá.- Puta que pariu! Meu momento havia chegado.
— Aqui e agora.- Abri a boca, espantado com sua audácia. Antes que eu conseguisse
fazer qualquer questionamento sobre sua decisão, vi ela tomar coragem e dar dois passos para a frente, jogando-se em cima de mim.