Capítulo 3

2029 Words
  "Isso é realmente necessário?" Eu estava no final da fila, tremendo, puxando desesperadamente a barra da minha saia, tragicamente curta. Eu praticamente sentia que, se abrisse a boca para falar, minha calcinha estaria completamente à mostra.   "Querida, pagamos uma fortuna para entrar nesse lugar. É claro que vamos com tudo. Você não entende?" declarou Yvaine, como uma rainha da máfia, enfrentando o vento gelado em seus saltos de cinco polegadas sem demonstrar o menor medo.   "Mas isso não é um pouco demais—" Nem terminei a frase antes de uma rajada brutal de vento me acertar no rosto como se tivesse um rancor pessoal. Imediatamente fechei o zíper da minha jaqueta de pluma e me encolhi como um camarão congelado.   Yvaine soltou um gemido dramático. "Mira, vamos lá. Estamos indo para um bar, não para uma expedição ao Ártico."   "Eu só estou feliz por não ser hospitalizada por hipotermia esta noite, valeu," retruquei.   Ela revirou os olhos com tanta força que pensei que pudessem cair, me lançou um olhar cheio de decepção—mas não disse mais nada. Pequena vitória. Minha jaqueta estava a salvo—por enquanto.   Eu pensei que teríamos que esperar na fila como todo mundo. Esse era o motivo para eu ter vestido esse verdadeiro forte térmico. Mas claramente, subestimei Yvaine.   Ela não tinha planos de seguir as regras.   Com a desenvoltura de quem já fez isso mil vezes, ela deslizou uma nota enrolada na mão do segurança, sua palma roçando casualmente o peito rígido dele, como uma Bond girl que esqueceu seu martini.   Dez segundos. Foi o que levou. Estávamos dentro.   Yvaine era daquele tipo de beleza que fazia os homens esquecerem o protocolo—e a ética—num instante.   E assim, entramos no Roxanne.   O lugar estava imerso em calor, perfume e o aroma efervescente de champanhe. Arranquei minha jaqueta no segundo em que entramos, apenas para ser recebida com um olhar de "você está tentando me envergonhar?" da Yvaine.   Ela entregou seu casaco para um garçom que passava com um simples gesto de dedos, como se o tivesse contratado pessoalmente. Elegante, sem esforço, nascida para isso.   Tentei imitar seus movimentos. Falhei miseravelmente. Quase deixei minha bolsa cair e tropecei como um hamster que acabou de acordar de uma soneca no congelador.   Elegante? De jeito nenhum. Eu parecia um acidente de trânsito usando saltos da Gucci.   Se eu não soubesse que cada coquetel aqui custava quase o mesmo que o saldo da minha conta, até poderia convencer a mim mesma de que estava arrasando.   "Meu Deus do céu!" eu arfei, olhando para o cardápio como se ele tivesse ofendido toda a minha ancestralidade.   Yvaine me lançou um olhar de lado e deu uma risadinha. "Relaxa. Hoje eu que pago."   Soltei um suspiro que quase parecia gratidão. Considerando que eu quase tinha cancelado um noivado, arriscado ser exilada em uma ilha tropical pelos meus pais, e precisava economizar para comprar repelente, toda ajuda era bem-vinda.   Esquecendo dos preços, a vista era de primeira: jovens atores ambiciosos, modelos absurdamente bonitos, e um batalhão de caras de finanças que pareciam dar palestras TED vestindo Burberry. Era um bufê brilhante de vaidade e hormônios, envolto em luzes de veludo e a ilusão de poder.   Encontramos uma mesa perto do bar e nem tínhamos pedido algo para beber quando o barman nos notou.   Bem, ele era impossível de ignorar—alto, traços esculpidos, mangas arregaçadas até os cotovelos, só o suficiente para exibir os antebraços bem cuidados.   Ele não devia estar preparando drinques—devia estar no Louvre. Ou, no mínimo, estrelando a nova campanha de fragrância da Dior. Talvez fosse por isso que esse clube era tão caro: até a equipe precisava ser perfeita.   "Dois French 75, com conhaque francês."   Antes que eu pudesse sequer procurar a bebida mais barata no cardápio, Yvaine já tinha feito o pedido ao barman. "Capricha."   E, claro, não se esqueceu de dar seu sorriso característico—aquele que ficava perfeitamente entre sedutor e inocente, com o queixo inclinado só o suficiente para dizer "Ops, não queria flertar."   O barman alcançou o gim com facilidade, dando a ela um meio sorriso. "Noite difícil?"   "Mais para um desastre no nível de noivado," ela disse, casualmente apontando o polegar para mim. "E está prestes a acabar."   Olhei para ela. "Encantada que minha vida pessoal agora é um programa de rádio."   Ela deu um tapinha na minha mão com falsa simpatia. "Querida, este lugar vive de catástrofes românticas. Sem decisões ruins, ninguém compraria bebidas."   Então ela se afastou e sumiu na multidão, ativando o modo Rainha Social como se alguém tivesse apertado um botão.   Em menos de dez segundos, ela fez uma varredura visual—como um falcão focando na presa—antes de se virar de volta e apontar seu dedo perfeitamente manicure para a beira da pista de dança.   "Ok, ouça. Você precisa de um revival. Exemplo A: um metro e noventa, cabelo mais arrumado que a bússola moral do seu ex-noivo, camisa desabotoada na medida certa pra ser sexy sem parecer vulgar. Ele tem um iate ou, no mínimo, um cartão VIP."   Balancei a cabeça. "Não."   Seus olhos se moveram para uma nova direção. "Exemplo B: músico em crise. Vestido como se o salário ainda não tivesse caído, mas ele é tão atraente que você perdoaria. Você patrocinaria o próximo álbum dele e ainda dormiria tranquila."   "Passo."   Ela suspirou, depois apontou de novo. "Tá bem. Exemplo C: total 'vibes' de pai — mas do tipo bom. Como 'marca sua consulta no médico e faz seu café da manhã', não o tipo que chama a garçonete de 'querida' e acha que aquecimento global é mito."   Gemí com as mãos no rosto. "Yvaine, por favor."   Ela não recuou. "Mira, você não pode ficar aqui como um enfeite de parede. A noite é pra dar um reboot na sua vida, não pra ficar lambendo feridas emocionais."   Bem quando ela se preparava para mais uma rodada de sugestões de 'revival', de repente congelou. Era como se alguém tivesse colocado seu sistema no mudo.   Então, casualmente demais, ela disse: "Ei, quer ir ao banheiro?"   Estreitei os olhos. "Não?"   "... Ou talvez mudar de mesa? O clima aqui tá meio esquisito." O sorriso dela estava tenso, e a voz soava como um par de sapatos desgastados.   Sentimos um clima estranho? Estávamos sentados há apenas dez minutos e tínhamos acabado de pedir bebidas. Pelo padrão da Yvaine, nem tínhamos passado da a******a.   Então, segui o olhar dela.   Uma cabine semi-privada.   Rhys.   Ele estava com o braço ao redor de uma mulher. A cabeça dela repousava em seu ombro, maquiagem impecável, sorriso polido e natural.   Eu não precisava de mais detalhes.   Aquele rosto—eu nunca esqueceria.   Quatro anos atrás, uma garota desapareceu sob circunstâncias misteriosas. Eu, em toda a minha ingenuidade, acreditei que ela simplesmente tinha "se afastado", optando por se retirar altruisticamente de um futuro com Rhys.   E agora, aqui estava Catherine—acomodada no colo do meu ex-noivo, numa pose tão íntima que parecia menos um encontro casual de bar e mais uma versão barata de Cinquenta Tons de Cinza.   Eu me convenci de que tinha superado isso. Superado ele. Terminamos. Acabou. Hora de seguir em frente.   Até ouvir o que veio a seguir.   "Sinceramente, eu não achei que ela ia desmoronar por causa de uma caneca."   A voz de Catherine era suave, cheia de falsa piedade—aquela que parece que ela acabou de matar alguém e agora está gentilmente cobrindo o corpo com um cobertor.   Ela girava delicadamente o vinho em sua taça, os lábios se curvando em um sorriso quase perfeito. "Claro que coloquei aquela caneca em um lugar óbvio. Queria que ela percebesse. Afinal, ela ainda não sabe que você está me vendo pelas costas dela. Estava na hora de ela perceber uma dica, não estava?"   Ela olhou para Rhys, olhos brilhando de admiração. "Mas, sinceramente, querido, sua atuação foi impecável. Até eu quase acreditei que você estava preocupado que ela descobrisse sobre nós, em vez de apenas me ajudar a encenar. Ela é tão burra—é claro que achou que você estava chateado com a caneca, não apavorado de expor o caso."   Rhys deu uma risadinha, satisfeito e relaxado. "Tive que fingir que me importava. Ela passa todos os dias tentando ser a namorada perfeita. Se ela descobrisse que todo o esforço dela ainda não se compara a você, ela ficaria descontrolada."   Catherine riu baixinho e deu um tapinha no peito dele. "Não se preocupe. Conhecendo a Mira, ela provavelmente ainda está se esforçando para consertar as coisas. Ela é do tipo que sempre acredita que se tentar o suficiente, as pessoas finalmente verão seu valor."   A risada dela se tornou suave, mas com um tom de pena tão afiado que parecia uma lâmina. "Mas quanto mais ela tenta, mais patética parece. E eu? Eu só 'aconteci' de voltar para casa. Os pais dela não sabem de nada. Eles nem tiveram a chance de me impedir. Amanhã, vou vê-los em plena luz do dia—porque ela mesma desistiu do noivado, e você, querido, não tem culpa."   Catherine se recostou com um suspiro triunfante. "Não é o melhor desfecho? Eu nunca desisti de você. Só estava esperando ela sair do caminho."   Rhys assentiu devagar, com um pequeno sorriso nos lábios. "Você tem razão. Você sempre tem."   Um som ensurdecedor reverberou nos meus ouvidos, e senti meu coração batendo forte contra meu crânio como um tambor de guerra.   Yvaine devia estar dizendo algo—implorando para eu manter a calma, para não fazer nenhuma besteira—mas eu não ouvi uma palavra.   Eu já não era mais a mesma Mira que engolia o orgulho por elogios.   Soltei-me do aperto de Yvaine e me virei para o bartender. "Seu melhor vinho tinto. Coloque na conta do Rhys Granger."   O bartender—abençoada seja sua alma bela e rebelde—nem piscou. Ele me entregou a garrafa como se eu tivesse acabado de pedir água mineral.   Com a garrafa na mão, eu tinha uma missão. Um único e ardente propósito.   O segurança tentou me parar, mas ao ver meu rosto—como uma deusa vingativa saída diretamente do inferno—ele sabiamente recuou, mãos levantadas em rendição.   Eu marchei direto para Rhys e Catherine. Eles estavam aos beijos como numa cena dramática de novela de quinta categoria.   Levantei a garrafa—e a quebrei, com toda a força.   O vidro estilhaçou com um estalo agudo, espalhando-se pela mesa. A testa de Rhys se abriu instantaneamente, e um rastro de sangue começou a escorrer entre as sobrancelhas dele.   Catherine gritou e saltou do colo dele. "Mirabelle?! Você ficou maluca?! O que você está fazendo aqui?!"   Ela se esforçou para inventar uma mentira, o pânico aumentando em sua voz. "Você está entendendo errado, não é o que parece—"   Rhys a interrompeu, sua mão apertando o braço dela, o olhar frio e sombrio. "Não se preocupe em explicar, Catherine. Não importa. Meus pais sempre vão ficar do seu lado, não importa o que aconteça. Estamos apenas corrigindo um velho erro."   O pânico de Catherine se transformou em presunção num instante. Ela se aconchegou ao lado dele com uma doçura enjoativa e murmurou carinhosamente, "Ah, querido, sua cabeça está sangrando. Precisamos ir ao hospital."   Antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, Yvaine correu até meu lado, irada, transbordando de fúria. Ela levantou a mão, pronta para dar um tapa em Catherine para mandá-la de volta ao buraco de onde ela tinha saído. "Sua nojenta, falsa—!"   Eu agarrei seu pulso, firme e sereno. "Yvaine, deixe que eles vão. Se ficarem aqui mais um segundo, posso perder o apetite para sempre."   Fixei meu olhar no rostinho presunçoso de Catherine e levantei minha voz deliberadamente. "Afinal, o tema deste local é bom gosto premium, não uma seção de liquidação para lixo de segunda mão."   O sorriso de Catherine congelou nos lábios. O rosto de Rhys escureceu, mas eles não tiveram chance de responder.   Yvaine, encorajada, ergueu o queixo e sorriu com desdém para os seguranças. "E então? O que estão esperando? Por favor, acompanhem essas violações ambulantes do código de saúde para fora das instalações."
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