Capítulo 5

1562 Words
  "Precisamos conversar."   Ele estava parado na minha frente, com a voz inquietantemente calma — como se estivesse anunciando que a geladeira quebrou, e não que eu o tinha jogado na cama na noite anterior.   Conversar?   Meu cérebro começou a processar as possibilidades imediatamente. Conversar sobre o quê? Um debriefing? Uma avaliação? Será que ele estava propondo algum tipo de... "parceria s****l a longo prazo"?   Definitivamente não era uma proposta. Esse tipo de coisa só acontece em novelas escritas por pessoas com mentes desesperadamente românticas.   Será que ele estava preocupado que eu me apegasse a ele?   Afinal de contas — fui eu quem começou isso.   Fui eu quem o tirou do bar.   Fui eu quem abriu a porta do hotel.   Fui eu quem o prendeu sem pensar duas vezes.   "Olha," eu disse, adotando o tom mais maduro e responsável que consegui, "a noite passada foi um erro. Um erro impulsivo e imprudente, mas... inegavelmente prazeroso."   Tentei não olhar para os ombros dele. Nem para o peito. Nem para as gotas de água escorrendo pela clavícula, passando sobre músculos esculpidos.   "Não vou pedir que você assuma responsabilidade. Não vou ligar chorando por causa de trauma emocional. Não sou esse tipo de garota."   Ele não disse nada.   Sem perceber nenhuma reação, me virei para a porta — tentando uma saída graciosa, completa com um monólogo de encerramento.   Mas, assim que minha mão tocou na maçaneta, uma palma quente e úmida pousou sobre a minha. Eu fiquei paralisada. Lentamente, me virei.   Ele me olhava com uma expressão que eu não conseguia decifrar—uma mistura de surpresa e... seriedade.   "Você não se lembra de mim?" ele perguntou suavemente.   Eu pisquei, pega de surpresa. Respondi rápido, quase na defensiva: "Claro que lembro. Você é meu novo vizinho. Me ajudou a encontrar minha chave na outra noite."   Tecnicamente verdade. Totalmente preciso.   O que eu não disse—e nunca diria—era que, mesmo sem essas interações triviais, eu me lembrava dele.   Aquele rosto era inesquecível.   Ou, mais precisamente, aquele rosto na minha frente só de toalha branca, com água pingando pelos músculos... é. Não era algo fácil de apagar da memória.   Engoli em seco.   O truque era: não olhar diretamente pra ele. Como um eclipse.   Pena que essa estratégia tinha falhado completamente.   Pior ainda, mesmo estando completamente vestida e ele praticamente nu, de alguma forma, sob seu olhar, eu era quem me sentia completamente exposta.   Tentei falar—dizer algo, qualquer coisa para mudar o foco.   Mas ele não insistiu. Apenas ficou ali, me observando, como se esperasse pelo momento em que minha verdadeira reação finalmente viria.   O silêncio se prolongou.   Então ele disse: "Tudo bem. Não importa."   Pisquei. Como assim?   "Posso ir agora?" perguntei secamente. A mão dele ainda não tinha se movido.   Ele me olhou de novo, então, sem pressa, disse:   "Quer se casar comigo?"   ...   O quê?!   "Você não tá falando sério." Finalmente encontrei minha voz.   "Estou totalmente sério," ele respondeu, como se estivesse anunciando o relatório financeiro do trimestre. "Acabei de voltar para o país. Meus pais querem que eu me case o mais rápido possível. Para eles, um homem casado significa estabilidade. E só um homem estável pode herdar os negócios da família."   Fiquei em silêncio.   Dois dias atrás, prometi a mim mesma que apresentaria alguém melhor do que o Rhys. Alguém impressionante o suficiente para calar a boca dos meus pais. Agora, o universo me enviou uma resposta—só que com uma dose bem carregada de ironia.   Mas eu sabia.   Casamento não deveria ser assim. Já tinha passado por um noivado sem amor uma vez. Tudo o que deixou foi uma casa cheia de silêncio, i********e vazia e uma lenta e brutal erosão do meu respeito próprio. Abri a boca para dizer não. Mas nesse momento, meu celular tocou. O toque agudo cortou o silêncio como uma faca. Olhei para a tela - e senti como se uma bomba tivesse explodido no meu peito. Caroline Vance. Minha mãe. Catherine estava de volta. Ela devia ter ligado para anunciar algo importante. Olhei para aquele rosto - familiar, mas distante - depois para o meu celular. E finalmente, disse as palavras: "Eu não posso aceitar." Saí da suíte do hotel, com o toque ainda ecoando atrás de mim.   Eu respondi, não porque queria, mas porque precisava — desesperadamente — cortar o laço que continuava me puxando de volta ao passado.   "Por que não atendeu o telefone? Você estava tentando me matar do coração?"   A voz da minha mãe veio rápida, como uma metralhadora.   "Pensei que estava morta numa vala ou sequestrada por algum louco! Venha para casa. Agora. Precisamos conversar."   "Já estou a caminho," eu disse friamente, desligando antes que ela começasse a segunda rodada.   Passei para o motorista o endereço dos meus pais e desabei no banco de trás, como alguém se preparando para uma colonoscopia sem anestesia.   Certo. Vamos acabar logo com isso.   Meu vizinho — também conhecido como minha aventura de uma noite — provavelmente era louco.   Mas enquanto ainda houvesse um pingo de coragem induzida pelo álcool no meu sangue — enquanto a antiga Mira, desesperada por amor, não retornasse —, eu tinha que agir rápido.   Eu tinha que jogar essa bagunça destruída bem na cara perfeita deles.   A residência da família Vance ficava num enclave suburbano que não dava boas-vindas a quem não podia bancar um BMW. Sem estações de metrô. Sem rotas de ônibus. Apenas um elegante "fiquem fora, pobres."   No portão de ferro forjado, respirei fundo. Eu me sentia como um boxeador entrando no ringue. Ombros erguidos. Queixo para cima. Armadura emocional no lugar.   No momento em que entrei na sala de estar, pude sentir a emboscada.   Meu pai — Franklin Vance — estava sentado sozinho em sua poltrona de couro, com a mesma expressão que provavelmente usava para demitir gestores de fundos de investimento que não atingiam as metas.   Ao lado dele, minha mãe, Caroline, com seu cabelo perfeito e colar de pérolas perfeitamente alinhado, sorria como um médico quando diz: "O câncer se espalhou."   À esquerda, Rhys estava sentado no sofá, todo sério e pensativo, como se estivesse esperando um advogado de divórcio lhe dar direção sobre sua próxima pose. E à direita? Catherine, claro. Tudo que faltava era um martelo e uma taquígrafa do tribunal. Isso era um julgamento. Eu era o réu. E o veredito já estava escrito. Foi minha mãe que começou. "Por que você demorou tanto? Eu te liguei há horas." Ela cruzou os braços, o tom mais frio que o ar-condicionado. "Trânsito," menti. Se eu contasse que tinha acabado de escapar de um cara enrolado numa toalha, me internariam. "Então? Por que estou aqui?" Meu tom era afiado, congelado. Ninguém respondeu. Não até que Rhys se levantou, ainda com um curativo na testa.   Ver ele com uma expressão ligeiramente machucada me trouxe uma pequena e sombria satisfação.   "Você deixou isso lá em casa," ele disse devagar, segurando algo na mão. "Seu despertador de urso."   Eu olhei para ele.   Um despertador eletrônico barato e desgastado em forma de urso de desenho animado, sua face de plástico arranhada e desbotada após mais de uma década de uso.   E agora, esse era o trunfo deles?   A raiva subiu na minha garganta, mas eu a engoli.   "Obrigada," falei secamente. "Que... consideração."   Agarrei o relógio ridículo e me virei para sair.   Vamos lá. Ninguém marca uma reunião de família só para devolver um despertador. Eu sabia bem. Isso era sobre humilhação. Sobre me colocar no meu lugar.   Eles eram a verdadeira família.   Eu sempre fui a de fora—convidada apenas quando precisavam de um reserva.   "Espera," minha mãe disse, a voz ainda mais gelada do que antes.   Eu parei. Não me virei.   Ela cruzou os braços de novo e sorriu—um sorriso tenso e venenoso que só se vê quando um médico diz "Estágio quatro".   "Agora que a Catherine está de volta," ela disse, "e já que você e o Rhys terminaram, achamos que é hora—ele e a Catherine devem ficar noivos."   Dei uma risada curta e sem humor. Virei-me devagar, deixando o sarcasmo escorrer dos meus lábios.   "Por favor, façam o que quiserem. Não é como se vocês já tivessem pedido minha opinião antes."   "Nós costumávamos pedir," ela retrucou, a voz afiada, "quando você ainda era a filha sensata. Aquela com potencial."   Ela se aproximou mais.   "Você é muito emocional, Mira. Sua insegurança te deixou paranoica—acusando o Rhys, tentando controlá-lo. Você não confiou nele, e foi isso que destruiu o relacionamento."   As palavras dela eram como lâminas.   Leves no tom.   Implacáveis no efeito.   "Então, isso é culpa sua.   E você vai deixar isso claro na imprensa.   Diga a eles que você se apaixonou por outra pessoa.   Foi por isso que você terminou o noivado."   Congelei.   Algo se rasgou dentro do meu peito—como se tivessem despedaçado com as próprias mãos.   Olhei para eles—todos eles—meus pais, Rhys, Catherine. Tão calmos. Tão deliberados. Como se fosse um script que ensaiaram por semanas. O que eu fiz para merecer isso? Onde foi que eu errei tanto? Eu estava prestes a explodir. A sair correndo. Mas foi então que meu pai finalmente se levantou. Como um juiz se preparando para ler a sentença. "Você não precisa se preocupar em encontrar alguém novo," ele disse com uma certeza absoluta. "Já fizemos os arranjos—"
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