"Jacob, você podia pedir para sua sanguessuga ser mais discreta! O Ithan a viu chegando lá na praia e percebeu que ela não era quileute, nem loba e nem humana!" — pensei, ralhando com ele, depois de ouvir um longo discurso de como era bom que eu tivesse um imprinting, que ele queria me ver feliz, que achava que agora eu poderia voltar a ser aquela Leah feliz de antes do Sam se transformar, e mais um monte de blá-blá-blá que eu fingi que estava prestando atenção.
Paul nem falou nada. Queria acreditar para ver se realmente o imprinting iria mudar alguma coisa em mim.
"Você sabe que a Nessie confia nos quileutes, mas acho de depois dele me ver se transformando na sua frente, explicar que ela era uma meia-vampira seria demais..." — debochado.
"Mas eu não falei nada sobre ela. Disse que no tempo certo vocês contariam, afinal, esse segredo não é meu e eu não saberia nem por onde começar a contar tudo" — História estranha.
Esses espíritos fizeram o Jacob sofrer muito, coitado. Aguentou tanta dor quanto eu e ainda teve imprinting com uma bebê recém-nascida.
"Na próxima vez que nos encontrarmos, falo para a Nessie transmitir para ele a nossa história."
"Como assim, transmitir?"
''Ela coloca o rosto na mão dele e transmite seus pensamentos e memórias, você sabe disso!"
"Sei, mas não gostei de pensar nela colocando aquela mão sanguessuga nele!" — eu não estava conseguindo disfarçar o meu ciúme.
"Pare com isso, Leah! Que ciumenta, hein..." — debochou.
"Não é ciúme, mas ela é uma vampira!" — tentei disfarçar.
"A meia- vampira" — corrigiu — "mais amável e simpática que ele irá conhecer!"
"Aff, Jacob! Não sei como ainda te aguento!" — tripudiei.
"Aff digo eu, com esses papos de vocês! Saudades de quando apareciam vampiros perigosos por aqui e ficávamos perseguindo os frios, traçando estratégias, treinando e não falando abobrinhas!" — Paul estava irritado.
"Falou aquele que ficou longos meses suspirando pela minha irmã. Cada vez que você pensava alguma bobagem com ela, eu tinha vontade de te matar! Odiava fazer rondas com você. Tem coisas que um irmão não precisa saber, nem ver!!" — colocou Paul em seu lugar.
E foi nesse ritmo que terminamos a ronda.
Ao chegar em casa, me surpreendi. Um grandioso café da manhã me esperava na mesa. Ah, que fome que eu estava!
Tomei o primeiro gole de café. Gelado! Ah, Seth, você fez o café ontem à noite só para não acordar cedo hoje! Seu cachorro!
Vontade de expulsá-lo da cama a pontapés, junto com aquela namorada cúmplice dele, mas por hoje, só por hoje, eu o perdoaria.
Passei um café fresco e fiquei refletindo sobre a conversa com o Sam. Precisava resolver minha vida, mas achei melhor esperar um pouco para me revelar para ele, além do mais, se ele fosse se transformar, os sintomas apareceriam antes. Os meus demoraram uma semana até a transformação acontecer. Daria tempo.
— Tenho que descansar! — lembrei que as 14hs sairia com Ithan...
Ele chegou pontualmente à frente da minha casa. E estava com os cabelos soltos. Ah, aqueles cabelos voando com a brisa suave. Como eu queria ser essa brisa, envolvendo todo o seu corpo.
Fiquei longos segundos devaneando sobre a hora em que eu pudesse me agarrar a esse cabelo n***o, beijando aquela boca carnuda, mordendo seu pescoço, arranhando sua costas. Apertando seus músculos...
Se controla, Leah, se controla, que você deve estar fazendo uma cara de paspalha!
— Você hoje está mais linda do que eu me lembrava! — sempre gentil e galante...
— Hoje eu sou toda sua! Pode me levar para onde você quiser! — falei olhando pra ele de canto de olho.
— Falando desse jeito, vou mudar meus planos e te levar para outro lugar... — ele tinha entendido o que eu queria. E como eu queria. Mas ele era um cavaleiro, não iria me levar para “outro lugar” no nosso segundo encontro oficial.
Me levou ao cinema, assistimos a um filme de super-herói, banal perto do que nós vivíamos a cada dia na tribo. Mais tarde fomos jantar em um restaurante qualquer. Nem liguei, me importei realmente com a presença dele.
Às 20h já estávamos na frente de minha casa. Bem na verdade, não queria entrar, queria ficar com ele, o tempo todo, para a vida toda. Queria descobrir cada centímetro do seu corpo, sentir cada gosto de sua pele, brincar com cada fio do seu cabelo, desenhar caminhos com os dedos em cada um de seus músculos.
Mas ele precisava ir, já que estava cuidando de seu avô. Me contou que logo que ele chegou para conhecer sua família quileute, seus tios não sabiam o que fazer, pois não conseguiam dar conta de cuidar do velho Jeff e ele assumiu essa responsabilidade.
Combinamos de nos ver todos os dias, entre as 17h e 19h. Ele viria me ver e voltaria a tempo de fechar a cabanha e cuidar do seu avô. O horário seria ideal para mim também, pois não iria interferir nas minhas rondas.
Como não havia nenhum sinal dele se transformar, fui adiando aquele assunto.
Mas o fato é que a cada dia que nos encontrávamos, eu tinha mais desejo por aquele corpo, aquela boca, aqueles cabelos. A cada beijo, sentia uma chama queimar ainda mais forte dentro de mim e apesar de eu ser mais quente que o normal, dava para sentir que eu fervia ainda mais. Ele, sempre cuidadoso, tentava controlar suas mãos, às vezes me apertava forte entre seus dedos, mas logo soltava e pedia desculpas. Ainda me achava uma garota frágil.
A semana foi passando e troquei umas rondas para poder estar livre no final de semana. Queria passar esses dois dias só em função dele. Nada de matilha.
Tinha me decidido, já estava na hora. Chega de namoro de adolescente. Somos adultos afinal, mas eu não iria me entregar a ele sem que ele soubesse tudo sobre mim. Queria ser por inteira dele e para isso eu precisava mostrar quem eu realmente era.
Na sexta-feira, ele me fez um convite, quase uma intimação:
— Linda, amanhã quero fazer uma coisa diferente com você! — falou sem graça, enquanto acariciava a minha bochecha.
Desconfiei.
— Pode me falar o que é. Amanhã serei toda sua! — falei, fazendo uma cara sapeca, lhe dando um selinho, enquanto estava envolvida em seus braços.
— É sobre isso mesmo. — Baixou o olhar, encostou seu nariz no meu e quase como num sussurro, continuou: — Meu avô virá passar o final de semana aqui na tribo, na casa do tio John e, bem, não terá ninguém em casa e eu queria que você ficasse comigo esses dias. Só minha... Só para mim... Por inteiro — concluiu, olhando bem no fundo dos meus olhos.
Abri um sorriso enorme. Abracei-o o mais forte que pude. Era isso que eu queria, mas isso implicava em outra coisa. Eu teria que contar para ele sobre mim. Senti um frio percorrer minha espinha. Borboletas apareceram no meu estômago. Era um misto de alegria, expectativa e medo. Poderia ser o melhor final de semana da minha vida ou o pior de todos.
Leah, pensa bem no que você vai fazer, para não botar tudo a perder!