Capítulo 2

3870 Words
As primeiras aulas de Alana foram tranquilas, com ajuda de Cassandra ela achou sua sala rapidinho. Ela queria sentar-se no fundo para não chamar muita atenção, mas viu que se quisesse fazer isso teria de sentar na frente como outros bolsistas faziam, já que o fundo pertenciam aos riquinhos que torceram o nariz pra ele quando ela entrou. Claro que sim, afinal ela não usava nenhuma jóia famosa, sua bolsa e sua sapatilha não eram de marcas conhecidas e apreciadas pelos riquinhos! Alana não ligou, na verdade até sorriu com aquilo. Interesse nenhum tinha em ter amizade com gente que julgava e condenava as pessoas por suas roupas, carros e status sociais.   — Cassandra tem razão, são um bando de idiotas. — murmurou Stewart para si, ao pegar seu lugar à frente. Ela quase riu ao lembrar-se da amiga, e em como de uma flor doce ela podia se transformar numa fera feroz quando estava criticando aqueles riquinhos, em especial Bennie Vincent.   Como prometera a si mesma, Alana prestou bastante atenção nas aulas, ainda que no fundo uma curiosidade estranha, que em muito a incomodou a tomasse: queria ver o tal Ian. Não sabia por que, apenas queria. A maneira como o Bennie se referiu ao amigo, à menção da palavra perigoso despertou um interesse estranho em Alana.   A Stewart suspirou aliviada quando o sinal que anunciava o intervalo tocou, ela juntou os materiais, deixando-os sob a mesa como todos os outros. Claro, roubos não aconteciam ali. Pegadinhas talvez, roubos não. Ninguém ali precisava disso.   — Ei, Alana vamos logo. — Cassandra apareceu na porta de sua sala, quando a menina terminava de ajeitar as coisas sob a mesa. Junto com ela tinha uma garota de olhos e cabelos castanhos, presos num coque. Era uma menina bonita, mas passava a impressão de ser daquelas molecas grandes. — Ei Alana, essa aqui é a Dafne. Dafne essa é a Alana, ela que tá dividindo o apartamento comigo.   — Muito prazer. — disse Alana com um sorriso gentil pra garota, que logo a puxou para um rápido abraço, antes de enlaçar um braço no dela e o outro em Cassandra.   — O prazer é meu, Alana. Então, quando chegou a Amsterdã?... Cassandra me disse que veio do Texas, eu tenho parentes lá. — sibilou Dafne, enquanto as três caminhavam para o refeitório. Ela falava muito rápido, e Alana demorou a se achar em suas palavras.   — Cheguei tem uma semana, e estou adorando. Cassandra já no primeiro dia me levou pra um pequeno tour na cidade, aqui é tudo muito lindo!   — Cassandra! No primeiro dia? — Dafne parecia horrorizada. — Nem a deixou descansar da viagem?... Meu deus, você é mesmo uma tirana!   — Eu tirana? O que é isso, Dafne... Talvez, só na cama com um homem gostoso algemado nela de preferência. — Cassandra fez um olhar safado, entortando os lábios em um pequeno bico sedutor, antes de cair na gargalhada com as outras duas.   — Vocês são loucas. — constatou Alana. Ela fez uma pausa dramática e então: — Eu gosto disso.   E mais risadas divertidas.     O refeitório era enorme, tão grande que provavelmente todos os alunos da escola cabiam nele, mas todos pareciam ter um grupinho, uma panelinha e se espalharam ao redor da propriedade. Alana fora apresentada a Nathan, Simon e Lion Trozen por Cassandra e Dafne, e agora todos estavam sentados em um mesa, em um área um pouco afastada de onde os riquinhos comiam e confabulavam.   — Quem é aquele? — Alana sussurrou a Cassandra, olhando na direção de um garoto de cabelos ruivos e rebeldes, olhos verdes rasos e que tinha uma tatuagem do kanji amor no canto da testa, quase não vista pelo cabelo que ali caia. Ele estava sentado em uma mesa que ficava no fundo do refeitório, mas bem ao centro. Ao seu lado, estava Vincent Bennie e os dois conversavam qualquer coisa que, pela absurda distancia Alana e nenhum dos outros ouvia, e eram cercados por garotas e bajuladores, não dando um pingo de atenção a eles.   — Aquele é o tal David, que te falei. Viu como ele é esquisito? Bonitinho, mas bem esquisito. — Cassandra soltou um risinho.   — Bonitinho, esquisito e bom de cama. — disse uma garota de olhos azuis rasos, cabelos loiros presos num rabo de cavalo alto, ao se aproximar de onde estavam. Aquela era Lisandra, Alana sabia por que Cassandra havia lhe dito quando entraram no refeitório e a loira, mesmo estando com um grupo de riquinhos que torceram o nariz, acenou para elas.   — Como você sabe disso? — Alana perguntou em pura inocência, ainda olhando na direção dos, segundo Dafne, reis do colégio. Mas faltava um ali, Alana sabia.   — Como ela sabe disso? — repetiu Cassandra. — Porque ela dormiu com ele.   — Dormiu com os três. Vincent, Ian e mesmo com o David que dizem só sair com mulheres mais velhas. — acrescentou Dafne, Alana olhou para Lisandra e ela sorria abertamente, não se incomodando com nada daquilo.   — Ual. — balbuciou a Stewart. Mas era compreensível que os três já quiseram passar uma noite com ela, afinal, Lisandra era linda.   — Pois é, a Lisandra é uma vaca. — Cassandra disse de cara limpa, Alana a olhou aterrorizada pelo modo com o qual se referiu a amiga, mas então tanto ela quanto Lisandra começaram a rir.   Alana balançou a cabeça, rindo junto. Os meninos, Nathan, Simon e Lee a muito já haviam engatado numa conversa só deles, alheios aquele papo de garotas.   — Quem é aquele? — Alana perguntou subitamente, quando um garoto pálido, cabelos e olhos pretos, muito magricelo passou pela porta do refeitório ganhando toda a atenção do pessoal. — É o tal Ian?   — Ian? É claro que não. — disse Cassandra, rindo daquela idéia absurda. — Esse aí é só o Jhon. Ele faz parte do grupo dos riquinhos também, mas ele é mais na dele, não se entrosa muito com ninguém.   — Só com a Lisandra. — Dafne disse maliciosamente, e Lisandra sorriu. Alana olhou para a loira, fazendo a pergunta silenciosa com os olhos de: Ele também? Pergunta que Lisandra respondeu com a voz:   — É, eu to pegando ele. É gostozinho e curte arte. — a loirinha deu de ombros, e de novo as quatro caíram no riso.   Mas de repente, Lisandra, Cassandra e Dafne ficaram sérias, assim como todo o salão.   — Tem alguma coisa errada. — foi Nathan quem disse, e Alana seguiu com o olhar para onde todos estavam olhando.   Ela viu o tal Jhon cruzar o salão e falar algo, que pareceu ser dito em voz baixa, para Vincent e o tal David. Após isso, tanto o Bennie quanto o Deeper levantaram-se depressa e caminharam para fora do salão, o Bennie bufando de raiva e o Deeper balançando a cabeça negativamente, embora o ultimo parecia sorrir de maneira sadica e malévola. Aquele ruivo era realmente muito estranho.   Quando passaram por onde Alana estava sentada com seus amigos, a Stewart pode ouvir claramente o Bennie dizer:   — Ian é mesmo um filho duma puta que não sabe ficar longe de confusão por um dia!   Quando os três – Vincent, David e Jhon, que os acompanhava – sumiram pela porta, fez-se um silencio absurdo por um segundo e então o refeitório explodiu em comentários e uma multidão correu pra fora do local, indo na mesma direção que eles três foram. Parecia até que uma manada de bois havia sido solta, de repente.   — Vamos lá. — Lisandra que sentava em cima da mesa, pulou para o chão saindo na mesma direção que todos os outros. E claro, todo o resto do grupo foi também, incluindo Alana.   Quando seguiram a direção que a multidão havia tomado, Alana se perguntava o que diabos estava acontecendo. Estavam no estacionamento da escola, e todos gritavam briga, briga, briga ou então Ian, Ian, Ian, mas Alana nada via. Via apenas uma roda de pessoas a sua frente, que pareciam assistir a uma briga.   Ela se erguia na ponta dos pés, empurrava e era empurrada, recebia e dava cotoveladas na esperança de conseguir ver alguma coisa, mas nada. Não conseguia e ainda sentia que seria esmagada pela multidão de jovens a qualquer instante.   — Mas... Onde estão os outros? — Alana desesperou-se de repente. Ela olhava pros lado e não via mais seus amigos, no meio da confusão, daquela aglomeração de gente havia soltado-se dos braços de Cassandra. E pior, não conseguia nem ir mais adiante para ver a tal briga, e nem sair daquele meio de gente.   — Alana... Alana... — alguém a chamava. Parecia ser Cassandra, mas seus chamados eram abafados pelos gritos de agitações da multidão, e tampouco Alana conseguia ver as madeixas rosas naquele aglomerado de gente.   De repente a multidão gritou um OWWW e seguido de um AAAAAAAU consecutivo o que pareceu ser o som de finalização da briga. Da briga que Alana sequer conseguia ver, e menos ainda quem vencera e o porquê.   Todos de repente ficaram em silencio, e Alana pode ouvir com nitidez a voz do Bennie:   — Já acabou, Ian?   E então outra voz respondeu, uma voz que mesmo estando irritado, agitado, era grossa, meio rouca e ao ver de Alana, terrivelmente sedutora:   — O que é que você está fazendo aqui, Vicent?... Como pode ver, eu não preciso de ajuda. Eu já acabei.   Alana, mesmo não vendo, podia jurar que o tal Ian sorria com a ultima frase.   — É. Acabou mesmo. Acabou com ele. — Outra voz falou, muito mais séria, mas parecia ser sádica. Como se estivesse se divertindo com quem quer que tenha apanhado. Alana julgou ser David. — O que foi que esse bastardo fez pra você quebrar a cara, dele Ian?   Alana não soube se o tal Ian respondeu ou não a pergunta, talvez tivesse respondido, mas baixo demais para chegar aos ouvidos da garota que estava a uma distância. Uma vez mais Alana ficou na ponta dos pés, tentando visualizar alguma coisa, tentando ver o tal Ian que era tão comentando, quando a voz dele novamente se fez presente, mas dessa vez como um grito:   — SAIAM DA MINHA FRENTE!   Como se a ordem tivesse sido dada por um rei, a multidão de servos tratou de abrir caminho e como consequência Alana se viu empurrada para o lado e acabou indo ao chão num baque silencioso. Ela sequer conseguiu ver o tal Ian, pois quando ergueu os olhos a multidão começava a se dispersar para os lados, os comentários e burburinhos da recente briga sendo proferidos altamente, ficando todos a sua frente.   Ainda caída ao chão, Alana lançou os olhos na direção de onde ocorrerá a briga e viu um rapaz cuspir sangue, agachado ao chão. Alguns amigos dele o levantaram e Alana pode ver que seu olho esquerdo começava a ficar roxo, sua cara surrada enxada e um filete de sangue escorria de cada um dos cantos de sua boca. O rapaz também tinha uma das mãos no estômago, como se tivesse recebido socos e chutes ali, e Alana bem ouviu quando um amigo, um que o ajudava a firmar-se de pé, disse:   — Viu só, seu idiota! Viu no que dá... Deixe de ser imbecil e não se meta com o Norton!   — A não ser que queira levar uma surra como essa todos os dias. — um outro amigo do surrado completou, parecendo prender o riso, querendo animar os outros dois.   — Alana, você está bem? — era Simon que se aproximava, ajudando Alana a se levantar.   Vendo a surra que o garoto tomava, duas coisas tomavam a mente de Alana naquele momento. Primeira: Ela queria saber o porquê daquela briga. E segunda: Aquele Ian parecia realmente perigoso. Um problema com pernas.   — Estou sim, Simon . Ufa, obrigada... Achei que fosse ser esmagada!   — É porque você é meio baixinha, todo mundo é maior que você. — sibilou Simon, rindo e Alana fora obrigada a concordar.   — Ah, aí está você. — disse Cassandra, abraçando Alana pelos ombros com força, quase quebrando os ossos. — Fiquei preocupada, pensei que tinha sido esmagada, Alana!   — Foi quase. — admitiu envergonhada, enquanto Lisandra e Dafne se aproximavam. — Mas o que foi que aconteceu afinal?... Eu não conseguia ver nada, só ouvia os gritos.   — O que você acha que aconteceu? O Ian deu uma surra naquele cara. — falou Lisandra de maneira que aquilo soou como se fosse à coisa mais normal do mundo. Ian, dar uma surra em alguém = normal.   — Mas, por quê?   — Quem se importa Alana?! — disse Simon, dando de ombros. — O fato é que o Ian deu uma surra naquele cara e ainda saiu sem nenhum arranhão que seja.   — Pois é. Eu nunca o vi tão irritado antes, aquele cara deve ter provocado mesmo. — murmurou Lisandra.   — Provocando ou não, ele não podia ter surrado aquele rapaz daquele jeito. — Alana se pronunciou. — Espero que ele seja punido!   Todos riram.   — O que foi?... Falei algo engraçado?   — O Ian, punido? — riu-se Cassandra, e todos voltaram a caminhar pra dentro da escola ao som do sinal.   — Alana, o Ian assim como Vincent e o David são imunes nessa escola. — explicou Lisandra.   — É muito mais fácil algo acontecer ao cara que ele surrou, do que com o Ian. — falou Dafne, e todos os outros assentiram.   — Acho que... Acho que agora que eu começo a me dar conta de como essa escola funciona. — disse Alana, parando de repente e se encostando em um armário, estava suando frio e suas mãos tremiam. A verdade era que situações como aquelas, brigas a apavoravam.   — Não é tão difícil de entender como as coisas funcionam aqui, Alana. É muito simples na verdade. — falou Lisandra, pondo as mãos sobre os ombros de Alana que parecia mais pálida. Olhando no fundo dos olhos da Stewart, e muito séria a loira finalizou: — A trindade manda!   — Trindade? — Alana franziu o cenho confusa.   — É. É assim que chamam aqueles três por aqui. — falou Cassandra com raiva nítida na voz. — Por isso que eu digo pra ficar bem longe do caminho deles, aqueles três já são terríveis sozinhos, juntos eles são...   — O apocalipse dessa escola. — completou Lisandra.   Todos se despediram, e cada um foi para sua sala, mas Alana ainda permaneceu uns segundos encostada no armário, só depois que obrigou suas pernas trêmulas a se arrastarem pelos corredores até sua classe.   (...)   As últimas aulas pareciam se arrastar demoradamente para Alana. Quanto mais ela olhava o ponteiro do relógio, menos ele parecia se mover. Bufou, estava nervosa. Irritada, por diversos motivos. Irritada por não ter conseguido suprir sua curiosidade de ver o tal Ian, irritada por este ter dado uma surra naquele rapaz e sair completamente impune, e mais irritada ainda pois o maldito ponteiro do maldito relógio parecia mover-se lentamente, a torturando. Queria que o período de aulas acabasse logo, queria começar logo seu estágio. Oh sim, seu estágio! Mal via a hora de começá-lo, seria uma grande oportunidade pra ela.   — Viram a briga do Ian , hoje? — o comentário de uma garota atrás de si, não passou despercebido a Alana que bufou. Só se falava naquilo, na briga e no quanto Ian Norton era incrível. Ninguém parecia se preocupar com a situação do surrado.   — Ele é tão lindo. — uma outra garota respondeu. Alana teve vontade de virar-se para trás e despejar boas verdades para aquelas estúpidas, mas conteve-se, saciando-se apenas em fazer caretas para toda espécie de estupidez que elas falavam, e não era pouca.   — Eu prefiro o Vincent . — Alana ouviu uma garota de voz esganiçada dizer.   — São todos lindos, mas a intensidade do David  me excita...   — QUEEE? O David  é um esquisito, ele dá medo. O Vincent  é lindo, mas nada se compara ao Ian . Ele é tão... Sei-la...   — Perfeito?! — alguém sugeriu, e suspiros foram ouvidos pelo grupinho de estúpidas.   Alana mordeu a tampa da caneta que tinha nas mãos pra não gritar com elas e com suas estupidez. E assim foi até que, finalmente as aulas terminaram, e Alana pode se ver livre daquelas idiotices.   — E então, como foi o resto das aulas? — perguntou Cassandra, quando se esbarraram no corredor.   — Um saco. Tinha um bando de garotas atrás de mim que ficaram falando a tarde inteira sobre o quanto aqueles três, a Trindade eram perfeitos e bla, bla, bla...   Cassandra gargalhou.   — Vai se acostumando, Alana, Metade das garotas daqui são do fã-clube deles. Elas seriam capazes de doar um rim apenas para que um deles lhes lançasse um olhar com mais interesse. — disse a rosada, rindo da estupidez com a qual aquilo soava, muito embora fosse verdade.   — Felizmente, nós não nos encaixamos nesse grupo, né? — Cassandra assentiu a pergunta da amiga. — Somos mulheres fortes e independentes...   — Exatamente. Sabemos o nosso valor! — cantarolou a Swan, como se aquele fosse um discurso sobre a pátria. Alana sorrio divertindo-se. — Ei, está indo para o estágio agora não é?... Eu queria te levar lá, mas trabalho na direção oposta e o Chouji, filho do dono da lanchonete que cuida do local, não gosta muito de atrasos...   Como se tivesse sido despertada do sono, Alana lembrou-se do estágio. Havia esquecido momentaneamente dele, enquanto conversava com a amiga e caminhava para fora.   — Ah meu deus! — exclamou Alana, puxando o pulso direito de Cassandra e vendo as horas no relógio que ela tinha ali. — Eu tenho que ir. Tenho que pegar o ônibus, não posso me atrasar... A primeira impressão é muito importante!   — E você vai com assim? Com o uniforme da escola? — perguntou Cassandra avaliando-a dos pés à cabeça. Alana maneou um não com a cabeça, puxando a pequena mochila de suas costas para frente do corpo.   — Não, tem uma roupa aqui. Quando eu chegar lá, entro no banheiro feminino e me troco. — sorrio a Stewart, orgulhosa de sua genialidade. Cassandra também sorri. — Agora preciso ir... nos vemos mais tarde.   — Ok. — Cassandra gritou parada na porta de entrada da escola, sim, teve que gritar, pois Alana saiu correndo.   A Stewart nem estava atrasada, mas a euforia para chegar logo e começar, ao mesmo tempo em que trabalhava, era tão grande que ela saiu correndo cruzando o estacionamento sem se importar com os olhares pra cima dela. As pessoas daquela escola olhavam muito umas pras outras. Patético!   Estava quase alcançando o portão de saída, que definitivamente a levaria para fora da enorme propriedade que era aquela escola, quando um carro veio da sua direita. Foi tudo muito rápido. Alana escutou a buzina, quando olhou para o carro apenas fechou os olhos esperando o impacto. Impacto que não veio, pois o motorista conseguiu puxar o freio.   — Idiota! — em meio a agitação em que se encontrava, e o medo de quase ter morrido, sem pensar Alana meteu o pé no farol do carro, e de repente tudo pareceu parar.   Quando se deu conta do que acabara de fazer, quando se deu conta de que acabara de dar um chute bem dado em um dos faróis de uma Ferrari Bright Black de vidros filmados, já era tarde demais. O estrago estava feito. Todo o estacionamento da escola, todos os alunos ali pareceram ter congelado e Alana sentiu o sangue se esvair do seu corpo.   — OH. MEU. DEUS! — a Stewart ouviu uma garota dizer, completamente em choque, e foi então que percebeu que era muito pior do que imagina. Oh sim, mil vezes pior.   A porta do carro se abriu, e Alana puxou todo o ar pra dentro dos pulmões. Havia mesmo metido o pé em uma Ferrari Bright Black? Onde diabos estava a cabeça, afinal?!   — É o carro do Ian!   E como sempre, pior do que está sempre fica. Ao ouvir o comentário do garoto próximo a ela, Alana arregalou os olhos em pânico. Estava decididamente ferrada. Não havia passado nem um minuto desde que a porta da Ferrari fora aberta, mas para Alana aquilo pareceu uma eternidade, e foi pior ainda quando Ian desceu do carro.   Deusssss... – foi tudo o que ela conseguiu pensar ao vê-lo.   Ian era... Ele era... era lindo. Perfeito!   Por um minuto Alana pensou que talvez ele fosse uma miragem, uma ilusão de sua mente, um sonho ao qual ela estava vivendo enquanto devia estar dormindo na aula. Mas não. Era real.   Ian desceu do carro, e Alana bem pode ouvir os suspiros apaixonados ao redor. Desconfiou se ela mesma não havia soltado um, mas não soube responder, estava nervosa demais pra reparar.   O cabelo dele era loiro, mas não um loiro qualquer, um loiro vivo; lindo, os curtos fios arrepiados para cima balançavam levemente quando o vento leve os atingia. Sua musculatura era impressionante, ele parecia ser uns 5cm mais baixo que Vincent, mas isso não importava; seus ombros eram tão largos quanto os do Bennie, o que mostrava que embora não fosse truculento, tinha um físico perfeito. Seu rosto era lindo, nariz afilado, traços ao mesmo tempo em que fortes e másculos, eram suaves. E os olhos? Ah sim, os malditos olhos que pareciam hipnotizar a todos. No instante em que botará os olhos em Ian, Alana soube que sonharia com os olhos dele por longas noites. Olhos azuis. Mas não um azul qualquer, um azul céu profundo, cheio de mistério e perigo. Ele usava o uniforme da escola, mas nele parecia diferente. A camisa branca de linho tinha dois botões fora de sua casa, sendo possível Alana ver um pouco não apenas de sua pele bronzeada, como também de uma corrente de prata que ele usava. A gravata estava frouxa em seu pescoço, e ele tinha as mãos metidas no bolso da calça, e, diferente da maioria que usava sapato social ou outro fechado, Ian usava o clássico tênis All Star preto de cadarços brancos.   Sim, era nítido. Aquele loiro exalava problema, exalava rebeldia e uma perfeição completamente imperfeita. O céu e o inferno num único corpo.   Alana mal acreditou. Ali, diante de seus olhos, estava o tal Ian que ela tanto quis ver. A parte ruim disso era que ela acabara de estragar um dos faróis da Ferrari dele.   — Interessante... — murmurou ele, avaliando o estrago que o pé de Alana causara antes de fitá-la. Alana arfou, prendendo o fôlego não apenas pelo olhar dele como por sua voz que saiu baixa, mas ainda sim imponente, e arrastada. Todas as pessoas naquele estacionamento o fitavam, todos em absoluto silêncio. — Acho que temos um problema aqui, não é?   Como um felino, um leão se aproximando de sua presa, Ian se aproximou com passos lentos de Alana. Ela teria ficado fascinada com o caminhar ao mesmo tempo que desleixado, gracioso dele, se não estivesse completamente aterrorizada com o olhar sério dele cravado sob sua face.   "Bem vinda a BHS, Alana... – pensou a Stewart de maneira muito sarcástica. – ... você está ferrada!"   Oh, sim. Estava muito ferrada!  
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