O alvo fácil

1554 Words
– Tem certeza que é uma boa ideia adiantar esse noivado? A Júlia não estava esperando por isso.– Patrícia questionou o irmão quando os dois estavam a sós, no escritório dele. – É a única forma de encaminhar uma mulher na vida, arranjando um bom casamento para ela. – Você sempre soube que a Júlia sempre quis mais do que ser uma mãe de família. – Isso é fantasia de menina, puro coqueluche. Essas modernidades estão levando muitas mulheres a perdição, mas na minha família isso não vai acontecer. – Não acho que seja apenas um coqueluche, a Júlia realmente leva isso muito a sério. Se não queria que a sua filha fosse influenciada por ideias feministas, por que a deixou ir para uma universidade? De repente, Eugênio parecia até mais sério do que o comum, estava visivelmente preocupado. Ele pegou um dos seus charutos que estavam sobre a mesa e o levou até a boca. O corpo esticado e reto na cadeira em conjunto com o olhar perdido, fez Patrícia perceber que o mesmo estava pensativo. – Porque eu precisava tirá-la urgentemente de Aventine.– ele lançou um olhar que revelava desespero para a irmã. Patrícia, que até então estava de pé, sentou-se de frente para o homem, do outro lado da mesa. – Por causa da guerra com os Messina, não é? Eu estava passando uma temporada em Paris, mas lembro bem quando Leandro Messina morreu. – Quando eu o matei.– Corrigiu Eugênio.– Não precisa usar eufemismos comigo, minha irmã. Você não lembra, era muito pequena, mas foram os Messina que mataram o nosso pai. Poucos antes de morrer ele me pediu que cuidasse de você como se eu fosse o seu próprio pai. Bom, sou quinze anos mais velho que você, pode-se dizer que sou mesmo quase o seu pai. – Foi por isso que você matou o líder da máfia de Rosa Rosso, não foi? Para vingar o nosso pai? – Fui eu quem achei a carta do meu pai. Eu sou o homem mais velho da família e é o meu dever continuar com tudo. Quando eu me for, a obrigação passará para o Arthut. – Não diga isso, Eugênio. Por mim, já teríamos negociado um acordo de paz com essa família. Foi o pai do Leandro quem matou o nosso pai, ele não merecia ter morrido por isso, assim como os seus filhos não merecem pagar por seu crime. – São muitas e muitas gerações de sangue derramado, Patrícia, não existe acordo. Por isso, muito cuidado, minha irmã. Todos nós corremos perigo. Nunca vou esquecer do dia que fui vingar a morte do nosso pai nas costas de Leandro Messina. Novamente, Eugênio ganhou um olhar distante enquanto voltava para o passado. Chovia muito em Rosa Rosso, mas ainda assim, como toda sexta-feira, Leandro foi com os dois filhos pequenos para visitar suas vinícolas. O homem era concorrente direto de Eugênio no mercado, principalmente, porque Eugênio pretendia expandir os negócios das pedras preciosas também para os metais nobres, mas eram os Messina que tinham total domínio sobre o ouro e a prata, e agora, também haviam entrado no mercado do tráfico de diamantes. Dizimando Leandro, além de vingar a morte de seu pai, Eugênio conseguiria finalmente a posição que sempre almejou em seus negócios, ele monopolizaria o mercado. Assim que soube que sua propriedade foi invadida pelos Santiago, Leandro deu um jeito de proteger os filhos, o homem estava sozinho quando foi encontrado. – Agora, sim, o momento que eu estava esperando há quinze anos... Agora, sim, poderei vingar o sangue que o seu pai derramou do meu pai. – Sangue por sangue. Há quantos séculos os malditos Santiagos também não mataram muitos de nós? Não vai parar assim tão fácil, Eugênio. Em silêncio, o homem apontou o cano do revólver na direção do coração do outro. – Eu só quero olhar nos seus olhos quando você estiver agonizando, desgraçado. Eu quero ver o seu desespero e o seu ódio quando souber que eu tomarei tudo de você. Tomarei a sua posição nos negócios, tomarei a infância dos seus filhos e tomarei a sua vida. – Um dia, quando os meus meninos crescerem, tudo voltará a ser como era antes. Por séculos vocês nunca conseguiram tirar os Messina do trono e não será agora que conseguirão. – Essa será sua última palavra?– Eugênio esboçou um sorriso perverso, se divertindo com todo aquele suspense c***l. Cruel, porque Leandro não teria como saber quando viria a bala que lhe arrancaria a vida. – O seu karma não vai acabar nunca, Eugênio. Não esqueça, você tem três filhos. Já brincou de tiro ao alvo, não é?– Agora foi Leandro quem esboçou um sorriso sádico.– O alvo mais fácil sempre cai primeiro. – É por isso que hoje será você a cair.– Eugênio pressionou o dedo no gatilho. – Um dia, você irá chorar por alguém que ama muito, assim como fará os meus filhos chorarem por mim. Não se engane, Eugênio... A vingança nunca terminará pelas mãos de um Santiago. Aquelas foram as últimas palavras de Leandro, antes do mesmo receber um tiro diretamente no coração. As memórias de Eugênio deixaram o passado logo em seguida, logo após ele ouvir o barulho do disparo que ainda ecoava em sua mente. Com os olhos marejados, ele tornou a encarar a irmã caçula. – Quando os meus filhos eram pequenos, não os deixava sair de casa. Foram alfabetizados aqui, tinham professores particulares e quando atingiram a idade de ingressarem em uma universidade, mandei os três para bem longe de Aventine. Os meninos desde pequenos eu ensinei a atirar, eles sabem se defender, mas a Júlia não. A Júlia é mulher, como eu ensinaria uma moça a atirar, a montar a cavalo, a usar defesa pessoal? – Agora faz sentido. Graças a faculdade, a Júlia passou quatro anos fora de Aventine, estava segura longe dessa guerra entre os Messina e os Santiago. Foi exatamente pelo mesmo motivo que eu quis criar a minha filha longe daqui.– Patrícia diminuiu o tom de voz ao mencionar sua filha. – As palavras do Leandro não me saíram da cabeça desde então. Eu amo muito a Júlia... Só de pensar em ter a minha filha morta por aqueles malditos, eu...– Eugênio não conseguiu continuar a frase. – Eu sei exatamente o que é ter uma filha morta, Eugênio.– Os olhos escuros de Patrícia automaticamente marejaram.– Eu não desejo isso para ninguém, nem para o p.ior dos inimigos. – Ainda não me conformo que a morte da Inês tenha sido um acidente. Com certeza tem dedo dos malditos Messina. – E do que me adianta saber, Eugênio? Do que adianta procurar ou encontrar culpados? Nada disso vai trazer a minha filha de volta.– Lágrimas escorreram copiosamente pelas bochechas da Patrícia, enquanto a mesma abraçava o próprio corpo.– Inês está morta e uma grande parte minha morreu com ela. Eugênio não costumava ser um homem movido por grandes demonstrações de afeto, mas diante do sofrimento de sua irmã, o homem ficou de pé e foi até ela, a puxando para um abraço. – Pode não trazer a Inês de volta, mas eu te juro que vou descobrir se teve ou não um culpado. Eu te juro, minha irmã, eu vou mandar o desgraçado para o inferno. ... Aproveitando a hora de almoço, Tom foi diretamente para casa. Embora o beijo que trocou com Sofia ainda ocupasse os seus pensamentos, ele tentava ocupar a cabeça com outras atividades. Primeiro, desde que conseguiu intermediar um negócio de supra importância no dia anterior, Eugênio não deixou de utilizar das habilidades do jovem advogado para outros de seus negócios. Com apenas poucos dias, Tom já havia demonstrado o quanto era inteligente e útil. Era apenas questão de tempo para ganhar a confiança do homem e ter acesso a sua casa. Enquanto comia, Tom fez uma ligação para um dos seus muitos primos que estavam pela cidade a mando de Matteo. – Alô, telefonista? Sim, passe a ligação. – O que me diz, Tom? novidades sobre a encomenda? – Eu só estou há quatro dias em Aventine. Espera mesmo que eu consiga a confiança de Eugênio Santiago de uma hora para a outra?– Perguntou Tom, irriado. – Soube que ele é um grande admirador de seu trabalho como advogado. Está indo pelo caminho certo, cugino. – Ouça, sem tempo para lorotas. Vou precisar da ajuda de vocês para adiantar as coisas. Pelo que ouvi hoje do filho do prefeito, o noivado dele com a filha do Eugênio foi adiantado para a semana que vem. – Agora, sim, estamos perdidos. Como vamos conseguir chegar perto da menina? – É aí que entra o meu plano. Vou precisar que você reúna o restante da família que está aqui em Aventine. Nós armaremos um atentado contra Eugênio Santiago. – Não foi esse o combinado. Matteo ficará tiririca... – Ouça, palerma.Não vamos matá-lo, apenas iremos fingir. Eu vou salvar o Eugênio Santiago e me devendo a vida, ele me enxergará mais do que como um amigo, eu serei um aliado. Sendo um aliado, tenho certeza que me convidará para a sua casa, para o noivado da filha. Daí, não terá escapatória. Nós encomendaremos, finalmente, Júlia Santiago.
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