Surpresas

1088 Words
Eu não conseguia imaginar o quanto eu fui um completo i****a com Claire. Se isso fosse um pesadelo, já estava durando tempo demais. Podia começar a listar as coisas ruins que haviam acontecido nas últimas vinte e quatro horas. Eu havia perdido meu pai sem dizer adeus, ou pelo menos não me lembrava de tê-lo feito, destruí a vida da única garota que amei e neguei a existência de uma filha. Minha última lembrança era ter ido à casa de Claire depois de ter falado coisas horríveis no baile. Eu me arrependi e por isso fui até ela, mas fui expulso pelo pai dela. Eu lembro de não querer o bebê, e até algumas horas atrás, eu ainda não queria. Mas agora tudo estava diferente, eu podia sentir. De certo modo eu queria conhecer Barbie. O modo como minha mãe falava dela, era desconhecido e ao mesmo tempo me parecia familiar. Não conseguia enxergar o quanto eu era desprezível até aquele momento, e quanto mais eu sabia das coisas que aconteceram neste tempo que não me lembro, mais eu me odiava. - Preciso que conte-me sobre Claire. Eu imploro mama. - Pedi impaciente e desesperado. Minha mãe caminhou até o banco mais próximo no jardim e se sentou. - Depois que você viajou, descobrimos o que havia acontecido no baile. Eu não queria acreditar porque eram apenas boatos, mas tudo mudou quando eu e seu pai fomos te visitar naquele dia e você nos contou a verdade. Aquilo me destruiu. Quando que eu poderia imaginar que você faria uma coisa daquelas? Não consegui te perdoar por um bom tempo, mas eu tinha coisas à fazer, e então, depois de alguns dias procurando, consegui localizar Claire. Ela não confiava em mim, mas era nossa responsabilidade. Você deixou aquela p***e garota sem rumo e sem saber o que fazer, mas eu e seu pai estávamos lá para ajudá-la. E então, nossa Barbie nasceu, e a amamos desde o primeiro momento. - Barbie... ela... o que eu fiz... - Não era bem uma pergunta e sim uma nota de repúdio à mim mesmo. Meus pensamentos estavam confusos e me perguntava como que eu não conseguia lembrar disso. - Barbie não sabe de nada. Não sabe que é sua filha biológica. Foi você quem quis assim, quando negou sua paternidade. Filho, talvez aí no fundo você saiba o quanto eu repudio esse seu comportamento, mas aprendemos a lidar com isso, e apesar de tudo, minha neta cresceu mais forte do que imaginávamos. Ser frágil é uma coisa que ela desconhece. - Minha mãe sorriu. - James é um pai maravilhoso para ela e acima de tudo, ama muito Claire. - James... James Clifford? - Esse nome mexeu comigo. O único James de quem eu me lembrava era meu amigo do tempo da escola. Íamos para Stanford juntos, mas também não me vem à memória o tempo que passamos na faculdade. Eu esperava que não fosse o mesmo James. Não mesmo. - Sim. Esse mesmo. James assumiu a paternidade de Barbie e se casou com Claire. Nunca deixamos faltar nada para as duas. Mas agora você precisa descansar, Bruce. Sei que é muita coisa para absorver, e você esteve longe por um longo tempo. Você nunca mais voltou, a não ser para o enterro de seu pai, e agora para a venda da casa. Vamos entrar, temos que falar com Sarah. Não consegui dizer nada à minha mãe, e na verdade, não havia nada a dizer. Eu era um ser desprezível, e só tinha percebido isso agora. Fiquei imaginando o que mais eu fui capaz de fazer. E o que eu disse a Claire quando acordei naquele hospital. Não era certo, nunca foi. Não sabia o que fazer. Segui minha mãe até a sala, onde me aguardava uma mulher ruiva de cabelos curtos. Sarah com certeza, embora eu nunca a tenha visto, sabia que era ela, quando correu até mim me abraçando, o que foi bem estranho. - Bruce! Como você está? Vim assim que soube que você havia sido hospitalizado. Já cancelei todos os seus compromissos, e Ruppert já está cuidando das audiências que não conseguimos adiar. - Ela desatou a falar e eu cada vez mais, compreendia menos. Compromissos? Audiências? E Ruppert. Quem era Ruppert? Notei que Sarah era uma maluca que não conseguia parar de falar. - Querida, creio que ele não está compreendendo mais da metade das coisas que você disse. Bruce não se lembra de um longo período de sua vida. - Minha mãe se adiantou antes que eu pudesse absorver a última frase de Sarah, que ficou paralisada. - Oh... Não se lembra... de nada? - Ela disse incrédula. - Não. E também não me lembro de você. Se puder me explicar tudo o que acabou de dizer, eu agradeceria. - Eu disse de uma forma próxima à irritação. - Não agora querido. Você precisa descansar um pouco antes do jantar. Venha, vamos para seu quarto. - O caminho para meu quarto eu ainda conseguia lembrar, mas minha mãe fez questão de me levar. O quarto estava como eu me lembrava, nada havia de diferente. Parei em frente ao espelho e quem eu vi, não consegui reconhecer. Eu estava velho, e minha aparência era de alguém doente. Meus cabelos estavam muito curtos, do tipo que meu pai sempre insistia para que eu usasse. Passei muito tempo olhando minha imagem e pensando em tudo o que estava acontecendo, e principalmente em Claire. Precisava encontrá-la, precisava conhecer Barbie. Eu não iria descansar, eu iria até a casa de Claire. Saí sem que ninguém me visse e peguei o carro da minha mãe. Dirigi igual um maluco e sem carteira de habilitação, mas também, nem sabia onde estavam meus documentos. Cheguei ao meu destino e encontrei uma casa em ruínas. Não havia ninguém e os vidros quebrados da janela, mostravam o completo abandono do lugar. Dei a volta para verificar os fundos da casa, mas também não havia ninguém. As portas estavam trancadas. Pensei por um instante no completo i*****l que eu fui. Não tinha o que fazer, eu não sabia onde encontrar Claire. - A Claire que você conheceu há vinte e cinco anos atrás, já não existe mais. - Uma voz masculina soou bem suave, e quando me virei, um homem regando algumas plantas no jardim, olhou para mim e sorriu de forma muito gentil. - Desculpe, mas eu o conheço? - Eu falei com certa desconfiança. - Não ainda. Mas eu o conheço e isso é suficiente.
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