Não foi fácil convencer minha mãe à me dizer onde Claire morava. Mas eu iria encontrá-la onde quer que ela estivesse. Talvez a lista telefônica me ajudasse, e quando eu disse isso à ela, mama riu da minha cara, e ainda falou que se eu quisesse, poderia tentar mas precisaria ir à um museu que disponibilizassem uma lista telefônica. No início não entendi a graça da ironia, mas depois percebi que estava em um tempo que não era o meu.
De forma alguma ela quis me dizer o endereço, mas se prontificou a falar com Claire e se ela quisesse, mama marcaria um encontro. Fiquei pensando no que eu diria à Claire. Será que havia o que eu pudesse dizer que consertaria toda a burrada que eu fiz? Creio que não, mas precisava tentar.
Depois de passar horas ouvindo a tagarela da Sarah contar sobre como minha vida era completamente fútil e egoísta, me dei conta de que aquela não era de fato uma vida que eu gostaria de ter. Talvez funcionasse para o Bruce do passado, mas agora, não conseguia enxergar sentido naquilo tudo. Também não conseguia me enxergar fazendo tudo o que ela havia dito que eu fazia.
Fiquei agitado com a ideia de encontrar Claire. Minha cabeça parecia que ia explodir. Aliás desde que acordei nesse tempo, tenho dores de cabeça que vem e vão, o que relaciono com estresse e preocupação por tudo o que está acontecendo. De hora em hora, eu perguntava se minha mãe havia conseguido marcar um encontro com Claire.
Se de fato ela não se importava, por qual motivo ela estaria no hospital? E o que ela iria me dizer se mama não tivesse interrompido naquele dia? Era isso que eu precisava saber. Estou certo que ela me odeia, e não tiro sua razão. Acredito que vai ser uma conversa difícil, mas eu preciso saber como ela está. Eu preciso vê-la, e não me importo que James esteja casado com ela. Ele sim é um traidor. Lembro que voltei para falar com ela no dia do baile, mas não consigo lembrar do que aconteceu depois que o pai dela me colocou para correr de sua casa.
Está tudo muito confuso em minha mente. Decido olhar o celular e seguir as informações de Sarah de como funciona aquele aparelho. Mensagens, e-mails, aplicativos, ajuda. Eram mais que suficiente, ela disse. Abri as mensagens e muitas delas eram sobre meu trabalho, onde supostamente eu era o advogado do d***o. Outras eram de amantes, vergonhoso eu diria, e outras eram de Vivian. Foquei no trabalho, embora fosse estranho dizer essa palavra, pois dois dias atrás eu era apenas um estudante, percebi que quanto mais eu lias as mensagens, aquilo soava familiar, como se fosse fácil entender tudo aquilo que as pessoas diziam.
"A vida que você não se lembra, virá em sua mente." Foram as palavras do Jardineiro. Então devia ser por isso que aquilo tudo era familiar. Talvez minha memória já estivesse voltando, mas quando tentei lembrar de alguma coisa, nada me vinha à mente.
"Pare! Isso tudo está te deixando louco." Eu disse a mim mesmo. Continuei revirando o aparelho por mais algum tempo e percebi que haviam muitas coisas que eu precisaria da ajuda de Sarah para mexer, mas não aguentava mais ouvi-la em minha cabeça, então deixei para me preocupar com isso depois.
Abri o laptop, outro aparelho que eu não fazia ideia como funcionava antes das instruções básicas da minha secretária. Um desafio, eu diria, mexer naquilo, no entanto, tudo parecia familiar.
Pasta segura. Era um desenho dos muitos que tinham naquela tela. Toquei no desenho, como Sarah havia me dito para fazer. Solicitou uma senha tentei todas as possíveis que ela tinha escrito no papel. Nenhuma funcionou. Desisti. Talvez algum dia eu me lembrasse, mas naquele momento deixei aquilo quieto, embora eu pensasse, o que era tão seguro para estar em um lugar que nem minha secretária de confiança tinha acesso?
Coisas ilícitas? Se bem que pelo meu histórico segundo ela, poderia sim ser algo ilícito.
Sim! De fato eu era um b****a, e partindo desse fato, minha vida inteira era uma mentira. Como era possível ficar longe da garota que eu amava por vinte e cinco anos? Será que nesse tempo eu havia conseguido esquecê-la? Era certo que eu não saberia responder, mas neste momento, tudo o que eu queria era estar perto dela. Ouvir sua voz meiga e suave dizendo que tudo iria ficar bem, como ela costumava dizer quando eu iria jogar nas temporadas.
Melhor fase da vida que eu me lembro. Eu era feliz com ela. Claire sabia exatamente como me fazer sorrir ou como me acalmar.
De repente, o desespero tomou conta de mim. Uma inquietação que eu não conseguia controlar. Comecei a andar de um lado para o outro, como se isso fosse diminuir o sentimento de angústia que me dominava.
Já era noite quando percebi, e ao olhar pela porta de vidro que separava meu quarto da pequena varanda, percebi que havia alguém me observando em frente a piscina.
O Jardineiro.
O que ele estava fazendo ali? Só podia ter sido minha mãe que contratou este homem para trabalhar nas duas casas. Mas agora ele não iria escapar. Desci as escadas feito um furacão e corri para a piscina onde ele estava. Mas não havia ninguém ali. Isso já estava começando a me preocupar. Desde quando eu havia começado a ter alucinações? Mas eu o tinha visto, não podia ser fruto da minha imaginação.
- Bruce, querido você está bem? Aconteceu alguma coisa? - Minha mãe perguntou, e eu permaneci em silêncio, até que ela me chamou novamente. - Bruce?
- Desculpe mãe. Eu estava distraído. - Fiquei em dúvida se perguntava à ela ou não sobre o Jardineiro. E se ele existisse somente em minha cabeça? Preferi não dizer nada. Pelo menos por enquanto.
- Acabei de falar com Claire. Ela aceitou te encontrar. Acredito que vocês tem uma conta enorme para acertar, e espero que esteja preparado. Aquela garota que você conhecia não existe mais.