Capitulo 5 - Coisas Quebradas

1478 Words
- Abre a portaaa – reviro os olhos e corro até a porta do apartamento colocando a caneta na boca enquanto tento abrir – Âmbar? - Estou tentando abrir – minha voz sai meio abafada pela caneta - Sabe, não achei que precisasse instruções. Você só tem que girar.... - Cale a boca Flora Forço um pouco mais o trinco e solto um suspiro quando ela abre, sorrio para Flora, mas paro quando vejo o trinco de ferro na minha mão. - p**a m***a - O que.... - Flora abaixa o olhar para a minha mão e começa a rir alto – Tinha que ser você a quebrar alguma coisa – ela entra ainda rindo e se volta para mim ainda paralisada na frente da porta - Estava ficando surpresa por não ter quebrado nada essa semana. Olho tristemente para o trinco e fecho a porta tentando encaixar de novo, será que se eu passasse cola funcionaria? Forço de novo para frente e o trinco cai na minha mão. Bufando deixo a porta do jeito que está e vou até a sala vendo uma Flora ainda risonha. - Quer parar de rir? Você sabe que a gente está ferrada - Não seja dramática, é só um trinco - Na verdade, eu quebrei o botão do chuveiro – eu falo baixinho mordendo a tampa da caneta - O que? – Flora arregala os olhos e corre para o banheiro – p**a que pariu, ele vai nos matar Me jogo no sofá fechando os olhos enquanto penso nas consequências. O senhor Fulton é o dono do prédio em que moramos a mais de seis anos, e nenhum dia se passa em que ele não nos lembre do que já quebramos no nosso apartamento minúsculo. A maioria das coisas quebradas foram obras minhas Não tenho culpa.... Talvez um pouquinho - Sabe, eu acho melhor a gente fugir – Flora se joga ao meu lado colocando a cabeça em meu ombro – Tipo, para as Bahamas - Ótima ideia – suspiro enquanto me acomodo melhor no sofá ao lado dela – Talvez eu possa ir na sua mala quando você for na lua de mel Sinto o sorriso de Flora crescer enquanto eu mesma já estou sorrindo. Ela levanta a cabeça e seus cachos pretos e luminosos invadem sua visão fazendo com que ela os coloque para trás com impaciência antes de arregalar os olhos animada. - Dá para acreditar que em alguns meses eu serei a senhora Thompson? - Não mesmo – pauso por um instante e falo em tom divertido – Será que Frank sabe no que está se metendo? Flora me dá um soco no braço e eu resmungo chateada alisando o local machucado - Você é muito agressiva - E você é insuportável - Só com você – eu falo e me esquivo de um novo soco, coloco a caneta na mesinha a nossa frente e me inclino no sofá sorrindo para ela – Como foi a viagem? - Um tédio total, não me deixaram entrevistar quase ninguém importante – ela resmunga e se joga no encosto do sofá – Me pedem para dar o meu melhor, mas como eu posso fazer isso se as pessoas não cooperam? - Acho que eu entendo um pouco. Eu não iria querer que alguém me gravasse enquanto estou tentando nadar pelada – eu falo ironicamente e recebo um beliscão na perna – Aí Flora, isso doí - Bem feito, você sabe muito bem que eu fui fazer uma entrevista sobre poluição nas praias e não era uma praia de nudismo - Você que acha isso. Juro para você que vi uma mulher passando nua atrás de você na televisão Ela arregala os olhos e começa a rir alto, sorrio me deleitando com o momento de paz. - Aquele biquini era hilário mesmo. Parecia transparente – ela fala e eu concordo seriamente – Mas e você? Novidades? - Algumas Ela espera enquanto eu me mantenho em silêncio, vendo minha intenção ela pega um travesseiro pequeno e joga em mim com força - Fala logo! - Está bem – puxo uma respiração e falo em voz contida – Sabe a indústria Campbell? - Sei - Fui contratada para fazer o design do interior de um dos prédios, o mais novo agora. - Ai meu deus – Flora dá um pulinho em cima do sofá e vem em minha direção me sufocando em um abraço caloroso – Eu sabia, sabia. Era só uma questão de tempo até verem seu talento - Não se anima muito não – empurro ela para longe e me sento de volta – Adrienne não gostou nem um pouco disso - Pouco importa, deixe o dragão pra lá - Isso é praticamente impossível, ela é minha chefe, esqueceu? Flora resmunga e pula para fora do sofá animada - Temos que comemorar, vamos comer bastante doce e.... - Ahnn, Flora? Lembra do vestido de.... – Ela me interrompe com uma careta e me puxa do sofá com força. - Hoje não é dia de pensar em vestidos de casamento, larga de ser chata - Vestidos? Vai se casar com mais de um? – falo em tom divertido e ela estreita os olhos para mim – Ah espera. Você vai se casar com mais de uma pessoa. Frank sabe? Flora rosna e eu começo a correr indo em direção ao quarto. Seus gritos me acompanham no corredor e eu me tranco dentro do quarto junto com um Misty animado pulando em cima da minha cama. - Viu? A gente conseguiu fazer com que ela esquecesse dos doces – eu falo sussurrando e Misty sacode a cabeça como se concordando. Nós erámos uma ótima dupla.   .................................. O prédio a qual eu iria fazer o design ficava localizado bem no meio de milhares de outros prédios. E isso mudava toda a estrutura. Porque o prédio tinha que exalar um outro nível que nenhum dos outros prédios exalava, não de forma extravagante ou exagerada, mas suave e perceptível aos olhos curiosos. O desenho no papel estava se transformando e sendo aprimorado, eu rabiscava e logo depois apagava, usava régua e logo depois a dispensava. Parava e olhava para o nada e depois voltava. Era minha rotina favorita Criar, consertar, modificar, construir Era perfeito Olho com a cabeça inclinada para um novo ângulo do desenho e apago uma linha fazendo outra em um lugar melhor. Aperto o botão da caneta repetidamente olhando para o desenho e só paro quando o meu celular toca em uma ligação. Jogo a caneta para o lado e pego ele do carregador, o desconectando. Olho para o número do identificador e suspiro cansada antes de atender. - Mãe? - Âmbar? Ai meu deus, você não atendeu nenhuma ligação, estava começando a ficar preocupada com você Reviro os olhos e me levanto da cadeira da mesa e vou para a cama, me sentando na beirada. - Estou bem, só ocupada - Fazendo o que? – finjo que ela não perguntou isso e fico em silêncio, até que ela se cansa e diz com a voz carregada de tristeza fingida – Seu pai está muito chateado, você nem ao menos mandou uma mensagem parabenizando-o. - Tenho certeza que ele vai lidar com isso - Ele é seu pai Âmbar – ouço ela se movimentando com os saltos altos do outro lado e espero ela se afastar de quem quer que esteja por perto – Ele só quer o seu bem, e o que você faz? Tenta diminuir ele? Para que? Você precisa crescer Âmbar, estou falando sério - Claro mãe, pode deixar – concordo com ela em tom sério. Não faz mais sentido discutir sobre algo que não vai mudar - Venha para casa, vamos conversar. Suas amigas sentem sua falta, sabia? – ela abaixa o tom de voz para um sussurro animado – O Colin vive perguntando sobre você, tenho certeza que ele a perdoaria se voltasse. Sorrio pelo que ela falou e quase desligo a ligação, mas isso seria criancice, então faço algo melhor, eu a ignoro. - Âmbar? - Estou aqui - Você me escutou? - Sim - E não tem nada a dizer? - Não – eu falo e ela resmunga irritada do outro lado - Eu juro que tento te entender, mas parece que você faz tudo para nos irritar. Nem ao menos se digna a vir nos visitar de vez em quando Âmbar, estou cansada de seus joguinhos infantis - Eu também estou – eu falo e me levanto da cama – Então porque não fingimos que não conhecemos uma à outra e simplesmente nos ignoramos? – faço uma pausa e digo com surpresa fingida – Ah não, espera! Nós já fizemos isso, não é? Ouço quando ela suspira e logo depois a ligação é encerrada, fecho os olhos e inspiro puxando uma respiração. - Tchau mãe.
Free reading for new users
Scan code to download app
Facebookexpand_more
  • author-avatar
    Writer
  • chap_listContents
  • likeADD