Capítulo 1.

3175 Words
Eu não aguento mais essa demora.  Meus olhos queimam de raiva, e meu coração está disparado.  Da primeira vez que senti isso a sensação foi de cacos de vidro me cortando por inteira. Eu ainda não acredito que isso está se repetindo. Eu ando de um lado para o outro dentro daquela casa, como se aquilo fosse fazer o relógio correr mais rápido. Minha paciência está quase esgotando. Pego meu celular de cima da mesa de centro e checo as mensagens, mas o vazio da caixa me faz querer jogar o aparelho na parede. Eu tinha ligado umas 30 vezes para aquele desgraçado, mas ele não tinha atendido nenhuma. As lágrimas que estive prendendo rolam no meu rosto molhando o piso de madeira. A pontada gélida que atravessa meu peito parece doer á cada segundo que eu encaro aquela porta com as costas presas a parede fria, esperando um chumaço de cabelo loiro passar por ela. De novo, ele me deixou de novo nesse apartamento sozinha e saiu para alguma balada. O pior de tudo, era que eu sabia exatamente o que ele estava fazendo. Ele estava me machucando como há dois anos atrás. Estava quebrando sua promessa diante dos meus olhos.   Movo meus pés com dificuldade para cozinha. Minha garganta está seca. Bebo um copo de água na esperança de que ela leve toda dor que eu sinto, mas não acontece, ela ainda permanece entalada na minha garganta. Volto para o mesmo canto que estava, mesmo sabendo que eu deveria subir aquelas escadas e ir embora de uma vez por todas. Minhas pernas doem tanto que sento no chão abraçando os joelhos para esperar. O tilintar do relógio que Layan perdurará em cima da porta para não perder seu treino, indica que era 12h. Ouço o barulho dos portões de metal se abrirem, e o motor do carro se desligar. Eu me forço a ficar de pé. Caminho para o lado da porta, e espero. A maçaneta gira, e Hero Marshall passa por ela. Tinha um leve cheiro de bebida, e os cabelos estavam desgrenhados. Ele empurra a porta para fechar com o pé e sem pensar, eu pulo em sua frente distribuindo tapas no seu peito. - Onde você estava?! - Eu grito arranhando minha garganta. Hero segura meus braços tentando me impedir de acertá-lo. Ele parece alarmado, os olhos castanhos mel levementes arregalados. - Nem precisa me responder, eu sei exatamente você estava! Com quem foi dessa vez?! com ela de novo? minha respiração está falha quando fecho minha boca esperando ele responder. Mas eu ainda não paro de tentar aceitá-lo no peitoral. Ele era bem mais alto que eu, e isso dificultava. - Para! - Ele prende meu corpo contra o seu na parede. O álito alcoólico fica mais perceptível na minha narina. Isso me deixa ainda mais irritada. - Trice se acalma. - Se acalmar? - Gargalho alto, irônicamente. - Você saiu de novo Hero, você estava me traindo de novo. O que você quer? Que eu aplauda você?   - Eu só estava me divertindo. - Ele me solta ficando de costas para mim no mesmo instante. - Não precisa disso tudo. - Sua voz sai em um sussurro. Ele suspira pesado, passando a mão no cabelo, ainda de costas para mim. Eu estava incrédula. Incrédula com aquele homem que estava na minha frente. O mesmo que prometeu me amar. Engulo toda dor que consigo, e digo: - Você estava se divertindo? - Rio fraco. - Bom Hero, acho que está na hora de começar a me divertir também. Volto meus pés para a escada. - O que você quer dizer com isso? - Ele pergunta. Eu viro a cabeça vendo ele semicerrar os olhos. - Não se faça de idiota, você sabe. - Respondo com um suspiro pesado, voltando a subir os degraus. Ouço as passadas fortes de Hero contra o chão logo atrás de mim. Faço menção para virar o corredor, mas ele é mais rápido me pressionando contra a parede. O lábio está entreaberto, a cicatriz do antigo piercing ainda é um pouco visível. Eu me lembro da argola brincando no seu lábio, de que como Hero ficava lindo com ela. Me lembro de como sua boca é macia, de como foi a primeira vez que à provei. Ele respira descompassado. A raiva era nítida em seu semblante. - Não fala isso nem brincando. - Sua voz é extremamente baixa. Ele fala pausadamente como se quisesse gravar cada palavra na minha cabeça. Eu só consigo olhar para ele sem dizer nada.  - Se eu souber Beatrice, que outra pessoa sequer pensou em você, eu vou perder meu distintivo com o que vou fazer com ela. Ou com qualquer outro. Sinto a raiva fluir no meu corpo.  - Você não tem o direito de fazer isso comigo Hero! - Eu digo me desvencilhando dele. Ele volta a passar a mão no cabelo andando de um lado para o outro. - Eu faço o que eu quiser, e você vai ter que lidar com isso. - Eu não vou lidar com merda nenhuma. - A melhor coisa a fazer é terminar isso Hero. - Não consigo controlar as lágrimas teimosas. Levanto meus olhos para ele que está incrédulo. Desta vez ele me olha, com os pés travados no chão. - De jeito nenhum. - Ele parece cauteloso ao falar, fechando os olhos com força. - Isso tá fora de cogitação Beatrice. - Não Hero, isso não está fora de cogitação. Eu estou cansada, você me destruiu. - Trice olha... - Não me chame assim! - Eu corto estridente limpando meus olhos. O que ele estava querendo? Eu estava exausta. Estávamos bem até Hero começar a receber ligações e sair todas as noites. Tínhamos se perdido em dias. O homem que eu amava estava lá, mas parecia se forçar a querer ser outro alguém. E isso estava me matando. - Por favor, eu imploro. - Ele me pede. Eu o odiava. Odiava quando ele fazia esse jogo sujo. Me odiava ainda mais por cair nele, depois de ter prometido nunca mais fazer isso. - Eu não vou deixar você ir embora. Por favor Trice, confia em mim. Eu não respondo. Não queria, não naquele momento. Caminho para o quarto fechando a porta atrás de mim. As lembranças daquele cômodo martelam na minha cabeça para entrar. E eu deixo. Eu me permito lembrar do toque de Hero, das noites de filme, do dia da minha mudança. - Hero isso é demais. - Eu falo desnorteada. - Você gostou mesmo? - Ele pergunta enrolando um cacho meu no seu dedo. - Fiz questão de pegar o quarto maior. Você pode ficar aqui o tempo que quiser. E Kristen também é muito bem vinda. - Eu nem sei o que dizer. - Confesso encarando as paredes brancas do cômodo. A cama de casal estava ao canto com lençóis esverdeados cobrindo o colchão de forma desajeitada. - Só diga que vai ficar para sempre. Lembrar daquilo me doía tanto. Porque ele tinha que vacilar? Porque? Sinto meus olhos arderem. Eu não queria ir. Porque eu ainda sentia que deveria ficar? Que eu deveria escutá-lo? Amanhã os meninos chegariam de viagem e o clima ficaria pesado. Essa era a última coisa que eu queria. Talvez com a presença deles as coisas mudassem. Talvez eles colocassem algum juízo na cabeça de Hero. Ou não, talvez este fosse nosso fim.                                    *** Desperto ouvindo meu celular tocar. Hero deve ter colocado aqui. Que horas foi que eu dormir? Sem abrir os olhos eu alcanço ele na cabeceira da cama e atendo. - Caramba achei que não ia atender hoje. - A voz familiar soa irritada do outro lado da linha. Não consigo não dar um sorriso. - O que você quer Kristen Barton? - Eu pergunto ainda sonolenta. - Como você sabe, eu sou uma melhor amiga incrível então resolvi te ligar para gente tomar café juntinhas. - Ela diz animada. Kristen era a única pessoa que me fazia sorrir mesmo quando tudo estava por um fio. Ela não era aquelas melhores amigas, que tinha os melhores conselhos do mundo, mas era minha melhor companheira da vida. - OK, Sant? - Pergunto retoricamente. A estrutura de pedra com detalhes vermelhos servia o melhor bacon com ovos de Nova York e era o nosso preferido desde sempre. - Achei que tinha dormido de novo - Ela diz reclamona. - E não precisar se apressar, eu te espero - Conhecendo Kristen como eu conhecia, nos nossos oito anos de amizade, foi o bastante para que eu checasse a hora no mesmo instante. O relógio marcava 5:40, e Kristen odiava atrasos, mas até para ela estava cedo demais. - Kristen Ellie Barton, não acredito que você está me ligando às cinco horas da manhã para combinar de irmos ao Sant. - Eu podia ver Kristen morder as unhas do outro lado da linha. - Você fez a compra do mês semana passada, não acredito que já devorou tudo?  - Engraçadinha! - Ela diz irritada, imitando uma risada birrenta. - É para você não se atrasar. - Ok Barton. - Murmuro ajeitando minhas coisas no travesseiro para ficar sentada. - Agora já pode me dizer o real motivo da sua ligação. - O que? Você não acredita que fiz isso porque quero te ver saudável? - Ela diz fingindo se ofender. Antes que eu possa responder, ela prossegue: - Tudo bem, é que sua família feliz vai chegar hoje, e sei que eles vão grudar em você sem deixar tempo para mim. -  Ela fala dramaticamente. - Inclusive - Ela finge uma tosse. - Eles já chegaram? Sorrio maliciosamente me dando conta do motivo pelo qual minha melhor amiga está me ligando às cinco horas da manhã. - Bryan não chegou ainda Kristen. - Eu disparo, segurando a risada. - O que? Eu quero mais é que aquele idiota se exploda. - Esbraveja ela. Dou uma risada nasalada, revirando os olhos. Kristen e Bryan tinham um rolo que durava à bem mais de dois anos. Foi através dos dois que eu conheci Hero. Nós namoramos, viemos morar juntos, e Kristen e Bryan ainda continuavam como cão e gato. - Tudo bem sra. não me importo com nada e nem com ninguém  - Debocho. - Como você adora falar da vida dos outros, não se incomodaria de falar da sua agora não é? - Ela ironiza. - E você e o Marshall? - Bufo. Não queria falar disso agora. Não por telefone. Se eu pudesse excluiria da minha cabeça. Mas não tinha como não é mesmo? A noite de ontem vem como um avalanche sobre minha cabeça. Tento afastar aquela sensação ruim que sinto quando lembro. Quase esqueço que Kristen está no celular comigo. - Te encontro daqui a pouco. - Nem espero ela responder, desligo o celular e levanto da cama. Olho a hora de novo. Seis horas.  Deixo que a luz solar entre um pouco no quarto. Queria que minha vida estivesse ensolarada como aquele dia. Mas não estava. Me pergunto se Hero dormiu no escritório, ou se fora para um dos quartos dos meninos. Chacoalho minha cabeça afastando os pensamentos. Quando adentro o banheiro de mármore, faço minha higiene matinal antes de me enfiar debaixo do chuveiro. Aquilo me relaxa de certa forma. Saio enrolada na toalha, e me deparo com Hero está sentado na poltrona que fica ao lado da cama. Eu olho para ele de relance, e volto meus olhos para o guarda roupa. Deslizo a porta analisando os cabides enfileirados. Remexo em algumas, e puxo um short jeans, e uma blusa branca de mangas curtas. Isso serviria. Sinto Hero me olhar, mas ignoro. Não queria ter que falar com ele agora. Volto para o banheiro novamente e me visto. Passando pelo espelho, eu consigo ver meus olhos inchados da noite anterior. Talvez um pouco de base e corretivo ajudasse a dar um jeito. Eu estava péssima. Quando volto para o quarto, Hero continua na mesma posição, está curvado com as mãos juntas e os olhos semicerrados para mim, como se eu fosse um dos seus suspeitos. Não lembrava quando ele tinha ficado tão sério. Hero trabalha como investigador, ele e os meninos formam uma equipe bem remunerada, e eram pagos para descobrirem alguns casos que a polícia destinava especificamente para eles. Era perigoso, e eu odiava a ideia, mas Hero e os meninos eram muito bons no que faziam. Na pentedeadeira eu passo uma camada de creme no cabelo para formar os cachos e ligo o secador impaciente que eles sequem naturalmente. - Um pouco cedo para estar acordada, não? - Pergunta Hero quebrando o silêncio. Sua voz está mais rouca que o normal. - Vai controlar meu sono também? - Eu rebato impaciente. - Onde está indo? - Ele ignora meu comentário. Eu me levanto bufando, sabendo que ele começaria com o interrogatório. Típico de Hero. Seu cabelo está penteado, mas não o suficiente. Os cílios espessos eram um contraste perfeito com os olhos. - Vou sair um pouco. - Evito olhar para ele, calçando um par de sapatos. - Vou perguntar de novo. Beatrice, onde você vai? - Vou me encontrar com Kristen. - Suspiro pesado. Minha irritação é notória. - E você precisa mesmo ir com esse short? - Ele me mede de cima á baixo, passando a língua no lábio. Visualizo o short jeans. Era antigo, mas estava muito bem conservado. Ele torneava bem minhas coxas. - Caramba nunca vi tanta disposição para implicar com tudo. - Falo. - É só um short. - Um short que deixa aberto para todo tipo de imaginação. - Eu poderia e queria interpretar aquilo como outra coisa, mas não era isso que ele quisera dizer. Ele estava com a velha expressão carrancuda que fazia quando estava com ciúme. - Hero, eu estou atrasada. - Então se eu fosse você se apressava para trocar. - Ele me encara. Os olhos subindo e descendo do meu rosto para minhas pernas. - Eu não quero que ninguém imagine o que estou imaginando agora. Engulo a seco a vontade de pular em cima dele. Abro o guarda roupa e tiro uma legging preta. Eu odiava o ciúme descontrolado dele. Sabia que isso se tornaria uma discussão sem fim, então decido só trocar e sair o mais depressa que posso para ver Kristen. Visto a legging que combina perfeitamente com os tênis. - Satisfeito? - Pergunto retórica. - Muito. - Ele vem em minha direção, aproxima sua boca da minha, mas eu desvio indo até a porta. Abro ela, mas antes que passe sinto meu braço ser agarrado. Hero me dá um giro fazendo eu parar na sua frente colando nossos lábios em um selinho. - Está tudo meio confuso, mas saiba que eu te amo. - Ele diz com os olhos expressivos. Aqueles mesmo olhos por qual eu me apaixonei, me entreguei. Eu queria fazer tantas perguntas para ele, queria pedir para ele ser sincero comigo, mas não consigo dizer nada. Eu me solto dos seus braços e vou para garagem. Meu gol está parado logo atrás do carro de Hero. Eu ainda não tinha aprendido a colocá-lo na garagem. Entro no mesmo girando a chave na ignição. Demoro um pouco por causa do trânsito. As ruas de Nova York, continuam às mesmas. Pessoas por toda parte imersa em seus próprios interesses, grupo de pessoas apressadas para seus respectivos trabalhos. Deixo o carro no mini estacionamento do Sant. Pela vidraçaria da estrutura, eu consigo ver a mecha do cabelo preto de Kristen. Ela está sentada no banquinho vermelho ao fundo. Quando adentro, eu aceno para o atendente simpático e sento à sua frente. - Achei que não viria. - Ela me mostra as inúmeras mensagens que havia me deixado antes de largar seu celular sobre a mesa. - Desculpa, o trânsito estava péssimo e Hero acabou me atrasando. - Eu explico. A morena de pele dourada está vestida com uma blusa regata e calças jeans. Os cabelos sobre os ombros tinham uma mecha rosa na nuca que fica aparente quando ela coloca os fios para frente. - Conta tudo. - Ela apoia os cotovelos na mesa. Fico relutante em ter que contar tudo aquilo, mas sabia que precisava colocar tudo aquilo para fora. E só Kristen poderia me ouvir. Eu começo a contar tudo sobre ontem a noite. Conto sobre Hero ter me ligado avisando que não voltaria logo, de como fiquei esperando e todo o desastre restante. - Não acredito nisso. - Kristen diz irritada. - Vou entrar sorrateira na sua casa e sufoca-lo com o travesseiro até ele se arrepender profundamente. - Sorrio do teatro que Kristen faz ao falar. A situação era péssima, mas estava feliz de ter Kristen. - Sorte sua por morar sozinha, e por não ter ninguém.  - Eu falo, recebendo o garçom que coloca bacon e ovos na mesa. Kristen e eu sempre pedíamos a mesma coisa. A única diferença é que ela gostava do seu com ketchup. - Concordo. A sensação de andar pelada sem ser incomodada é maravilhosa. - Diz ela naturalmente. - Você é ridícula Barton. - Eu falo entre risos colocando uma bacon quase inteiro na boca. - Acho que eu deveria comentar sobre isso com Bryan, aposto que ele ia adorar saber. A morena me encara feio articulando com o garfo em direção ao meu pescoço. - E então, o que você pretende fazer? - Ela me pergunta cautelosa. - Eu de verdade, não sei. - Admito. Eu não sabia mesmo. - Você sabe que pode ir lá para casa não é? - Kristen diz amável, me lançando um olhar carinhoso. - Eu sei. - Sorrio para ela. - Mas não sei se quero ver você pelada. - Você não está preparada pra tudo isso. - Dou uma gargalhada. - Eu só preciso de um tempo. - Falo por fim suspirando. - Eu vou respeitar sua decisão, mas não concordo. - Ela deixa claro. Concordo com a cabeça. Kristen odiava tudo isso. Ela odiava me ver cabisbaixa. Ela parece notar o quão mal eu estou naquele momento. Ela sabia. - Vamos até o shopping? - Pergunta ela, tentando me animar. - Preciso comprar um secador novo, meu cabelo tá horrível. Era irritante ouvir Kristen dizer isso, já que ela era ridiculamente linda. O cabelo curto liso impecável, os lábios grandes e carnudos - diferentes do meu que eram finos. O corpo vantajoso com curvas. Eu não tinha um corpo desse, eu diria que eu era bem mediana em tudo. - Vamos ou não? - Eu tinha comido metade, enquanto Kristen tinha raspado seu prato inteiro. - Desculpe estava me controlando pra não te bater por falar que seu cabelo está horrível. - Faço cara de tédio. Ela ri. - Anda logo Harper. - Eu me levanto seguindo ela até a saída. Depois de muita discussão sobre em qual carro iríamos, decidimos que nos encontraríamos no estacionamento do shopping, mas deixaríamos o celular em ligação para reclamar do trânsito. 
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