Malaxofobia

Sophie Cavaunagh. Organizei todas as crianças frente aos alvos, a maior parte ali tinha em torno de 12/14 anos, os pais normalmente largam as crianças aqui durante as férias. Não que eu seja uma grande fã de crianças, mas acho que nem todos estavam felizes brincando de ser escoteiros num acampamento, e não estando com sua família. − Vamos lá, três, dois, um! – Todos soltaram suas flechas, e para minha surpresa, pelo menos um conseguiu acertar o meio do alvo, deveria ter uma boa pontaria, ou foi golpe de sorte. Soltei um suspiro sorrindo para eles. Bom, era só mais um dia normal, uma rotina que não mudava nunca. Sempre assim. É o que eu faço desde que saí da cidade grande. Desde que aquele traste que atende como Andrey foi preso. Sempre que lembro do que passávamos, de como fui enganada, tenho vontade de entrar numa fogueira e queimar até a morte. − Cavaunagh? – Desviei o olhar que dirigia para as crianças me virando ao ouvir o chamado de um dos supervisores – Tem um telefonema para você. Franzi o cenho achando aquilo estranho. Normalmente meus pais me ligavam aos finais de semana, ou esperavam que eu ligasse quando não estivesse ocupada, ainda mais porque eram as férias de verão, eles sabiam que eu estava ocupada com crianças. Eles são os únicos que me ligam sempre, então não via motivo para isso. Pedi que o supervisor ficasse com as crianças para que eu pudesse atender, e rapidamente corri para dentro da cabana do chefe pegando o telefone. O sinal dos celulares era prejudicado no acampamento, a ideia também era que as crianças deixassem de lado um pouco os aparelhos, então as cabanas do chefão – que era meu irmão adotivo – e dos empregados tinham telefones. − Sophie? – Escutei a outra voz me chamar mais de uma vez e então a reconheci; era Troy, um amigo de um antigo trabalho que eu fiz quando estava na cidade, pelo visto ele tinha conseguido meu número. – Desculpe ligar assim do nada, mas precisamos de sua ajuda. − O que você quer dizer com "precisamos de sua ajuda"? – Repeti como se eu não soubesse do que ele estava falando. Na verdade, eu não queria era acreditar que eu estava sendo chamada para alguma coisa que tinha a ver com o antigo trabalho que fiz. − Ah Sophie, lembra da vida que você tinha? Então, precisamos de uns favores no nível daquela vida. – Eu conseguia imaginar ele rindo, porque achava um absurdo eu estar fugindo de quem eu era, no acampamento e sempre me pilhava. − Eu queria entender, o que te faz pensar, em me ligar me propondo uma coisa assim, quando o motivo para eu estar escondida nesse acampamento é justamente pela vida que eu levava. – Eu estava quase gritando no telefone, mas precisava manter a postura. – Troy Hastings, volte para a vida de advogado e me deixe trabalhar por aqui, em paz. − Tudo bem. – Ele abaixou o tom de voz e dessa vez eu sabia que estava falando mais sério. – Eu sei que você não gosta de lembrar do que fazia antes. Mas não é assim que funciona, você era do FBI Sophie. Não é algo que pode apagar quando quiser. Você está aí não por causa do seu emprego, está fugindo do que aconteceu com o Andrey, e mesmo assim, mesmo respeitando o que você sente, eu preciso que você volte. A Clypeus precisa de você. Soltei um suspiro alto tirando o telefone do ouvido. Aquilo não era uma coisa de se ouvir. A Clypeus era uma companhia de advogados, onde Troy e Andrey trabalhavam. O nome foi decidido por Andrey Miller; na época que eu estava fazendo um serviço para a mesma, em latim, o nome significava escudo, no momento em que o nome foi decidido eu fiquei curiosa em entender, como um advogado sabia latim, mas ele também podia só ter jogado no Google, o que não alterava nada. No entanto, aquilo não era a única coisa que ele sabia, e o pior, foi descobrir a verdade quando já estava apaixonada. − Troy. – O alertei pronta para me render. – Eu não gosto da ideia de voltar, muito menos para trabalhar para vocês. − Vou te contar um pouco mais. Tem um advogado novo aqui, ele se chama Christopher. Ele não é exatamente novo, mas quando você esteve por aqui ele ainda estava no último ano da faculdade, então só estava estagiando. Ele ajudou a colocar o Andrey na cadeia, e por menos que goste do assunto, Christopher está sendo perseguido e achamos que pode ser alguém fora da cadeia, a mandado do Miller. A situação pedia que eu me envolvesse mesmo que eu negasse. Por parte, aquilo era culpa minha, já que eu teria deixado um cumplice ficar livre e agora estava atacando outro garoto. Garoto ou homem, seja o que for. Agora tinha um cara em perigo e ninguém pensou duas vezes em contratar uma guarda-costas. Aposto que a conversa foi mais ou menos: "Chamaremos a senhorita Sophie Cavaunagh, ela já foi do FBI e o M16 não vai se importar se ela fica em contato também." "Sim, porque ela é treinada para matar, e foi namorada de um dos maiores ladrões da nossa companhia". Encostei a testa na parede e soltei mais um suspiro, Troy já estava rindo do outro lado do telefone porque ele sabia que tinha me convencido. − Mande um helicóptero amanhã na parte da tarde. – Pedi por fim. – É a última vez que eu vou fazer esse papel, você está entendendo? E é melhor que meu salário seja bom. − Eu ouvi um amém? – Afastei o telefone do ouvido ao ouvir o grito dele, parecia um adolescente besta. – A agente Cavaunagh está de volta a ativa.