Ariel Campbell
Eu odiava surtar assim, mas só aconteceu duas vezes. A primeira quando David quis se meter e hoje, quando Môni tentou se meter.
Eu não estava querendo gritar com ela, mas não podia deixar com que ela entrasse em uma briga que não era dela. David já fez isso e o as coisas não rolaram muito legais para o meu irmão mais velho.
Estávamos na praia em um dia adorável. O sol estava brilhando e o clima não estava tão quente a ponto de nos fazer torrar, estava um dia agradável.
Môni se levanta e tira a saída de praia, ela tinha um corpo incrível, cheio de curvas maravilhosas, acho que é um gene dos Campbell, já que todos da família tem uma boa forma. Eu sou magra, mas definida, já que faço tudo quanto é exercício, apenas parei o ballet por causa da minha mãe, na verdade eu comecei o ballet por causa dela também, então está tudo bem...
- Eu vou para a água, você deveria fazer o mesmo. - Ela se levanta e olha para trás. - Adam! Que bom que está aqui - Môni grita e olho para trás. O Ogro está há uns dois metros da gente, parece que acabou de vir do quiosque de bebidas.
- Môni, tudo bem? - Ele segue até nós e dá um abraço em Môni, logo se vira para mim e me dá um beijo demorado na bochecha. Fico vermelha instantaneamente e ele ri baixo. - Ariel, como está?
- Bem, obrigada. - Respondo e volto a beber minha água de coco. - Agora você já tem companhia para ir ao mar, Môni. - Sorrio e aponto para Adam. Môni pega o braço dele e abre um enorme sorriso.
- A sereia não está a fim de água hoje, que tal me fazer companhia, Adam? - Pergunta Môni cheia de falsas segundas intenções.
Ela odiava aquilo tanto quanto eu, mas lá estava ela desempenhando o seu papel enquanto eu estou aqui fugindo de desempenhar o meu de fisgar o Bernardo.
Os dois seguem para a água enquanto eu fico observando o mar.
- Oi, salvadora. - Alguém sussurra no meu ouvido e logo eu sei que é Julie, irmã de Adam.
- Olá pequena Julie. - Abro um sorriso e ela me abraça toda molhada, nem penso nisso até que ela continua.
- Me desculpe, estou te molhando inteira. - Ela pede e pega uma toalha para secar minha barriga. Não percebo o que ela está prestes a fazer até que é tarde demais, talvez eu seja um pouco lenta como Flora diz.
Pego a mão de Julie afastando de mim, mas ela já havia feito. Passou a toalha em cima do meu abdômen tirando um pouco a maquiagem que estava ali. Julie arregala os olhos enquanto eu penso em algo.
- O que aconteceu com você? - Ela pergunta chocada enquanto eu pego uma blusa de dentro da bolsa. - Isso é um roxo enorme, mas não parece que você caiu. - Ela aponta com os olhos arregalados.
- Não aconteceu nada, está tudo bem! - Sorrio enquanto coloco a blusa, mas ela continua me fitando chocada. Realmente ela poderia ter passado a toalha em algum outro lugar, mas passou bem abaixo das costelas revelando uns hematomas roxos e verdes terríveis. - Você não viu nada, está bem? - Pergunto olhando-a nos olhos.
- Ariel, o que aconteceu? - Ela pergunta ainda baixo e sua expressão muda para preocupada.
- Eu disse que não aconteceu nada, está tudo bem. Está tudo ótimo, eu estou ótima. - Digo a frase mais para mim do que para ela. Julie é pequena demais para se envolver com problemas de adultos.
- Alguém te machucou? - Ela me olha nos olhos e segura minha mão.
Apenas Môni e David se importam comigo assim, mas eles não podiam saber do que acontece de verdade em casa, eles iriam pirar e isso iria destruir eles... Ver Julie me encarando preocupada me fez entender como eu me sentia sozinha dentro da família Campbell.
- Nada que uma super sereia não consiga resolver. - Sorri com os olhos cheios de lágrimas e Julie entende que não quero falar sobre isso. m*l conheço a menina e ela já tem dois segredos meus, como vou sobreviver assim?
Mudei de assunto e nós ficamos conversando sobre coisas aleatórias, até que Adam e Môni chegam.
Môni me vê vestida com a camiseta e percebe a forma como Julie se tornou um pouco mais próxima de mim, seus olhos me dizem que ela entendeu.
- Você disse que estava bem. - Sussurra Môni enquanto abaixa para pegar seu celular na bolsa. - Está feio? - Pergunta e eu assinto, não posso mais mentir, ela já imagina que eu me machuquei. - Eu vou matar ele! - Diz um pouco mais alto.
- Matar quem? - Pergunta Adam curioso e lindo... Aquelas tatuagens cobrindo todo seu corpo me fazer esquecer meus problemas por alguns segundos. Como ele pode ser tão bonito?
- Quem? - Pergunta Julie inquisitiva ligando os pontos.
- O cara do açaí que disse que traria para ela um copo e até agora não veio. - Digo sorrindo. - Eu vou pegar um e vou embora, estou um pouco cansada, podem ficar. - Me levanto e pego minha bolsa. A inundação de tudo o que aconteceu me vem à mente quando vejo Zane e Margô vindo em nossa direção.
- Filhas, como estão? - Pergunta meu pai vindo até mim me dando um beijo na testa e depois ele segue até Môni que fica relutante, mas aceita o beijo na bochecha.
- Bem, eu já vou indo embora. - Digo dando de ombros.
- Achei que não viria a praia hoje. - Ele me encara alarmado, provavelmente pensando sobre os hematomas.
- Eu só vim pegar um sol, não estou me sentindo bem. Acho que vou pegar uma gripe. - Dou um beijo na bochecha da minha mãe. - Vou indo. Tchau família, tchau Adam, tchau Julie. - Sorrio fraco e vou para o carro. Entro e o motorista me leva até o hotel que estamos hospedados.
Todos os convidados para o jantar de investidores estão no mesmo hotel. Hoje à noite teria uma festa e todos deveríamos ir, de acordo com meu pai. Decido descansar para estar preparada para mais uma rodada com Bernardo.
- Como diz Agatha: Droga de vida, Droga de vida! - Resmungo entrando no meu quarto do hotel, me jogo na cama antes de ir tomar banho, mas me arrependo quando sinto a dor invadir cada célula do meu corpo.
Me levanto devagar para não doer mais e vou tomar um banho. Tiro as roupas e entro no chuveiro, vejo a maquiagem escorrendo e noto que os roxos já vão começar a ficar verdes. Em uns dias não vai parecer mais nada e vou poder voltar para a praia, linda e feliz.
Deito-me na cama tentando relaxar depois dessa semana difícil. Havia voltado da praia com Agatha e Flora no domingo à tarde da semana passada, e Zane estava com aquela cara de raiva que ele apenas faz quando eu estou presente, ele definitivamente me odeia. Me falou diversas coisas me fazendo me sentir um lixo de ser humano, como ele sempre faz.
Ainda posso ouvir aquela voz grave me mandando ir para "o santuário", minhas pernas tremem quando ele me pede, mas eu vou... Eu sempre vou.
Ele sabe que tem um poder de dominação sobre mim que eu já tentei a todo custo resistir, mas hoje em dia eu desisti. Desisti de lutar contra Zane Campbell que se diz meu pai.
As cenas que aconteceram a seguir ainda invadiam a minha mente e não consigo conter as lágrimas. Já era para você ter acostumado, Ariel... Tento acalmar a mim mesma, mas eu não me acostumei, eu não sei se consigo me acostumar a viver perto dele.
Ele nunca me tocou sexualmente, mas me destruiu de todas as outras formas. No meu ouvido as palavras de ódio sussurradas pela voz dele sempre me rodeiam e na pele eu sinto a dor causada por aquelas mãos enormes.
Fico chorando na cama por um tempo até ouvir a campainha do quarto tocar. Seco as mãos e colo meus óculos escuros, solto os cabelos para tamparem mais do meu rosto.
- Pensei que tinha te proibido de ir à praia. - Diz Zane entrando no quarto carrancudo.
- Me perdoe, Zane, Môni me convidou e fiquei com medo de ela estranhar a minha ausência. - Falei baixo olhando o chão.
- Minha querida sereia, você é uma incrível pensadora e agiu bem. Gostei da sua atitude, a maquiagem realmente ficou ótima. - Ele apontou para o meu braço que estava intacto depois da maquiagem que passei ao sair do banho. - Mantenha-se assim que tudo ficará tranquilo. - Ele sorri e se senta na minha cama. - Venha aqui. - Ele aponta para o seu lado e eu sigo até lá receosa. - O que você pensou sobre Bernardo? Ele é um cara legal e bonito, vai ser divertido perder sua virgindade com ele, não acha?
- E-Eu não sei. - Gaguejo e ele n**a com a cabeça.
- Comece de novo. - Ele pede sorrindo e eu já sei o que ele quer que eu fale.
- Eu concordo com você. - Falo baixo.
- Eu não te ouvi.
- Eu concordo com você. - Falo um pouco mais alto e ele levanta a mão me fazendo encolher instantaneamente.
Ele ri com a cena e faz carinho no meu cabelo.
- Você sabe que eu amo você, não sabe? - Ele me pergunta e eu assinto com a cabeça. - Eu te amo, minha filha, e sempre faço tudo pensando em você. - Zane sorri. Ele parece estar de bom humor hoje e isso é um bom sinal. - Você sabe disso, não é?
- Sim. - Me limito a dizer isso enquanto lágrimas brotam em meus olhos.
- Então diga para mim.
- Você me ama e faz tudo pensando em mim. - Falo e ele fica satisfeito se levantando. - Tenha uma boa festa hoje à noite. - Zane se levanta e segue até a porta. - Ah, mais uma coisa. - Ele vira para mim e me encara. - Libere para o Bernardo hoje, acho que é um bom dia para ele.
- Você quer que eu durma com o Bernardo hoje? - Pergunto devagar com medo da sua reação.
- Sim, me parece um ótimo dia. - Zane abre um grande sorriso. - Eu vou embora hoje com sua mãe. Nós nos vemos em Londres, David e Môni cuidarão de você até lá.
- Está bem.
- Eu te amo, filha. - Diz, ouço ele ir embora fechando a porta atrás de si.
Eu devo estar ficando sem lágrimas de tanto chorar.
Eu conheço o amor, e eu odeio essa palavra com todas as minhas forças.