Tia Rosálie

2665 Words
Eu observava o local, sentada no banco daquela igreja, meus pais haviam se casado naquele lugar, muito antes de eu nascer, por conta disso, eu achei melhor que eles fossem velados ali. Eu senti as lágrimas caírem, aquela dor no meu peito latejava sem parar, um sentimento que nunca sairia de fato de mim. A cada sorriso que eu dê daqui para frente, eu saberei que no fim eles não vão me esquecer isso. Senti os meus dedos serem apertados, eu tombei a cabeça sobre o ombro do Evan, ele havia se tornado uma âncora para mim, infelizmente eu havia conhecido meu sentimento por ele em um momento terrível. Depois do sepultamento dos meus pais, eu me senti ainda pior, aquela maldita sensação de ser minha culpa, me atingiu, se eu tivesse ido buscar o Aiden, isso talvez nunca tivesse acontecido. Eu deitei no sofá, vendo Evan falar algo que eu nem sequer ouvia, ele sorriu sem notar, um sorriso singelo, era tão difícil ele mostrar um sorriso como aquele para os outros. — Eu vou comprar o almoço para você. Ele se aproximou, os dedos dele passaram por dentro do cabelo vermelho, desalinhado os fios. Evan era um homem lindo, com seu cabelo pintado de vermelho e os olhos verdes, ele sorriu mostrando a covinha em sua bochecha, de repente ele se sentou ao meu lado, os dedos dele moveram meu cabelo para de trás da orelha. — Você não pode se culpar por nada. Evan falou, eu fechei os olhos sentindo a dor em meu peito, eu poderia me culpa, porque desde o começo, eu iria buscar o Aiden no aeroporto, mas por conta daquela festa idiota, eu não fui. — Não se pode fugir da morte, parece algo terrível de se dizer nesse momento, mas ninguém pode escapar dela. Ele se abaixou em minha direção, os lábios dele tocou na minha testa, pude ver ele se afastar levemente, os olhos dele tinham um brilho estranhamente conhecido, mas eu não conseguia lembrar de onde. Eu vi ele se aproximar lentamente, os lábios carnudos dele, tocaram o meu, sem notar eu abri os lábios para ele, o corpo dele veio para cima do meu, ele estava quente demais. — Espera… Eu sibilei durante o beijo, sentindo o pulsar do seu coração acelerado com a palma da minha mão em seu peito, eu ainda não estava pronta para isso, não agora. Ele se afastou bruscamente, levantando de uma só vez. — Me desculpe, Tree. Os dedos dele foram para dentro dos fios vermelhos, eu apenas o encarei sem saber o que dizer, ele saiu sem sequer esperar uma resposta, mas qual eu poderia dar a ele? Eu não queria sexo no momento como esse, não sentia nem sequer vontade de comer, imagine algo assim. Evan sabia que ele havia se precipitado, por conta disso ele foi embora. O dia se arrastou lentamente, depois que Evan saiu, tudo pareceu ainda pior, aquela casa ainda tinha a energia da minha mãe, o cheiro do meu pai, tudo o que me fazia sentir aquela saudades que jamais seria saciada, Aiden ainda estava na UTI, ele ainda não havia acordado, nem sequer sabia se ele ia. Fazia dias que eu estava ali, sempre sentava na mesma cadeira de frente para UTI e chorava muito todos os dias, o médico me informou que nem dos familiares que vieram ali quis assumir a conta do hospital por isso eu teria que chamar alguém da minha confiança que viesse para ajudar com as despesas do hospital, a única que iria ajudar com certeza era minha tia Rosálie, mas não falei nada para ela, Rosálie não sabia que sua irmã havia falecido, não havia falado antes porque sabia não fazia ideia de como falar isso a ela, peguei os números emergencial dela passei para o médico, eu não conseguiria falar isso para ela. Tudo isso era tão perturbador, eu estava sozinha na pior situação da minha vida, apenas eu, eu levantei novamente olhando pela janela, eu ainda não podia entrar no quarto dele, mas minha rotina ainda havia se tornado essa, passava horas olhando o Aiden esperando que ele acordasse, com isso eu mal dormia e comia. Iria detestar perder qualquer melhora do Aiden, mas as enfermeiras me avisaram que se não comesse e dormisse o médico proibiria de ficar ali, por conta disso eu passei a dormir em uns dos quartos para acompanhantes do hospital, comia na cantina junto às enfermeiras e médicos. Quando Tia Rosálie chegou pode notar que sua aparência estava a mesma, somente um pouco mais velha, os cabelos continuavam igualmente compridos e pretos, tão escuro quantos da minha mãe, seu abraço foi o único que me confortou de verdade naquele momento tão difícil da minha vida, mas ela ainda me repreendeu por não ter avisado nada, ela disse que poderia estar desde o começo comigo. Avisei que poderiam guardar suas coisas na minha casa, já fazia um tempo que ia lá, não conseguia por todas as lembranças, eu podia ouvir as risadas da minha mãe, ou andar do meu pai pelas as escadas, eu me lembrava de meus pais e meu irmão isso deixava a dor ainda pior. Sentei na cadeira ao lado da tia Rosálie, ela havia falado, que um amigo dela concordou em fazer turnos para ficar no hospital, ela disse que ele era muito amigo da minha mãe também. – Therese, é bom você ir dormir um pouco. Olhei o relógio do celular, já passava da meia noite e meia, pude ver o olhar preocupado de minha tia em mim. –eu estou bem, tia. Eu só quero que ele melhore logo. – acho bom você ir dormir, o médico disse que passaria aqui pela manhã para nos dar um aviso importante, você vai acabar dormindo aqui, não conseguir falar com o médico. – você ganhou, tia! Qualquer coisa me chama viu. Eu levantei da cadeira dando um beijo na bochecha da Rosálie, eu saí em direção ao quarto em que dormia, os corredores nessas horas estavam vazios e assustadores. Cada passo ecoava longe, virei no corredor chegando enfim à porta do meu quarto, entrei rapidamente. Tomei um banho rápido escovei os dentes e coloquei meu pijama de pandinha, isso me lembrou que tinha que visitar o pequeno Lino, quando voltei do verão que eu Aiden passamos em na casa da tia Rosálie, eu trouxe comigo o lino um cachorrinho que lembrava um pequeno panda, naquele verão meus pais não aceitaram de maneira nenhuma o lino acabei deixando ele em uma “fazendinha” e todo final de semana ia visitar ele. Estava em falta com as visitas, desde que tudo isso havia acontecido, eu deitei na cama me cobrindo, apaguei a luz, vendo a escuridão tomar conta de tudo ali, fechei os olhos lentamente. Eu abri os olhos encarando o teto, estranhei o fato do ambiente estar tão cinzento e sufocante, olhei ao redor tendo total consciência de que aquilo era um sonho, sabendo também quem era o responsável por isso, levantei da cama indo até a porta abri lentamente encarando um corredor mais sombrio do que nunca. Andei pelo corredor mas não havia nada além de algumas portas que estavam trancadas, podia escutar uma música de piano vindo pelo corredor, podia escutar passos vindo na minha direção, eu corri em direção ao quarto em que estava, mas eu pude ver que a porta estava diferente, mas eu ignorei isso quando uma risada maligna ecoou pelo o corredor, abri rapidamente a porta entrando na sala. Pode ouvir um murmúrio no final da sala, eu arregalei os olhos vendo algo tão surpreendente e inesperado, eu prendi a respiração pelo susto que veio. Tapei a boca não querendo ser notada ali, havia uma jovem garota em cima de uma mesa, e um rapaz em pé na beira da mesa entre as pernas da jovem, os movimentos que ele fazia mostravam que os dois transavam, mas não conseguia ver suas aparências, mas a jovem tinha uma voz familiar. Ela murmurava algo repetidamente, ele apenas respirava ofegante, os gemidos presos saiam sem ela querer. “eu não posso” Era o que a jovem repetia sem parar, me aproximei mais um reconhecendo o suéter de preto que eu havia usado durante o dia, era eu! “se você não gosta porque não me impede,Tree” –seus sonhos são tão confusos, Therese. Eu virei vendo o Ethereum, colado em mim, me assustei quase indo ao chão. – o que faz aqui? Eu perguntei, vendo ele sorrir, eu olhei diretamente para seus olhos brilhando em escarlate, ele deu um passo a frente, me fazendo recuar dois passos, batendo numa pequena mesa que havia ali. –eu posso ajudá-lo. Sabia que ele se referia ao Aiden, mas eu não poderia aceitar ajuda de algo como ele, ainda mais que almejava vingança. – não quero sua ajuda. Pude ouvir um gemido alto, virei para encarar os dois, ele se movia com maestria, indo e vindo com força nela, ambos gemia sem sequer notar. eu mordi o lábio, meu útero formigou em excitação. “ isso Therese se entrega pra mim” Ouvi uma risada vindo do Ethereum, virei para ele encarando sem entender o motivo da risada. – A Therese, vamos você precisa da minha ajuda. – Sua ajuda é inútil, você nunca cumpre o que está no acordo. – Que pena! Achei que ainda fosse ingênua e burra, mas eu estava enganado, nesse caso não tem por que continuar aqui. Ethereum sumiu de repente tudo ficou escuro, eu acordei com batidas na porta. Abri os olhos encarando o teto branco, tentando entender o que estava acontecendo com minha vida, mas eu deixei isso de lado, levantei indo até a porta e abri o mínimo encarando a tia Rosálie. –vamos o médico está chamando. –podem ir na frente! Irei vestir uma roupa já encontro você. – Tá bom, Bom dia flor. – bom dia tia. Eu fechei a porta, peguei uma roupa qualquer na mochila, fui pro banheiro, tomei um banho rápido, escovei os dentes, mesmo com a pressa e alvoroço, eu não conseguia para de pensar naquele sonho esquisito que havia, vesti uma bermuda jeans preta e um suéter azul marinho, eu podia sentir o nervoso me consumir, enquanto corria para o quarto do Aiden, quando cheguei pude ver que o médico examinava o mesmo. Me sentei ao lado da minha tia, esperamos o médico terminar ansiosamente. Quando ele saiu do quarto, seu rosto não estava dos melhores, me preparei para o que viria a seguir. – eu tenho duas notícias para vocês, uma é boa e a outra é ruim! – A boa primeira. Tia Rosálie disse, nós duas levantamos quando o médico se aproximou, o médico consentiu dando um sorriso para ela, senti minhas mãos suarem pela ansiedade, eu olhei para o Aiden por cima dos ombros do doutor. – Vamos diminuir o sedativo de maneira lenta, assim ele irá acordar dentre duas ou três semanas. Minha tia comemorou sabendo que Aiden iria acordar, eu estava feliz mas sabia que ainda não tinha acabado. – E a notícia ruim? Dessa vez fui eu a primeira a se pronunciar, o médico me olhou com tristeza, aquele olhar que sentia raiva. – Seu irmão não irá mais andar… O silêncio se pairou sobre nós apenas olhei para que ele continuasse, senti as lágrimas em meus olhos. – Ele sofreu um grande dano na coluna, mesmo fazendo fisioterapia ele não voltaria a andar novamente. Tia Rosálie me olhou com pesar, será que nada é capaz de trazer meu irmão de volta? Ele irá preferir a morte a viver preso em uma cadeira de rodas, ele irá desistir da vida antes mesmo de tentar. Sentia as lágrimas descerem pelo meu rosto, eu encarei o chão me sentindo inútil por não poder ajudar ele, tia Rosálie me abraçou – Vamos dar um jeito Therese, o Aiden vai ser feliz. – Não, tia Rosálie, ele não vai aceitar, o Aiden irá sofrer Senti ela me apertar mais forte, ele nunca iria aceitar viver assim, ele iria achar que todos os seus sonhos não poderiam se realizar. – Eu tenho certeza que ele não iria sofrer, vai sair tudo de acordo com ele iria querer… – De acordo… Eu resmunguei sentindo uma leve pontada na cabeça, então algo veio à minha mente. –Acordo? – O que disse, Therese? Eu balancei a cabeça, isso não poderia estar passando pela minha cabeça? Ethereum era uma das minhas piores decisões que poderia tomar, mas Aiden precisava de mim. –Tia Rosálie, pode ficar aqui com o Aiden? Eu preciso sair daqui e pensar, não consigo mais ficar aqui, vou descansar em casa. – Claro querida, pode ir! Eu chamei o motorista no Uber o mais rápido possível para me levar até em casa. Em uma das minhas conversas com a tia Rosálie, eu acabei revelando que sonhava frequentemente com aquele demônio terrível, Tia Rosálie mencionou que um amigo próximo tinha feito um diário que nele havia escrito tudo sobre Ethereum, entre outros demônios da mesma linhagem que ele, era possível que ele tivesse escrito como trazê-lo de volta, eu faria qualquer coisa para ver meu irmão bem e se isso significa que teria que fazer um acordo com Ethereum, eu faria sem pensar. Só teria que ser mais esperta que ele, teria que engana-lo no seu próprio jogo. Fazer ele concordar que não haveria destruição e mortes muitos menos caos. Quando cheguei em casa corri para o quarto da tia Rosálie, me sentindo mal por fazer aquilo, eu revirei tudo em busca do livro, mas não achei nada. – Onde está? Por último olhei embaixo da cama, notando que havia uma maleta preta, a peguei vendo que ela estava ligeiramente pesada, tirei as trancas da mala, vendo o livro marrom com uma insígnia de uma runa antiga na capa, abri vendo o que estava escrito, tirei várias fotos das páginas, quando terminei guardei tudo novamente. Eu teria que ir até a antiga cidade da minha tia, onde ele foi aprisionado, fui para o meu quarto sentindo toda a solidão que agora minha casa tinha, peguei minha mochila colocando algumas dentro dela, depois fui a cozinha peguei algumas coisas para comer. A viagem era longa, por conta disso, abri a gaveta do armário e peguei a chave do carro que era do meu pai, eu iria dirigir até e achar a estátua do Ethereum e fazer um acordo com ele. Deixei um bilhete para minha tia, dizendo que iria ficar um tempo com uma amiga minha, que não era pra se preocupar pois precisava de um tempo pra pensar. Fui para a garagem e peguei o sedam vermelho escuro que era do meu pai, ele morria de ciúmes desse carro, Agora está todo empoeirado, era apenas uma coisa que havia ficado para trás, eu entrei no carro me sentindo estranha, era daquilo ele estava falando, um acordo mudaria tudo, mas ainda assim eu não me importava com as consequências se Aiden ficasse bem, abri o portão da garagem saindo com o carro. Seria uma longa viagem da Califórnia até o Oregon, mas não me importo, eu faria qualquer coisa para ajudar o meu irmão a melhorar, mesmo que ele e outros não aprovem minha decisão. Deveria ser umas 9 horas da manhã quando eu parei em uma lanchonete na saída da cidade, precisava comer algo, pedi um hambúrguer e um Milk shake de morango, pedi uns refrigerantes e outros dois hambúrgueres para viagem seria dez longas horas naquele carro, comi meu lanche rapidamente. Aproveitei que o tanque estava cheio e dirigi em uma velocidade considerável pela rodovia, eu aproveitei na lanchonete para ler um pouco aquelas páginas descobri que quando eu fizesse a invocação dele poderia escolher a forma que ele fosse assumir tanto física como espiritual, havia várias formas no livro que poderia escolher, mas eu não conhecia nenhuma delas então iria decidir isso no momento.
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