Mudanças

1418 Palavras
     Não estava sendo fácil, me adaptar a todas as mudanças que vinham acontecendo em minha vida. Voltar a Porto Alegre, me remetia às lembranças de quase uma vida inteira, que aos poucos, ia se dissolvendo à medida do tempo que eu passava ao lado de Jean.      Mais uma vez, os contatos de Clarice me serviram de salvação, para que eu pudesse alugar e mobiliar uma casa no centro, perto da redação da revista. Era uma casa simples, nada comparada à mansão Brenner, mas ainda assim era confortável.      Quanto ao relacionamento com Jean, combinamos de ir com calma, pois eu não tinha condições de assumir nenhum tipo de compromisso. Estava tentando de todas as formas possíveis, colocar minha vida em ordem, e um novo relacionamento, jamais estivera nos meus planos.      Ele tem todas as qualidades de um homem bom. É gentil, carinhoso, sabe cozinhar, tem olhos verdes e é muito lindo. Mas o problema é que ele é a pessoa certa na hora errada.      Restaram apenas dois dias de minhas férias, antes que eu deixasse Balneário Pinhal, litoral do Rio Grande do Sul. Não era justo deixá-lo sem saber das razões que me levaram aquele lugar, e mais ainda, a razão pelo qual eu pedi para ter calma no nosso relacionamento.      - Eu podia imaginar que fosse algo assim, mas não que tivesse sido dessa forma. - Ele disse,  enquanto estávamos deitados no tapete macio da sala dele, com King aos nossos pés.      - Estou tentando recomeçar aos poucos, e você tem sido muito importante nisso. - Falei, me aninhando em seus braços.      - Mas não vamos perder tempo falando sobre isso. Afinal amanhã é seu último dia aqui e eu preparei uma surpresa para você. Espero que não tenha compromisso para amanhã.      - Nenhum que não seja com você. - Eu disse, cobrindo os lábios dele com um beijo.      Eu não podia dizer que estava feliz, mas eu estava bem. Jean me fazia sentir viva, sua companhia era meu porto seguro. *****      Embora ainda fosse inverno, o início de setembro, já trazia os primeiros raios de sol, que insistiam em entrar pela janela de vidro, a qual eu sempre me esquecia de fechar as cortinas.      Laura já estava preparando o café da manhã, pois eu sentia o aroma do café e da deliciosa torta de maçã que ela fazia.      - Bom dia Laura. - Falei me sentando à mesa farta que ela havia posto.        - Bom dia menina Yvelise. O Sr. Jean já está chegando para o café. - Um detalhe, antes de ir para o trabalho, ele sempre toma café da manhã comigo.     - Vou trocar de roupa e já volto Laura. - Eu já estava levantando quando ela me chamou.      - Menina Yvi, sei que não é da minha conta, mas queria que soubesse que o Sr. Jean é um ótimo rapaz. Eu nunca o vi tão feliz. Ele é muito especial e eu ficaria muito triste se a menina o magoasse.      Eu não esperava que ela fizesse esse comentário.     - Não se preocupe com isso, Laura. Só estamos nos conhecendo. No mais, assim que ele chegar, me chame. - Reconheço que meu tom de voz foi um tanto severo, porém, indicava o fim da conversa.    Não aceitaria ninguém me dizendo que eu deveria fazer da minha vida.      Jean chegou, e tomamos o café sobre os olhares de reprovação de Laura. O clima ficou estranho, pois ela achava que eu não era boa o suficiente para ele.       Não que isso me importasse.      Combinamos de sair ao meio dia e eu não me atrasei. Ele me apareceu com uma motocicleta e pela minha cara de medo, ele percebeu que eu nunca tinha andado em uma.      - Que tal irmos de carro? - Perguntei, e o medo aparecia na minha voz.      - Não me diga que está com medo! - Sua resposta veio no tom de sempre, debochado. - Não podemos perder tempo. De moto é mais rápido. Vamos!      Ele colocou um capacete na minha mão, e subiu na moto. Fiz o que tinha que fazer, e o acompanhei. Ele me ajudou a subir na moto e puxou minhas mãos em volta de sua cintura.      - Segure firme! - Disse ele,  dando a partida.     Em menos de vinte minutos, ele estacionou em frente à um hospital. Visitar alguém talvez, mas não entendi o porquê dele me trazer.      - Quero que conheça uma pessoa em especial.      Apenas assenti, e ele segurou na minha mão e entramos no hospital. A moça da recepção abriu um sorriso enorme quando viu Jean.      - Olá Rita, trouxe uma amiga para o aniversário da Bruna, Yvelise. Você poderia dar um crachá de visitante, por favor? - Ele pediu com um jeito de sedutor, pois a recepcionista me pareceu muito derretida, quando ouviu a voz do médico.      - Agora mesmo, Dr. Pierre. Aqui está. Há mais alguma coisa que posso fazer para ajudá-lo? - Ela entregou o crachá e ficou com cara de boba olhando para o médico.      - Não,  por enquanto é só. Obrigado Rita. - Entrei de mãos dadas com ele, o que não impediu a recepcionista jogar seu charme barato em cima dele.      - Mais um pouco ela se jogava no seu colo. - Eu não conseguia segurar a língua. Ele parou à minha frente e se virou sorrindo.      - Não fique com ciúmes. Tem médico para todas. - A calma emanava de sua voz.      - Quanta pretensão doutor. - Ele estava certo. Eu senti ciúmes.      Jean me deu um beijo doce e terno, e percebi que apesar de tudo que eu havia passado, continuava a mesma tola, que nunca soube administrar os próprios sentimentos.      - Agora vamos, não podemos chegar atrasados.      Pegamos o elevador, e paramos no quinto andar. Na recepção, havia algumas enfermeiras, umas com bexigas e outra com um pacote embrulhado, que julguei ser o bolo do aniversário. Jean se aproximou e começou a desembrulhar o pacote e colocar uma velhinha rosa com o número 6. Entramos na ala infantil do hospital e para minha surpresa, havia muitas crianças em tratamento contra vários tipos de câncer.      De repente, todos os meus problemas ficaram pequenos diante dos que estavam ali. Haviam pessoas que tinham problemas muito maiores que os meus. Era como se todos os meus, se dissolvessem em uma névoa fina de areia, e eu percebi que mesmo assim nessas condições, elas tentavam ser felizes, e estavam lutando para sobreviver. Muito ao contrário de mim, que achava que o mundo havia acabado e queria morrer.      Cantamos os parabéns, e eu ajudei Jean a servir o bolo para as crianças e as mães. Percebi os olhares curiosos das enfermeiras e de outros médicos que participavam da pequena festa.     Por fim, ele me chamou para apresentar Bruna, a aniversariante.      - Bruna, essa é minha amiga que te falei. Ela é muito bonita não é? - Ele disse e a garota me olhou de cima a baixo, como se estivesse me analisando e depois olhou para Jean.      - Vocês estão namorando? - Ela perguntou. Na verdade eu não sabia o que responder.       - Você acha que ela aceitaria ser minha namorada?     - Acho que sim, mas se ela não aceitar você ainda pode se casar comigo.    - Filha! - repreendeu a mãe. - Me desculpe, mas ela é apaixonada pelo Doutor Pierre. Sabe, ele cuida muito bem dela é tão carinhoso e atencioso com todas as crianças, não tem como não se apaixonar.      Nós apenas sorrimos e Jean começou na brincadeira qualquer com Bruna. Realmente ele era muito atencioso e carinhoso com as crianças. Eu tinha um homem incrível meu lado.      Passamos boa parte do tempo no hospital, foi muito bom conhecer outras pessoas, e eu pude saber que a maioria delas passam por muitas dificuldades.      Saímos do hospital já passava das cinco da tarde, ainda porque quase fomos expulsos pelo diretor.      A volta foi mais tranquila, e eu estava mais confiante em andar na moto.      - Obrigada pelo dia Jean. - Falei tirando o capacete.    - Que bom que gostou. - E sem que eu esperasse,  ele me envolveu em seus braços e me beijou. Correspondi, passando os braços no seu pescoço e me rendendo à sua boca macia e deliciosa.      Beija-lo, era como perder os sentidos. Eu quase não queria me afastar.      - Te espero para o jantar. - Ele disse dando um passo para trás.    Nesse momento, vi alguém vindo em nossa direção muito rápido.       - Eu disse para não tocar nela! - Era Guilherme, enfurecido e aparentemente bêbado.
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