O bilionário que me odeia

A solução que eu precisava

Na manhã seguinte, Ellie lembrou que tinha cometido um erro.

Por que precisava ficar tão desestabilizada sempre que Peter tocava nela?

Bastava ele olhar nos olhos dela e ela deixava com que fizesse o que bem entendesse - principalmente com os dedos e com a boca-.

Ela se obrigou a permanecer sentada na frente dele enquanto tomavam café da manhã juntos.

— Não finja que está tão contrariada assim. Eu sei que se realmente não quisesse a minha companhia, não estaria aqui.— Observou Peter.

Ellie terminou de engolir a torrada com geleia de uva que estava terminando de mastigar.

— Eu só estou aqui pelo café da manhã.— Rebateu, antes de comer um pouco dos ovos mexidos e das fatias de maçã.— Eu não teria tempo de passar em casa e o meu apetite é grande pela manhã.

— Jura? Acredita que eu nem percebi.— Rebateu Peter, com ironia.

Ellie achou melhor não responder nada.

Quando finalmente terminou de comer os últimos pães que estavam no cesto, eles voltaram para a rotina normal.

Foram juntos para o trabalho, a consciência da Ellie a matava.

— Ser antipática comigo não vai mudar o que aconteceu na noite passada, Eleanor. Na verdade, eu duvido muito que você tenha pensado que aquela seria a última vez quando ontem à noite nós estávamos…

— Por que você não cala a boca e se concentra no volante?— ela o interrompeu ao perceber que ele estava tempo demais parado no sinal.

Que já havia voltado a ficar verde.

Peter deu partida com o volante, mas não desistiu de conversar com ela.

— Como foi para voltar para SunFlowers após tudo o que aconteceu.

Ellie o olhou de relance.

— Tudo ali me faz lembrar o meu pai.— ela respondeu, seca.

— E encontrou com a sua mãe, ou o Alex monopolizou sua atenção?

Ellie tinha certeza que era exatamente ali que ele queria chegar.

— A minha mãe fez uma viagem com o meu padrasto.

Após poucos segundos em silêncio, Peter retornou a falar.

— Eu não pensei que você gostasse do tipo “ eu não fico com a mesma mulher mais de uma vez”.

Ellie respirou fundo, sem paciência para aquelas indiretas.

— Por que você não fala de uma vez o que quer dizer?

— Por que você acha que eu quero falar algo?

— E não quer? Você parece desesperado para falar sobre o Alex. Qual o seu problema com ele, afinal?

— Eu estou falando para o seu bem, Eleanor. Alex não é de confiança, ele tem muitas histórias em SunFlowers…

— Peter, por favor. É muita hipocrisia da sua parte se achar no direito de falar do Alex quando você faz exatamente igual ou pior. O seu problema com ele é por causa da Melissa. Na verdade, todo o seu problema com as mulheres e relacionamentos são por causa da Melissa. Sinceramente? Já está na hora de você crescer e parar de ficar inventando desculpas para o seu comportamento egoista e infantil.

— Você não precisa ficar na defensiva todo momento, Eleanor. Sabe qual é o seu problema? Você não aceita o que sente por mim.

— Você que é pretensioso demais e se acha o centro do universo. O que te faz pensar que todas as mulheres do planeta vão se apaixonar por você?

Peter freou bruscamente quando o próximo sinal ficou vermelho.

Ellie ficou com as bochechas vermelhas de raiva pelo susto que tomou.

— Ficou maluco? Seu irresponsável, filho da…

Peter inclinou o corpo para frente e a beijou sem que ela esperasse.

— Você não aceita que existe alguma coisa entre nós.— ele insistiu, com o rosto ainda bem próximo do dela.— Eu não sei o que é, ou o quão sério pode ser…

— Justamente você quer vim falar sobre esse assunto? Desde quando você leva alguém a sério?

— Eu não sei. Eu só estou admitindo que não tenho controle sobre a nossa situação.

— Ah, é? Pensei que a sua maior qualidade fosse não perder o controle sobre nada.

— Você não é muito diferente de mim, Eleanor. Se eu tinha uma certeza na vida, era que eu te odiava. Nunca te suportei. Sempre enxerguei as suas melhores qualidades como se fossem os seus piores defeitos, pelo simples fato de que eu não conseguia ver nada bom em você.

— Sempre foi totalmente recíproco.

— Eu sei. De uns tempos para cá eu aprendi a te admirar e a reconhecer que você tem ideias boas, aprendi a não te subestimar como pessoa e também como mulher.

— Você está misturando os assuntos.

— Eu sei do que estou falando, Eleanor. Uma coisa leva a outra. Eu ainda te vejo como uma concorrente, ainda sinto que sou capaz de tudo para ganhar o cargo que tanto queremos, mas foi dessa admiração que eu sinto por você que nasceu esse…— ele fez uma breve pausa, como se não soubesse o que iria falar.— Que nasceu essa atração incontrolável.

Ellie ficou quieta, não sabia mais o que argumentar.

A sua cabeça tinha dado um nó e de repente ela não sabia mais para onde direcionar os seus pensamentos.

Toda aquela raiva que costumava destinar a Peter sempre que acabava parando na cama dele no final da noite, era, na verdade, destinada a ela mesma.

Ellie tinha raiva da sua falta de controle, mas não tinha coragem de admitir para si mesma que Peter Fernsny, o homem que sempre detestou, a deixava balançada daquela forma.

— Continua a dirigir, por favor.— Pediu Ellie.

O sinal já estava aberto e Peter continuava parado, olhando para ela.

Os carros de trás já estavam impacientes, buzinando.

— Não adianta ignorar o que está acontecendo.— disse Peter, antes de dar partida no carro.— As coisas sempre vão acabar do mesmo jeito e sempre vamos acordar juntos no outro dia.

— Eu não sei onde você quer chegar com isso, Peter. Provavelmente está se divertindo as minhas custas, já que deve fazer muito bem para o seu ego cada mulher que você consegue dobrar.

Peter não tinha muito o que dizer, ele era responsável por Ellie e a maioria das mulheres pensarem exatamente isso dele.

— Eu estou mesmo com muita raiva de mim mesma por não ter cumprido com a promessa que fiz. Mas pode ter certeza, essa é a última vez que acontece qualquer coisa entre nós.

— Eu já escutei algo parecido.— ele não perdeu a oportunidade de provocar.

— Eu vou conseguir te afastar, Peter. Não é justo que eu me rebaixe a essa situação. Se você tem o mínimo de respeito por mim, me deixa em paz.— ela olhou diretamente nos olhos dele ao falar.

— Tudo bem, Eleanor, eu não vou insistir mais. A partir de agora continuaremos com os projetos que já temos. Se tudo der certo, em menos de um ano cada um seguirá a sua vida e não precisaremos nos ver mais.

O silêncio tomou conta do carro, em seguida.

Ninguém teve coragem de acrescentar mais nada.

…

Ellie não conseguiu se concentrar no trabalho naquele dia. Resolveu que a melhor escolha que poderia tomar era ir para a sua casa, passar um tempo consigo mesma e tentar achar respostas para as suas dúvidas.

Como faria para esquecer Peter?

Aquela era a pergunta constante desde que saiu da garagem de casa, passou pela porta da sala de estar, e por último se deitou no sofá.

Nunca se imaginou fazendo aquela pergunta. Até mesmo porque, até pouquíssimo tempo os seus pensamentos nem eram ocupados por ele.

Sua mãe sempre costumou dizer que nada como um alguém que te faça esquecer outro alguém.

Jamais admitiria para si mesma a possibilidade de começar a ter sentimentos por Fernsby, mas antes que isso pudesse se tornar realidade, Ellie tinha uma saída.

A sua única saída era aceitar a aproximação do Alex.

O seu momento de reflexão foi interrompido com a chegada da Claire.

Há dias ela não via a própria irmã, já que a mesma vivia reclusa desde que foi dispensada pelo tal Alex de SunFlowers.

— Aconteceu alguma coisa?— Perguntou Claire, preocupada.— Você não costuma vim em casa para almoçar.

— Eu precisava ficar um pouco sozinha.— Ellie respirou fundo.

Claire se aproximou, preocupada, e sentou-se ao lado dela.

— O Peter está transformando a minha vida em uma confusão. O p*ior é que eu tenho certeza de que tudo isso é uma estratégia daquele cretino para me desestabilizar.

— Vocês ficaram de novo?

— Passamos a noite juntos.— Respondeu Ellie, após respirar o fundo.— Mas isso não pode se tornar em um ciclo vicioso, eu não posso ficar vulnerável às minhas próprias vontades.

— Você fala como se já tivesse um plano.

— Não sei se você vai lembrar dele… Enfim, nunca o conheceu pessoalmente. O Peter tem um primo que também se chama Alex.

— Nem me fale esse nome.— Murmurou Claire.

— O Alex está se aproximando de mim e eu sei que tem outras intenções.

— Não sei se é uma boa ideia se meter em um triângulo amoroso com dois primos.

— Ele me trata bem, é gentil, educado, inteligente e muito bonito. Qualquer mulher do planeta se sentiria atraída por Alex Fernsby.— Continuou Ellie, ignorando o que a outra estava dizendo.

— Qualquer mulher que não esteja tentando negar para si mesma a possibilidade de estar se apaixonando pelo homem que odeia.— Claire insistiu em falar, mesmo sabendo que aquilo havia se tornado um monólogo.

— É exatamente isso, Claire. Se eu me aproximar mais do Alex, o Peter ficará totalmente afastado. Essa é a solução que eu precisava.