O acordo de paz

1662 Palavras
Júlia precisou de muito esforço para não sair correndo quando Rodrigo colocou o anel de brilhantes no seu dedo indicador direito. A jóia era linda, a pedra preciosa bem lapidada brilhava no meio da sala de jantar. Eugênio deu início a um brinde, ergueu uma taça de vinho branco para celebrar a união da filha com o filho do prefeito. O homem estava radiante, e toda aquela felicidade dele deu náuseas em Tom. Tanto Tom quanto Júlia ainda estavam muito confusos com toda aquela descoberta, mas se de algo tinham certeza, é que não podiam ir embora enquanto suas famílias se massacravam. Tom odiava Eugênio por ter tirado a vida de seu pai e sempre o odiaria, mas por amor a Júlia, ele desistiu daquela vingança que por muito tempo foi arredia. Teria grandes conflitos com o seu irmão e com o restante da sua família, mas não deixaria ninguém encostar em um fio de cabelo da Júlia. Depois do brinde, iniciaram o jantar. Júlia precisou refazer o penteado após o momento de conciliação com o Thomas, ou do contrário, não estaria tão apresentável. Logo ao lado dela estava Rodrigo, na sua frente, Thomas. Uma espécie de sexto sentido fazia com que Rodrigo odiasse ver o outro homem tão perto da sua noiva. O mesmo se passava com Thomas, que tinha vontade de trucidar o Rodrigo sempre que ele segurava na mão da Júlia. Depois do jantar, as mulheres foram para um lado da casa e os homens para o outro, como de costume. Júlia e Soraia, com ares de cumplicidade, foram para o jardim já que precisavam conversar em particular. – Céus, que reviravolta. O Thomas é um inimigo do seu pai infiltrado. Bem que eu tinha razão em ter os dois pés atrás com ele. Estava muito estranho todo esse amor repentino. – Ele não sabia que eu sou a Júlia. Ficou tão surpreso quanto eu. – Quem te garante que isso é verdade? – Eu garanto. Por um minuto achei que ele fosse disparar... Ele poderia ter me matado e fugido se quisesse. – Não diga isso em voz alta. Não diga isso nem em pensamento. – Eu estou falando sério, Soraia. Há gerações nossas famílias vêm se matando. Thomas e eu seríamos só uma extensão do que já vinha acontecendo. – Certo. Mas e agora? Vocês vão fugir juntos e deixar a família de vocês em guerra? – Esse é exatamente o ponto. Thomas e eu não vamos mais fugir, ficaremos em Aventine para tentar uma conciliação com a nossa família, um tratado de paz. – As vezes você acha que vive os contos de um livro, não é? Conhece muito bem o seu pai, Júlia. Ele jamais vai aceitar um acordo de paz com os Messina. P.ior ainda, se souber que você anda de caso amoroso com um deles, ele te deserda. Esse amor é mais do que proibido, esse amor de vocês é impossível. – Não existe o impossível, Soraia. Ao menos preciso tentar. – Mas e o Rodrigo? Vocês ficaram noivos publicamente. – O Rodrigo é um maldito traidor. Se uniu com Francisco Messina para iniciar uma guerra contra a minha família logo depois do nosso suposto casamento. Soraia levou as duas mãos ao rosto, perplexa. – Ele pretende matar todos os homens da minha família para herdar sozinho a fábrica entre outras propriedades do meu pai. Como o meu marido ele teria direito a controlar toda a minha herança e seria o único a poder assumir a presidência da Dinastia. – E-eu não sei o que dizer. Isso é absurdo demais. – O meu pai está fazendo aliança com um psicopata ganancioso. Mas deixe o Rodrigo comigo, o que é dele está muito bem guardado. Eu vou precisar da sua ajuda.– Júlia voltou-se para a Soraia e segurou as duas mãos dela. – O que está pensando em fazer? – Lembra daquela briga com o Davi para distrair todos? – Isso vai me render um bom castigo e uma boa reprimenda, mas pode deixar comigo. – Você é a melhor.– Júlia envolveu Soraia em um forte abraço. Soraia voltou para dentro de casa minutos depois, determinada a encontrar qualquer motivo que a fizesse perder as estribeiras com o Davi. Viu o motivo perfeito quando encontrou o rapaz conversando com a Patrícia, no canto da sala de estar. Não havia nada suspeito. Nenhum sorrisinho, nenhum olhar de flerte, apenas era uma conversa normal. Soraia atravessou o ambiente pisando duro, o barulho do seu salto ecoando no chão chamou a atenção dos dois para si. – O que significa isso, Davi? Por que você está de conversinha com outra mulher quando comigo, que sou sua noiva, não troca mais do que duas palavras?– Soraia elevou o tom de voz propositalmente. Tanto Davi quanto Patrícia ficaram vermelho de vergonha. – Soraia, por Deus, fale baixo, estão todos olhando.– Suplicou Davi. – Pouco me importa, ora pipocas! Você não está se importando em me expor ao ridículo. – Você está se expondo ao ridículo sozinha!– Retrucou Davi. Patrícia simplesmente se afastou sem dizer nada, mas achou a atitude da Soraia um tanto estranha. – Papagaios, você é mesmo um cínico. Eu não deveria olhar nunca mais na sua cara.– Soraia o empurrou. Rodrigo aproximou-se, assim como Eugênio e Alberto - pai da Soraia-. – O que está acontecendo aqui?– Perguntou Alberto. – Eu quero saber o porquê de estarem criando um escândalo na minha festa de noivado.– disse Rodrigo, irritado. – Porque o calhorda do Davi estava de conversinha com outra mulher.– Soraia voltou-se para Alberto.– Eu não quero mais olhar na cara dele, papai. – Ah, francamente, Soraia, deixe de frescura. Eu só estava conversando com a Patrícia, não falávamos nada demais. – Você estava de conversa com a minha irmã?– Perguntou Eugênio, não gostando muito daquilo. – Apenas conversávamos sobre casamento, Eugênio. A sua irmã foi casada, eu estou prestes a casar... – Você estava conversando sobre casamento com outra mulher, seu p****e, desgraçado!– Explodiu Soraia. O fingimento já estava indo um pouco longe demais, os convidados já os olhavam. – Rodrigo, leve seu amigo para beber uma água ou um whisky.– disse Eugênio para o rapaz mencionado.– Você, mocinha, venha comigo.– ele voltou-se para Soraia. – Vá com o seu padrinho. Chega de lavar a roupa suja na frente de todos.– disse Alberto. Com o coração na mão, Soraia fez o que o pai mandou. … Aproveitando a distração de todos com a discussão entre Soraia e Davi, Júlia foi para fora da casa com o Thom, pelos fundos da grande área verde. Como o combinado, os primos do Thom o esperavam á espreita. – E então? Como foi? Conseguiu fazer a encomenda?– Perguntou Francisco, parecia o mais empolgado de todos. Júlia e Thom se entreolharam desconcertados. – O que houve?– Perguntou Francisco, desconfiado. – Eu sou a encomenda.– disse Júlia, sem rodeios. Os sete homens que estavam ali a encararam, incrédulos. – Como é?– Perguntou Lorenzo, um dos rapazes. – É uma longa história.– Continuou Thom.– Lembram da Sofia? – Como não lembrar? Você só falava nela o tempo inteiro.– disse Francisco, impaciente. – Eu sou a Sofia.– disse Júlia. – Estão de pilhéria?– Perguntou Amaro.– Diga logo de uma vez, matou ou não a tal Júlia Santiago? – Eu sou a tal Júlia Santiago, seu estrupício. Pode nos deixar terminar de contar?– Exclamou a garota, impaciente. Todos continuaram estáticos, surpresos com a reviravolta. – Eu não sabia que o Thom era um Messina, assim como ele não sabia que eu era uma Santiago. Fingi ser a Sofia para poder trabalhar escondida na fábrica do meu pai, porque o meu sonho é ser contadora. O silêncio continuava. Ninguém sabia o que dizer, ou como agir. – Eu não posso matar a mulher que eu amo, e também não vou admitir que ninguém encoste um dedo nela. – Você não pode desistir de uma missão. Sabe muito bem qual é a nossa lei para isso.– Ameaçou Francisco. – É uma lei muito antiga que já não é aplicada.– interferiu Lorenzo. – Mas pode voltar a ser caso um dos nossos resolva trair a própria família para se unir a uma Santiago!– Rosnou Francisco. – Não se trata de um Messina e uma Santiago. Se trata de duas pessoas que querem deixar a guerra e o rancor para trás porque se amam.– Rebateu Júlia. – Não se dirija a mim. Eu não falo com gente da sua laia.– Francisco voltou-se para a garota, indignado. Thom deu um passo para frente, ameaçador. Ele ficou frente a frente de seu primo, deixando Júlia atrás de si. – Eu não vou admitir que VOCÊ se dirija a Júlia assim. Se não quiser ter problemas comigo, pondere suas palavras. – Vai mesmo ficar contra o seu próprio sangue por causa de uma mulher?– Rebateu Francisco. – É a mulher que eu amo e que vai ser a MINHA mulher.– Thom deu um passo para o lado, antes de voltar-se para os outros.– Por isso, prestem bastante atenção… Eu estou desistindo dessa guerra absurda que vem exterminando pessoas durante várias gerações. Ninguém sabe o porquê de ter começado essa guerra entre os Santiago, mas eu sei o motivo de querer parar. Se vocês tiverem um mínimo de consciência, vão concordar em fazer um acordo de paz com o Santiago. Vão concordar em colocarmos um ponto final nessa história absurda, para seguirmos com as nossas próprias vidas. Ainda em silêncio, todos se entreolharam, mas deixaram a resposta final com o Francisco. – Cabe ao Matt tomar uma decisão, mas eu já falo por mim… Ou você luta contra os Santiago, ou será considerado um deles. Daí, Tomásio, você nos obriga a ter que acabar com você também.
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