Cuidado com as costas

2256 Palavras
— Você não pode está falando sério.— disse Thom, perplexo.— Somos primo-irmãos. Vocês teriam coragem de tirar a minha vida por causa de uma vingança sem fundamento que existe há milhares de gerações? Nem sabemos o motivo disso ter começado. — O pai dela matou o seu pai.— Rosnou Francisco.— Não é possível que você tenha esse sangue de barata. — A Júlia não tem culpa de nada.— Thom trincou os dentes, estava prestes a perder totalmente a tolerância com o primo. — O seu pai também não tinha culpa.— Interferiu Francisco.— Todos nós aqui temos uma missão. Se você não está sendo homem o suficiente para entregar a encomenda, deixe que eu mesmo faço.— Francisco levou a mão para uma lateral do corpo, tocando no volume da arma que carregava ali. Thom reagiu, puxando Júlia para trás de si. — Vai ter que me matar primeiro.— disse Thom, com o seu melhor olhar sombrio. Francisco olhou rapidamente para os outros integrantes da família Messina. Todos estavam tensos, mas pensavam como ele. Se Thom desistiu de entregar a encomenda, se teve a audácia de ficar ao lado de uma Santiago, teria que pagar com a própria vida a sua traição. — Então que assim seja.— disse Francisco, tentando parecer frio e calculista. Por mais que aparentemente não demonstrasse, por dentro, Francisco estava tremendo. Ele rezou para que qualquer interferência surgisse, não queria que o primo Thom morresse e principalmente por suas mãos. — Júlia?— A voz feminina que vinha do outro lado do jardim fez com que todos recuassem de alguma maneira. O ambiente continuava de pura tensão, mas agora continha um pouco de alívio. Tanto Thom quanto Francisco não evitaram suspirar. Júlia continuava nervosa demais até mesmo para respirar direito. — O que está acontecendo aqui?— Soraia piscou os olhos bem confusa, sem entender do porquê da quantidade de gente ali reunida. — E-eles…— Júlia tentava explicar de quem se tratava aquela gente, mas a sua voz estava esganiçada. — Francisco?— Soraia imediatamente reconheceu o outro. — É bom te ver de novo, boneca.— ele soltou uma piscadela para a moça. Tanto Júlia quanto Thom encararam Soraia com curiosidade, ambos queriam entender toda aquela i.ntimidade. Soraia apenas engoliu em seco. — Não vai nos apresentar para a amiga da sua namorada, primo?— Perguntou Francisco para Thom, com sarcasmo. — Primo?— Soraia arregalou os olhos ao se voltar para Thom.— Será que podem me explicar o que diabos está acontecendo? Por que esse tipo de gente está no quintal da sua casa, Júlia?— Em seguida, ela voltou-se para a moça mencionada. Mas Júlia não sabia como explicar toda aquela confusão. — Esqueceu do que eu te contei? Eu te falei sobre a verdadeira identidade do Thomás.— Murmurou Júlia. — Ah, sim. É tanta coisa para pensar que eu havia esquecido desse grande detalhe. O Thomás é um Messina. — O Thom veio para Aventine com uma missão. Como ela não entregou a encomenda, nós vamos entregá-la e ele se tornará nosso inimigo junto com os Santiago.— Explicou Lorenzo, um dos primos do Thom. Soraia prontamente olhou para Francisco, que parecia tomar a frente da empreitada, mas ele desviou os olhos para os próprios pés. — Não é possível que vocês vão até o final com esse absurdo. Por quanto tempo mais durará essa guerra absurda? Até os Santiago ou os Messina deixarem de existir de uma vez?— ela se aproximou do Francisco ao perguntar. Júlia enrugou a testa ao assistir aquela cena de coragem da sua amiga. Soraia havia confidenciado o beijo que Francisco a roubou, nitidamente parecia revoltada, mas ao observar a forma em que tratava o homem, Júlia desconfiou de que ela procurasse um rastro de humanidade que pudesse existir naquela mente vingativa. — Isso é uma coisa que você nunca vai entender.— Francisco a olhou com frieza. — Júlia, volte para a festa. O seu pai está procurando você. Leve-a de volta, Thomas.— disse Soraia, sem tirar os olhos do Francisco. — Eu não vou a lugar nenhum sem você.— Rebateu Júlia, irritada. Soraia voltou-se para a amiga com os olhos em chamas. — Eu acabei de passar por um interrogatório com o seu pai e tenho certeza que ele está no meu encalço, não demorará muito para nos descobrir aqui e começar uma terceira guerra mundial no jardim de sua casa. — Que venha o Eugênio Santiago. Assim ele terá o gosto de ver a filha morrer.— Provocou Amaro. — Então você volta comigo. Não vou te deixar sozinha com um monte de bandidos.— disse Júlia, ignorando a provocação do Amaro. — Está ouvindo isso, Tomásio? A sua namorada está insultando a sua família.— disse Lorenzo. — Vocês estão se comportando exatamente como isso. Como bandidos.— Retrucou Thom. Lorenzo fez menção de atacar o primo, mas Francisco se colocou entre os dois. — Chega. Não vamos mais brigar entre nós, chegaremos a um consenso.— Rosnou Francisco, fuzilando Lorenzo com o olhar. — O Matt te colocou na liderança provisória para dar cobertura ao Tomásio, mas ele mudou de lado. Por que de repente está protegendo o salafrário?— Rebateu Lorenzo, indignado. — Eu não estou protegendo ninguém. Não posso deixar de levar em conta que isso é um assunto de família. Tomásio é nosso sangue, cresceu conosco como se fosse nosso irmão. Não posso simples tirar a vida dele porque ele cometeu o erro e******o de se apaixonar por uma Santiago. Thom não deixou de admirar o primo por finalmente expressar o que pensava e sentia. — Tomásio.— Francisco voltou-se para o homem mencionado.— Leve a moça para dentro da casa dela. Eu dou a minha palavra de que ninguém vai tocar em um fio de cabelo da senhorita Soraia. — Eu não confio na sua palavra.— Rebateu Júlia, fazendo menção de avançar na direção dele, mas Thom a segurou. — Faça o favor de não se dirigir diretamente a mim, senhorita. Vou poupar a sua vida em respeito ao meu primo, mas não quero confraternizar com o inimigo. — Eu confio na palavra dele, pode ficar tranquila. Além do mais, ele não tem motivos para fazer m.al a sua amiga, ela não é uma Santiago. Fazia sentido o que Thom dizia, mas ainda assim, Julia não estava confiante. — Pode ir, Júlia. Eu preciso conversar com ele.— Soraia voltou-se para Francisco.— Ele não vai me fazer nenhum m.al. Francisco permaneceu com os olhos fixos nos dela, apenas fez um leve menear de cabeça, concordando com o que a moça falava. Novamente Júlia enrugou a testa. Estava muito estranho aquela í.ntimidade repentina da Soraia com o inimigo. Mesmo contra a vontade, ela acabou acompanhando o Thom para longe dali. — Eu não acredito que você também vai recuar.— Protestou Lorenzo, inconformado. Francisco apenas ergueu a mão, sem tirar os olhos da Soraia. — Será que podemos conversar a sós?— Perguntou a moça. Os outros rapazes se entreolharam com sorrisinhos insinuantes. Francisco os fuzilou com os olhos. Em silêncio, ele conduziu Soraia para o outro lado do jardim. — Acha mesmo que eles vão te obedecer? Que não vão tentar atacar a Júlia? — Eu estou no comando da missão agora, já que por motivos óbvios o Thom desistiu. Eles não darão um passo sem o meu consentimento.— Ao perceber que já estavam distantes o suficiente para não serem escutados, Francisco encostou em uma árvore.— Do que você precisa? — Que assim como o Thomás, você desista dessa ideia absurda de vingança.— Soraia foi objetiva. — E por que você acha que pode conseguir arrancar isso de mim?— Francisco ergueu uma das sobrancelhas. A frieza da voz dele foi como um soco no estômago da Soraia. Ela parecia nervosa e ao mesmo tempo decepcionada. Depois, ficou indignada consigo mesma por se sentir desse jeito. — Porque eu sou uma pessoa de fora do conflito.— ela respondeu quase de imediato.— Não sou alguém que você aprecia, como o Thomás. Tampouco alguém que odeia, como a Júlia. — Faz sentido. Continue.— disse o homem, gostando de provocá-la. Soraia tinha respostas inteligentes mesmo quando estava com raiva e Francisco amava testar o limite dela. A garota respirou fundo antes de caminhar alguns passos para frente, aproximando-se dele. — Eu proponho um acordo de paz. — Muito original.— Zombou Francisco. Soraia o fuzilou com os olhos. — Cale a boca e me deixe terminar.— disse a garota, ácida. — Prossiga. — Pois muito bem. Precisaremos de um juíz, alguém com experiência e imparcial para fazer a intermediação. O líder de cada família assina um documento para acabar a matança e para que um respeite a área comercial do outro. — Área comercial?— Francisco cruzou os braços. Queria ver até onde a petulância da Soraia iria. — Eu sei que existe um conflito entre as pedras preciosas dos Santiago com os metais nobres de vocês. Não sabem viver em consenso, a ganância fala mais alto dos dois lados. — Alguém já disse que a senhorita é muito enxerida? — Todo mundo, o tempo todo.— Soraia deu de ombros. Francisco se desencostou do tronco da árvore para poder diminuir ainda mais os centímetros que o afastavam dela. Soraia engoliu em seco com a proximidade. — Precisará de argumentos melhores se quiser me convencer. — Quer argumento melhor do que poupar a vida dos seus? Não é possível que aquele homem inteligente que eu vi dando aula de matemática para as crianças seja a mesma pessoa que você, tão ganancioso que chega a ser burro. — Não pode me chamar de inteligente e de burro na mesma frase, boneca. Enfim, têm coisas que você não vai entender. — Por favor.— ela segurou uma das mãos dele.— Por favor, a Júlia é como se fosse minha irmã. Eu não quero perdê-la. Francisco respirou fundo, inquieto. Aqueles olhos grandes e escuros da Soraia eram mais convincentes do que os bons argumentos que ela tinha. — Da minha parte, eu não vou fazer nada contra a sua amiga, mas não posso garantir pelos outros. — Os outros te obedecem. Você mesmo falou. — Até o Matt voltar, boneca. — Então os impeça de atacar a Júlia até esse tal Matt voltar. Ainda temos algum tempo até lá, não é? Conseguiremos alguma alternativa. Francisco respirou fundo, mais uma vez. O que estava acontecendo com ele, afinal? Nunca foi de se convencer tão rápido, por mais bonita que uma moça fosse. — Tudo bem. Enquanto eu estiver no comando, não deixarei que façam m.al a sua amiga. Soraia, instintivamente, pulou nos braços dele para envolvê-lo em um abraço. O corpo do Francisco inteiro se retesou, surpreso com a sua própria reação. Ele teve certeza que sentiu o coração acelerar, além de que todos os pêlos de seu corpo arrepiaram. Quando Soraia se afastou do abraço, ela ainda estava perto demais. — Muito obrigada, muito obrigada mesmo. — Eu quero um agradecimento melhor do que esse, princesa.— Murmurou o homem, levando as pontas dos dedos para o rosto dela. Os lábios rosados e trêmulos da Soraia foram praticamente um convite. O coração dela batia mais forte, as pernas tremiam, as mãos suavam frio e arrepios quentes se dissipavam por seu corpo. Ela nunca tinha experimentado nenhuma dessas sensações com o seu noivo. Estava acontecendo com ela exatamente o que a sua amiga Júlia descreveu no primeiro dia em que bateu os olhos em Thom. Mas Soraia não era Júlia. Júlia tinha tanta sede por independência e liberdade que não media as consequências. Júlia queria ser dona do próprio nariz, controlar a própria vida, ter o próprio dinheiro e trabalhar fora de casa como se fosse um homem. Pouquíssimas mulheres pensavam como Júlia e Soraia não fazia parte daquele time. Soraia jamais abriria mão de um casamento seguro com o Davi para cair nas garras de um mafioso como Francisco. Pena que ela não lembrou do quanto era inconsequente beijar um mafioso, quando aquele mafioso em questão estava com os lábios grudados no dela. Francisco era alto, forte e tinha o corpo quente. Suas mãos eram enormes e devoravam a cintura dela a medida que o beijo se intensificava. Sua língua era morna e sedenta e embora passeasse com cuidado por toda a região delicada e carnuda que revestia a parte interna da boca de Soraia, ela sentia que seria devorada. Com um único movimento ele a virou para trás e a encostou contra o tronco da árvore. Soraia estava ofegante e excitada ao sentir os lábios dele tocarem toda a extensão macia da pele do pescoço feminino. Ela arquejou e deixou escapar um leve gemido quando as mãos do Francisco invadiram a barra do vestido longo e agarraram a sua coxa. De repente, com a respiração fora de controle, ele afastou a boca de qualquer parte do corpo dela. — Eu prefiro esse tipo de agradecimento e você vai ter que mantê-lo por algum tempo. — Como assim?— Soraia também estava com a respiração ofegante. Além disso, as bochechas dela estavam bem coradas. — Você me deve um favor, Soraia. E eu sempre cobro os favores que me devem.— Após esboçar um sorriso malicioso, Francisco caminhou alguns passos para frente, fazendo o caminho de volta. Soraia tinha medo do que aquilo poderia significar.
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