- Senhora, o nosso alvo se moveu. – Kyoko ouvia pela escuta – Devemos intercepta-lo agora? A equipe está de prontidão para evitar qualquer tentativa de fuga.
- Essa operação está em andamento há quase 48 horas, todos nós queremos ir embora, certo? – ouviu os outros rirem em forma de concordância – Podem seguir. Mas mantenham-se em alerta, o deputado Hyu não pode se ferir. Foi prometido que ele não sofreria nenhum arranhão ao colaborar conosco, então vamos manter a nossa conduta.
- Entendido!
A alfa desconectou o seu comunicador e se espreguiçou na cadeira. Ficou horas analisando câmeras de segurança e ouvindo conversas dentro de uma mini van, ou seja, sua coluna não sabia mais o que era postura. Expeliu um ar pesado.
- Sabe Kyoko, não consigo entender o porquê se esforça tanto nessas missões, se no final nem se apresenta como a cabeça das operações. – dizia seu parceiro de trabalho, Jugen – São horas acordada, analisando os alvos, preparando emboscadas, se disfarçando entre a multidão... Por que simplesmente não deixa os superiores saberem disso?
- Achei que já tivesse percebido o porquê. – disse olhando para o beta – Qual é Jugen! É para não chamar atenção deles. Não quero ser alvo de um serial killer ou então desses caras grandões que governam esse país. Eu tenho um filho para cuidar, não posso ter muitos inimigos.
- E tudo bem eu virar o foco no seu lugar então... Nem vai se importar se algo de r**m acontecer comigo. – dizia cabisbaixo. A alfa então tapas de leve no ombro alheio.
- Nada vai acontecer com você, porque você tem muita cara de bonzinho e seria incapaz de atirar em uma mosca. Pessoas como você não representam nenhuma ameaça. – disse esboçando um sorriso debochado – Se bem que apesar de parecer inofensivo, ás vezes você chama a atenção dos recrutas de um jeito bem severo... – soou pensativa.
- Kyoko. Você é uma parceira horrível sabia? – disse vendo a alfa rir com o seu comentário e então suspirou.
- Não se preocupe, Jugen. Se eu não tivesse certeza no que estou fazendo, eu nunca deixaria minha equipe se expor tanto e você principalmente, já que é meu parceiro oficial de trabalho. – soava séria – Eu penso em cada possibilidade das operações, nos mínimos detalhes, para que nós não tenhamos baixas. Você sabe disso.
- Você só se apoia nos seus instintos.
- É por eu fazer isso que nunca deixei que ninguém da minha equipe sofresse algum ferimento grave. Sabe que na primeira reação perigosa dos nossos alvos, eu aviso á todos que recuem para que eu possa assumir.
- Você é tão confiante que ás vezes me assusta. Devia estar preocupada com a equipe agora, não?
- E você também não devia? – rebateu – Já devem estar algemando o nosso alvo agora. Mas esse cara não será julgado nesse país, já que ele não é daqui. – dizia pensativa – O trabalho da Interpol, o nosso trabalho, é apenas pegar pessoas do tipo dele e deixar que os superiores decidam o seu destino.
- Ainda assim, não deixa de ser tudo perigoso... – expeliu um ar pesado – Vai ficar na van, ou vai sair comigo? – perguntou mesmo que já soubesse a resposta.
- O que acha? – soou óbvia – Vá até lá e faça o seu papel. Depois disso vamos almoçar com a equipe, você paga. – piscou para o beta com a finalidade de fazer graça.
- Claro. A bebida fica por sua conta então. – dito isso saiu do automóvel.
Kyoko suspirou.
Se lembrou que passou as ultimas horas com o seu celular desligado e se apressou para ligá-lo. Saiu para trabalhar na madrugada anterior preocupada com o filho, porque notava que o cheiro dele estava oscilando. O alertou para que Ren se atentasse á essas coisas, mas não era o suficiente para que o deixasse de lado.
Sua preocupação maior sempre foi, é, e será sobre o seu filho, mas quando precisa estar focada no trabalho, acaba se focando apenas nisso. Kyoko treinava a sua mente para conseguir conciliar tudo, mesmo em situações inusitadas.
- Será que alguém me ligou durante esse tempo? – soou pensativa.
Assim que o aparelho iniciou, Kyoko quase o deixou cair por ter se assustado com a vibração e o toque do celular. Resmungou algumas palavras e depois atendeu.
- Finalmente atendeu!
- Precisei desligar por causa do trabalho. O que foi?
- Os hormônios do Ren estão irregulares. Os relatórios que Azumaya me enviou mostram níveis altos de feromônios, enquanto em o outras oras estão baixos demais. E de acordo com os sintomas que ele anda tendo, é provável que...
- O cio esteja bem próximo. – completou a alfa, suspirando em seguida – Eu também acho que notei algumas coisas.
- Azumaya já estava de olho no Ren, desde que ingressou na escola por causa do desmaio dele nos primeiros dias que o levou a cair da escada. E recentemente o seu filho tem ido até a enfermaria com frequência, se queixando de indisposição e dores de cabeça.
- E ele nem me conta nada sobre essas coisas... – suspirou mais uma vez – Ele deve estar sendo influenciado pelo colega, Kurosawa Damian. Eles têm passado muito tempo juntos e bem... Ren, nunca ficou tão próximo de um alfa lúpus que não fosse eu. – dizia analisando toda a situação – Além disso, aquele garoto força tantos seus feromônios no Ren, que me irrita ás vezes.
- Meu irmão receitou os supressores a cada quatro dias. Fez efeito nas primeiras semanas, mas agora tem se tornado cada vez menos eficaz. Preciso aumentar a quantidade das substâncias para que voltem a fazer efeito, mas receio que isso se torne prejudicial ao Ren futuramente.
- Em que sentido?
- Infertilidade. Ele tem tomado supressores antes mesmo de ter o seu primeiro cio, além de ser muito novo. Claro que não seria completamente, apenas afetaria a sua capacidade de reprodução, reduzindo aproximadamente 60 % das chances de engravidar ao se relacionar com alguém. Então-
- Mantenha o mesmo remédio e a dosagem. – falou firme – Se esse está sendo um método menos agressivo o mantenha.
- Mas Kyoko! Isso... O meu irmão está de olho no Damian também, como um possível parceiro para o primeiro heat do Ren. Esse alfa é um paciente VIP tratado por mim e meu irmão mais velho, e de acordo com os relatórios que tenho no sistema, o hut dele não está muito longe. – dizia em um tom de preocupação – Se os feromônios de Ren induzirem ele ao cio...
- Isso sim seria preocupante. Alguém poderia acabar marcando o outro sem estarem no seu juízo perfeito... – soou pensativa – Se bem que ambos parecem se gostar de verdade, mesmo que uma parte de mim seja contra esses sentimentos.
- Eu sou contra.
- Por quê? É uma possibilidade, mas não significa que vai acontecer.
- Kyoko. – Sun soou séria no outro lado da linha – É o primeiro heat do Ren! Tudo é possível. É capaz de que você não consiga voltar para casa por um bom tempo também. – A alfa ouviu a amiga suspirar pelo telefone – Afinal qual é o seu problema? Era a primeira a ligar reclamando que o Ren estava passando tempo demais com aquele garoto, agora está super tranquila com essa possibilidade? Não é do seu costume ser mais cautelosa?
A alfa estava ciente disso. Mas seus instintos nunca a deixaram na mão e se ela sentia que Damian era alguém legal, tinha grandes chances de estar certa. Além disso, havia outro fator para se manter tranquila sobre essa aproximação de outro alfa...
- Sun. Eu não vou conseguir cuidar do Ren para sempre, você sabe disso, sabe melhor do que eu.
- Por que está dizendo isso? Está sentindo alguma dor? – soou preocupada.
- Faz um tempo que eu me acostumei com essa dor, isso não é mais um problema.
– Se estava m*l, por que ainda está indo trabalhar? Sabe que não precisa fazer essas coisas! Eu posso te ajudar. Mas você tem que ser orgulhosa, não é? Da outra vez foi dispensada porque desmaiou de dor e agora...– A alfa notou a aflição da amiga.
- Desculpa. Eu estou bem. Essas dores me mantém viva...
- Mas Ma-
- Eu irei para casa e analiso se o Ren passará o heat sozinho ou não. Depois disso pretendo parar e sentar com o Ren para conversar. Não posso esconder as verdades dele por mais tempo... é capaz dele surtar quando souber que não trabalho em um hospital. – riu só de pensar na reação do próprio filho – Irei desligar. Me avise se algo mais acontecer, deixarei o celular ligado.
Um silêncio permaneceu entre as linhas. Kyoko conhecia a amiga e sabia que esta estava realmente preocupada com tudo, mas a alfa estava sendo realista, precisava ser assim para evitar desentendimentos futuros. Era o que pensava ser certo no momento.
- Independente do que decidirá, passe aqui. Farei mais alguns exames em você e te darei alguns remédios mais fortes.
- Está bem. Me encontrarei com você mais tarde.
Ao finalizar a ligação, pegou uma caixinha de comprimidos do seu bolso e colocou um na boca. Mastigou como era de seu costume, pensado que assim teria um efeito mais rápido, quando na verdade não fazia muita diferença.
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Após todos os trambiques da operação serem resolvidos, Kyoko almoçou com os colegas de equipe como havia combinado com Jugen. Eram poucas ás vezes que ela aproveitava de momentos como esse e quando participava, se divertia muito. Se orgulhava ao ver os colegas animados mesmo tendo ficado dias acordados patrulhando certos locais.
- Kyoko, como anda o seu filho? – Jugen preguntou enquanto tomava a sua cerveja – Você se gaba tanto dele, que é estranho quando não fala nada. Como agora, está tão quieta.
- Estou cansada. – dizia bebendo o seu suco.
- Imaginei que fosse isso. Antes de darmos inicio a operação você ficou um bom tempo procurando pistas e analisando câmeras de segurança. Mas sabe Kyoko, tem que se cuidar. Daquela vez você teve que ser dispensada...
- Eu estou bem. Aquilo foi um desleixe meu, tenho me cuidado bem. Se não fosse pelas marmitas que o meu filho faz, eu com certeza estaria com a minha saúde em nível critico.
- Você é muito sortuda por ter alguém que te receba quando chega do trabalho. – o beta dizia com um ar melancólico – Estou na casa dos trinta, quase beirando os 40 e não tenho ninguém. Será que eu vou envelhecer sozinho?
- Resolveu falar da sua infelicidade justamente comigo? Não acabou de perceber que estou cansada? – disse para implicar com Jugen – Sabe quantas vezes eu já ouvi essas suas lamentações? – questionou vendo a careta se formar no rosto do beta. Precisou se segurar para não acabar rindo.
- Você gosta mesmo de judiar de mim, não é? Desde que nos tornamos parceiros parece ser automático. Já disseram que a sua personalidade é uma merda?
- Sim. Na verdade você me diz bastante isso e que eu sou uma parceira horrível... Ah! Costuma dizer que sou egocêntrica também . – soava pensativa – Dentre várias outras reclamações ao meu respeito. Mas deve ser por isso que nós nos damos bem.
- Um ‘brindii’! – disse um dos colegas da equipe erguendo o seu copo. Pela maneira que falou, certamente já estava bêbado – Ao senhor Jugen e a senhora Kyoko! – soou mais alto e soluçou em seguida – Pela grande operação. Foi tudo um sucesso!
- Um brindi’! – disseram os outros erguendo seus copos, estes também se encontravam bêbados.
Kyoko acabou por erguer o copo também, mas riu ao vê-los naquele estado.
- Agradecemos. – Jugen falou – Só espero que não saiam daqui dirigindo. Porque se forem, nem precisam dar as caras no trabalho no dia seguinte. – disse o beta cortando o barato de todos.
- Deve ser por isso que eles acabam preferindo se comunicar diretamente comigo nas nossas operações. – a alfa falou apenas para que ele a escutasse – Não desanime eles desse jeito. Mesmo que estejam bêbados, merecem reconhecimento pelos esforços.
- Ser molenga e brincalhão com a própria equipe é demais.
- Severo com a equipe, mas passivo em situações de risco. Você é muito contraditório, Jugen. Esse deve ser o motivo por eu gostar de você como parceiro de trabalho. – disse simplista.
O beta não esperava por aquelas palavras e por isso acabou ficando sem reação. Não era a primeira vez que ficava sem jeito e muito menos seria a última.
Quando se conheceram, Kyoko parecia inalcançável, se destacou nos exames de aptidão física com nota máxima e com o teórico não foi diferente. Achou que não teria chance nenhuma de se aproximar, mas a alfa fez isso por conta própria quando acabaram sendo selecionados para participar em uma operação em equipe.
Jugen não só admirava a alfa, mas também nutria sentimentos por ela. Nunca falou sobre isso com ela, porque pensava não ter qualidades o suficiente para tê-la como uma companheira na vida particular, já que Kyoko era uma alfa e consequentemente de acordo com o que se é esperado, nunca teria um relacionamento com ele que era beta.
- Um dia irei te apresentar o Ren pessoalmente. Talvez assim se sinta menos sozinho, será como um tio para ele. O que acha?
- Me apresentar?
- Bom, a gente nunca sabe o que pode acontecer. E se você nunca souber como é a sensação de ter um sobrinho ou afilhado? Irei te ajudar com isso! – falou sorrindo em seguida.
- Sobrinho... Até que não é uma má ideia. Talvez eu conhecendo o Ren, ele me fale como consegue te aturar, ainda mais sendo a mãe dele.
- Te garanto que só receberei elogios.
- Se é mesmo assim, m*l posso esperar para conhecê-lo.
- De qualquer modo, está na hora de eu ir embora. Ren deve estar chegando em casa, preciso vê-lo para repor minhas energias. – disse terminando de beber o seu suco – Deixarei as bebidas pagas antes de sair, então podem continuar.
- Eu já paguei. – disse Jugen – Na próxima é na sua conta.
- Entendido! – prestou continência apenas para fazer graça – Vá para casa com cuidado. – disse esboçando um sorriso – Todos vocês!
- Sim! – responderam em uníssono.
- Descanse, Kyoko. – falou o beta.
- Você também.