Coração vazio

1715 Words
Agatha Para o primeiro dia de trabalho, até que o dia passou depressa. Na hora do almoço, Livia me convidou para comer com ela em uma lanchonete perto do escritório. Hugo não me ligou ou mandou mensagem uma vez sequer durante todo o dia, para ser sincera eu nem estava esperando que ligasse. Felizmente, eu dei conta de fazer todo o trabalho que estava sobre a minha mesa, até mesmo aqueles que a vagaba da tal Renata jogou sobre mim. Eu não sei sobre os outros, mas eu não pretendo ficar aturando esse tipo de atitude para cima de mim. No fim do expediente, peguei minha bolsa e já estava de saída quando Ricardo me chamou: ― Agatha? Já está indo? ― ele estava com as chaves do carro na mão. ― Já deu minha hora. ― disse sorrindo. ― Quer uma carona, meu anjo? ― ele falava e olhava para os meus peitos, era constrangedor. ― Eu agradeço, mas não precisa. Eu vou de ônibus. ― Tem certeza? Eu posso te levar sem problemas. ― É sério, não precisa. ― Você quem sabe, até amanhã. ― piscou para mim e saiu. Eu fiquei um tempo parada, tentando entender tudo o que acabou de acontecer. Parece que esse cara gamou em mim. Saio do escritório e vou até um ponto de ônibus, já vim de táxi hoje, não posso voltar também, meu orçamento não aguentaria. Se o Hugo não fosse tão preguiçoso, ele poderia vir me trazer e buscar, mas isso não seria possível porque o seu carro está parado há dias com o tanque vazio. Hugo está desempregado faz 06 meses, graças a Deus eu consegui esse emprego, já que precisei sair do último, pois chegou ao fim o contrato. Entrei no ônibus já pensando o que eu teria que fazer quando chegasse em casa, a mesma deve estar de perna pro ar (para variar), Hugo fica em casa o dia todo e não levanta uma palha. Ser o filho único deve tê-lo deixado mimado demais, apesar de seus pais serem firmes com ele e não lhe darem um tostão, sempre ficam do lado dele, mesmo quando está errado. Desço em um ponto próximo ao meu apartamento, quando entro em casa, respiro fundo para não ter um treco. Tem roupa espalhada pela casa toda, a pia está cheia de louça, a tampa do vaso está erguida. Acho que é xixi...no chão?! "Porra", penso possessa. ― Hugo? ― eu chamo. Não obtive resposta. Vou até o quarto e ele está deitado mexendo no celular. ― Ah! Você está aí! Obrigada por limpar e arrumar a casa enquanto eu estive fora trabalhando. ― ele nem olha para mim. ― Hugo! Estou falando com você! ― como ele não respondeu, tomei o celular de sua mão. ― Ei! Me devolve! O que está fazendo? ― ele pula da cama, eu devolvo o celular. ― Estou falando com você, por acaso escutou alguma coisa do que eu disse? ― Porque está estressada? ― ele volta a se deitar e a mexer no celular. Eu reviro os olhos e bufo. ― Estressada? Eu trabalhei o dia todo e quando eu chego, esperando encontrar a casa organizada, a louça lavada, eu encontro tudo sujo, bagunçado e o chão do banheiro molhado com mijo! ― explodo. ― Agatha, foi mal. Mas eu saí para procurar emprego e cheguei um pouco antes de você. ― ele se justifica, eu não sei se acredito. Hugo sempre foi um bom mentiroso. ― E então? Deu sorte? ― decido entrar no seu jogo. ― Não foi dessa vez, amor. ― ele veste uma expressão desolada no rosto. ― Vou tomar um banho, preciso ir para a faculdade. Peguei uma toalha e entrei no banheiro. Tomei um banho demorado, pois Hugo tinha me deixado puta de raiva. Sai do banheiro enrolada na toalha, ele ainda continuava deitado na cama de cara para cima. Coloquei uma calça, uma blusa cropped, uma bota de cano curto e uma jaqueta de couro vermelha. Fiz um coque no cabelo, uma maquiagem e passei um pouco de perfume. ― Não sei para que ir para aula arrumada desse jeito. ― ele diz, eu reviro os olhos e ignoro. ― Eu já estou indo. ― Espera, não vai nem fazer o jantar? ― eu olho para ele sem acreditar. ― Jantar? Já que não fez nada o dia todo, faça você mesmo o seu jantar. Eu vou comer na faculdade. Peguei minha bolsa e sai, o deixando de boca aberta. Hugo já está começando a me cansar. Fui de ônibus para a UERJ, eu não tinha muitos amigos lá, somente uma colega de sala, Raissa, que mais faltava do que vinha. Eu perdi muito tempo da minha vida tentando encontrar a profissão ideal, pulando de curso em curso, até descobrir o que eu realmente queria fazer: Direito. O meu sonho é ser investigadora de polícia, é para isso que estou me esforçando. Rafael Terminei o expediente na delegacia sem muitos avanços na investigação da operação "Padrão". Pego meu carro e vou para casa. Estou frustrado, essa investigação está se estendendo e ainda estamos longe de descobrir o que aconteceu com essas três mulheres. Eu moro sozinho, tenho somente uma funcionária que trabalha na minha casa, mas não dorme no emprego. Nunca me casei, já tive algumas namoradas, mas foi só. Também não penso em me casar, gosto da minha liberdade, vou para onde quero, viajo, saio, me divirto com meus amigos. Vida boa para mim é isso: liberdade, amigos, sucesso na profissão e uma bela mulher na minha cama sempre que possível. Cheguei em casa e fui direto para o chuveiro tomar uma ducha, enquanto tomava banho, fiquei pensando no depoimento que as famílias das vítimas dariam novamente amanhã. Eu havia solicitado que as pessoas próximas às moças desaparecidas, fossem contatadas de novo e intimadas a depor. Não posso deixar passar nada dessa vez. Termino de tomar banho, coloco um moletom e desço para comer a refeição que Dona Joana deixou pronta para mim. Me sento na mesa para comer e meu celular começa a tocar, olho para a tela e vejo o nome do Rodrigo. Ligação on: "Fala corno manso." "O que você quer, babaca?" "Sai da toca e vem para o bar, estou te esperando." "É segunda-feira, filho da mãe." "Todo dia é dia, delegado." "Vou não." "Vem sim, caralho." "Em que bar você está?" "Bar três estrelas." "Três estrelas? Com esse nome deve ser uma merda." "Venha e verás." "Certo, me manda localização." !...! "Já eu chego ai." "Vou estar e esperando, neném." "Vai se foder" Ligação off. Acabei de comer e subi para me trocar. Coloquei uma calça e camiseta branca. Passei um perfume, peguei chave, carteira e sai. Espero que esse lugar valha a pena. Vinte minutos depois, cheguei ao local que o meu amigo tinha me enviado a localização. O nome realmente não fazia juz ao lugar. O bar era de alto padrão, só de pensar nessa palavra fico inquieto. Só aceitei sair em plena segunda, porque preciso me distrair um pouco dessa investigação, tudo o que eu faço é pensar nisso. Entrei no bar e já avistei Rodrigo sentado a uma mesa no meio de duas mulheres, uma loira e uma morena. A morena sorriu ao ver me aproximando, sou chegado em uma morena que chego choro. ― Gatas, esse é o meu amigo delegado Rafael. ― Rodrigo me apresentou, daquele jeito dele. ― Delegado? ― falou a morena me olhando. Eu assinto com a cabeça. ― O melhor delegado da cidade, mulherada. ― Eu tento. ― digo brincando. ― Até que esse lugar não é tão ruim assim. ― comento, olhando ao redor. ― Garçom, uma bebida pro meu amigo. ― Rodrigo pede para um garçom que estava passando. ― Whisky com gelo, por favor. ― digo. ― Então, o que você faz quando não está bancando o melhor delegado da cidade. ― diz a morena. ― Estou em bares ruins, bebendo bebidas ruins com o meu melhor amigo. ― brinco. ― Ou! O bar é ótimo e a bebida é de qualidade. ― diz Rodrigo ofendido. ― Vamos ver. Obrigado. ― o garçom traz a bebida, eu tomo um gole. A bebida é normal, nem melhor nem pior das que eu já provei antes. ― Dá pro gasto. Rodrigo revira os olhos. ― Deixa de ser mala, Rafael. Admite que esse lugar é bom pra caralho. ― ele diz. ― Eu nunca tinha vindo nesse bar antes, você sempre vem aqui? ― Faz pouco tempo que descobri esse lugar, fica com ciúmes não, bebê. ― Sai, trouxa! Eu passo meus olhos pelo ambiente, a maioria dos frequentadores são homens na faixa dos 30-50 anos e mulheres na faixa dos 20-30. Interessante... ― Então, além de ir a bares ruins e tomar bebidas que dão para o gasto, o que mais você gosta de fazer? ― a morena continua, interrompendo o meu raciocínio. Eu sorrio. Rodrigo está com a língua na garganta da loira nesse momento. ― Gosto de conhecer belas mulheres também. Ela sorri com malícia e aproxima o rosto do meu. ― Me encontra no banheiro. ― ela sussurra. Eu fico observando ela se afastar, depois de um tempo me levanto sem ser notado. Rodrigo está ocupado demais para prestar atenção em mim. Abro a porta do banheiro e passo a chave. A morena está encostada na pia, ela tem um sorriso safado no rosto. Eu me aproximo dela rapidamente e a beijo com brutalidade, ela geme quando eu a viro de costas para mim e dou um tapa na sua bunda. Levantei o seu vestido e desci sua calcinha, afastei suas pernas com as minhas e instantes depois, estou dentro dela. Terminamos e eu sai na frente, procurei meu amigo para me despedir, mas não o encontrei, então fui embora. Mais uma noite de sexo casual, onde eu fui embora sem nem perguntar o nome da garota. No caminho de volta para casa, fui refletindo sobre a vida que venho levando. Estou sempre sozinho, mesmo estando sempre acompanhado. O prazer é momentâneo, o que permanece é um vazio interior sufocante. Cheguei em casa, tomei outro banho e caí na cama. Amanhã o dia será longo com mais uma rodada de depoimentos.
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