Luísa tinha certeza de que correr na praia arejaria os seus pensamentos. Ela teria uma semana longa e árdua de trabalho, não podia permitir que o fato de ter ido para a cama com o homem que ela mais detestava no universo, atrapalhasse em algo.
Ela estava na companhia da Laís e da Bruna, suas melhores amigas. Ao menos com as meninas pôde desabafar sobre tudo.
— Eu não acredito nisso.— Comentou Laís, perplexa com toda a novidade.
As três optaram por tomar uma água de coco no quiosque que sempre frequentavam, assim, ainda tinham uma bela vista para o mar.
— Eu acredito. Eu sempre soube que toda essa implicância era uma forte tensão s.exual.— Provocou Bruna.
— Não tem nada a ver com isso. Eu estava feliz, vulnerável e a há muito tempo não fico com ninguém. O álcool mexeu com a minha sanidade e por isso…
— Luísa, Luísa. Vamos começar não colocando a culpa no álcool.
— Mas foi o que aconteceu.— Rebateu Luísa.— Em momentos de lucidez, jamais teria feito o que fiz. A minha cabeça ainda está latejando. Não sei como vou aguentar olhar na cara daquele… Daquele ordinário.
— Admita, Luísa. Por mais ordinário que você acha que o Daniel seja, é notório que gostou de ficar com ele.— Insistiu Bruna.
Luísa sempre se irritava com a franqueza da amiga.
— Eu não lembro do que aconteceu. Apenas acordei com aquele traste do meu lado. Ou melhor, lembro de alguns relances.
— Você precisa conversar com ele, Lu. Não esqueça que durante um ano inteiro vocês irão trabalhar juntos.— Aconselhou Laís.
— E como posso esquecer? Nem mesmo posso afastar aquele desgraçado. Ele é mente criadora de um dos planos de renovação da revista. Preciso admitir que o canalha é bom no que faz.
— Quem sabe você não acaba efetivando de vez o trabalho dele.— disse Bruna.
— Isso nunca. A minha preocupação é descobrir quem é esse maldito sócio. Eu só espero que ele não dificulte o meu trabalho, já basta o Daniel para me enervar.— Luísa levou o canudo a boca, degustando o sabor doce da água de coco.
— Muito estranho mesmo esse testamento do seu pai. Qual a necessidade de te dar um sócio? Você foi preparada a vida inteira para assumir essa revista.— Ponderou Bruna.
— Eu não quero mais falar de testamento, marido e sócio. Eu vou acabar ficando maluca, isso sim. Quero voltar aos meus velhos hábitos. Meninas, se preparem, porque no outro final de semana vou organizar uma festa na minha casa. Podem convidar todo mundo.
— Tem certeza? Agora você é uma mulher casada. Por mais que seja de faixada, o Daniel tem uma reputação a zelar…— Laís tentou trazer um pouco de razão para a amiga.
— Eu já disse que quero excluir o nome do Daniel do nosso vocabulário. Podem divulgar nos grupos do w******p, final de semana que vem vou dar uma festa de explodir o teto.
Bruna comemorou, afinal de contas, também queria uma festa.
Já Laís não parecia muito animada. Tinha medo das consequências que a amiga poderia enfrentar.
Luísa ainda não tinha percebido, mas era óbvio que Daniel mexia com ela. Que grande façanha Augusto Bolena ter unido o destino dos dois daquela forma.
Luísa negaria até o final. Mas tinha um temperamento forte demais para fingir tão bem.
Ela voltou para casa apenas de noite, na ponta dos pés. Daniel estava na sala de estar deles, entretido o suficiente em seu notebook para dar atenção a chegada dela.
Luísa tentou passar por ele em silêncio, fingindo que Daniel era apenas mais um dos móveis do ambiente, mas ele não aceitou ser ignorado, embora tentasse fingir que não se importava com a presença dela.
— Amanhã começam as entrevistas para os apresentadores dos podcasts e das entrevistas na rua. Precisamos levantar bem cedo.
— Não preciso que me lembre dos meus compromissos, Daniel. A revista é minha e tudo o que diz respeito a ela me interessa.— Retrucou Luísa, com cara de poucos amigos.
Pelo visto, tinham voltado aos velhos hábitos e aquilo deixou Daniel aliviado.
— Ultimamente você não anda com a memória tão boa. Esquece tão rápido das coisas, não é?— Provocou Daniel, insinuando sobre a noite passada.
— Eu não sei do que está falando.— Rebateu Luísa, precisando engolir toda a sua raiva.— E também não me interessa em nada saber. Eu vou me preparar para dormir porque tenho mais o que fazer do que perder meu tempo com você.
— Sim, claro, descanse bem. Amanhã você precisa está cem por cento recuperada ressaca, e estou me referindo as duas, a alcoólica e a moral.
Luísa quase precisou morder a língua para não despejar todas as p************s que pretendia. Contudo o gesto com o dedo do meio ela não conseguiu controlar. Daniel provocava o pior lado dela, cada vez mais ela o suportava menos.
Ele apenas sorriu depois que ela foi para o quarto, tentar dormir.
Luísa rolou por quase uma hora antes de finalmente apagar. Estava ansiosa com o início da mudança da “ Conectando América”, mas também não deixava de pensar na noite anterior que teve com o Daniel. Na forma em que se beijaram, na forma em que ele beijou cada pedaço do corpo dela e mais ainda no jeito que ela tremeu por debaixo dele.
Há muito tempo Luísa não se sentia assim, mesmo com sua vasta experiência com os homens.
Na manhã seguinte, ela ainda se sentia cansada, mas estava pronta para enfrentar o trabalho árduo.
Ela acompanhou de perto o desempenho do grupo de RH. Várias pessoas foram entrevistas, mas apenas três foram selecionadas para apresentar os podcasts.
Entre elas, uma famosa influenciadora digital, Marcela Novaes, uma atriz global, Helena Siqueira, e uma apresentadora de teatro que era pouco conhecida, mas que tinha um grande carisma.
— Eu quero desejar as boas vindas, que vocês sejam felizes em nossa equipe e que possam se sentir parte dessa grande família que somos. As transmissões ao vivo já começam amanhã e conto com vocês para essa nossa nova fase.— disse Luísa, abraçando cada uma das moças.— Lembrem-se que depois do expediente teremos a nossa festa de inauguração da Conectando, América.
Os outros se afastaram para cuidarem de seus afazeres, só permaneceram Laís e Daniel.
— Ainda precisaremos de mais três apresentadores para os podcasts e de um repórter para as entrevistas.— Lembrou Daniel.
— Eu sei. Depois de amanhã continuaremos com as entrevistas.— Luísa suspirou, empolgada.— Já estamos quase lá, estou muito feliz. Já pedi para a Alessandra e a Mariana divulgarem com os nossos seguidores a participação deles nos podcasts. Gente, o nosso canal vai bombar, não tem como dar errado.
— Não tem mesmo, minha amiga. Você está trazendo uma nova cara para a revista. O seu pai estaria muito orgulhoso.— disse Laís.
Os olhos da Luísa marejaram. As duas se abraçaram em um gesto de solidariedade.
— E você está sendo de um apoio enorme, em todos os sentidos. Você tem muito talento, Laís, já é hora de deixar de ser assistente.
Laís arregalou os olhos.
— Como é?
— Vou te colocar na diretoria junto com o encosto do Maurício. Você também será diretora do departamento financeiro, ao menos terei alguém de minha total confiança.
— Eu acho justo.— Opinou Daniel.— Mas o Maurício e a Poliana vão te dar problema.
— Quem decide qualquer assunto sobre a “Conectando, América” sou eu, Daniel. Respeito muito o trabalho de cada um, mas ninguém tem o direito de passar por cima de uma decisão minha. A Laís tem talento e competência para a promoção e ela a terá.
— Podemos falar sobre isso depois da festa de amanhã. Estão todos bem ansiosos, não é? Teremos convidados novos, de fora.
— É… Estou precisando de uma festa depois de tudo.
— Obrigado pela parte que me toca.— disse Daniel para Luísa, com ironia.
— Vamos para casa, estou exausta. A propósito, te deixo dirigir hoje.— Luísa tocou o tórax do Daniel com uma das mãos, a chave separando a pele dela do corpo dele.
Colocando a mão por cima da dela, Daniel desceu o polegar e segurou a chave.
O olhar dos dois cruzaram e mais uma vez foram tomados pela tensão. Luísa recuou no exato momento em que sentiu a ameaça.
Os dois foram para o estacionamento mudos e ficaram mudos durante todo o caminho.
Eles não sabiam o que dizer, nem mesmo para trocar farpas.
Luísa foi imediatamente para o banheiro, precisava de um banho frio para apagar aquelas lembranças da cabeça. A princípio estava funcionando. Ela passava o sabonete por seu corpo e não deixava de pensar nas mãos do Daniel passeando por sua pele. De repente, o chuveiro ficou quente o bastante para qualquer ser humano suportar ficar ali dentro. Ela correu, sua pele quase queimou. Praguejou bastante antes de se enrolar na toalha.
Ela saiu da sua suíte pisando duro.
Daniel estava de roupão na sala de estar, assistindo televisão. Ele arqueou uma das sobrancelhas ao se deparar com a mulher naquele estado.
— O que diabos você fez com o meu chuveiro? A água superaqueceu de repente.— Acusou Luísa.
— E o que te faz pensar que fui eu?
— Não faça brincadeiras, Daniel. Eu estou com sabão até a raiz do cabelo.
— Ah, não diga. Eu imaginei que esse era o seu novo modelito.— Provocou Daniel, com um sorriso malicioso.
— Não me provoque, não estou de bom humor. Ao menos chame o técnico. Enquanto isso, vou terminar o meu banho no seu banheiro.
— Hum… Não vai não. Porque agora me deu uma vontade de tomar um outro banho.— Daniel ficou de pé.
— Você está de palhaçada com a minha cara?— Perguntou Luísa, no limite da raiva.
— Pode usar o banheiro social.
— O banheiro social é pequeno.— Rebateu Luísa.
— Para você está de bom tamanho. Magricela do jeito que é não ocupa muito espaço.
Luísa retribuiu a alfinetada com um soco no ombro dele. Óbvio que para Daniel não teve nenhum impacto.
— Ah, não fique ofendida com a verdade.— disse ele, entre risos.
— Não fico ofendida com nada que um verme como você possa falar. E quer saber? Eu vou usar o seu banheiro, e aí de você se me interromper.— Luísa fez menção de caminhar na frente, mas Daniel a puxou pelo pulso.
Ele não sabia o que iria dizer, apenas agiu por impulso. Os dois se entreolharam, a boca da Luísa estava trêmula pela raiva que ela sentia dele.
Daniel achou aquilo ainda mais atraente, principalmente se considerasse o fato da quantidade mínima de peças de roupas que ela levava no corpo. A respiração da garota começou a ficar pesada, a do Daniel também. Todas aquelas lembranças do que aconteceu sábado à noite começaram a voltar com intensidade.
Dessa vez não tinha mais o efeito do vinho, mas tinha resquícios de muito desejo.
Luísa desejava Daniel tanto quanto ele a desejava, por mais que negassem, os corpos reagiam de outra maneira. Daniel a puxou firmemente contra si, de modo que ela sentisse a rigidez dos músculos do peitoral dele, e que ele sentisse a maciez das curvas médias dos s.eios dela pressionadas nele.
Os olhos azuis do homem capturaram os olhos escuros dela e Luísa até sentiu uma pulsação acelerada de coração, só não sabia se era dele ou dela.
Ela pensou em afastá-lo e gritar para que jamais encostasse nela novamente, mas não era isso o que queria de fato. Daniel a beijou, com vontade, e ela o retribuiu. Uma das mãos grandes do homem segurou o coque frouxo, soltando e bagunçando os cabelos castanhos da moça. Ele a ergueu no colo, sem nenhuma dificuldade, as pernas dela entrelaçaram-se ao redor dele. Daniel a sentou sobre a mesa de vidro da sala de estar, mantendo-se no meio das pernas dela.
— Você é um insuportável, seu pilantra barato— Murmurou Luisa, com a boca ainda pressionada na dele.
— Não mais do que você, sua bruxa.— ele murmurou de volta.
Daniel puxou os cabelos dela para trás, com pouca gentileza, enquanto abocanhava o traço fino do pescoço da garota.
Luísa apertava as costas dele por cima do roupão, apenas desejando tirar todos aqueles centímetros de pano.
Não importava o quanto fosse errado, ela queria senti-lo dentro dela novamente.
— Vamos cometer o mesmo erro pela segunda vez.
— Então deixe que erremos. Amanhã é um outro dia para pensar em se arrepender.— Daniel tornou a carregá-la no colo.