Eu te odeio, mas te desejo

1695 Words
— É isso, podemos começar a trabalhar com podcast.— disse Luísa, determinada. Ela estava no centro da grande mesa da sala de reunião. Daniel, como seu marido e até então braço direito, estava sentado logo ao lado. — Eu não acho uma boa ideia mudar de repente. É como diz o ditado, em time que está ganhando não se mexe. Já temos uma revista on-line.— Opinou Maurício, diretor do departamento financeiro. — Essa frase feita está um tanto fora de moda, não acha?— Luísa inclinou o tronco para frente. — Não, eu não acho. O que eu acho é que você deveria ouvir quem tem mais experiência do que você.— Interferiu Poliana, esposa do Mauricio. — Eu acompanho o meu pai nessa empresa desde que eu me entendo por gente. Eu entendo desde números até a parte criativa, isso aqui é a minha vida assim como era a vida do meu pai.— Luísa precisou fazer uma breve pausa para não se emocionar. Daniel, ao perceber que sua esposa estava atirada aos lobos achou melhor entrar em cena. — A internet está dominando o mundo, isso é um fato concretizado. A “ Bom dia, América” começou como uma revista de papel e até ganhou um programava na televisão, mas hoje em dia não é mais isso que dá visibilidade. Foi a Luísa quem trouxe a ideia de criarmos um serviço online e atualmente trabalhar com podcast está super em alta. Os outros presentes pareciam não ter a menor vontade de se posicionarem, ao total, sem contar com Luísa e Daniel, estavam em dez. — Bom, eu proponho que além da revista on-line e do podcast, criemos “ quadros” para cada personalidade específica. Eu proponho anunciarmos nas redes sociais da revista que vamos testar pessoas para serem apresentadoras de respectivos programas no canal da “ Bom dia, América”. — Eu achei uma ideia muito perspicaz. Parabéns, Daniel.— Elogiou Luísa, com sinceridade. Com exceção a Mauricio e Poliana, os outros pareciam concordar. — E vocês pretendem manter as programações antigas? A “ Bom dia, América” sempre foi conhecida por sua variedade de temas.— Perguntou Alessandra, responsável pelo marketing. — Sim, eu pretendo continuar com os assuntos de moda, conhecimentos gerais, culinária, diários de viagem, para mães, dietas… Enfim, todos os que já temos. Mas eu ainda quero criar mais um quadro.— Respondeu Luísa, parecendo misteriosa.— Eu quero sortear toda semana um de nossos seguidores para participar dos programas. Quero que a nossa revista tenha a interação do público. Quero que o público sinta que somos mais acessíveis e é assim que vamos crescer mais. — Eu achei a ideia incrível.— Concordou Daniel. Luísa olhou rapidamente para ele, surpresa. Ela nunca imaginou que um pudesse ser tão solidário com o outro como naquele momento. — Eu ouvi rumores de que você tem um sócio minoritário.— Maurício não deixou de comentar. A maldade estava bem explícita na voz dele. — Será que esse tal sócio vai concordar com todas essas mudanças?— Perguntou Poliana, tão maliciosa quanto o marido. — Como o próprio Mauricio disse, ele é o sócio minoritário. A maior parte das ações são minhas, portanto sou eu quem decido.— Rebateu Luísa. — Será que a revista terá recursos disponíveis para esses investimentos.— Perguntou Paula, uma das responsáveis pelo departamento financeiro. — Eu analisei a conta da revista. O meu pai nos deixou com um excelente capital de giro e os últimos ganhos têm sido de tirar o chapéu. Temos dinheiro o suficiente para que eu possa aplicar essas mudanças.— Respondeu Luísa. — Ainda assim eu acho muito ganancioso. Pode não funcionar.— Rebateu Poliana. — A vida é feita de riscos, Poliana. Eu estou pronta para tentar com todas as consequências. Eu estou preparada para o positivo e para o negativo, embora as chances de funcionarem seja bem maiores do que ao contrário. — Temos um orçamento bem estruturado. Luísa e eu passamos um bom tempo organizando quanto vamos precisar e também as nossas economias.— Interferiu Laís, assistente financeira. — Então está decidido. Alessandra e Mariana, podem começar com as divulgações para seis apresentadoras para o programa e também com o anúncio sobre a participação do público nos podcasts.— disse Daniel. As duas concordaram. — E para fechar a reunião com chave de ouro, quero promover uma festa para homenagear o meu pai e para comemorar a nova fase da Bom dia, América, que em breve passará a se chamar “ Conectando, América.” — Eu sei que você é a dona da revista agora, mas como funcionária antiga eu tenho que te alertar…— Manifestou-se Poliana.— Você está querendo trazer mudanças demais de uma só vez. — As meninas do Marketing fizeram enquetes com o público, Poliana, e o nível de aceitabilidade foi grande. “ Conectando, América” tem tudo a ver com a nova cara da nossa marca. Os outros presentes aplaudiram as palavras da nova proprietária. Aquilo deixou Maurício e Poliana ainda mais incomodados. Chegada a hora de ir embora, Luísa e Daniel dividiram o espaço no carro, silenciosos. A garota, como sempre, assumia o volante. Ao se olharem de soslaio ao mesmo tempo, ambos se viram na obrigação de quebrar aquele silêncio. — Obrigada por ficar do meu lado hoje. Bom, também quero te parabenizar pela ideia, foi muito criativa e vai ser muito importante para a nossa marca. — Luísa Bolena reconhecendo um mérito meu? Eu estou surpreso.— disse o homem, com ironia. Aquela foi a única forma que ele encontrou de quebrar todo aquele clima de tensão e parceria que era estranho demais. Aquela solidariedade não tinha nada a ver com eles dois. Luísa revirou os olhos em resposta. — Já estou arrependida por ter elogiado. — A suas ideias são muito boas, Luísa. Eu tenho certeza que vai dar muito certo. Talvez eu me arrependa de ter admitido isso em voz alta, mas você nasceu para cuidar da liderança da revista. Luísa abriu um breve sorriso, sem tirar os olhos da direção. — O que acha de comemorarmos o sucesso de hoje? Amanhã é sábado, não teremos que acordar cedo…— Sugeriu Luísa. — Você quer comemorar comigo?— Daniel piscou os olhos, incrédulo. — Eu não tenho nada melhor para fazer hoje e como durante um ano você será o meu parceiro de trabalho… Bom, você também tem muito o que comemorar. O dinheiro que vai ganhar no final disso tudo te deixará rico para o resto da vida. Se você não gastar tudo como costumava fazer, claro. — Pode parar de passar isso na minha cara. Antes mesmo do meu padrinho morrer eu aprendi a administrar bem o meu dinheiro. — Tudo bem, não vamos começar a discutir. Aceita ou não o meu convite? — Convite aceito.— disse Daniel, sem mais delongas. Novamente os dois se entreolharam, dessa vez, com um sorriso conspirador. … Os minutos se tornaram horas no momento em que Daniel serviu a primeira taça para os dois. Eles riam e conversavam como se não se odiassem desde que se entendiam por gente. Uma garrafa de vinho foi embora, logo depois veio a segunda. Os dois já estavam embriagados como para ficarem confusos. — Eu preciso confessar que a sua ideia vai dá muita visibilidade para a marca, vai tumultuar as nossas redes sociais. Milhares de pessoas vão querer apresentar os nossos programas.— disse Luísa, ainda segurando uma taça de vinho que estava pela metade. — A sua ideia de convidar os fãs para participar dos podcasts também. Gostando ou não, você precisa admitir que somos uma dupla inteligente e que funcionamos bem trabalhando juntos. — Hum… Sim, eu concordo. Mas você falando isso não é nada modesto. — Você concordando também não é nada modesto.— Retrucou Daniel.— Luísa, fala a verdade. Você não vai ter coragem de me mandar embora daqui a um ano. — Não queira misturar os assuntos, pilantra. Eu estou bêbada, não burra. — Tudo bem, chega de falar de trabalho por hoje, não estamos em condições. — Eu estou com fome.— Luísa fez uma careta. — Por isso o seu relacionamento com o muçulmano não funcionou. Como você iria aguentar fazer o jejum de Ramadã se come como um dragão? Não sei como é magrinha desse jeito. — Vantagens de ter o metabolismo lento. Ou talvez não seja tão vantajoso assim, não é fácil ser magricela as vezes.— Luísa deitou-se no tapete confortável da sala de estar. Daniel deitou-se ao lado da mulher, sem tirar os olhos de seu lindo rosto. — Você está ótima. O seu corpo é lindo. Luísa levantou os olhos para o homem, surpresa com o elogio. Ficou ainda mais surpresa ao perceber o quanto o rosto dele estava próximo. — V-você acha?— Murmurou Luísa. Daniel involuntariamente desceu os olhos para a boca da garota. Ele ficou hipnotizando. Primeiro, queria deslizar os dedos com suavidade, e o fez. Depois, se aproximou mais um pouco, bem devagar, até que os centímetros que ainda existiam entre eles sumissem de vez. Luísa não recuou, estava aceitando o avanço. O hálito quente dela já tocava o seu rosto quando Daniel a beijou. Os lábios se exploravam devagar, até o efeito do vinho explodir na corrente sanguínea e na mente dos dois, como para fazê-los sentir aquele desejo intensificado. Daniel a segurou firmemente pela cintura esguia e a pressionou contra si. A sua língua adentrou a boca dela, e a língua dela encontrou a dele com domínio. As mãos da Luísa acariciavam os braços fortes, o peitoral e a nuca dele. Daniel se colocou por cima do corpo da Luísa, mantendo-a presa ao chão, submissa ao corpo dele. Ele agarrou as coxas delgadas e afundou o seu quadril no dela, pressionando a sua i.ntimidade na i.ntimidade da moça. Luísa arfou diante do contato e segurou os cabelos loiros do homem, com força, enquanto ele deixava beijos por seu pescoço. Talvez no dia seguinte ela se arrependesse, mas Luísa havia acabado de constatar que era possível desejar e odiar a mesma pessoa.
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