Capítulo 4

1197 Words
  CAMILLA   Em questão de segundos, ele fechou a distância entre nós e agarrou meu pulso. Fiquei tão surpresa que soltei um suspiro afiado e tentei me soltar, mas seus dedos apertaram com mais força, puxando-me para perto até que eu estava completamente imobilizada por ele.   Era desse cara que eu devia ficar longe? Como eu disse — impossível.   Limpei a garganta, tentando me libertar do seu aperto. Ele quer que eu diga alguma coisa, que perca a compostura e fale, para que ele possa sorrir vitorioso. Não. Não vou dar a ele esse prazer.   "Camilla?"   Ele chamou meu nome num tom suave e baixo. Esqueci minha decisão de três segundos atrás — meu interior inteiro pareceu derreter com o som daquela voz.   Ele pode ter esquecido o que aconteceu, mas eu revivo aquilo todos os dias. Tento esquecer, mas parece impossível, e ficar tão perto dele traz todas aquelas emoções de volta com força total. Não posso deixá-lo invadir minha cabeça de novo. Estou namorando o Kyle e não vou me envolver com outro cara. Isso é errado. Não posso. Não devo.   Pisei no pé dele com tudo. Canalizei todas as emoções que estava sentindo naquele golpe — e doeu. Ele recuou, encolhendo-se de dor, e eu aproveitei a deixa para correr para fora da sala sem olhar para trás. Subi as escadas correndo, atravessei o corredor a trote e me tranquei no quarto.   Meu coração batia forte no peito, minha pele ainda formigava com o toque dele, e minha cabeça estava um turbilhão de memórias. Isso não é nada bom.   "Não..." murmurei, deixando meu corpo escorregar pela porta até o chão.   "Não importa o que aconteça, preciso manter distância dele. Não posso me deixar envolver."   Me avisei. Decidi. Tenho um namorado em quem preciso me concentrar, e não vou me distrair com o Dylan por muito tempo.   Tirei a roupa, soltei o cabelo — precisava de um banho frio. Não sabia quanto tempo ficaria lá, mas só queria tirá-lo da minha cabeça. De preferência, para sempre.   Meu corpo ainda estava úmido quando saí do banho, secando-me com a toalha. Vestí uma roupa confortável e decidi ficar no quarto — talvez mexer no celular até ter sinal de outra pessoa nessa casa, para evitar ficar sozinha com você-sabe-quem.   Peguei o telefone e vi umas vinte chamadas perdidas, todas do Kyle. Ah, é — tinha deixado no silencioso. Suspirei. Se não retornar agora, ele vai pirar.   Liguei para ele e esperei.   "Amor, me desculpa. Sei que fiz papel de i****a hoje, fiquei louco e inseguro, mas… é que eu não quero te perder."   Ele falou, e ouvi um leve fungar do outro lado. Meu coração amoleceu. Eu é que devia pedir desculpas por tê tratado feito um lixo, e ainda assim ele se humilha por minha causa. Como consegui alguém como ele? E ainda estou deixando outro cara me afetar.   "Kyle, você não fez nada de errado. Eu não estava bem hoje e descontei a raiva em você. Foi culpa minha, não sua."   Me desculpei e ouvi seu suspiro de alívio. Sei que ele tem medo de me perder. Eu também tenho pavor de afastá-lo. Tenho medo de mim mesma, pra ser honesta. Pensando bem… parece que não tenho medo de perdê-lo.   Respirei fundo. Chega de refletir por hoje. Tô estressada demais.   "Então… você não tá brava comigo? A gente tá bem?"   Esqueci que o Kyle ainda estava na linha até ele fazer a pergunta, buscando confirmação. Balancei a cabeça, esquecendo que era uma ligação. Ele parecia tão vulnerável.   "Sim, a gente tá bem."   Respondi depois de uma pausa. Por quanto tempo?, me perguntei logo em seguida.   "Eu te amo muito."   Ele disse, e dava pra sentir a sinceridade.   Normalmente, num piscar de olhos, eu diria "eu te amo mais", mas as palavras não saíram.   "Também te amo."   Respondi com uma risada suave.   "Você deve estar cansado, te ligo mais tarde." Balancei a cabeça e dei um tapinha leve no próprio rosto.   "Tá. Tudo bem." Ele desligou.   Deitei na cama pensando no Kyle e em como ele é gentil, e depois tem o Dylan — arrogante, grosso e louco. O completo oposto do que busco num namorado. Mas, ainda assim, não consigo tirá-lo da cabeça depois de todo esse tempo. Ouvi uma batida suave na porta. Me levantei rezando para não ser o Dylan — não tinha energia para lidar com ele hoje.   "Querida, você tá acordada?" ouvi a Sra. Emerton perguntar do outro lado.   "Sim, tô." Respondi, limpando a garganta.   "Meu marido e eu vamos jantar fora daqui a pouco. Queria saber se você quer alguma coisa, querida?" Ela perguntou, me fazendo sorrir. Abri a porta para encará-la.   "Não, tô bem, obrigada."   "Não me chama de senhora." Ri, e ela sorriu de volta.   "Tudo bem, a gente volta mais tarde. Mas você não devia ficar trancada no quarto o dia todo, não é bom depois de tudo que passou. Sai um pouco. O Dylan tá na sala de cinema, você devia assistir um filme com ele." Ela sugeriu, e eu engoli em seco.   "Não, tudo bem. Tô boa assim." Tentei recusar com educação. Estava tentando evitar ele, não me aproximar mais.   "Bobagem. Dylan!" Ela chamou. Como se fosse combinado, ele apareceu segundos depois.   "Você e a Camilla vão assistir a um filme. Seu pai e eu vamos sair." Ordenou, num tom que não admitia discussão.   "Não quero você trancada aí o dia todo, aproveita a vida um pouco." Ela beijou minha bochecha e se virou para ir embora.   "Vem, a sala de cinema é aqui." Ele foi na frente. Hesitei, mas segui. Nenhum comentário sarcástico? Talvez ele esteja esperando os pais irem embora de vez. Claro.   A sala estava escura, com uma tela grande no centro. O Dylan já estava vendo um filme de ação.   "Tem preferência?" Balancei a cabeça, decidindo deixar ele escolher.   "Beleza." Ele voltou para o assento, mastigando pipoca. Nada mesmo? Ele estava estranho.   Assistimos em silêncio — o único som era o do filme e o tamborilar ocasional do meu pé. Quando o filme acabou, o Dylan se levantou para trocar. Percebi que não era outro de ação. Era um terror. Acho que já ouvi as meninas na escola falando sobre como era romântico assistir com o namorado. O filme se chamava "IT".   Assim que começou, fechei os olhos na parte assustadora e soltei um gritinho. O Dylan virou para me encarar — senti o olhar dele queimando. Abri os olhos e o encontrou sorrindo.   "Não tem graça." Revirei os olhos, e ele riu.   "Medrosa." Ele provocou, e eu resmunguei.   De repente, as luzes se apagaram completamente e o filme parou.   "Dylan." Chamei, assustada de repente.   Na mesma hora, as luzes voltaram, mas o Dylan não estava mais na poltrona.   "Aaah!" Gritei quando ouvi um barulho atrás de mim.   "Não me come!" Gritei, cobrindo o rosto. Ele começou a rir. Era o Dylan. Abri os olhos e o vi segurando um controle remoto, rindo à toa.   "Não me come." Ele imitou, zombando. Pensei em várias cenas, e todas terminavam comigo em cima do corpo frio e sem vida dele. Ele tá morto. Levantei com toda a intenção de acabar com ele de vez.
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