Capítulo 5

1235 Words
  Camilla   Pulei em cima dele, determinada a imobilizá-lo. Ele continuou rindo — talvez por causa das cócegas involuntárias, ou porque achava minhas tentativas patéticas. A segunda opção combina mais com a personalidade do Dylan. Fiquei ainda mais irritada e comecei a desferir socos em qualquer parte do corpo que conseguia alcançar.   "Diz que se arrepende."   Ordenei. Era cansativo, mas não queria desistir sem ganhar nada em troca. Em vez de se desculpar como eu pedira, ele soltou aquela risada baixa, aqueles olhos sonhadores brilhando de animação. O que eu tinha acabado de dizer?   Meus olhos se desviram dos dele para a posição em que estávamos. Eu estava sentada sobre ele, e as mãos dele estavam perigosamente próximas da minha cintura. Isso explicava a empolgação e a relutância em me deixar ir.   Fiquei vermelha de vergonha, tentando me levantar, mas ele me puxou de volta e nossos rostos quase se tocaram. Engoli em seco, tentando desviar o olhar de sua boca. Não ceda à tentação. É isso que ele quer. Me pressionar a tomar uma atitude e depois fazer um escândalo. Não, Camilla. Levanta e corre para longe. Pensa no Kyle. Pensa nos sentimentos dele.   Balancei a cabeça, mas mantive o olhar naqueles lábios — se me inclinasse só um pouco, poderia senti-los. Cedendo ao impulso, me aproximei, prestes a selar nossos lábios, quando ouvi o portão da garagem abrindo. Foi o choque de realidade de que precisava: os pais dele estavam voltando e, além disso, eu tinha um namorado. Dylan era um garoto-propaganda de relacionamentos vazios, e aquilo era uma receita para o desastre.   Empurrei-o com toda minha força, limpei o rosto com as mãos suadas e saí correndo da sala, desci as escadas mais próximas e me tranquei no meu quarto.   Dentro do meu refúgio, pressionei a mão sobre o peito, tentando acalmar meu coração acelerado.   Eu ia arriscar tudo ali? Por causa do Dylan?   "O que está acontecendo comigo?" Murmurei, enquanto o quarto parecia girar e uma dor latejante tomava conta da minha cabeça. Dylan não se lembra do que aconteceu naquela noite. Ele só quer me comer e se gabar para os amigos, e eu não posso deixar que ele me afete ou encontre um caminho para o meu coração. Deitei na cama, fechei os olhos e me forcei a dormir.   Na manhã seguinte, os raios de sol invadiam o quarto. Esfreguei as pálpebras, bocejando — ainda cansada pelos eventos do dia anterior.   Aparentemente, todos me deixaram dormir, já que não recebi nenhuma ligação da noite passada até agora. Fiquei no meu quarto e nem desci para jantar, o que só piorou minha fome.   A Sra. Emerton tinha me orientado a deixar as roupas no cesto de lavanderia, então tudo que eu precisava era me arrumar para a escola e… pegar uma carona com o Dylan.   Não esperava que ter que me agarrar aos músculos dele fosse se tornar rotina por semanas, meses — ou quanto tempo levasse para arrumarmos uma casa nova. Imaginei que eu poderia ir a pé, juntar dinheiro para um carro, ou talvez o pai dele me levasse, se não fosse incômodo. Escolhi uma camiseta branca e um jeans azul entre as roupas que me deram, e calcei um tênis para um visual casual. Não tinha feito nenhum dever de casa. Só esperava que os professores não fossem encrencar. Pendurei a mochila no ombro e saí do quarto — faminta. Desci as escadas devagar. Todos estavam comendo panquecas, inclusive o Dylan. Passei por ele e senti seu olhar me seguindo até me sentar à sua frente. Claro que não tive coragem de encará-lo e me deparar com seu olhar expectante. É isso que ele quer. Me fazer sucumbir sob sua influência, provar que é o macho alfa. Ele adora provocar os outros. Me provocar. Mas não vai conseguir.   "Bom dia, gente."   Cumprimentei baixinho, enquanto pegava meu café. Até agora, tudo bem. A menos que o Dylan resolva abrir a boca.   "Bom dia, querida, dormiu bem?"   A mãe dele perguntou. Acenei que sim, comendo em silêncio.   Depois de algumas panquecas, me levantei para ir à escola. Precisava sair cedo se quisesse chegar antes da primeira aula.   "Vou indo." Anunciei, e recebi olhares estranhos até o pai dele falar.   "O Dylan te leva, querida, não pode ir a pé."   "Claro que posso." Retruquei com uma risada, mas não pareceram convencidos.   "Dylan, o que você falou pra ela?"   O pai dele perguntou, depois da minha risada sem graça. Droga. Ele claramente suspeita de algo — ou sabe como o filho trata as mulheres. Talvez os dois.   "Nada. O Dylan não fez nada, é só que eu quero ir andando, acho bom."   Pela expressão deles, dava para ver que não acreditaram. Nem um pouco.   "Entendo que você queira ficar sozinha, querida, mas o Dylan te leva. E se ele tentar alguma coisa, você nos conta e eu acabo com ele pessoalmente."   A mãe dele falou com um sorriso doce.   "Tá bom." Cedi, sem argumentar mais. Se insistisse, viraria o assunto da conversa. Preferia ficar quieta e evitar papo furado com ele — só ir para a escola e pronto.   "Se cuida, querida." Acenei para eles enquanto saía de casa, com o Dylan atrás de mim.   Ele subiu na moto, eu sentei atrás e ele partiu.   Tentei ao máximo evitar contato, mas era me segurar nele ou cair. Escolhi a primeira opção e tentei não me deixar levar pelo seu cheiro, nem permitir que aquele aroma amadeirado nublasse meu julgamento sobre meus próximos passos.   Foi então que percebi: a escola estava à vista e ele não estava reduzindo a velocidade como no dia anterior. Estávamos nos aproximando da zona de risco — qualquer aluno poderia passar e me ver na moto dele. Ele esqueceu?   "Dylan, o que você está fazendo?"   Perguntei, enquanto ele continuava. Nos aproximávamos da escola, e Dylan não parava.   "Dylan, alguém pode nos ver juntos."   Elevei o tom, mas ele pareceu surdo — ou não estava nem aí? E toda aquela conversa sobre a reputação dele, sobre como as garotas reagiriam se nos vissem juntos? Que diabos ele estava pensando?   De repente, entramos no estacionamento. Eu ainda estava me segurando nele. Ele tirou o capacete, e todos os olhos estavam literalmente sobre nós. Eu tinha acabado de chegar à escola com o bad boy — uma posição que algumas garotas matariam para ter. Depois daquilo, essa poderia ser a minha sentença. Ousei olhar em volta: as garotas estavam me encarando com olhares afiados, e os caras me avaliando, provavelmente pensando que eu era a nova conquista, se perguntando o que o Dylan viu em mim e já considerando me "conquistar" em seguida — já que as ficantes dele sempre eram as mais gatas, segundo eles, não eu.   Pelo canto do olho, avistei o Kyle. Meu coração se partiu.   Ele estava parado no canto do corredor, olhou direto para o Dylan e depois para mim, apertou os lábios, a compreensão brilhando em seus olhos — olhos magoados. Então balançou a cabeça com tristeza, baixou o olhar, se virou e foi embora sem dizer uma palavra. Desci da moto, encarei o Dylan com fúria e corri para dentro para tentar salvar meu relacionamento. Nem eu me perdoaria numa situação dessas. Por que o Dylan insiste em arruinar minha vida? Agora, o Kyle está magoado e a escola inteira está se desfazendo de curiosidade. Isso não vai terminar bem para nenhum de nós.
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