Capítulo 2

4716 Words
 - B-Bernardo? O que faz aqui?-  - Cheguei em uma hora errada?- - Bom... É que o meu irmão ele...- Como se uma voz diabólica soprasse em seu ouvido, Pamela diminuiu o volume.- O meu irmão tem crises de loucura, e se torna um pouco difícil pela manhã.-  - Entendo... Não vai me convidar para entrar?- . - Ah...- Ela olhou em esguelha para trás. Gabriel estava se debatendo como um convulsivo, e Mirela o segurava para que não fizesse nenhuma besteira. - Pam?- - O que acha de vim mais tarde?.- Ela forçou um sorriso.- Vamos fazer uma noite de filme.- - Entendo...- Pela segunda vez, ele repetia a mesma palavra. Aquilo estava começando a se tornar incômodo. - A vejo mais tarde.- O rapaz ergueu o buquê para entrega-la, e ela o aceitou. Bernardo se aproximou e pousou um beijo no canto dos lábios de Pamela, fazendo o mesmo movimento do outro lado. Ainda estupefata, ela o assistiu se afastar.  Sempre quis ficar com Bernardo, desde que ele entrou no colégio, no ensino fundamental. E por que agora que parecia ter conseguido simplesmente travou?  Pamela sempre romantizava a sua primeira vez com o cara que amava. Ou com o cara que achava amar.  E em todas as noites que ela fazia aquilo, o rosto que enxergava era o dele.  Pamela fechou a porta, atordoada, e ficou encostada nela durante um minuto inteiro. Até Gabriel, que estava prestes a morder Mirela, parou de espernear para ver o que tinha acontecido. - Pam?- Perguntou Mirela, preocupada. - Ele vem hoje a noite.- ... - Tem certeza que é isso o que quer?- Virgínia observou Pamela espalhar pela cama pelo menos quinze conjuntos de Lingirie. - Foi o que eu sempre quis... Por anos... Por que seria diferente agora?- Virginia suspirou, segurando as duas mãos da amiga, no intuito de que ela parasse de focar naquelas inúmeras rendas, e prestasse atenção no que Virgínia tinha a dizer.  - Bernardo era uma espécie de amor platônico, eu entendo o que está sentindo por agora a sua paixonite querer ficar com você, mas já pensou em respeitar o próprio tempo? - Eu já tenho dezoito anos, Vi. Na minha idade, quase ninguém é virgem.- - Não se existe idade para perder a virgindade. O momento certo é aquele que você vai sentir quando estiver pronta.- Virgínia coloca uma mexa de cabelo da Pamela por detrás da orelha, deixando um beijo na bochecha da garota.- Pensa no que eu falei. As outras amigas delas estavam mais afastadas, escolhendo pijamas que usariam naquela fatídica noite. Pamela suspirou, e a palavra " tempo certo" que fora dita por Virgínia ficou martelando em sua cabeça. E se ela não estivesse pronta? E se Bernardo não fosse o cara certo? Será que existia o cara certo? Ela nunca se sentiu tão insegura... Tão pequena. - Pam, qual pijama vai usar?- Perguntou Ana. - Qualquer um.- Ela virou os ombros, com indiferença. - Você está bem?- Ana Paula enrugou a testa, preocupada. - Eu só estou pensando. Bem... Vou tomar banho.- Ela não esperou nenhuma das amigas falarem, simplesmente se trancou no banheiro. Tirou a camiseta larga que gostava de usar para ficar em casa, e analisou criticamente o próprio corpo.  Sim, talvez a considerassem bonita. Sim, todos elogiavam o seu corpo devido às curvas bem definidas. Mas ela não era perfeita. Tinha estrias, algumas celulites, e muita insegurança. Ficar nua na frente de alguém, para Pamela, não era apenas tirar a roupa, mas sim, escancarar toda a sua intimidade. A garota entrou no chuveiro, e deixou a água escorrer por sua cabeça, sentando no piso para pensar melhor. Deve ter passado algo como dez ou quinze minutos, quando alguém bateu na porta. Ou talvez tivesse passado mais, a verdade é que Pamela perdera a noção do tempo. -Pamela? Tudo bem aí?- Era a voz do Léo. Ela se enrolou na toalha que estava pendurada e praticamente correu para girar a chave e puxar a maçaneta. Também não esperou Léo entrar ao banheiro, e envolveu seus dois braços ao redor do corpo dele. - O que está...- Ele ia perguntar o que estava acontecendo com ela, mas ao sentir o corpo da garota contra o seu, a voz falhou.  O contorno suave do seio de Pamela roçava no braço de Léo, e sua cabeça estava perigosamente próxima do coração dele, tanto, que era possível ouvir as batidas aceleradas.  Mesmo por cima da toalha, quando pousou as mãos nas costas dela, sentiu-se incendiar. O membro de Léo começou a enrijecer, então teve que afasta-la. - O que está acontecendo? Por que ainda está de toalha?-  - O Bernardo vem hoje a noite e...- A voz dela embargou.- Não sei se estou pronta. Léo abriu a boca para perguntar sobre o que ela não estava pronta, mas já tinha entendido. Pamela achava que Bernardo era o amor de sua vida, e agora que tinha a chance de perder a virgindade com ele estava apavorada. - Pamela, você não tem...- Ele ainda a segurava pelos braços, e percebeu que a estava apertando excessivamente, então afrouxou o toque.- Você não tem que se obrigar a fazer nada, deve respeitar o seu próprio tempo. - Foi o que a Virgínia disse.- - Preciso concordar com ela.- Pamela respirou fundo. - Deveria ser especial.- - Vai ser especial... Quando for a hora certa.- Léo deixou um beijo na bochecha dela, um pouco mais para baixo, quase no canto da boca.  - E como vou saber quando é o momento certo.- - Você apenas vai. Confie em mim.- E ela confiou. Porque aquele era Leo, o seu melhor amigo, e ela o amava. Ela cortaria os braços e as pernas por ele. Se jogaria na frente de um trem, ou saltaria de um carro em movimento.  Se Leo falou que ela saberia, é porque, de fato, ela saberia. ... Já de noite, como o combinado, todos os convidados estavam presentes ao sofá da sala de estar de Pamela. Por sorte, um amigo de Gabriel o convidara para passar o final de semana em uma chácara da família, e como os pais do menino eram da confiança dos pais de Pamela, ela conseguiu se livrar de seu caçula com maestria. Ao total tinham cinco homens, no qual quatro eram amigos de Léo, e o outro era apenas Bernardo, e cinco mulheres. O programa foi estrategicamente combinado para que ninguém ficasse sobrando, e os únicos que não estavam de casal era Mirela e Rodrigo . Todos ali se conheciam há muito tempo, desde bem antes do ensino médio.  Rodrigo tentou envolver os ombros de Mirela com um de seus braços, mas ela o afastou, não estava nenhum pouco interessada.  Durante o filme, quando Pamela olhava de esguelha para Léo e Gisele, encontrava os dois aos beijos. Provavelmente, Hugo, outro amigo de Léo, e Virgínia estariam fazendo o mesmo em algum outro lugar da casa, já que desapareceram separadamente no meio do filme. Os dois já tinham o costume de ficar há aproximadamente um ano, e Hugo não se decidia sobre pedir Virgínia em namoro. As meninas sabiam que ela era apaixonada por ele, e embora colocasse uma venda diante toda aquela enrolação, Virgínia não era obtusa a ponto de permanecer naquela relação sem nenhuma doação completa por parte do outro.  No final do filme, Ana Paula tinha adormecido no braço de Arthur, e Pamela se sentiu tentada a fazer o mesmo, já que Bernardo insistia em lhe apalpar a coxa, subindo a mão sempre para uma zona perigosa.  Ela sabia que precisava sair dali para pelo menos ter uns minutos a sós, algo a angustiava mais do que o normal e o pior era não enxergar o que estava fazendo isso. Então, inventando uma desculpa evasiva, a moça praticamente saiu a galope – se estivesse de cavalo-, para dentro de seu quarto.  Provavelmente Bernardo deve ter interpretado aquilo como um sinal, porque menos de cinco minutos se passaram quando ele adentrou o cômodo. - Finalmente, a sós.- Com um sorriso malicioso, ele a atacou, sem dar a chance de que ela falasse. Beijou-lhe como se precisasse sorver todo o ar que continha em seus pulmões, e Pamela se sentiu sufocada. Ela o retribuiu – embora tenha ficado perdida quando ele começou a girar língua sem um norte, ou até mesmo um sul.  De forma pouco cortês, Bernardo jogou a garota sobre a cama, montando nela como se fosse um cavalo prestes a ser domado. Toda aquela rapidez a estava deixando desesperada. E então, ela soube que algo precisava ser feito quando o rapaz levou seus lábios para o pescoço dela e os deslizou até a curvatura de seus seios. - Bernardo, espera...- - Sh... Vai estragar o momento.- Mal terminou de falar, e enfiou uma das mãos por dentro do short de dormir. Pamela retesou o corpo, puxando a mão dele para fora. - Chega.- Ela o empurrou para o lado, ficando de pé. - Não estou entendendo... Não foi isso o que sempre quis?-  Ouvi-lo falar de forma tão petulante, por mais uma vez, a fez sair completamente do sério.  - Pare de falar como se fosse um maldito prêmio que eu jamais conseguiria conquistar sem a sua benevolência!- Ela explodiu. - Do que está falando?-  - Claro... Você é obtuso demais para entender.- - O que é obtuso?-  - Sai do meu quarto.- Ela apontou na direção da porta. - Olha, você é linda... Mas eu odeio joguinhos como esse. Se está tentando bancar a difícil, não vai funcionar. Não é assim que vou me apaixonar por você, acredite, outras já tentaram.- Ele ficou de pé.- Já se você souber se comportar...- Ele encurtou a distância entre os dois. - Eu não vou repetir... V.A.I E.M.B.O.R.A.- Pamela pontuou cada letra da palavra.  - Sabe que eu não vou te dar outra chance, não é?- - Quer que eu diga aonde você deve enfiar todas as suas chances?- - Não.- Ele respondeu secamente, saindo do quarto. Ela respirou de alívio. Não se importava se Bernardo fosse embora, convida-lo para uma noite tão íntima foi um erro imensurável. Pamela jogou o próprio corpo sobre a cama e fechou os olhos, provavelmente alguém entraria no quarto a procurando, mas até isso se concretizar, queria aproveitar o momento sozinha. Léo irrompeu ao quarto quase pouco tempo depois que Bernardo saiu, provavelmente foi conferir o que estava acontecendo. - Aquele filho da...- Léo balançou a cabeça e respirou fundo, para se conter.- Ele fez alguma coisa com você?  - Não. Só estava esperando algo que até eu achei que seria capaz de fazer.- Em silêncio, seu melhor amigo se sentou ao seu lado. - Quer conversar sobre?- - Eu acho que só quero esquecer.-  Instintivamente Pamela apoiou a cabeça no colo de Léo, e ele afundou os seus dedos entre as mechas castanhas dos cabelos dela.  Um longo período de silêncio se deu até ele perceber que ela adormeceu, e sorriu por assisti-la tão serena em seu colo. Léo a amava desde que se entendia por gente. A mãe dos dois eram melhores amigas e engravidaram quase no mesmo tempo. Elas sempre falavam que a sintonia dos dois começou na barriga. Quando um chutava, o outro também chutava.  Não seria prudente erguer o corpo e correr o risco de acorda-la, Léo sabia que estava exausta. Então deitou o corpo na cama e muito em breve, sem perceber, adormeceu. Quando o dia amanheceu, Pamela não sabia por quanto tempo dormiu, mas a luz que irradiou do flash de algum celular quase a cegou. - A mamãe vai amar ver essa foto... Não só a mamãe, toda a família.- Gabriel deu de ombros.- Vou mandar no grupo. Realmente era motivo para se preocupar. As meninas e Léo estavam todos emaranhados na cama, com um monte de bagunça ao redor. Os pais de Pamela não se importavam que ela fizesse suas reuniões em casa, desde que eles estivessem presentes. - Isso é algum pesadelo?- Pamela pergunta a si mesma.- O que você tá fazendo aqui? - Se não percebeu, está chovendo.- - Ah...-  - Se fizer chocolate quente pra mim... Eu repenso sobre mandar.- - Promete?- Pamela ergueu a sobrancelha. - Prometo.- Gabriel cuspiu na mão e a esticou. - Que porcaria é isso?- - Um pacto. Vi em um filme de época. - Afaste essa nojeira de mim.- Pamela ficou de pé, se esquivando da mão dele que estava estendida. A garota fingiu caminhar para o lado contrário, esperando um pequeno vacilo de seu irmão ao se distrair, e assim, roubou-lhe o celular, correndo com o objeto escada abaixo. - Sua patife!- Gritou Gabriel, indo atrás dela.  Tinha sido tarde demais, Pamela se trancou no banheiro social que ficava rente a sala de estar. Gabriel socou a porta com determinação e berrou o mais alto que podia, acordando o restante dos meninos que estavam dormindo no sofá.  - Mas o que diabo está acontecendo? Alguém invadiu a casa?- Perguntou Hugo atordoado. - Sim... O irmão da Pamela que deveria estar na chácara.- Respondeu Arthur, ainda de olhos fechados. - Alguém desliga essa geringonça? Eu quero dormir.- Resmungou Rodrigo. - Acha mesmo que se eu soubesse, já não tinha feito?- Arthur bufou. Um clic se deu na porta, e Pamela saiu do banheiro com a cara mais cínica que existe, entregando o telefone móvel á Gabriel. - Pronto... Não existe mais evidências contra a minha pessoa.- - Aaaaaah!- Gabriel expeliu um som gutural. Ele correu, com o rosto todo vermelho, e se jogou contra o corpo da irmã. Os dois caíram sobre o tapete, e ela o imobilizou segurando-o pelos cabelos. - Que porcaria vocês dois pensam que estão fazendo?- Perguntou Arthur.- Parecem um casal de furões enfurecidos. Arthur pensou em acrescentar algo como " acasalando" ou " na lua de mel", mas não seria nada apropriado. Primeiro, porque são irmãos, e segundo, por Gabriel ser uma criança.  - Eu diria, que parecem dois porcos raivosos.- Rodrigo deu de ombros. - Porcos?- Arthur não entendeu a informação. Hugo já tinha desistido de prestar atenção na conversa dos dois, e adormeceu de novo.. - Tem noção quanto os porcos são perigosos?- Rodrigo perguntou á Arthur.- A mordida deles é fatal.- - O que você descreveria como fatal?- - Os assassinos quando querem encobrir o crime, eles dão o corpo da vítima para o porco comer.- - Cruzes!- - Lá perto da fazenda do meu pai, já aconteceu de um homem cair desmaiado no chiqueiro e o porco comeu metade do rosto dele.- - Bom... Tá aí um bom motivo para eu não sentir remorso por comer bacon.- Arthur não resistiu á piada sem graça. - Deveríamos fazer alguma coisa, eles estão se matando.- Rodrigo constatou o óbvio, ao ver Gabriel preso entre as duas pernas de Pamela e fazendo força para sair. - Sim, deveríamos.- Arthur concordou - Hugo, acorde.- Rodrigo disferiu uma cotovelada no amigo. - Hum?- Ele parecia um pouco desnorteado.  - Você leva mais jeito com crianças, acabe com isso.- Rodrigo se referiu a luta corporal entre os dois irmãos. Hugo respirou de exaustão, ficando de pé ao ver que ninguém resolveria aquilo. Gabriel estava com a boca aberta, tentando morder a irmã. - Chega disso.- Proferiu Hugo, erguendo com facilidade o menino.- Quantos anos você tem?- Resmungou, ao acha-lo pesado. - Dez. Mas já vou fazer onze.- - Mentira. Acabou de fazer dez.- - Ela não perguntou a você, capivara manca.- - Não dou a mínima pra quem ele perguntou, filhote de morcego.- Gabriel fez menção em chutar a canela da irmã, mas Hugo o deteve. - Eu disse que já chega!- Ele engrossou a voz propositalmente, fazendo os dois irmãos se aquietarem. - Bom, vou mandar a Dalva fazer o café da manhã. As meninas acordam com muita fome.- Pamela caminhou no sentido da cozinha. - Eu vou no seu quarto rasgar todas as páginas dos seus livros.- Ameaçou o mais novo. - Ah, mas não vai mesmo. Nem que eu tenha que amarra-lo.- Hugo o puxou pelo braço, jogando-o por cima de Arthur e Rodrigo, que cochilavam.- Fica aí. Já que veio para a festa, vai participar dela. - Vão me deixar participar de festa de gente grande?- Os olhos do menino brilharam. - Não acha que realmente vai ter uma festa, não é?- Hugo piscou aturdida.- É só uma forma de falar. Gabriel respirou fundo. Hugo também respirou fundo.  Depois do café da manhã, Pamela ficou sozinha na casa. Não completamente sozinha, já que Gabriel estava a poucos metros quadrados de distância. Ela estava com o computador portátil no colo, digitando alguma coisa em seu bloco de anotações, quando chegaram notificações em seu celular.  - Meninas, o Hugo me pediu em namoro!.-  A primeira mensagem foi de Virginia. - Qual ameaça fez á ele?-  Provocou Ana Paula. - Eu contei que estava saindo com o Matheus e ele não gostou... Então eu disse que, se ele não era meu namorado, não podia me cobrar ciúmes... Daí era isso... Ou aceitava, ou namorava.- - Certissíma! Não pode cobrar nada se não tiver um compromisso. Espero verdadeiramente que ele te faça feliz, amiga. Ana Paula falou de novo.  - Felicidades! Eu já suspeitava que uma hora ou outra isso fosse acontecer. Agora a mensagem era de Mirela. - Marquei de sair com o Arthur amanhã. Ana Paula mandou um emoji piscando, após a mensagem - E o Rodrigo me chamou para sair, mas eu fui evasiva na resposta. Não me identifico com o jeito dele. - Nunca fui com a cara do Rodrigo.- Virginia expressa a sua opinião. Pamela felicitou Virgínia pelo namoro, de coração estava feliz pela amiga. Ela sabe o quanto Virgínia sempre gostou de Hugo, e mesmo ele não tendo muita atitude, também era loucamente apaixonado por ela. Ou ao menos, nesse último ano, foi isso o que aconteceu.  Como não sabia esconder nada das amigas, mandou uma mensagem de voz contando tudo o que aconteceu entre Bernardo e ela. As meninas falaram frases de consolo, e a apoiaram, exatamente como Pamela sabia que fariam.  A campainha tocou, e Pamela pôde ver a sombra de uma silhueta na porta. - Gabe, atende pra mim, por favor.-  Continuam tocando na campainha por varias vezes. - Gabriel!-  Ao ver que seu irmão não atenderia, Pamela soltou seus pertences sobre o sofá e foi até a porta. - Achei que não me atenderia.- Era a Raquel. Por infortúnio do destino as duas eram vizinhas. - O que quer?- Pamela perguntou impaciente - É assim que trata as suas vizinhas?- - Raquel, por favor. Não me faça perder meu precioso tempo. O que quer?- - Não vai me convidar para entrar? - Não.- - Bom, então vou falar daqui de fora mesmo.- - Pamela não vai para lugar nenhum, está cuidando de mim! Mas se me convidar... Daí eu penso se nós dois iremos.- Gabriel surge na porta, interferindo na conversa.  Pamela fez cara feia para ele. - Vi o Bernardo saindo da sua casa.- - Está me espiando, Raquel? - Foi uma coincidência.- - Aham... Aham.- - Está sendo condescendente comigo, Pamela?- - O que você acha?- - Deixa o Bernardo em paz. Eu não vou avisar uma segunda vez.- - Você está vindo até a minha porta brigar por causa de homem?- A pergunta é uma retórica  - Quem é Bernardo?- Pergunta Gabriel. - Eu juro que se você se meter no meu caminho, até suas amigas pagarão as consequências dos seus atos.- - Quem você pensa que é, para vim até a minha casa e ameaçar tanto a mim quanto as minhas amigas? Raquel... Eu não quero perder a paciência com você.- - É? E o que vai fazer?- Tentando ser intimidadora, Raquel encurta a distância entre o corpo das duas.- Você não tem calibre para entrar em uma disputa comigo, então é melhor você reconhecer logo, sua cretina! - Ninguém insulta a minha irmã ! Só eu insulto a minha irmã.- Diz Gabriel, dando um chute bem forte na canela de Raquel. - Desgraça de...-  - Não se atreva a falar do meu irmão.-  - Vá pro inferno e leve essa porcaria de...- Pamela não deixou Raquel completar a frase. Ela segurou os cabelos finos da nuca da moça, e os apertou com toda força que lhe era permitida. - Eu posso tolerar que você apronte comigo, Raquel. Mas não se meta com o meu irmão e nem com os meus amigos, ou eu juro... Eu acabo com você.- Pamela sabia que estava soando melodramática, mas não tinha como se expressar de forma melhor. A garota soltou um gemido de dor, ainda fazia uma careta quando Pamela afrouxou os dedos e a soltou. - Fique com o Bernardo inteiro para você... Ele não me interessa mais.- Pamela bateu com a porta. ... - Cheguei mais cedo, para que não sinta saudades.- Proferiu Léo, assim que a porta lhe fora aberta. -Ah, graças a Deus.- Pamela o envolveu em um abraço.- Achei que a Raquel tivesse voltado. Ultimamente, abraçar Pamela vinha sendo muito desconfortável. - Como assim a Raquel?- - Ela veio fazer uma cena grotesca por causa do Bernardo. Bom... A coloquei para fora.- - Tenho medo de perguntar como.- Pamela apenas sorriu. - Eu estava precisando tanto de você, Léo.- - Estava?- Ele se repreendeu por ter perguntado aquilo em voz alta.  Léo queria que Pamela precisasse dele não só para uma boa conversa. Ele queria que ela precisasse dele da exata forma que ele precisa dela. Em cima, por baixo, ao redor... Aquele tipo de pensamento o estava deixando louco, jamais imaginou que pudesse enxerga-la daquela forma.  - A verdade, é que eu não levo jeito com garotos.- Léo ergueu a sobrancelha. - O que tem de errado comigo? Eu sou tão pouco interessante?- - Pamela...- - Ou sou tão pouco desejável? É a única explicação que vejo para as pessoas desistirem de mim tão rápido.- - Você é a criatura mais interessante, atraente e desejável que existe na face da terra.- Léo a fez calar a boca, estupefata.  - Está falando isso porque é o meu melhor amigo.- - Estou falando isso...- Ele encurtou a distância que existia entre os dois.- Porque há dias estou sendo atormentado com uma súbita... Ele não conseguiu completar a frase. Será que a assustaria? Que estragaria uma amizade da vida inteira?  Os olhos verdes e insondáveis de Léo não perderam o contato físico com os de Pamela. - Com uma súbita...- Ela tentou incentiva-lo a continuar, o que foi um grave erro.  " Certas coisas não se explicam. Não existem palavras que as descrevem ou soluções que as resolvam. Sentimentos, gestos, sonhos e sorrisos. A alma entende e a boca cala" - A alma entende, e a boca cala.- Léo sussurrou, ao lembrar da poesia de Fernanda Mello. Ele nem sequer gostava daquele tipo de escrita, mas tinha uma memória incrivelmente boa e conseguia gravar até mesmo o que não fazia sentido na vida dele. Mas agora, aquilo fazia. - Léo?- Pamela não parecia entender. Talvez por um impulso, ou pela vontade irascível de mostrar o quão Pamela é desejável e que deveria se sentir assim, Léo envolveu o corpo da garota com os braços, capturando seus lábios entreabertos em um beijo. A sentiu retesar o corpo, o que era natural, devido ao choque, mas logo se deixou levar. A língua morna passeou pela umidade dos contornos da boca dela, acariciando-lhe todos os pontos sensíveis. Léo repuxou com os dentes o lábio inferior, e por nenhum momento soltou-a do abraço.  Ele a pressionava contra o seu corpo firme, e Pamela sentia os pés deixarem a terra firme.  Afastando-a de si mesmo, Léo depositou um último beijo em sua boca. - Você, Pamela Magalhães, é incrivelmente desejável.- Com a sua deixa, Léo achou que o melhor a se fazer era deixá-la a sós, com os seus pensamentos. As horas se passavam rapidamente após a ida de Léo. Pamela ainda estava atônita com o que aconteceu entre os dois, e não parava de pensar no calor que emanava do corpo dele. Ele era lindo, ela nunca duvidou disso. Pamela tinha plena consciência do quão cobiçado era o seu amigo, mas jamais o olhara de uma forma que não fosse fraternal, e aí ele o beijou. Embora não tenha dado muitos beijos na vida, ela sentiu que poderia voar.  Se alguém a tivesse lançado em um precipício após aquele beijo ela flutuaria e nada aconteceria – metaforicamente, já que Pamela não tinha interesse nenhum de ser lançada de um precipício-.  - O que eu faço?- Perguntou para ninguém em específico, ou talvez fosse para a entidade divina.  O celular dela, que estava sobre a mesinha de centro, apitou, informando que chegou uma mensagem. Ela não queria falar com ninguém, ou até mesmo ver ninguém. Precisava pensar, como encararia Léo depois daquilo?  O pior era que mais tarde o veria, tinha se arrependido amargamente de ter programado algo para fazer todos os dias de sua semana, sem levar em consideração as vezes que precisaria ficar sozinha.  - Você não é nenhuma covarde, Pamela. Precisa encarar as coisas de frente... Precisa conversar com o Léo.- Disse a si mesma, erguendo-se do canto da parede. O caminho até a faculdade que estudaria daqui a mais ou menos dois meses, foi percorrido em um agonizante silêncio. As amigas de Pamela estavam especialmente comunicativas naquele – para ser dramática- fatídico dia.  - Por que estão absurdamente quietos?- Pontuou Ana Paula.  - Concentrado no trânsito.- Léo deu uma desculpa esdrúxula, apertando as mãos no volante. - Você não está dirigindo.- Ana Paula falou o óbvio, dirigindo-se a Pamela. - Ah... Estou apenas nervosa. Não quero encontrar o Bernardo lá.- Mentiu. - Amiga, a cidade é tão grande... Acha mesmo que o Bernardo vai surgir em todos os lugares?- Perguntou Virgínia. Acho. - A cidade não é tão grande assim.- Respondeu Mirela.- Já perceberam como estamos destinadas a encontrar Raquel e as amigas na maioria das vezes que saímos?-  - Talvez seja porque, infelizmente, temos o mesmo ciclo de conhecidos. Não se trata do acaso, ou conspiração do destino.- Explicou Virgínia.  - Seja la o que for... Vocês não vão cair na provocação delas.- Mirela disse ás suas amigas.- Nada vai estragar a nossa noite. - Eu não prometo nada.- Virgínia deu de ombros.- Estou louca para dar um corretivo naquelas três lambisgóias desde o aniversário do Noah. - Virgínia...- Mirela estreitou os olhos. - Eu não vou começar nenhuma discussão... Mas se alguma delas vierem...- - Você vai virar de costas e se afastar.- Mirela completa a frase. - Eu vou ganhar uns trocados vendendo uma peruca de cabelo humano para o salão que tem na esquina da minha casa.- Virginia tocou de leve com o indicador no ombro de Mirela.- Além do mais, não devemos dar as costas para o inimigo.- - Existe cabelo que não seja humano?- Indagou Ana Paula. - Ah, não seja obtusa. Sabe muito bem que existe cabelo falso.- Respondeu Virgínia. - Falta muito para chegarmos?- Perguntou Mirela. - Se o trânsito permitir, chegaremos em cinco minutos.- Graças a Deus.  Pamela não aguentava mais o sacolejar do carro, com um adicional de discussão.  Um pouco mais de cinco minutos depois, eles chegaram á festa. Os amigos de Léo que estavam na noite anterior – incluindo Breno, que não estava na noite anterior-, esperavam na frente do portão. O imenso grupo de nove pessoas adentrou o ambiente, e Pamela suspirou aliviada ao não encontrar sequer um resquício de Bernardo, ou de Raquel.  A música que tocava era agitada, o que não requeria um parceiro, como nas lentas. Ainda que um pouco desajeitada, Pamela dançou na companhia de suas amigas, já que os meninos decidiram não se juntar á elas.  Rodrigo se afastou, tentando investidas frustradas com outras garotas que estavam por ali, já que Mirela deixou bem claro com todas as palavras que não estava interessada.  O momento mais temido por Pamela, alguém pediu para que o DJ tocasse uma música lenta. Os pares conhecidos já se formaram, exceto por Mirela e Breno, que dançaram apenas por ficarem sobrando.  - Acho que não vai se importar em... Bem... Em dançar comigo.- Léo estendeu a mão, e ela não recusou.
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