Capítulo 2

2097 Words
Peter estava horrorizado. Janette furiosa. E Ethan... ele estava maravilhado, apesar do tapa violento em seu rosto. Nem mesmo aquela fúria, já esperada, foi capaz de tirar o sorriso deslumbrante de seu rosto. Jane agiu exatamente como ele esperava. Raiva, irritação, até mesmo ódio. Ele pouco se importava com o tipo de sentimento. O que importava era que de alguma forma ele conseguiu mexer com ela. Adorava quando ela agia daquela forma impulsiva e passional. Ele só não suportaria sua indiferença. — Filha! Meu Deus... desculpe... Ethan ergueu a mão quando Peter começou a se desculpar. Ele estava feliz. Nada do que Jane fizesse ou dissesse diminuiria sua satisfação em tê-la por perto novamente. — Está tudo bem, Peter. Jane está apenas... cansada. Como foi sua viagem querida? — Não me chame de querida, seu imbecil. O que pensa que está fazendo? Ele arqueou a sobrancelha e colocou as mãos no bolso da calça. — Conversando com vocês? Ele percebeu as mãos dela se fechando e suas bochechas enrubescerem. Algo se remexeu dentro dele ao perceber que as características que tanto apreciava nela continuavam presentes apesar do tempo. — Não brinque comigo Crown. — Ela suspirou e fechou os olhos falando em seguida. — Será que poderia nos deixar a sós pai? — O que? Não... Jane...nós precisamos... Ethan estreitou os olhos enquanto analisava os dois. Provavelmente não conversaram profundamente sobre o assunto. Jane não era do tipo que conversava assuntos sérios à distância. Ela gostava do olho no olho. — Peter... eu posso sair enquanto vocês conversam. Tomem o tempo que precisarem. Ele não esperou por resposta e saiu da sala, fechando-a atrás de si. Antes de olhar para o pai Jane observou o belo e requintado ambiente. Sabia que Ethan estava muito bem de vida e admitia que era merecido. Embora a presidência do banco tenha sido uma herança do avô, Ethan sempre foi esforçado e muito capaz. O fato de ser um crápula como homem não lhe tirava o mérito profissional. Classe, elegância e bom gosto. Tudo isso reunido naquele ambiente. Desde quando saiu de San Francisco Jane evitou qualquer notícia a respeito de Ethan Crown. Ela não era do tipo que ficava sofrendo e rastejando por amor. Não deu certo? Bola para frente. Não se fechou para novos relacionamentos e até teve um ou dois namorados. Mas seu foco não era esse. Ela queria se tornar uma médica bem conceituada. No entanto, após seu tempo de residência ela logo se juntou aos médicos sem fronteiras e saiu de Londres, onde estudou, indo para a Africa. Lógico, sendo uma pessoa culta e interessada no que acontecia no mundo, ela bem sabia dos sérios problemas enfrentados pela população de Burundi, onde estava. So não imaginava que a situação fosse tão crítica. De perto a realidade era bem pior. Mais de oitenta por cento da população vivia abaixo da linha da pobreza. Crianças desnutridas, mães morrendo por várias doenças e tão desnutridas que mal conseguiam amamentar. Não somente como médica, mas também como ser humano Jane se viu na obrigação de continuar ali. Trabalhava duro, incansavelmente. Ao final do dia ela só queria tirar o suor do corpo e cair em sua cama. Felizmente sua amiga de colégio tinha embarcado nessa empreitada com ela, o que a ajudava a suportar toda aquela situação sem se desesperar. A realidade era desumana. Ela e Rita moravam juntas, mas agora a amiga já pensava em voltar para San Francisco. Seu noivo, também do médico sem fronteiras queria se casar e ter filhos. E ela estava certa ao dizer que ali não era o melhor lugar para se criar um filho. Deixando os pensamentos de lado, Jane encarou o pai quando ele pigarreou. Sem graça, ele torceu os lábios, mas Jane se aproximou e o abraçou pela cintura. — Desculpe ter entrado assim e nem o cumprimentar adequadamente. Como você está pai? — Arrasado. Não há melhor palavra para isso. Eu... eu juro que seu eu tivesse outra alternativa... — Por que pai? O senhor prometeu que tinha parado com esses jogos, que tinha se livrado dessas apostas. Envergonhado e engolindo as lágrimas ele negou balançando a cabeça. — Oh pai! Tanto que eu disse que isso é doença. Bom, mas também não vou massacrá-lo com isso. Qual é a real situação? Por favor... dessa vez não me esconda nada. — Falido. Completamente. Eu devo tudo o que você imaginar, Jane. Até nossa casa está hipotecada e eu não tenho onde mais tirar. Já vendi tudo o que podia. Jane procurou disfarçar sua apreensão e arrastou o pai até o sofá onde se sentaram. Segurou com firmeza na mão enfraquecida e envelhecida e levou uma das mãos aos cabelos ralos. — E a mãe?Eu falei com ela há duas semanas pai. Ela me garantiu que estava tudo bem. Por que mentiram pra mim? — Foi tudo muito rápido querida. A descoberta da doença... ela estava evoluindo rápido... eu não sei o que fazer. Eu.. me sinto tao culpado. — Se afogar em autocomiseração a essa altura não nos levará a nada. Bom, já disse que esgotou todos os recursos. Nada de empréstimo, de fusão com alguma empresa... nada? — Nada. Todas as portas fechadas para mim. — E onde Ethan Crown entra nessa história? — Ele me procurou e fez a oferta. Jane franziu a testa. Quando soube da noticia acreditou que o pai teria buscado a ajuda dele, já que ele era um dos maiores banqueiros do pais. Jamais imaginaria que Ethan teria dado o primeiro passo. — Como assim? — Ele... ele disse que sabia que todas as portas estavam fechadas para mim. Ele comprou os documentos relativos a hipoteca da nossa casa e ameaça executá-la. Comprou a maioria das ações da empresa também. E me garantiu que cuidaria para que eu não conseguisse empréstimo em lugar algum. Como se ele precisasse fazer alguma coisa pra isso. Jane estava estupefata, boquiaberta.Conhecia o caráter de Ethan em relação a um relacionamento amoroso, mas sempre acreditou que fosse uma pessoa íntegra em outros aspectos. Ledo engano. Uma fruta nunca é podre somente pela metade. — Estou ouvindo. — Falou engolindo seu asco. — Ele fez a proposta de salvar tudo que está perdido, arcar com o tratamento de sua mãe, devolver nossa casa... a troco de se casar com você. Filha... o que houve entre vocês? Vocês... já se envolveram amorosamente? Jane se levantou e andou pela sala. Sua vontade era de chutar toda aquela mobília, quebrar toda aquela decoração de luxo e mostrar os dedos do meio para Ethan. Mas ela jamais poderia fazer algo que destruísse definitivamente sua família. Guardou um bom dinheiro ao longo dos anos, embora fosse suficiente apenas para ela, nunca para salvar os negócios da família. Sabia também que sem credibilidade o pai não tinha saída a não ser aceitar a proposta daquele crápula. Ela so não entendia o que ele pretendia com isso. Entretanto, se era um casamento que Ethan queria... ele o teria. Leria o contrato que estava com o pai, mudaria o que achasse necessário e se casaria com Ethan Crown. Com sua família salva da ruína ela mostraria a ele que a vida não é um eterno parque de diversões. Se ele preferia permanecer na adolescência, brincando com os sentimentos dela, ele veria que ela era muito mais forte do que já foi um dia. — Dê-me o contrato pai. E enquanto eu leio vá chamar... meu futuro marido. Peter ofegou. Mesmo sabendo o quanto a filha era apegada à família e sempre os colocaria acima de tudo, ele jamais acreditou que ela aceitaria esse casamento absurdo. Mas la estava ela pegando o contrato redigido pelo advogado de Ethan. — Não vai me responder o que aconteceu entre vocês? Peter perguntou já de pe. De costas para ele, Jane engoliu seco e piscou várias vezes para afugentar as lágrimas. Há anos não se permitia chorar por isso. Ela sequer pensava mais naqueles acontecimentos até aquele demônio voltar a atormentá-la. Porém, ela não achava que Peter deveria saber do seu passado que envolvia Ethan. Não era o momento. Mas um dia ele saberia o que a fez odiar aquele homem por muito tempo. Hoje em dia não havia mais ódio. Ela apenas não confiava nele em nenhum aspecto. E não poderia haver casamento, amizade, coleguismo... relacionamento de espécie alguma quando não existia confiança. — Um dia pai. Um dia o senhor saberá de tudo. No momento precisamos nos preocupar com esses papéis e com a saúde da mamãe. Vá chamar o Ethan enquanto leio isso. Peter saiu em silêncio e encontrou Ethan andando de um lado a outro em frente a mesa da secretária. Ele sabia que não seria uma briga fácil com Jane. Ela sempre foi uma garota forte... e agora pelo pouco que pode ver, uma mulher fantástica, do tipo que não baixava a cabeça para nada nem para ninguém. Sentiu um pouco de medo não de sua reação, mas de ela encontrar outra solução que tenha lhe escapado aos olhos. — Peter... Ele parou assim que viu o homem sair de sua sala. Colocou as mãos no bolso somente para ocultar o tremor que foi bem visível a Gina. — Já conversamos. Ela está apenas... lendo os documentos, mas acho que ela não demora. Podemos entrar. Ethan apenas meneou a cabeça e o seguiu. Não pode segurar um sorriso de satisfação ao ver Jane elegantemente sentada em sua poltrona. Logo lhe veio a mente a imagem dela reinando absoluta naquela lugar. Janette Crown, herdeira daquele império. Sua esposa. A mulher que ele amava. — Jane... Ele disse e Jane o encarou por um tempo. Depois deu um sorriso um pouco forçado. — Eu preciso de uma caneta, meu noivo. Ethan ofegou, embora estivesse bem óbvio que ela estava jogando com ele. Mas aquelas palavras tiveram um impacto gigantesco sobre ele. Noivo...noiva... os dois juntos novamente. Ele conseguiria o perdão dela. Rapidamente pegou a caneta no bolso de seu terno e entregou a ela, sentindo um fogo se alastrar pelo seu corpo quando seus dedos se tocaram. — Leu todas as clausulas com atenção? — Perfeitamente. Eu jamais assino algo sem ler ou sem entender. Mas... eu preciso de um adendo. Ele arqueou a sobrancelha. Sabia que ela não cederia tão fácil. — Que seria? — Bom... se vou me casar com você, obviamente terei que me mudar para cá. Modéstia a parte eu sou boa no que faço em Burundi. — Eu tenho certeza disso. — Eu quero que você ajude de alguma forma. Qualquer ajuda humanitária já que perderão alguém realmente preocupada com eles. Ninguém melhor que você para ajudá-los, afinal você pode tudo, não é noivo? Ethan estreitou os olhos. Realmente ele não ficaria nem um dólar mais pobre se ajudasse. E na realidade ele não era alguém de coração ruim. Se Jane o conhecesse saberia que ele ajuda a quem precisa, mas o fazia anonimamente. Só estava agindo de forma leviana justamente com quem não merecia. Mas ele não sabia mais o que fazer para conseguir o perdão daquela mulher. A não ser que se mudasse para a Africa também. — Tem minha palavra de que esse adendo será feito. Somente dessa vez Jane acreditou nele. Ethan não voltaria atrás em sua palavra já que pretendia se casar com ela, embora não tivesse totalmente certeza do que ele pretendia com isso. Após sua partida de San Francisco Ethan a infernizou por longos meses em busca do perdão. Mas ela estava humilhada demais para fazer isso. E depois... o tempo passou e as feridas cicatrizaram, mas a confiança não existia mais. Aliás,ela não tinha uma visão certa de seus sentimentos por Ethan. Ela simplesmente não pensava nele até essa notícia. Por isso sabia que negar o adendo faria com que Jane dissesse não à sua proposta, ainda que fosse a derrocada da família. Mas por um lado Ethan estava um pouco incrédulo com a amabilidade de Jane. Ela não estava sendo verdadeira. Porém Jane sorriu por dentro enquanto assinava aquele contrato. Um contrato onde dizia que o casal deveria ser fiel, que deveriam frequentar juntos eventos sociais e que o único a pedir o divórcio seria Ethan, caso contrário todos os bens voltariam às mãos dele. Mas havia um ponto importante que não estava especificado ali. Talvez Ethan acreditasse que o matrimônio falava por si, mas Jane não pensava dessa forma. Em nenhuma linha estava escrito que os dois deveriam dividir o leito conjugal. Bom... e se Ethan queria uma batalha... ela já tinha suas armas.
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