Aurora 6

662 Words
Os dias seguintes passaram como um borrão, cada conversa com Enrique se tornava uma dança delicada entre manipulação e estratégia. Eu fingia estar fascinada por suas histórias, mas, ao mesmo tempo, absorvia cada detalhe que poderia ser útil. Ele se mostrava orgulhoso de sua vida, revelando-se um homem complexo, cheio de contradições. Um dia, enquanto caminhávamos pelo jardim da propriedade, ele começou a falar sobre sua infância. A vulnerabilidade em sua voz me surpreendeu, e por um instante, vi não apenas o captor, mas o homem que havia enfrentado suas próprias batalhas. - Você sabia que nunca tive muitos amigos? - comentou, olhando para o chão, como se as memórias fossem pesadas demais para serem carregadas. - Sempre fui diferente, sempre busquei mais do que a maioria. Aquele momento de fragilidade me fez hesitar. Eu poderia usar essa informação para me aproximar ainda mais dele, ou poderia ser um risco. Mas a compaixão que sentia por ele era complicada, misturada com o medo e a raiva pela situação em que estava. - Às vezes, ser diferente é uma bênção, Enrique. - respondi, tentando encontrar um equilíbrio entre empatia e autodefesa. - Eu também sempre me senti assim. Ele me olhou, e por um breve momento, pareceu que eu havia tocado um ponto sensível. O sorriso que se formou em seus lábios era genuíno, e isso me fez questionar se eu realmente estava lidando com um monstro ou com um homem profundamente ferido. Nos dias seguintes, continuei a explorar essa nova dinâmica. Enrique começou a confiar em mim, compartilhando mais sobre seus medos e inseguranças. Eu aproveitei essas oportunidades para falar sobre minha vida, sempre mantendo um tom de vulnerabilidade, mas sem revelar demais. O truque era parecer aberta e interessada, mas nunca permitir que ele visse a extensão do meu plano. Uma noite, enquanto estávamos sentados na sala, ele se virou para mim de repente, sua expressão era séria. - Você realmente se importa comigo, não é? - perguntou, com uma intensidade que me fez gelar por dentro. - Claro que sim, Enrique. - respondi, mantendo o tom de voz suave. - Você é importante para mim. Ele se aproximou, e eu senti o cheiro do seu perfume misturado com a colônia. Um impulso de medo e revolta se misturou com a necessidade de continuar a encenação. Mas havia uma parte de mim que queria acreditar que talvez, só talvez, eu realmente pudesse ajudá-lo a encontrar um caminho diferente. - Eu quero que você saiba que eu não sou como os outros. - disse ele, seus olhos fixos nos meus. - Eu posso te dar tudo o que você sempre quis. Nesse momento, percebi que havia uma linha tênue entre a manipulação e a conexão genuína. A ideia de escapar ainda era forte em meu coração, mas, à medida que eu conhecia mais sobre ele, a compaixão também crescia. Eu estava presa em uma teia complexa de emoções, e a liberdade que eu tanto desejava agora parecia mais complicada do que nunca. Naquela noite, enquanto tentava dormir, o peso das decisões que precisava tomar se tornou quase insuportável. Eu sabia que precisava agir em breve, mas a ideia de deixar Enrique em um estado de vulnerabilidade me incomodava. O que eu realmente queria? Era liberdade, mas também havia uma parte de mim que desejava entender e talvez até ajudar aquele homem atormentado. No dia seguinte, enquanto o sol surgia, uma ideia audaciosa começou a se formar. E se eu pudesse usar a confiança que estava cultivando para buscar ajuda de fora? Se eu pudesse estabelecer uma conexão com alguém que pudesse me libertar sem que Enrique soubesse? Essa se tornaria minha nova missão: ganhar tempo, aprofundar a relação, mas sempre com um olho na porta de saída. A liberdade ainda era o objetivo, e eu não iria desistir. A batalha estava apenas começando, e eu estava decidida a sair vitoriosa, mesmo que isso significasse jogar o jogo mais arriscado da minha vida.
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