A chance da sua vida

2968 Words
No decorrer dos dias, com a convivência, Simon tinha cada vez mais certeza de que Laura era a mulher que ele precisava ter ao lado. Ela não só era dedicada e muito competente no trabalho - inclusive o de secretária, mesmo não sendo exatamente sua área-, mas também, era uma mãe atenciosa, prestativa, e muito preocupada por sua filha. Em um dos dias, quando a mãe de Laura precisou socorrer uma prima, Simon autorizou a ida da menina para a exportadora, no intuito de averiguar de perto como a sua jovem e atraente secretária é como mãe. Sophie era aparentemente frágil e delicada, mas muito esperta. Fazia suas lições de casa enquanto a mãe trabalhava, e no intervalo entre um trabalho e outro, Laura verificava como ia o andamento as atividades, as vezes explicando para a filha alguma questão, quando a pequena não entendia. Quando Simon chegou, Laura ficou um pouco desconcertada por estar instruindo Sophie, ao invés de estar com a mão na massa no trabalho. - D-doutor Simon… Eu já terminei todos os relatórios. Praticamente já terminei o serviço por hoje.- Explicou Laura, preocupada. - Não fique aflita, Laura. Já estamos há quinze dias trabalhando juntos, e já sei como funciona o seu desempenho. Nunca deixou de concluir suas atividades, e como também sou pai, sei que nossos filhos devem ficar em primeiro lugar. - Muito obrigada por sua compreensão.- - … Além do mais, senhorita Laura, tenho boas notícias. A sua ideia de contatar o Enrico Matarazzo foi estupenda. O italiano aceitou associar a exportadora dele na Itália, á nossa. Vamos dinamizar os negócios, como você sugeriu. Ele ficou realmente impressionado com o seu tino comercial, acabou de entrar em contato diretamente comigo.- - Fico muito feliz com o resultado.- Disse Laura, empolgada. Agora era quase certo, aquela promoção seria dela. Simon ficou quase um minuto inteiro em silêncio, apenas observando a alegria dela. Laura estava determinada, sonhando com aquele cargo. Era a chance da vida dela, ele pôde perceber apenas pelo brilho no olhar. - O que você mais quer em toda a sua vida, Laura?- Perguntou o homem, deixando a moça intrigada ao abordar aquele tema. - C-como assim? Está perguntando a respeito do…- - Dos seus sonhos. Qual o seu maior sonho?- Laura ficou um tanto apreensiva para dar aquela resposta. Era algo um tanto í.n.t.i.m.o, e não queria dizer, com apenas poucos dias de trabalho, que já tinha pretensões de deixar o emprego, quando conseguisse capital o suficiente para investir em uma nova confeitaria. - Pode falar, sem medo nenhum. Todo mundo tem suas próprias ambições, e eu admiro uma mulher que sabe o que quer.- - Eu sempre gostei de ter o meu próprio negócio. Sempre gostei da minha confeitaria, de cuidar da parte financeira-administrativa, de fazer meus bolos, de criar receitas… É isso o que eu amo, e se não fosse…- Ela diminuiu o tom de voz, ao perceber que, por mais que tivesse encarando o caderno aberto, Sophie estava com os ouvidos bem atentos neles.- Se não fosse pelo meu ex marido a me roubar, eu já teria conseguido abrir outro ponto, com outros funcionários, e até contratado uma pessoa para me ajudar com os bolos.- A língua de Simon chegou a coçar. Como ele queria fazer aquela proposta ali, naquela hora. Ainda faltavam mais quinze dias para o final do mês. Mais quinze dias para constatar se a sugestão de Laura deu bons resultados, e mais quinze dias para o prazo final de todo o dossiê que o detetive tinha que entregar da jovem. - Mas olha… Você está me dando uma oportunidade única em pouco tempo de trabalho. Vou me desdobrar para ser a melhor funcionária que você já teve.- - Não tenho dúvidas. Algo me diz que você vai retomar a sua confeitaria, e quer saber? Torço por você.- - Por que você é tão gentil comigo, Simon? Por que está estendendo a mão para uma pessoa que m.a.l conhece?- - Porque eu tenho faro comercial, Laura. Sou um homem de negócios, sei quando um investimento vale a pena, e com certeza, investir em você, como profissional, vale a pena.- - Ainda não temos os resultados das minhas sugestões…- - Mas estou confiante de que vai ser positivo. Exatamente como o negócio que você conseguiu fechar com o italiano. Você é uma empreendedora nata, garota. Confie mais no seu potencial. Isso, que estou fazendo, não é generosidade.- Laura abriu um sorriso tão largo e iluminado, que Simon experimentou todo o calor de Vênus, o planeta mais quente do sistema solar, vindo dele. - Mãe, terminei a tarefa.- Disse Sophie, levantando-se do banco para mostrar o caderno a sua mãe. - Pode voltar mais cedo. Sei que já terminou seu trabalho, não precisa ficar fazendo hora aqui.- - Muito obrigada pela compreensão.- Disse Laura, antes de se voltar para Sophie.- Guarde o seu caderno na mochila. Quando a mamãe chegar em casa, vou corrigir o seu dever. A garotinha aquiesceu, indo fazer exatamente o que Laura instruiu. - Muito bem educada a sua filha, parabéns.- Elogiou Simon. Laura suspirou, orgulhosa, observando a garotinha arrumar cuidadosamente a sua bolsa. - A Sophie é tudo de mais importante na minha vida. Se estou aqui, depois de tudo o que aconteceu, é por ela.- - Seu ex marido sumiu mesmo, não é?- - Sumiu. Nem para ver a filha, entrou em contato. Já abri um b.o contra ele na delegacia, mas parece que aquele encosto sumiu do mapa.- - Eu sinto muito, Laura.- Falou Simon, com tanta sinceridade, que atraiu o olhar da moça mencionada, para ele.- Um homem como esse não merece uma mulher como você.- - Obrigada. Mas não quero tomar seu tempo falando isso. Bom, já que me liberou mais cedo, vou aproveitar, porque faltam dez minutos para o meu ônibus passar no ponto.- - Eu faço questão de te deixar em casa.- - Não, Simon, não quero abusar. Naquele dia eu aceitei porque já era muito tarde, mas agora…- - Agora eu também estou de saída da empresa, vou resolver algumas coisas na rua, e sua casa está no caminho. Não vai recusar uma carona, vai?- - Não, não vou.- Laura acabou concordando, porque viu que realmente não tinha o menor sentido recusar apenas por orgulho. Durante todo o caminho, Simon e Laura foram conversando amenidades, e até incluíam Sophie, de vez em quando. A garotinha, muito esperta, sempre tinha uma boa resposta para dar. Simon estava se divertindo bastante na companhia das duas. Lembrou imediatamente de seus filhos, e o quanto se sentiriam abraçados, se estivessem ali. Por mais que sempre tivessem muitas pessoas em sua casa, ao mesmo tempo, quando se tratava de afeto, o lugar era grande e vazio. - Mais uma vez, hoje, vou te agradecer.- Disse Laura, assim que o homem estacionou de frente para a sua casa. - E mais uma vez, vou dizer que não é necessário. Não foi esforço nenhum.- Respondeu o homem, olhando diretamente nos olhos esverdeados da jovem. - Não importa, dessa vez, foi um grande favor.- - Obrigada pela carona, doutor Simon.- Agradeceu a menina, ainda no banco detrás. - Por nada, princesa. Você é uma menina muito especial.- Em resposta ao elogio, Sophie ergueu um sorriso largo. Laura também sorriu, e aquilo quase fez Simon perder o fôlego. Ela era tão bonita, tão admirável, tão interessante… Como um homem poderia ter feito o que o marido dela fez? Roubar a mulher da qual era casado, roubar a mãe de sua filha, abandonar uma menina tão linda como a Sophie. Ainda no carro, Simon assistiu mãe e filha, de mãos dadas, caminhando para dentro da casa em que moravam. Estava apenas esperando o prazo que estipulou para si mesmo, porque já tinha total certeza. Laura era a mulher ideal para ser a mãe que seus filhos precisavam. … Faltava apenas um dia para Simon ter em sua mesa todas as respostas que precisava. Seu detetive particular acabou resolvendo adiantar as pendências, e não estou até a próxima tarde para colocar todo o dossiê de Laura Dávila na mesa de seu patrão. Simon se servia com o melhor conhaque que tinha em sua casa, e até ofereceu para o detetive, que aceitou o convite. Ele preferia tratar de assuntos particulares no escritório de casa, que, por mais que sempre tivesse Bella para meter o bedelho, não tinha milhões de funcionários para ficarem de olho nas suas i.n.t.i.m.i.d.a.d.e.s. - Como já consegui tudo o que precisava, não achei que fosse necessário esperar até o outro dia.- Disse Muniz, o detetive. Ele colocou uma de suas mãos sobre o envelope que continha todas as informações relevantes da moça.- Eu averiguei a rua na qual ficava a confeitaria, e realmente o estabelecimento é da Laura. Conversei até com uma mulher que já foi funcionária dela. O ex marido saqueou todo o caixa da confeitaria, e também o que tinha em casa, prestes a ser depositado no banco.- - O canalha deixou a coitada totalmente no vermelho.- Comentou Simon, indignado.- Me pergunto constantemente como pode existir alguém assim. Roubar a mãe da própria filha. Deixar a mulher que amava e a filha, na miséria.- - É, mas a Laura não deixou barato. Abriu um processo contra ele, mas não estão conseguindo localizar o meliante. O nome dele é Pedro Guedes.- Informou Muniz.- Quanto mais afundo se pesquisa essa história, mais macabra fica. O Pedro traiu a Laura com a própria irmã dela.- Simon arregalou os olhos, perplexo. Ainda conseguia ficar lívido com certas barbaridades humanas. Mas também, a cada palavra que ouvia da boca do investigador, sentia uma admiração ainda maior por Laura. A jovem foi vítima de um golpe devastador. Perdeu o negócio de seus sonhos, foi traída pelo marido, pela irmã, e ainda assim, todos os dias, ao longo de um mês inteiro, se manteve forte, determinada. Queria aquela promoção, e estava fazendo por merecer. - Também fiz fotos de sempre quando ela chega. É uma mãe dedicada, amorosa, sempre cuidando da filha, da mãe…- Continuou Muniz, do outro envelope, tirando as fotos que tinha revelado. Quanto a isso Simon não tinha a menor dúvida. Já tinha presenciado várias vezes o cuidado de Laura com Sophie. Aquela garotinha era a vida dela, a sua prioridade, e como toda mãe zelosa, Laura era capaz de matar e morrer por sua prole. Aquele era exatamente o tipo de mãe que Simon precisava para Samuel e Maria Alice. Seus filhos tinham três anos, aproximadamente a mesma idade de Sophie. Tinha certeza que um aprenderia a amar e respeitar o outro, como família. Tinha certeza que Laura chegaria a amar os seus filhos como se fossem dela. Ele pagou a Muniz por seus serviços, mas continuou no escritório, pensativo. Não esperaria mais um dia para fazer a proposta de casamento para Laura, e se ela aceitasse, ele contataria um tabelião para redigir o contrato. Já sabia exatamente qual seria a moeda de troca. Na manhã seguinte, Simon acabou até chegando mais cedo. Estava ansioso demais, e queria aproveitar para conversar com Laura sem ter ninguém por perto. Ela já estava devidamente acomodada em sua mesa, com o computador portátil aberto, e desviou a atenção da tela apenas para cumprimentar o seu chefe. - Laura, preciso muito conversar com você. Venha na minha sala um instante, por favor.- O rapaz se afastou, em seguida, indo diretamente para o seu escritório. Laura foi pouco tempo depois, batendo na porta antes de entrar. Com a autorização de seu chefe, ela prontamente adentrou o lugar. Em silêncio, aproximou-se da mesa de Simon, intrigada, por achar que ele a olhava de uma forma estranha. - Aconteceu alguma coisa?- Perguntou, preocupada. - Sente-se, por favor.- Simon apontou para a cadeira que estava do outro lado da mesa, de frente para ele. Ainda apreensiva, Laura seguiu as instruções dele. Acomodou-se de frente para o homem, sem tirar os olhos dos dele. Simon olhou rapidamente para baixo. Por algum motivo, o seu nervosismo não o permitia encará-la por muito tempo. Acabou encontrando as duas coxas grossas, que ficavam bem escondidas com a saia executiva. Ele precisou pigarrear para afastar os pensamentos libidinosos e curiosos de sua mente, e assim, voltar a se concentrar no que realmente interessava. - Antes de tudo, quedo começar essa conversa te mostrando isso…- Simon colocou uma pasta em cima da mesa, na frente da moça, sem dizer do que se tratava. Laura não perdeu tempo em abri-la, sentindo o coração palpitar mais forte quando viu que se tratava do relatório mensal dos lucros e despesas da exportadora. Ela arregalou os olhos, ao se deparar com os resultados, em seguida, fitou Simon, ainda embasbacada. Simon, que até então tinha a expressão inescrutável, abriu um sorriso largo. - Você conseguiu, Laura. Sua sugestão, de fato, melhorou a qualidade das uvas, dos vinhos, no controle de produção, e com isso, diminuiu as despesas e aumentou os lucros. Não foi um aumento tão estrondoso, mas melhorou bastante o capital de giro.- - Eu… Eu estou sem palavras para expressar a minha felicidade…- - Isso significa que você, agora, é oficialmente a diretora financeira da exportadora.- Em um arroubo de alegria, Laura ficou de pé com um pulo. Ela praticamente se jogou nos braços de seu chefe, para abraçá-lo, mas recuou logo em seguida, ficando desconcertada com a sua atitude exagerada. - Desculpe.- - Não precisa se desculpar. Realmente é algo a se comemorar.- - Eu nem sei como te agradecer por essa chance, Simon. Você está sendo incrível na minha vida.- - Não agradeça, não é favor. Só vai subir de cargo porque mostrou competência e fez por merecer.- Disse Simon, com um pouco de severidade em sua voz. Ele precisou pigarrear, mais uma vez, para limpar a garganta, antes de prosseguir. Não sabia como entrar naquele assunto sem ser direto. Por mais que já tivesse pensado, a resposta não vinha. - Algum problema? Estou com a sensação de que você quer falar algo, mas que por algum motivo não consegue falar.- Observou Laura, enrugando a testa ao perceber que, mais uma vez, ele encarava o chão, como se preparasse para dizer algo. Ele tornou a subir os olhos para ela, mantendo um contato visual mais profundo. Afastou os lábios e deixou as palavras saírem, sem precisar de muita preparação. - Eu tenho uma proposta ainda melhor para te fazer. Algo que pode mudar terminantemente a minha vida e a sua.- - Uma proposta? Uma proposta de que? Essa proposta que você me fez já mudou bastante a minha vida, e com certeza para melhor. - Uma proposta de casamento, Laura.- Em um sobressalto, a garota arregalou os olhos. A julgar pela forma com a que empalideceu e ficou paralisada, com certeza Simon abordou aquele assunto do jeito errado. Com certeza a moça estaria achando que ele era um completo maluco. - C-como é? Isso é algum tipo de brincadeira?- - Sou viúvo e tenho dois filhos pequenos. Como pode ver, o meu trabalho é muito dinâmico. Sempre estou em reuniões, ou eventos. O problema é que não sei como lidar com duas crianças, e preciso de uma mãe para eles.- Laura abriu e fechou a boca. Pretendia falar algo, mas com certeza sua voz vacilaria. Aquele tipo de situação não poderia estar acontecendo com ela. Aquilo não fazia parte da vida real. Já leu histórias semelhantes em muitos livros, mas a sua vida não era um livro. O seu destino não era conduzido por uma escritora que criaria aquela situação fantasiosa. - Eu sei que tudo parece muito de repente…- - Tudo não “ parece”, Simon. Tudo está sendo muito de repente. Isso é fantasioso demais. Não é possível que você não tenha ninguém que realmente conheça bem, e que possa ser uma boa mãe para os seus filhos. Sequer me conhece direito.- O homem respirou fundo, antes de continuar. Com certeza Laura não ficaria nada contente com o que estava para ouvir. - Eu contratei um investigador particular para me trazer o seu dossiê em um mês. Sei de tudo o que me interessa para saber que você é a mulher ideal.- A garota ficou quieta por meio minuto inteiro, fitando o homem na sua frente, com incredulidade. - Você contratou um investigador para espiar a minha vida?- - “ Espiar”, não. Como minha funcionária eu precisava me certificar de que você realmente era quem dizia ser.- - Até aí tudo bem, mas vasculhar assuntos pessoais? Isso não diz respeito a empresa.- - Diz sobre sua conduta, o que acaba refletindo na empresa. Mas não vamos perder tempo com isso. Será uma troca mútua, benéfica para ambos.- - Como assim uma troca benéfica para ambos?- Perguntou, irritada com a situação. - Estou te propondo um casamento por contrato, Laura. Você aceita se casar comigo, ser mãe dos meus filhos, e em troca, te garanto uma vida de rainha para sua filha e para você. Inclusive… Posso realizar os seus sonhos, posso abrir uma confeitaria ainda melhor do que a que você tinha.- Pela primeira vez desde que tomou naquele assunto, Laura parecia pensativa. - Casamento por contrato…- Murmurou Laura, de repente, achando que aquela ideia não parecia mais tão absurda. Talvez, assinar um contrato com Simon Beauchamp fosse a oportunidade que ela precisava dar a volta por cima. ———————————————————————- Muito obrigada por estarem acompanhando essa história, que estou fazendo com tanto carinho. Cada um de vocês são especiais, e me inspiram para que cada dia faça um capítulo inédito. Conto com a ajuda de vocês para votarem em mim no bilhete lunar! Clique em #Vote# nas notas do autor
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