A mulher ideal

2877 Words
Simon apresentou para a jovem toda a área de sua empresa exportadora. Laura ficou boquiaberta, embasbacada, ao constatar quão grandioso era o lugar. Ela conheceu a área das adegas, a maioria das garrafas continham produtos das próprias vinícolas que pertenciam ao homem. Ela era jovem e entusiasmada, e pelo que Simon pôde perceber, tinha uma grande mente empreendedora. Sua confeitaria com certeza teria expandido, se não fosse o golpe que levou do próprio marido. - Eu estou impressionada. O seu negócio é mesmo extraordinário. Praticamente você tem um misto de todas as regiões da Europa… tirando sua própria produção.- Comentou Laura, enquanto ainda caminhavam por um dos corredores que daria acesso á sala de Simon. - Gosta de vinhos, não é?- - Não sou nenhuma expert, mas gosto, bastante. Acho interessante a história que tem por trás dele. Quantas gerações estiveram por detrás dessa cultura do vinho. Enfim…- - É. As comidas e as bebidas têm esse poder, não é? Elas unem as pessoas, estão presentes em datas felizes, marcantes… É por isso que são tão especiais.- - E que mexem com emoções especiais. Hormônios produzidos pelo nosso hipotálamo reconhecem isso, como a serotonina, o hormônio do bom humor. Essas memórias, esse prazer que sentimos ao tomar um vinho, por exemplo, remete a isso.- - É, é verdade. Venha, vou te instruir para que comece com o seu trabalho.- Simon caminhou até a mesa que tinha de frente para a sua sala, lugar no qual deveria ser ocupado pela secretária.- Bom… Sei que você tem formação em economia, merecia um trabalho melhor, o salário não vai estar à altura a princípio… Mas, conforme for o seu desenvolvimento, essa empresa pode te abrir muitas portas.- Ele olhou rapidamente para os olhos da moça. Olhos bonitos, de um lindo tom entre o verde o dourado, que ficavam ainda mais realçados devido aos cabelos escuros. O que mais deixava Simon intrigado, era a forma com que Laura sorria com os olhos, quando estava satisfeita com algo. - Eu vou me esforçar muito para merecer essas oportunidades. Mas… Por onde começo?- - Bom… Vou precisar ficar até mais tarde hoje, com o meu contador. Vamos adiantar as contas da empresa, por isso, preciso que separe as pastas com os lucros e as despesas. Temos que avaliar o capital de giro, que no mês passado não foi muito bem… Talvez precise até colocar da minha conta pessoal…- Capital de giro é um termo técnico referente aos recursos disponíveis na conta, e a soma das despesas e contas a pagar. - Eu posso ajudar o senhor. Já cuidei da parte financeira da Espósito. Como estagiária, claro, mas sabe que o trabalho é sempre o mesmo. Além do mais, uma ajuda extra pode tornar tudo mais rápido.- - É…- Simon parecia refletir. Afinal de contas, aquele era o primeiro dia da moça. Tinha boas referências, mas ele parecia em dúvida quanto a confiar tamanha responsabilidade. Ainda precisava investigar se foi mesmo o ex marido dela que a levou a falência. Um homem astuto e de negócios, como Simon, não poderia se deixar enganar apenas por um sorriso bonito e um belíssimo par de coxas. Embora que, avaliando o conteúdo geral de Laura, ela mostrava ser bem mais do que aquilo. O ponto xis da questão, é que ele não podia confiar apenas na imagem que ela estava passando. Mas, em contrapartida, olhando de outro ângulo, aquela era a oportunidade de passar mais tempo com Laura, e de conhecê-la melhor. Desde que ficou viúvo, quando seus filhos tinham poucos meses de vida, não sentiu tanto interesse por uma mulher. Era algo físico, mas completamente arrebatador. Talvez ela fosse mesmo a novidade, o ar de frescor que Simon precisava para a sua empresa transportadora. Já percebeu que Laura estava muito determinada em mostrar o seu melhor, e daria a ela essa chance. Talvez, ela se mostrasse ainda mais útil no âmbito financeiro. Talvez, Laura fosse o progresso que a Beauchamp’s precisava. Não queria apostar todas as suas fichas nela, no escuro, mas estava com um bom pressentimento, e o seu sexto sentido não costumava falhar. - Tudo bem, Laura. Vou aceitar que faça esse trabalho extra.- - Não será um trabalho extra, será uma cortesia. Ou melhor, um agradecimento pela chance, e porque sei que pretende valorizar o meu trabalho e me conceder oportunidades.- - Bem disposta para o trabalho, não é acomodada… Já gostei de você, moça. Se continuar assim, vai chegar longe. Separe as pastas, organize meus arquivos… Mais tarde, você se juntará ao meu contador e a mim, para organizar e debater as finança.- Disse Simon, antes de se encaminhar para a sua própria sala. Laura suspirou, empolgada. Se mostrasse competência para o seu chefe, com certeza conseguiria melhorar de vida. Com um bom salário, ela poderia dar a sua filha o conforto que a menina precisava, e, assim, alugar um novo ponto, para abrir uma nova confeitaria. Não importava o golpe que levou de Pedro em conjunto com sua irmã. Laura daria a volta por cima. … Como o combinado, depois do expediente, Laura foi até a sala de Simon, para a pequena reunião que se desenrolaria entre o homem e o seu contador. O profissional responsável pelo ajuste financeiro não ficou muito satisfeito ao ver uma simples secretária dando palpites no seu trabalho. Obviamente ao avaliar a moça, logo constatou que se tratava de algum affair de seu chefe. Não era possível que um homem de negócios experiente como Simon, embora ainda nem tivesse chegado aos trinta anos, desse ouvido para uma jovem inexperiente. Laura havia organizado todas as pastas como o seu chefe instruiu. Ela mesma comparava as folhas de lucros e despesas da empresa, além de inspecionar o relatório de produção e de saída das mercadorias. Simon m.a.l conseguia se concentrar no seu trabalho. Estava focado em estudar as expressões faciais de Laura. A forma que ela apertava os olhos, franzia o cenho ou torcia o nariz, chegando a conclusão de que a jovem havia percebido algo de errado. Simon se auto-repreendeu por ter ficado tão ansioso para ouvir o posicionamento dela. Primeiro, precisava dar a voz ao seu contador, afinal de contas, aquele era o trabalho dele. - O que me diz, Thomas?- Simon perguntou ao homem que estava do outro lado de sua mesa, ainda avaliando algumas planilhas. - Bom… É como pôde ver nas planilhas que fiz, agora, nos balancetes mensais. Estive conversando com seu diretor financeiro que precisou se ausentar devido ao acidente de carro, poucos dias antes do ocorrido, e concordamos que vai precisar aumentar o capital de giro. Temos o suficiente para pagar as contas da empresa e também os funcionários, mas o lucro foi muito baixo, principalmente porque muitas empresas estão devendo a transportadora.- Simon respirou fundo, frustrado. Desviou o olhar de Thomas para Laura, que já o encarava como se tivesse uma opinião bem formada, embora parecesse apreensiva, por não querer invadir a área de um colega de trabalho. - E você, Laura? O que tem a dizer sobre a situação da exportadora?- Thomas piscou os olhos, incrédulo com o despautério. Laura percebeu o quanto o outro ficou incomodado com aquilo, mas ainda assim, não se deixou intimidar. Tinha soluções para aquele problema. Soluções que, se fossem ouvidas e aplicadas devidamente, ajudaria a Beauchamp’s a se reerguer. - Primeiro de tudo, percebi um desperdício tanto nas colheitas quanto na produção do vinho. As uvas têm o seu próprio ciclo, e eles precisam ser respeitados. Os ciclos da uva geram impacto importante no sabor e no aroma, e daí que vem a qualidade do vinho. A quantidade de saída diminuiu bruscamente nos meses anteriores, devido à mudança brusca de clima e temperatura que fez aqui, em Bela Rosa. Muita chuva, muito calor, sem nada definido. Sei que quanto a natureza não se tem muito o que fazer, mas com certeza a tecnologia já traz meios para proteger as uvas do calor excessivo, já que a primeira fase de seu ciclo é no outono e no inverno.- - Daí já seria mais um gasto extra, não temos como investir em tecnologia sem ficar no vermelho. O capital de giro não está com um valor tão apropriado.- Contrapôs Thomas. - O prejuízo será bem maior se continuarmos assim. Talvez com um empréstimo no banco ou em sua conta pessoal o senhor Beauchamp consiga resolver isso.- Disse Laura, olhando imediatamente para o homem mencionado.- Nessa primeira fase, as uvas estão economizando nutrientes para o seu crescimento. Isso, estou falando das uvas que são propícias para um clima mais frio, que tem um amadurecimento mais lento, uma menor acidez, um paladar mais macio e sofisticado, como no caso das uvas Merlot.- Laura fez uma pequena pausa, logo voltando a falar ao lembrar de algo relevante.- Olha, tenho uma sugestão. Estive lendo uns artigos mais cedo, sobre a colheita das uvas, já que a empresa tem a sua própria produção… O processo de vinificação pode acontecer em tanques de inox para controlar a temperatura em todas as etapas de produção e amadurecimento. O custo não sairia tão algo. Se controlarmos bem a superprodução de vinhos, vamos evitar desperdício, e teremos capital para investir na qualidade das uvas durante a vinificação.- - Vou contatar os meus vinicultores. Se for necessário investir, teremos que dar um jeito.- Disse Simon, positivo quanto as sugestões de Laura, embora soubesse que não seria tão simples.- Bela Vista não costumava fazer tanto calor, como acaba fazendo algumas vezes. Laura está certa, precisamos investir na produção.- - Olha, voltando para o contexto da superprodução… Conseguem perceber que nos meses anteriores tivemos um número de produção bem maior do que o de saída? É exatamente isso que está comprometendo o capital de giro, temos produtos sendo desperdiçados.- - Mas precisamos contar com uma emergência. É melhor sobrar um pouco do que faltar. Temos muitos compradores antigos que fazem a Beauchamp’s faturar muito.- Rebateu Thomas. - Pelo que vi aqui, não nos últimos meses.- Disse Laura, ainda segurando as planilhas.- Isso é outro assunto do qual também preciso falar. Esses compradores precisam dar uma garantia de cinquenta por cento antes de receberem os vinhos. Dessa forma, vai evitar que sobrem tantos produtos desnecessariamente.- Simon ficou pensativo quanto aquilo, mas Thomas estava cada vez mais arredio quanto a Laura está interferindo naquele assunto. - Nossos clientes não vão aceitar isso. Já trabalhamos com eles há muitos anos para exigir algo assim.- Rosnou Thomas. - Exatamente por isso. Eles já conhecem os métodos de vocês, os trabalhos de vocês, sabem que a Beauchamp’s é uma exportadora de qualidade, portanto sabem que estarão investindo em um bom produto. Vocês podem especificar que esse adiantamento é para providenciar o necessário para que se haja um vinho de boa qualidade.- Explicou Laura. - Eles não vão gostar disso.- Insistiu Thomas. Mas Simon parecia muito tentado a aceitar a sugestão. - Talvez o que a Laura está propondo nos ajude a lucrar como antes. Ultimamente a exportadora não vem fazendo nem sombra do que era.- Disse Simon. - Porque a qualidade diminuiu bastante. Bela Rosa mudou, e as produções precisam acompanhar essa mudança para que se tenha o mesmo desempenho de antes.- - Quer saber? Vamos dar um voto de confiança para o tino comercial da Laura.- Falou Simon, decidido. - Como é?- Perguntou Thomas, incrédulo.- Vai mesmo acatar as instruções de sua secretária?- - Ela é formada em economia, têm experiência em empresas de grande porte, e pelo que estou vendo, tem mesmo habilidades nas finanças. Claro, é uma boa ideia, e possivelmente posso estar arriscando alto demais, sendo que parado no mesmo lugar é que não vou conseguir chegar muito longe.- Admitiu Simon, reconhecendo os riscos que poderia estar correndo.- Mas, ainda assim, vale a tentativa. E se funcionar… Se você conseguir aumentar os lucros da empresa, eu tenho uma oportunidade única para você.- Mais uma vez, Simon cometeu o erro de fitar aqueles malditos olhos tentadores. Durante toda a conversa, vinha se concentrando apenas na voz doce e feminina, já que seus pensamentos precisavam focar nos seus negócios, e não na vontade primitiva de mergulhar naquelas duas esmeraldas com um misto de dourado. - Uma oportunidade?- Perguntou Laura, muito interessada. - Se você conseguir aumentar os lucros da minha empresa exportadora, eu te promovo a minha diretora financeira.- Falou Simon, precisando se esforçar para não titubear nas palavras, enquanto mantinha o contato visual. - E-está falando sério?- Perguntou a jovem, impressionada. - Acha que vou brincar com algo tão sério? Se for mesmo competente, se suas instruções estiveram mesmo certas e você provar que pode assumir um cargo de tamanha responsabilidade, ele será seu. Já estou querendo me livrar daquele diretor escolhido por meu tio, há muitos anos. Ele só faz corpo mole, não está interessado em desempenhar suas funções devidamente, só quer saber de dinheiro.- - Seu tio?- Perguntou Laura.- Não sabia que tinha sócios. - O meu tio era sócio majoritário com o meu pai, mas acabou tendo que vender parte de suas ações para ele, enfim… Não vem ao caso agora. O que me diz? Aceita esse desafio?- - Simon, precisamos conversar.- Disse Thomas, com um ar de protesto,deixando claro que não estava nada satisfeito com aquilo. - Em outro momento, Thomas.- O homem respondeu, sem tirar os olhos dela.- E então?- Perguntou, com um tom de voz mais baixo, dirigindo-se diretamente a moça. - Desafio mais do que aceito.- Laura esboçou um sorriso tão largo, que Simon pôde sentir o calor de Vênus através dele. … Simon sabia que Thomas provavelmente encheria os seus ouvidos de reclamações. O problema de ter i.n.t.i.m.i.d.a.d.e com os seus funcionários, principalmente quando se tratava de alguém da família, é que eles se achavam no direito de protestar no que não dizia respeito as suas próprias vidas. Como seu cunhado, Thomas abusava até de regalias que não o dizia respeito. Para se ver livre do homem inconveniente, ele insistiu em oferecer uma carona para Laura, que decidiu que era melhor aceitar, devido ao prolongar das horas. Transportes públicos não eram o lugar mais seguro em Bela Rosa, tampouco no restante das cidades do Brasil. - Muito obrigada pela carona.- Disse Laura, assim que o carro foi estacionado de frente para a casa da qual ela estava, morando com a filha e a mãe. - Não precisa agradecer, é o mínimo que poderia fazer.- Simon voltou-se para a jovem, com o seu melhor sorriso. - Nos vemos amanhã então, chefe.- - Simon.- - Como é?- Perguntou Laura, estranhando a forma pouco informal da qual ele queria que ela o chamasse. - Porque você vai ser minha diretora financeira, e já deve treinar para isso. Vai ocupar um cargo alto, não precisa me chamar de doutor, senhor ou chefe.- - Foi apenas uma forma respeitosa de falar.- - Não precisa ser tão formal comigo para sermos respeitosos um com o outro.- Laura se limitou a aquiescer, antes de abrir a porta do veículo. - Até amanhã, Simon.- Disse a mulher, antes de sair dali. - Até amanhã.- Murmurou o homem, apenas a olhando se afastar. Laura m.a.l chegou a abrir o portão, e de dentro de casa, uma garotinha de aparentemente de cabelos loiros de um bonito tom de mel, olhos bem verdes, correu para fora de casa, se jogando nos braços da mulher. Logo no encalço da pequena veio uma senhora mais velha, da qual Simon deduziu ser a avó. - Mamãe!- Gritou Sophie, os bracinhos em volta do pescoço de Laura. - Minha princesa, que saudade… É muito difícil ficar o dia inteiro sem te ver, sabia?- Falou Laura, deixando beijos espalhados pelas bochechas, e pela testa da criança. - Você voltou muito tarde. Mais tarde do que quando tinha a confeitaria.- - A mamãe precisa trabalhar mais para conseguir refazer a vida. Hum? Mas é temporário, porque em breve, vou me reorganizar, e vou conseguir abrir de novo a minha confeitaria.- Com um único esforço, Laura colocou Sophie em seu colo, e como estava com as duas mãos ocupadas, segurando a menina, sua mãe foi quem fechou o portão. Simon continuava observando a família, se interessando pelo carinho de Laura com a filha. Ainda precisava averiguar mais detalhes sobre o passado e presente da moça, mas tinha quase certeza, ela poderia ser a candidata ideal. Ela poderia ser a mãe carinhosa e dedicada que há muitos anos estava procurando para os seus filhos. Mas será que agora, que ela estava prestes a receber uma promoção, aceitaria se dedicar ao lar? Tinha certeza que, com um bom acordo, Laura abriria mão de frequentar a empresa. Se até o final do próximo mês, Simon conseguisse comprovar que Laura era a mulher ideal para ocupar o lugar de esposa e mãe de seus filhos, faria a mulher a proposta de sua vida. ———————————————————————- Muito obrigada por estarem acompanhando essa história, que estou fazendo com tanto carinho. Cada um de vocês são especiais, e me inspiram para que cada dia faça um capítulo inédito. Conto com a ajuda de vocês para votarem em mim no bilhete lunar! Clique em #Vote#
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