Capítulo 01

1708 Words
Ivy Acordo assustada com o barulho, Elisa deve estar bêbada novamente. Me levando devagar e sigo até a porta do porão, onde durmo, e olho pelo buraco na madeira. - Freddie, você sabe que eu estou fodida. Não tenho um puto no bolso. Quer a casa? Foda-se está caindo aos pedaços. - Ela dá de ombros e eu vejo o homem que sempre aparece para cobrar Elisa. - Eu estou cansado dessa porra, vadia. - Grita ele tirando algo do bolso. Era de metal e ele aponta para Elisa. - Você sabe que eu tenho que fazer isso, não sabe? - Pergunta ele rude e Elisa arregala os olhos assustada. Recebo seu sentimento e imagino que aquilo deveria ser perigoso. Trinco o maxilar e engulo seco esperando o que aconteceria a seguir. Um som forte e alto soa e eu quase grito com o susto cambaleando para trás fazendo com que o barulho do meu corpo caindo no chão soasse para fora do porão. - Quem está ai? - O homem pergunta e eu me recolho correndo de volta para o colchão no chão onde dormia. - Responde, porra, quem está ai? Eu estava com medo, com muito medo. Seja lá o que foi aquilo, aquele som me deixava apavorada. - Se você não aparecer agora, eu vou enfiar uma bala na sua testa igual eu fiz com a Elisa. - Sua voz grita e seus passos estavam mais próximos. Bala na testa? Seria engraçado se não fosse assustador. Bala... Elisa já falou isso alguma vez. Arma, isso arma atiram balas. Armas matam. Droga, Elisa morreu. O que eu vou fazer? - Por favor, não. - Peço chorosa e seus passos param. - Não me peça por favor, abre a porra da porta! - Grita ele socando a porta. - E-Eu não tenho a chave. - Gaguejo assustada e logo outro som forte soa fazendo a porta abrir. - Que porra de lugar é esse? - Pergunta ele entrando no porão com a arma apontada para os cantos até que ele me vê. - Quem é você fedelha? Porque em caralhos estava trancada aqui? Apareceu aqui para roubar e a velha fodida te prendeu, é? - Pergunta ele e eu nego me agarrando mais ao meu vestido. - Meu nome é Ivy. Sou filha da Elisa. - Digo limpando as lágrimas que rolavam pelo meu rosto. - Acho que ela te enganou, fedelha. Nem fodendo você é filha da Elisa. - Diz ele se aproximando. - Você não viu nada, está bem? Se por acaso você tiver me visto, eu faço você ficar igual... Aquela ali. - Aponta ele para Elisa caída no chão. Perto de sua cabeça havia uma poça de sangue e eu tremo com o pavor que me toma. - Acho bom você limpar ela e tirá-la daqui, ou vai começar a feder, feder igual a você. - Aponta ele e eu assinto sem saber o que fazer. O homem se levanta e sai pela porta indo embora deixando minha vida mais vazia do que já é. Elisa era a única pessoa que eu tinha, agora, não tenho mais ninguém. Ela dizia que eu não podia sair do porão porque as pessoas lá fora são más, mas ela esqueceu de ficar no porão e no fim as pessoas foram más com ela. Espero alguns minutos e sigo para fora no porão correndo em direção ao corpo de Elisa no chão. - O que eu faço agora? Me diz, eu preciso de você para saber o que fazer. - Digo abaixada olhando para o seu corpo imobilizado. Freddie disse para eu limpar Elisa e tirar ela daqui. Pego seu corpo sem jeito já que ela é muito pesada e coloco em baixo do chuveiro. Vejo o sangue escorrer pelo ralo junto com a minha sobrevivência. Pela janela do banheiro observo o mundo lá fora quando um pensamento egoísta surge em minha mente: Elisa não pode mais te prender aqui. Brigo comigo mesma. Ela não me prendia, ela me protegia. Me protegia das pessoas ruins como Freddie que acabou me mostrando que as pessoas são realmente mãs. Pego Elisa e coloco ela no seu quarto deitada em sua cama. Estou com fome. Muita fome. A última vez que comi foi ontem a noite e agora eu preciso esperar até essa noite para comer novamente. Elisa me ensinou que faz mal comer muitas vezes no dia. Olho para a cozinha e um cheiro toma conta das minhas narinas. Parecia ser muito delicioso. O fogão estava ligado, Elisa me ensinou a usar ele algumas vezes. Sigo até lá e desligo abrindo uma das panelas. Era frango. Parecia estar tão bom. Minha barriga ronca novamente e eu estico a mão para pegar um pedaço, mas paro no meio do caminho. Apenas a noite, Ivy. Ando pela casa pela primeira vez de forma livre. Elisa nunca deixaria eu fazer isso normalmente, ela dizia que as pessoas lá de fora poderiam me ver. Pressiono os lábios e desobedeço ela pela primeira vez na vida andando pela sala, quartos e lavanderia. Aproveito pegando um pano de chão e alguns produtos para limpar o chão da sala onde o sangue de Elisa ainda estava. Você já desobedeceu ela uma vez, então desobedeça duas e coma o frango. Meus pensamentos soam novamente e eu mordo o lábio inferior pensativa. Talvez... Talvez não fizesse tão mal assim eu comer só um pouquinho. Sigo até a panela e pego um pedaço receosa de Elisa ver, mas me lembro que ela já não está mais aqui. O sabor em minha boca é delicioso, nunca comi um frango tão delicioso assim. Elisa dizia que a melhor comida para mim era a que ficava na geladeira depois de uns dias, mas essa também me parecia boa. Na verdade, até melhor. Os dias se passaram e a comida na geladeira foi acabando. Voltei a comer apenas durante a noite, porque quando acabasse tudo eu não teria mais nada para comer. Não conseguia ficar com o quarto de Elisa aberto, ela estava fedendo muito e eu não sabia o que fazer com ela. Leva ela para fora. Penso, mas logo nego. Eu nunca fui lá fora, não sei o que tem lá. Passo alguns dias observando a janela pela cortina amarelada. Aprendi a rotina de algumas pessoas que estavam sempre ali e descobri que não passa ninguém pela rua às duas horas da tarde. Espero dar esse horário e entro no quarto de Elise quase vomitando quando sinto o cheiro de podridão. Enrolo ela em alguns lençóis e a levo com dificuldade até o quintal. Ando rapidamente para a parte de trás da casa e suspiro aliviada quando vejo que consegui passa pela parte da frente da casa sem ninguém me ver. Coloco Elisa no chão e sinto que o cheio vai chamar a atenção daqui à alguns dias. E se eu enterrá-la? Entro na casa novamente me certificando que ninguém me viu e pego a pá de lixo de alumínio. Acho que vai servir. Faço um buraco na terra e enterro Elisa ali. Fecho os olhos deixando minhas lágrimas rolarem. Não sei por quanto tempo consigo sobreviver ali dentro sem ela. Eu não posso dizer que sinto coisas profundas por ela, mas ela foi a única pessoa com quem tive contato durante todos esses anos e agora é assustador ficar ser Elisa. Entro na casa novamente e entro no banheiro. Me olho no espelho com meus cabelos desgrenhados e meu vestido que usava desde os quinze anos. Ele estava mais curto do que era quando o ganhei e também um pouco mais justo no colo. Penso em talvez tomar um banho. Eu coloquei Elisa no chuveiro e ela tinha ficado limpa. Toda vez que ela se arrumava dizia que estava linda, talvez eu também fique mais... bonita ao fazer isso. Entro no chuveiro e deixo a água morna tocar minha pele. Era bom. Não era como os banhos que eu tomava no porão com a água fria. Por falar em frio, o inverno está chegando e eu tremo subitamente ao me lembrar do inverno passado. Descobri que hipotermia é quando estamos mais frios que o nosso corpo aguenta e Elisa me deu uma coberta a mais para eu me esquentar depois de me encontrar um pouco roxa e tremendo. Um som estrondoso bate na porta quando estou fazendo algo para comer com as últimas coisas da geladeira e eu tento me esconder, mas é em vão quando dois homens entram na cozinha e se abaixam para me olhar embaixo da mesa. - Eu não disse. - O mais baixo aponta para o outro. - A garotinha está aqui e a Elisa sumiu. - E-Eu... Quem são vocês? - Pergunto saindo do meu falho esconderijo. - Elisa nos devia uma grana, estamos aqui para pegar de volta. - Disse ele e eu me finjo de desentendida. - Quem é Elisa? - Pergunto aproveitando minha expressão de espanto por dois homens invadirem o lugar. - A dona da casa. - Diz ele e eu abro a boca pensando. - Alguém a matou. - Digo apenas quase falando o nome do Freddie. Se ele descobrisse que eu o entreguei vai vir me matar como fez com a Elisa. - Quem? - Pergunta o mais alto. - Não sei, quando invadi ela estava morta. Enterrei ela nos fundos. - Digo tremendo assustada demais para pensar em outra coisa. - Merda, o que você roubou? - Pergunta o mais alto se aproximando de mim. Ando para trás batendo as costas na parede e ele me observa com uma expressão raivosa. - Comida e teto? - Praticamente pergunto e ele me olha de cima a baixo vendo minhas roupas velhas. - Uma andarilha, então? - Pergunta e eu assinto quase que divertida com a ideia de uma andarilha que apenas caminhou até o quintal da casa que ficou presa por anos. - Ande, pegue suas coisas e suma daqui. - Diz ele apontando para fora e eu entro em choque, mas meu estômago ronca com a fome. Instantaneamente olho para a panela pegando-a e o homem ri com meu ato. Desço para o porão e pego minhas cobertas sendo expulsa daquele lugar sem ter para onde ir.
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