Capítulo 02

1242 Words
Ivy Sigo pela rua e me esquivo de pessoas. Uma moto passa por mim fazendo aquele barulho ensurdecedor e eu me abaixo tapando os ouvidos. Me enrolo nas cobertas e sigo comendo o que tinha na panela por causa daquela maldita fome. Horas depois, vagueando sem rumo, chego à um lugar onde as casa vão rareando e paro cansada em baixo de uma árvore no começo de uma floresta. O tronco da árvore era grande e seu formato parecia um ninho. Ajeito uma coberta em baixo e me deito em cima me enrolando em outra. Já era de madrugada e o frio estava me fazendo tremer. Lágrimas saem dos meus olhos por causa do frio que sentia e eu apenas me encolho tentando me esquentar ao máximo. Pela manhã acordo com um barulho e assusto quando vejo um caminhão passando. - Olá. - Grita um homem correndo atrás do caminhão e logo ele joga um saco que pegou da última casa na caçamba do caminhão. - Oi. - Aceno receosa e ele se volta para mim. - Sem teto nova na cidade? - Pergunta e eu assinto sem saber o que fazer. - É de onde? - Pergunta e eu pressiono os lábios tensa. Ele se aproxima mais com uma expressão quase preocupada me observando mais de perto. - Você é muito nova, garota. Onde estão seus pais? - Pergunta e eu nego. Me encolhendo e enrolando mais minhas cobertas sobre mim. - Calma, eu não vou te fazer mal, ok? - Pergunta e eu me levanto rapidamente pegando minhas cobertas. - Ei, calma. - Diz ele e eu tremo andando de costas para dentro da mata. - Volta aqui, menina! - Grita ele, mas logo alguém o chama e ele corre até o caminhão falando algo com os outros. - Menina. - Uma outra voz grita e eu vejo que ele e mais dois homens estavam me chamando. Eu corro para dentro da floresta até que percebo que eles desistiram de me chamar. Tropeço em uma raiz e caio batendo a cabeça, minha visão fica turva e tudo se vai. Acordo com uma dor de cabeça imensa e olho para os lados tentando entender o que está acontecendo. Já era tarde e o sol estava se pondo. Passei muito tempo desmaiada. Me sento no chão e tremo com o frio. Odeio o inverno. Me levando devagar e sinto uma fraqueza enorme. Minha barriga ronca e eu volto para a árvore pegar a panela que esqueci ali. Ao chegar encontro alguns potinhos fechados, pareciam as marmitas que Elisa trazia para casa às vezes. Eram três. Me lembro dos três homens que tentavam chamar minha atenção e os agradeço mentalmente. Como metade de uma marmita e pego as outras levando para dentro da mata. Procuro um lugar que possa me dar um pouco de abrigo e vejo uma raiz grande na frente de uma árvore, elas formavam uma pequena caverna grande o suficiente para caber meu corpo magricelo. Enrolo minha mão na coberta e limpo o lugar que provavelmente seria infestado de aranhas por ser um lugar escuro e quase intocado. Alguns insetos correm dali e eu ajeito a coberta lá dentro. Coloco as marmitas ali e observo tudo tentando decorar o lugar mentalmente para não me perder. Alguns dias se passam e a comida das marmitas não estragaram ainda pelo frio constante dentro da floresta. Bom para elas e péssimo para mim já que a cada noite sentia ainda mais frio. Algumas pessoas sabiam que tinha uma nova moradora na floresta, provavelmente aqueles três homens devem ter chamado um pouco te atenção me gritando, então às vezes tinha comidas, sucos e doces naquela árvore no começo da floresta. Eu passava lá quando a noite caía porque era mais difícil de as pessoas me verem nesse horário. Na verdade ninguém passava para esse lado da rua quando passava das quatro horas da tarde. Meu machucado na cabeça doía as vezes, mas eu não conseguia ver o suficiente para cuidar dele, então apenas deixo que ele se cure sozinho. Uma das noites desci para ver se alguém tinha deixado algo e vi uma latinha de refrigerante. Eles deixavam bastante disso ali. Pego e logo ouço vozes. - Eu não disse que ela vem nesse horário. - Arregalo os olhos e vejo um homem desconhecido. - Apresento a vocês a menina da floresta. - Ele diz para os outros três que estavam com ele. Corro para dentro da floresta e ouço os passos deles me seguindo. Eu estava correndo para partes da floresta que nunca fui antes, para mais dentro da mata densa. Sigo apressada, mas meu corpo se cansa muito rápido. Uma mão puxa meu cabelo e eu caio no chão sentindo dor. Eles me levantam e me avaliam como se eu fosse um objeto. - Ela é bem nova. - Diz um deles tocando meu rosto. - Me solta! - Peço tentando me debater e eles me soltam fazendo uma rodinha ao meu redor. Tento sair, mas ele me fecham me fazendo ficar dentro daquele círculo assustador. - Vamos apenas brincar, gatinha. - Um outro sorri de lado e eu tremo com medo. - Me deixa ir embora! - Grito apavorada. - Vai para onde, gatinha? Para a mata? Estamos nela. - Um deles se aproxima e eu sinto meus olhos encherem de lágrimas. - Você está sozinha, gatinha, ninguém vai sentir sua falta se por acaso acontecer alguma coisa. E se alguém te tocar, você vai chamar quem? - Pergunta ele segurando meu rosto. - Me solta! Me solta! - Grito tentando bater nele e correr, mas mãos me seguram me fazendo ficar quase imóvel. - Me solta! Aaaah. - Mexo minhas pernas e braços até que ouço aquele som apavorante. Um tiro faz com que eles me soltem. Caio sem forças no chão e tremo com a memória que isso me traz. Elisa no chão fazendo todo esse inferno piorar mil vezes mais. Outro tiro e outro e outro. O som dos corpos daqueles homens caindo ao meu redor me faz tremer ainda mais. - Pegou esses filhos da puta, Joshua? - Pergunta uma voz grave e eu ergo a cabeça procurando quem falava. Era um homem branco com os cabelos e barbas escuras. - Agora eles devem estar no inferno assediando a porra da mãe deles. - Rosna o homem ruivo que provavelmente seja Joshua. Me levanto receosa e dou um passo me afastando dos três homens que andam em minha direção. - Não precisa ter medo, ok? - O homem negro me olha com um sorriso e eu me afasto mais um pouco. - Você está machucada. - Ele diz apontando para o local acima dos meus olhos e eu imagino que seja minha testa. - Vamos cuidar disso, ok? - Pergunta e eu nego me afastando um pouco mais. - Você é gentil demais, Kai. - A voz do moreno soa grave e ele se aproxima de mim rapidamente. - Não, por favor, por favor. - Peço chorando tentando correr, mas ele é mais rápido me pegando e me jogando sobre seus ombros. - Kai te falou para não sentir medo porque a gente só quer cuidar da porra do seu machucado, então fica quieta. - O homem praticamente grita. - Henry. - O homem que ele chamou de Kai diz em tom de advertência - Foda-se. - Henry resmunga e me carregando para mais fundo na floresta.
Free reading for new users
Scan code to download app
Facebookexpand_more
  • author-avatar
    Writer
  • chap_listContents
  • likeADD