m*l atirou pedrinhas numa das janelas da loja de Quinquilharias do Jafar.
— Jay! Você está aí? — chamou ela, baixinho. — Jay! Apareça! Quero falar com você! — ela jogou mais algumas pedrinhas.
— Quem está fazendo esse barulho infernal? Ninguém sabe mais tocar a campainha hoje em dia? — Jafar perguntou ao abrir a janela, esticando a cabeça para fora. Ele já ia começar a proferir maldições quando viu quem estava lá fora. — Oh, minha querida m*l — disse ele, com a voz tão suave quanto na época em que aconselhava o sultão. — Como posso ajudar?
Mal já ia se desculpar, quando lembrou que feiticeiras nunca pedem desculpas.
— Estou procurando Jay — disse ela, tentando soar tão exigente quanto sua mãe.
— Ah, sim, é claro — disse Jafar. — Vou avisá -lo. Por favor, entre. — houve uma pausa e Jafar berrou com uma voz trovejante. — JAY! m*l QUER FALAR COM VOCÊ!
— JÁ VOU! — Jay gritou de volta.
— Qual é o lance com vilões e aves? — pergunto m*l ao entrar na loja e se deparar com Iago no ombro de Jafar. Ela pensou em como Malévola tratava Diablo com tanta afeição.
— Nada, esquece.
Jay apareceu.
— Ei, m*l, que curioso você estar aqui. Eu ia mesmo procurá-la. Temos que conversar sobre aquele…
— Aquele trabalho escolar — disse m*l, lançando-lhe um olhar penetrante. Ninguém mais podia saber sobre o Olho de Dragão.
— É, isso. Trabalho escolar. Obrigado, pai, eu assumo daqui. — disse Jay, fazendo um sinal para seu pai sair. Iago gritava e voava atrás dele.
— Tem algum lugar pra gente conversar? — m*l perguntou assim que ela e Jay ficaram sozinhos.
Jay apontou para o saguão da loja.
— O que há de errado com este lugar?
Mal olhou em volta para aquela bagunça, notando algumas coisas que eram dela e pegando-as de volta sem comentar. De fato, não havia nada de errado em conversar ali — e, sinceramente, o que ela estava escondendo, afinal? Não que qualquer um fosse roubar o Olho de Dragão. Quem seria e******o o bastante para fazer isso…?
Ela olhou para Jay, que estava analisando uma proveta que acabara de retirar do bolso. Seus olhos negros brilhavam.
— Onde você conseguiu isso? — perguntou ela. — O que é isso?
— Não sei. Estava na mochila de Reza. Ele estava sendo tão cuidadoso com isso que eu peguei — explicou Jay com um sorriso malicioso.
Mal fez um gesto de impaciência. Ela queria começar logo a busca e não tinha tempo para distrações.
— Olha só, sei que você acha que não vamos conseguir, mas precisamos descobrir como encontrar o Olho de Dragão. Quer dizer, ele pode comandar todas as forças da escuridão. Quem sabe? A magia pode retornar à ilha um dia.
Jay levantou as sobrancelhas.
— É, eu ia dizer a mesma coisa.
— Sério? — perguntou ela, chocada por não precisar fazer esforço para convencê-lo. Ela começou a ficar levemente desconfiada. Jay bufou.
— É, quer dizer, fala sério, se estiver mesmo aqui, precisamos colocar as mãos nele. Mas tem certeza de que sua mãe está certa? Ela é meio maluca daquela cabeça chifruda.
Mal revirou os olhos.
— Não dá pra negar que Diablo retornou. Ele tinha virado pedra, mas agora está vivo. E já comeu quase tudo da despensa!
— Uau.
— Não é?
— Iago é igualzinho. Acho que ele come mais do que eu e meu pai juntos.
Ambos riram do comentário.
— Certo, ótimo. Quero começar a procurar o quanto antes — disse m*l, disposta a ignorar a hipótese de que Jay só tivesse concordado em ajudar por motivos egoístas. Ela podia lidar com isso.
Jay ia dizer alguma coisa quando se virou, desconfiado.
— Que barulho é esse? — ele perguntou, na mesma hora em que a porta dos fundos caiu e Jafar rolou sobre ela, com Iago sentado em sua barriga.
— Eu avisei que você estava gordo demais pra se apoiar na porta! — disse Iago, zangado.
Jafar ainda tentou mostrar um pouco de dignidade, colocando-se em pé e limpando o ** e os detritos de seu cabelo.
— Ah, nós apenas queríamos perguntar se vocês querem jantar, não é, Iago? Mas não pudemos deixar de ouvir… me perdoe se eu estiver errado, mas vocês disseram que o cetro do Olho de Dragão da Malévola está perdido em algum lugar nesta ilha? — perguntou Jafar, com os olhos negros brilhando.
Mal encarou Jay com raiva, repreendendo-o mentalmente por não ter encontrado um lugar melhor para conversarem a sós. Mas claramente era tarde demais e o pai do garoto já sabia de tudo. Jafar fitou os adolescentes de forma solene.
— Sigam-me, é hora de termos uma conversa séria.
Ele os levou até sua sala nos fundos da loja, um covil aconchegante com cortinas de pedras semipreciosas e tapetes orientais, almofadas de cetim com bordados e lâmpadas de latão e luminárias que lhe conferiam a atmosfera taciturna e exótica do deserto. Jafar se sentou em um dos grandes sofás, oferecendo para que eles ficassem à v*****e nos pufes.
— Quando fui libertado da lâmpada do gênio e trazido até esta ilha amaldiçoada, enquanto a sobrevoava, vi o que parecia uma floresta comum, mas olhando mais de perto era, na verdade, um castelo escuro coberto de espinhos.
— Outro castelo? — perguntou m*l. — Coberto de espinhos, você disse? Mas isso quer dizer que…
O castelo verdadeiro de sua mãe. O castelo da barganha era alugado. Não era seu lar de verdade. A Fortaleza Proibida. Não era assim que o lar original de sua mãe era chamado? m*l nunca tinha prestado muito atenção, mas certamente soava familiar. E onde mais ele estaria, se não na Ilha dos Perdidos?
Jafar acariciou sua barba maltrapilha.
— Sim, mas não estou certo de sua localização exata. A ilha é maior do que vocês pensam. Podem procurar por décadas e nunca encontrá-lo, especialmente se estiver escondido na Zona Proibida.
Lugar Nenhum, como era chamada pelos cidadãos da ilha.
— Nunca! — repetiu Iago, agitando suas asas.
— Foi o que eu disse — assentiu Jay.
— Eu tinha me esquecido totalmente de ter visto a floresta, até agora, quando vocês disseram que Diablo havia retornado afirmando que teria visto o Olho de Dragão — disse Jafar. — Se a fortaleza estiver mesmo na ilha, talvez não seja a única coisa escondida nas brumas.
— Mas por que estaria aqui? — Jay perguntou, ajoelhando-se e olhando para seu pai com atenção.
— Essas coisas eram perigosas demais para serem deixadas em Auradon. Como a barreira torna a magia impossível, agora elas são inofensivas. Mas, se reclamarmos de volta o que nos pertence, talvez um dia tenhamos uma chance contra a barreira.
— Diablo jura que o Olho de Dragão brilhou de volta à vida. O que significa que talvez a barreira não seja tão impenetrável quanto a gente pensa — disse m*l. — Mas ainda não sabemos exatamente onde está. Não existe um mapa de Lugar Nenhum.
— Podemos tentar procurar no Ateneu do m*l — disse Jay prontamente.
— Ate-o-que?
— Na Biblioteca dos Segredos Proibidos, em Dragon Hall. Sabe, aquela porta trancada onde ninguém deve entrar. Com a aranha gigante na frente.
Mal balançou a cabeça.
— Acha que tem algo lá? Sempre achei que era só uma maneira de manter os alunos do 1o ano longe da sala do Doutor Facilier.
— Bem, temos que começar de algum lugar. E eu me lembro de o Doutor F. falar na aula de Enriquecimento que a biblioteca contém informações sobre a história da ilha.
— Desde quando você presta atenção na aula? — perguntou m*l, emburrada.
— Você quer ou não quer minha ajuda?
Jay tinha razão. Era um começo, e ela tinha aprendido mais sobre a ilha em um dia na Loja de Quinquilharias do Jafar do que em 16 anos.
— Muito bem.
— Vamos amanhã bem cedinho — disse Jay, empolgado. — Nos encontramos no bazar para pegar suprimentos, assim que o mercado abrir.
Mal fez cara f**a. Ela odiava acordar cedo.
— Por que não hoje à noite?
— A orquestra fará um concerto hoje, vai estar cheio de gente. Amanhã é sábado, não vai ter ninguém. Fácil.
Mal suspirou.
— Tá bom. Aliás, obrigada pela ajuda, Jafar.
— O prazer foi meu — disse Jafar com um sorrisinho torto. — Boa noite.
Quando m*l foi embora, Jay sentiu seu pai deslizar para seu lado, fincando os dedos em sua roupa.
— O que foi? — Jay perguntou, embora já soubesse o que era.
— O Olho de Dragão — murmurou Jafar.
— Eu sei, eu sei — assentiu Jay. Ia ser o maior troféu do ano.
— Eu odiaria pensar que você pretende trair sua amiga — disse Jafar, com falsa cara de pena.
— Não se preocupe, pai. Ninguém aqui tem amigos — disse ele com escárnio. — Muito menos m*l.
Enquanto isso, no castelo onde se hospedava o príncipe Benjamin…
Ben estava deitado na cama encarando o teto enquanto girava o seu anel com o desenho de fera sobre as pontas dos dedos.
A sua mente se voltava para a noite passada, chegava a fechar os olhos e sorrir ao lembrar do momento com a filha da Malévola.
Após terminar o beijo, as testas de ambos se encontraram, os corações de ambos batiam fortemente. m*l se afastou e se levantou.
— Aonde vai? — perguntou ele.
— Embora — ela disse ainda de costas, indo até a porta.
— Não vá embora — ele se levantou e foi até ela. Ela encarou ele, braba, quando o próprio segurou a porta.
— Tá querendo morrer? — ela falava séria.
— E você tá querendo ficar doente? — ele se referia à enorme tempestade que caía lá fora.
— Eu já estou muito bem acostumada com chuva. — ela tentou abrir a porta, mas foi em vão.
— Fica comigo… por favor… podemos fazer algo juntos… — ele sorriu de canto.
— Como o que? — ela arqueou as sobrancelhas e cruzou os braços.
Pra que eu fui perguntar?, pensou ela. Porque minutos depois estavam os dois na cozinha. De acordo com o príncipe, eles iriam fazer um bolo, mas a questão era: nenhum dos dois realmente sabia como fazer um bolo.
— O que se usa num bolo? — ela perguntou abrindo as portas dos armários assim como ele estava fazendo.
— Farinha… açúcar... fermento?
— Achei o açúcar — ela disse após pegar um pote com finos granulados doces.
— Eu acho que achei a farinha… Vê se encontra ovos, manteiga e óleo.
— Ben! — ela o chamou com presa, foi ele se virar e ela tacou um ovo que atingiu em cheio a sua testa.
— Ah, não. Você não fez isso! — ele disse de olhos fechados, podia ouvir a gargalhada gostosa da garota.
— E aí? Vai fazer o quê, garoto puritano? — ela parou de rir um pouco ao ver o garoto sorrindo pra ela. E foi aí que ela lembrou que ele estava com o saco de farinha. — Não Ben! — ela ia se afastando, mas não conseguia parar de rir, a sua roupa ainda estava meio molhada por causa da chuva e a farinha não ia sair tão fácil.
Segundos depois o garoto de Auradon e a garota da Ilha se encontravam correndo pela cozinha, farinha e açúcar estava se espalhado por toda a cozinha e grudando em seus corpos. Durante a correria, Ben escorregou em algo e caiu, levando a filha da Malévola junto.
— Acho que encontrei a caixa de leite… — ele disse e riu junto dela.
— Mas nessa guerra eu ganhei! — disse por vencida.
— Eu ganhei! — ele franziu o cenho.
— Você caiu primeiro! — m*l se sentia uma criança pelo tema dessa suposta discussão.
— Mas te levei junto! — e assim eles ficaram por um momento, um olhando nos olhos do outro.
— Vamos ficar aqui ou vamos terminar de fazer esse bolo? — ela disse tentando se levantar sem cair. Ele levantou em seguida.
— Mão na massa! — ele gritou sorridente.
— Você é tão criança — ela sorriu negando com a cabeça.
— Você gosta! Admita! — ele sorriu convencido.
— Vamos logo, Benjamin Florian!
— Ok, m*l Bertha! — ele sorriu e ela o olhou semicerrando os olhos.
Com todos os ingredientes já na mesa eles iniciaram o tão famoso bolo.
— Pronto. Agora só esperar! — ele disse colocando a forma com a massa homogênea no forno.
— E agora, como eu fico? — ela falou se referindo à sua roupa toda suja.
— Bom. — ele riu. — Pode colocar uma roupa minha.
— E se eu não quiser?!
— Só tem essa opção, mas se quiser ficar sem nada… — ela acabou por jogar uma colher de madeira nele. — Aí!
— p********o! — ela falou saindo da cozinha.
— Vou tomar banho. Já que você não está fazendo nada, pode limpar essa bagunça.
— Por que você não ajuda também?
— Não tô afim! — ela sorriu e saiu da cozinha subindo as escadas e indo para o quarto do garoto.
Enquanto ela escolhia as roupas que iria vestir, ele começava a limpar a cozinha.
Minutos depois, m*l se sentia quente com a roupa do príncipe, as roupas dele não eram feitas de tecidos finos e gélidos como as roupas da ilha.
Quando ela saiu do banheiro, o garoto estava com o peito nu, ele também trocou de roupa. Seus olhos mantinham-se fixos na garota, assim como os dela estavam nele.
— É… wow… — ele coçou a nuca e pegou uma camisa se vestindo. — o bolo ainda não está pronto, quer fazer algo? — ele perguntou se sentando na cama.
— Tipo? — ela se jogou ao seu lado.
— Gosta de livros? — ele sorriu. Ela confirmou com a cabeça. Ele se levantou e deu a volta no quarto, abriu uma grande caixa.
— Contos de fadas? Isso é sério? — ela revirou os olhos. — Vai ler a história do sapatinho de cristal ou da que dormiu por cem anos? — ela riu.
— Não — ele riu com ela. — Vou ler meu conto preferido. — ela se sentou o olhando com curiosidade — Valente! — ele mostrou o livro pra ela, que pegou com delicadeza.
— É sobre?... — ela perguntou. Ele sorriu com luxúria, apesar de ela não estar olhando diretamente nos olhos dele, sentia-o com os olhos brilhando.
— Você verá! — ele tomou os livros da mão da garota e se encostou na cabeceira. Ela ficou do lado dele, encostou a cabeça no ombro dele e o viu abrir o livro.
— É… sabia que eu tenho calça né? — ele não conseguia prestar muito atenção ao ver ela com as pernas nuas. m*l vestia um moletom azul escuro e apenas uma cueca box dele.
— Eu não achei, Sr. Organizado! — ela revirou os olhos. Ela não tinha muita paciência pra ficar revirando as roupas dele. Ele riu.
— Quer que eu pegue pra você?
— Depois, agora eu tô curiosa com essa história. — ela fez um bico e voltou a encostar a cabeça em seu ombro.
Ele negou com a cabeça e sorriu. Puxou o cobertor com o qual ela e ele acabaram por se cobrir.
— E sua mãe acabou virando… — ele fechou o livro.
— Ela virou o que? — os olhos da garota brilhavam. Ali já não se encontrava uma garota má. E ali nem um herdeiro da coroa. Eram apenas duas crianças. Ele sorriu.
— Ela virou… — ela se levantou. — Um urso! — ele correu atrás da garota.
— Ben! — ela ria.
Assim ele conseguiu derrubar ela na cama e uma guerra de cócegas se iniciou. A risada da garota era como se fosse melodia aos ouvidos do rapaz. Sem dúvida ele a amava de todas as maneiras possíveis. Ele parou de fazer as cócegas de tanto a menina implorar. Ambos estavam com o rosto corados de tanto rir.
— Por que fez isso? — ela ainda ria.
— Eu gosto de ler essa história para a minha prima. E quando chega nessa parte eu faço isso. — ele sorri.
— Ei! Eu não sou uma criança!
— Seu tamanho diz o contrário — ele falou e logo foi atingido por um travesseiro.
— O bolo já tá pronto? — ela perguntou.
— Vamos ver. — ele foi até a sua cômoda. — Pode vestir — ele jogou nela uma calça moletom.
— Valeu! — ela vestiu.
Desceram juntos até a cozinha.
— Até que pra alguém que tem tudo na mão você sabe limpar bem — ela falava enquanto analisava a cozinha.
— Só porque eu sou herdeiro da coroa não significa que eu não sei limpar uma sujeira como aquela que fizemos. — ele riu e tirou o bolo do forno. Ele pegou os pratos e os talheres para eles e cortou o bolo em duas fatias grandes. Entregou um para a menor.
— Você come primeiro. Vai que tá envenenado.
Ele olhou ela sem entender.
— Só se você envenenou… — ela negou com a cabeça sorrindo. Ele pegou o garfo e enfiou em sua fatia do bolo e comeu.
— Até que pra alguém que nunca fez bolo, isso aqui tá uma delícia. — ele pegou outro pedaço colocando-o na boca. Ela provou.
— Hm. Até que você sabe cozinhar.
— Nós — ele sorriu.
Após eles comerem, subiram ao quarto novamente.
— E agora? — ela falou.
— Tá com sono? — ele viu ela bocejando.
— Não… — mentiu.
— Vem! — ele deitou na cama e pegou outro livro. Ela arqueou uma das sobrancelhas. — Você está cansada. Sei disso. — ela não se moveu. Nem sabia o que fazer. Sua mente estava confusa.
— É melhor eu ir embora, Ben… — sua voz saiu baixa. Ela não o olhava, seu olhar estava firme no chão.
Ele se levantou e foi até ela, a abraçando. O abraço estava quente e gostoso. Ela o abraçou de volta.
“Eu te amo”, ele sussurrou no pé de seu ouvido. Ela apenas confirmou com a cabeça. Deixou as lágrimas caírem. Ela não queria ser fraca, não queria ser como o seu pai. Ela queria orgulhar a sua mãe. Mas parecia que isso não seria possível com Ben em seu caminho. Ela estava decidida, ao partir em busca do cetro Olho de Dragão. Ele iria junto, e assim ele dormirá por cem anos e os vilões terão sua vingança contra Auradon. Já que m*l sabia bem que apenas ela poderia quebrar essa maldição…