Com a mesma vontade

1283 Words
Aos olhos de Nina A agonia do Alex me divertia. A todo momento durante o jantar, enquanto apoiava a Gabi nos preparativos do aniversário dela ( que seria no dia seguinte), não tirava os olhos dele. Alex evitava me retribuir, ao contrário do Fernando, que sempre marcava em cima, não saía do meu lado. Depois da refeição, deixamos a sala de jantar e fomos para a sacada. A mesma sacada que dava para a área verde da piscina. A mesma sacada que o Alex me observava. Me apoiei no parapeito, dessa vez eu o observaria de cima, ele conversava com alguns amigos. Dei um sorriso ao morder os lábios, ainda sentia o gosto dele na minha boca. — Cerveja?— Perguntou uma voz masculina conhecida, que chegou repentina por trás de mim. — Eu não tomo cerveja.— Respondi, seca. Me afastei do parapeito para ficar de frente para o outro. — Então um vinho mais tarde? Podemos tomar no meu quarto… — Não, Fernando. Eu vou dormir cedo, quero aproveitar o dia com a Gabi. Amanhã é aniversário dela. — Tudo bem. Podemos fazer algo outro dia, quando voltarmos… — Vamos ver.— Dei duas batidinhas no ombro dele, antes de me afastar. Fui na direção do pequeno círculo que se formava no sofá. Lá estavam Clara, Ingrid e Daisy, nossas amigas da faculdade, e também Raquel e Vanessa, amigas apenas da Gabi - da escola-. Nitidamente as duas ainda não me aceitavam. Eram de família super tradicional e achavam um absurdo que eu, que sempre tive 50% de bolsa, frequentasse os mesmos lugares que elas. Na frente da Gabi sempre disfarçavam, fingiam que me respeitavam e até que gostavam de mim. Mas por trás… Por sorte, as meninas da faculdade eram diferentes. Minhas amigas não gostavam nada daquelas duas e faziam questão de deixar claro. — Senta aqui com a gente, Nina.— disse Ingrid, abrindo os braços para mim. Eu me sentei ao lado dela e a abracei. — Pensei em fazermos um brinde para a Gabi. Que tal um vinho branco?— Sugeri. — O aniversário da Gabi é só amanhã, faz mais sentido fazermos o brinde amanhã.— disse Vanessa.— Eu sei que está louca para experimentar os vinhos da adega dos quais você não tem acesso, mas precisa esperar um pretexto mais adequado. A Raquel deu uma risadinha com o comentário da amiga. — Ah, mas é uma questão de tempo para a Nina comprar quantos vinhos caros quiser. Ela é brilhante, a melhor aluna da turma.— Defendeu Ingrid. — Foi a primeira no processo seletivo da Grimaldi’s.— Completou Clara. — E a primeira a conseguir a vaga no vestibular. Ela é quem ensina a todas nós.— disse Daisy. — Eu não estou entendendo esse tipo de comentário, Vanessa.— Gabi interferiu, ultrajada. — Só foi uma brincadeira. Não precisam ficar tão revoltadas.— Se defendeu Vanessa. — Eu não admito que ninguém faça piada da Nina, ela é minha melhor amiga e eu exijo respeito. Além do mais, é como as meninas disseram, ela é brilhante. É só uma questão de tempo para ter o mesmo ou até mais do que todas nós.— Gabi ficou de pé ao terminar de falar. — Eu agradeço a defesa das minhas amigas. Viu só, Vanessa? Isso é o que eu tenho de mais valioso, e nunca precisei comprar. Mas claro, você não entenderia.— Rebati. — Vou buscar o melhor vinho branco da adega para fazermos um brinde.— disse Gabi, se afastando. — Se controla, Van, ou vamos acabar nos indispondo com a Gabi. Sabe como ela é cega quando se trata da Nina.— Murmurou Raquel. Embora minhas amigas e eu já estivéssemos em um assunto paralelo, não deixei de prestar atenção no que falavam, e elas também. — Eu não sei porque a Gabi insiste em conviver com esse tipo de gente. É claro que a Nina só é amiga dela por interesse. — A Gabi tem um bom coração, é isso. Ela vive pagando coisas e dando presentes caros. Essa saída que a Nina está usando, foi um presente que a Gabi comprou na nossa viagem para a Tailândia.— disse a Raquel. Pedi licença para as minhas amigas, antes de me levantar. Me afastei, precisava ir ao banheiro para respirar. Estava com tanto ódio que m*al podia me conter. — Vocês deveriam ter vergonha de verbalizar esse tipo de pensamento imundo. Deveriam ter vergonha também de pensar assim.— disse Ingrid. Elas discutiram, mas pararam quando a Gabi chegou. Eu precisava voltar para apaziguar as coisas e acalmar as minhas amigas, mas primeiro precisava me acalmar. Não estava em condições de de interceder pela paz. Queria destruir a Vanessa e a Raquel. Mais do que nunca, precisava ter dinheiro e muito rápido. No momento, só tinha um caminho: conquistar o pai da Gabi. Ele me desejava assim como eu sempre o desejei. Podia me dar prazer e muito dinheiro, realizar cada um dos meus sonhos. Quando já estava em condições de me controlar, voltei. Gabi já tinha servido as taças e só esperava o meu retorno. — Meninas, eu quero agradecer muito todo o carinho e amizade. Saibam que eu amo muito cada uma de vocês, Gabi, Ingrid, Clara e Daisy. Mas hoje é dia de pré-comemorar, amanhã é o aniversário da Gabi e ela merece um ambiente de felicidade, não de intrigas. Então…— Levantei a minha taça.— Ofereço esse brinde á Gabi. Á felicidade da Gabi, aos sonhos da Gabi, e á nossa amizade. Todas ergueram as taças e encostaram na minha. Todas nos abraçamos - exceto á Vanessa e a Raquel, que só abraçaram a Gabi-. — Vou pedir com toda educação do mundo que vocês duas se retirem da minha casa. Amanhã de manhã, claro, já que hoje está tarde.— disse a Gabi para as outras. Vanessa e Raquel se entreolharam, assustadas. — As meninas me contaram o que vocês estavam falando da Nina. Elas ficaram muito revoltadas, assim como eu. E claro, não querem ficar no mesmo ambiente que vocês, assim como eu. — Gabi… Somos amigas há anos, você vai…— Raquel tentou argumentar. — Vocês não sabem o que significa a palavra “ amizade”. Por favor, só saiam na paz, não quero as duas no meu aniversário. Não me façam armar um escândalo amanhã, porque sou capaz de fazer.— Gabi se afastou, em seguida. Nossas outras amigas comemoraram a decisão dela. Eu, mais uma vez, agradeci a todas. Embora eu ame minhas amigas e esteja muito feliz com a prova de amizade que me deram naquela noite, o ódio da humilhação ainda gritava. Fomos descansar logo depois, amanhã acordaríamos cedo para aproveitar a piscina. … Já estava prestes a deitar quando bateram na porta do meu quarto. Se fosse o Fernando, jurei bater com a porta na cara dele. Tive um dia tão cheio que não estava com a menor paciência. Abri a porta, sem suspenses, me deparando com o Alex do outro lado da soleira. Claro, lá na escada tinha prometido que a noite teríamos mais. — Você veio.— Não disfarcei o sorriso. — A Gabi me contou o que aconteceu com você, só queria saber se está bem. — Vou ficar melhor se você entrar. Ele entrou, eu logo tranquei a porta. — Faço questão de acompanhar a saída daquelas meninas… Coloquei o indicador no meio da boca dele, o fazendo parar de falar. — Não quero perder tempo com esse assunto, Alex. Quero continuar o que começamos na escada. E então o Alex me beijou, com a mesma vontade que da primeira vez.
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