Seguir Em Frente

1324 Words
     Uma semana depois, eu ainda estava aos pedaços. Mas eu não podia ficar assim. Clarice me indicou um dos melhores advogados que ela conhecia Adrian Seratos, um colombiano que provavelmente já teria passado pela cama dela.      Liguei para ele no mesmo dia, e marcamos num Caffè perto de seu escritório, no centro, pela manhã na segunda.      Clarice Clarkson, realmente tinha muitos contatos. A única herdeira da Clarkson's Publicity, empresa essa onde Guilherme era sócio, adorava festas e sabia como entrar em grande estilo. Alta, magra, cabelos longos, negros e lisos de dar inveja. Linda e irresistível ao olhar masculino.      E eu era totalmente o oposto dela. Sem graça, 1,65 de altura, cabelos castanhos claros, longo e ondulado, e agora diante do espelho, eu não me reconhecia. Prendi o cabelo num coque e tirei o roupão. Em outra ocasião, eu me preocuparia com o que vestir, mas eu estava indo resolver o meu futuro, que a cada dia, parecia mais incerto.     Vesti uma camisa branca e um jeans básico. Passei uma maquiagem para disfarçar as olheiras e coloquei um salto preto. Estava ótima, mas só por fora.      Cheguei no horário marcado para me encontrar com o advogado. Pedi um café à garçonete e me sentei numa mesa no canto.       Nesse momento, um homem alto e moreno entra no Caffè. A julgar pelo terno preto, e o cabelo impecavelmente arrumado, supus que fosse ele o advogado. Eu acenei e ele veio em minha direção.      - Sra. Brenner, suponho. - ele disse apertando minha mão.      - Sim, por pouco tempo, espero.      Ele se sentou e fez sinal para a garçonete.     - Por favor, um cappuccino. - Pediu. - Bem, Sra. Brenner...     - Ah, por favor, me chame de Yvi. - O interrompi.     - Ok. Yvi, vamos ao que interessa. Em que regime são casados? - O advogado perguntou.     - Parcial Dr. Adrian.     - Me chame só de Adrian, por favor. - Ele disse sorrindo.     - Certo, Adrian. - Bom Yvi preciso que faça uma lista dos bens que quer ficar. Depois disso, vou redigir um documento, os quais vão precisar de sua assinatura, para entrar com a petição do divórcio. - Ele explicou.      - Não precisa de lista. Quero apenas a casa de praia, e que isso acabe logo. Não importa quanto custe. - Claro que eu não me importava. A conta iria diretamente para Guilherme.      - Uau! Estou impressionado Yvi.     - Com o que exatamente, Adrian? - Perguntei sem entender a que ele se referia. - A maioria das mulheres adorariam arrancar até as cuecas do marido, em um processo de divórcio. - Ele falou sorrindo.     - Bom, sou diferente. - Concluí tomando o restante da minha xícara de café.      Acertamos os detalhes e ele afirmou que o processo duraria um pouco mais de um mês. - Agora preciso ir para o trabalho. Este é meu contato. Qualquer novidade, não hesite em me ligar. - Eu disse pegando na carteira, o meu cartão com telefone e e-mail. Peguei também dinheiro e deixei na mesa para pagar a conta e a gorjeta da garçonete.  Ele quis pagar, mas eu não deixei de modo algum. Despedimos-nos e eu fui para o trabalho. Embora eu já tivesse terminado a parte rústica, tinha que fazer uns ajustes na matéria. Mesmo com as críticas de Clarice, e recriminando por eu estar trabalhando nas minhas férias, eu não conseguia sair dali sem antes finalizar o trabalho.  Acabei me envolvendo com a matéria, o que foi ótimo. O desfecho ficou simplesmente maravilhoso, e quando percebi ja passavam das 4 da tarde. Clarice estava numa reunião e eu não quis incomodar. Apenas deixei um recado me despedindo. O caminho era longo, e não era muito bom eu dirigir no escuro, pois a minha visão, que já não anda muito bem, começou a ficar péssima durante a noite. ******      Estacionei meu carro ao lado de um Honda City prata. Que diabos Guilherme estava fazendo ali? Se ele queria me humilhar mais ainda, ele podia desistir, pois eu já estava destruída. Ou se veio pedir o divórcio, está atrasado.       "Pense!" - Sussurrei para mim mesma. Voltar para o centro, fora de questão. Dar voltas no quarteirão, e gastar combustível? Ele não valia tanto. Sem opções plausíveis para fugir dali. Encarar, era o que eu tinha que fazer. Por sorte ou acaso, vi o vizinho curioso saindo de casa. Não hesitei em cumprimentá-lo. - Olá, boa noite. - Eu disse me aproximando.      - Boa noite. Acredito que tenha recebido meu bilhete há uma semana, se não me falhe a memória. - Ele disse e eu contive a vontade de revirar os olhos.      - Sim, recebi. E obrigada por se preocupar. Desculpe por não responder antes, mas não tenho me sentido bem esses últimos dias. A propósito, sou Yvelise. - me apresentei.    - Ah não se preocupe. Laura me disse. Jean, prazer em finalmente te conhecer. - Ele se apresentou e eu não pude deixar de xingar Laura mentalmente. Empregada fofoqueira, era só o que me faltava.      - É... Você quer entrar e tomar um café comigo? - Sabia que não era certo, mas era a única maneira de Guilherme ir embora.      - Talvez sua visita não queira minha presença agora.      - O quê? Não! Não se preocupe com isso. Creio que a visita já esteja de saída. Vamos, aceite meu pedido de desculpas.      Ele olhou para minha casa e depois para mim, fixando o olhar como quem observa a cena e pensa por uma fração de segundo.      - Certo! - Por fim ele cede, me acompanhando.       Quando abro a porta, o vejo sentado no sofá. A aparência dele esta péssima. A barba está por fazer, mas ele continua lindo e perfeito como sempre. Os cabelos escuros e lisos estavam um pouco bagunçados, e ele vestia uma calça cinza com camisa bege. O tipo executivo.       Ele sabia como ser elegante. Naquele momento eu me vi martirizada, apesar de tudo, eu ainda queria me jogar nos braços dele dizer o quanto eu o amava. "Mantenha o foco." - Pensava constantemente.      Ele se levantou e veio em minha direção. Dei um passo para trás e ele parou.       - O que está fazendo aqui? - Eu perguntei.      - Yvi, precisamos conversar. - Ele falou, e notei que havia um desespero no tom de voz dele.       - Acho melhor eu ir embora. - Jean se manifestou.       - Não! Você fica. - Falei quase gritando.     - Tudo bem. Eu fico - Ele levantou as mãos em sentido de rendição.       - Não temos nada para conversar. Agora se me der licença, eu estou acompanhada. - Falei o mais firme que consegui apontando para Jean. Ele olhou para Jean e de volta para mim.   - Sei que quer me ferir. Mas eu não vou desistir de tentar.    - Vai embora, e não volte mais. - Falei sem olhar nos olhos dele. Eu não conseguia.   - Diga isso olhando nos meus olhos.  - Saia, por favor. - Pedi, não consegui manter o olhar por muito tempo. Jean apenas observava.     - Está certo. Conversamos outra hora com mais calma. - Ele passou a mão nos cabelos e foi em direção a porta, parando em frente a Jean.     - Não ouse tocar nela.       - Isso não é mais da sua conta Guilherme. - Eu disse antes que eles trocassem socos. - Agora vai embora.       E foi o que ele fez. Saiu deixando a porta aberta.     - Uau. Vou indo nessa também. Já despachamos sua visita indesejada. - Jean diz com um risinho no rosto.      - Está dizendo que te usei para me livrar da visita?    - Se não usou, eu diria que você é uma boa psicóloga para entender as estrelinhas do que eu disse. Mas não se preocupe. Fico feliz em poder ajudar. - Seu tom foi sarcástico.     Sem esperar uma reposta, ele saiu fechando a porta.     Eu não me importei. Apenas fui para o meu quarto, fazer o meu ritual noturno, que era chorar até adormecer.
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