O Socorrista

997 Words
CAPÍTULO UM — Já volto, juro que será rapidinho, quer alguma coisa? – Sandal descia do carro no estacionamento do Hipermercado, deixando Lila a esperando. — Uma água com gás, se não for difícil, se não, tomo quando chegarmos ao seu apartamento. – Respondeu Lila, tranquila, preparada para esperar a amiga enquanto ela descia apressada para comprar cigarros. Lila aumentou um pouco o ar condicionado do carro, recostou-se no banco e relaxou, ouvindo a música baixa que tocava. Ficou ali alguns minutos a observar as pessoas que subiam as escadas para entrar no Hipermercado ; algumas desciam com carrinhos abarrotados, carnes, fardos de cervejas, sexta-feira, final de tarde e com certeza muitos se preparavam para um churrasco de fim de semana. Crianças corriam soltas no vasto estacionamento subterrâneo, como se estivessem em um parque de diversões, pais preocupados corriam atrás, uma típica sexta-feira comum. No auto rádio tocava uma música animada que era sucesso no momento e a moça aguardava a amiga na sua compra de último momento, haviam parado ali nesse Mercado por ser próximo ao condomínio que Sandal morava e ela havia se esquecido de seus benditos cigarros. Olhando para uma das saídas do Mercado, viu quando várias pessoas saíam por ali e ficou a observar cada um. Gostava de imaginar o que fariam saindo dali, era uma brincadeira sua, imaginar quem eram, o que faziam e para onde iam. Tinha esse costume desde criança, criar uma história aleatória para desconhecidos que passavam por ela quando estava sozinha sem nada para fazer. Viu uma senhora saindo rápido, com fones de ouvido e acompanhando a música que ouvia, com certeza empolgada e alheia aos que a olhavam sorrindo, cantava junto e alto, pelo que Lila pode perceber. A senhora entrou em seu carro, a alguns metros de distância de Lila e jogou duas sacolas no banco do passageiro. Lila viu quando um rapaz de uns vinte cinco anos saiu também do Hipermercado e mexia no celular, uma sacola em uma mão, distraído, caminhava hora olhando para o celular e ora olhando para onde ia. Lila sorriu e o acompanhou com os olhos. Era um rapaz muito bonito, alto, costas largas, vestia uma bermuda de tactel, que bem podia ser de caminhar, a regata branca, deixava ver que gostava de malhar. Cabelos castanhos claros, não longo nem muito curto, faziam alguns cachos. Coxas firmes e a garota ficou envergonhada de estar olhando. Subitamente olhou para os lados para ver se ninguém a via admirando descaradamente o belo homem, mesmo os vidros do carro sendo escuros, ela ficou aliviada por ninguém tê-la pegado no pulo. Olhou novamente para o rapaz que já havia guardado o celular no bolso da bermuda e pegava as chaves do carro. Com certeza seu automóvel deveria estar próximo de onde Lila estava estacionada, pois ele caminhou rumo à ela. Pôde ver melhor ele de perto e agora mais relaxada quanto a estar sendo uma voyeur de estacionamento, olhou-o com mais atenção. Realmente era um belo homem. Com espanto, Lila percebeu que ele se encaminhava para seu carro. Não só se encaminhava, como chegou ao lado da porta do motorista. Tudo aconteceu em segundos, mas ela ficou estática quando ele abriu a porta do carro e entrou. Colocou as sacolas aos seus pés e a chave na ignição. Meu Deus, o que estava acontecendo? Por milésimos de segundos, ela pensou que estava sendo sequestrada em plena luz do dia em um estacionamento em um grande hipermercado à frente de muita gente em um bairro movimentadíssimo. Mas foi somente um pensamento rápido, ele não parecia perigoso, ainda mais vendo-o tão de perto. Um cheiro agradável vinha dele, um fraco odor de pós barba e algum perfume gostoso. O desconhecido não olhou para ela, colocou a chave na ignição e tentou dar partida, não obteve sucesso. Murmurou alguma imprecação inaudível e Lila só o olhava com um sorriso pronto. Curiosa por saber o que afinal ele estava fazendo, mas não querendo interromper suas vãs tentativas, ela aguardou. Permaneceu sem se mexer, só os olhos o acompanhavam e foi quando ele por fim desistiu irritado e olhou para ela. Com um solavanco de susto, ele virou o pescoço e finalmente a viu ali. Lila então deu uma risada e o tranquilizou: — Tudo bem, isso acontece comigo às vezes também. Sextas-feiras tendem a ser assim. — Perdão, minha nossa, me desculpe. – O rapaz estava visivelmente constrangido e, minha nossa, como era lindo! Agora ela via seus olhos que a miravam e eram cor de mel, bem claros. Segurava a chave inútil para a ignição de encontro ao peito apertada, a outra mão na porta abrindo a porta. – Que bom que não gritou. Estava distraído e… — Percebi mesmo, tudo bem, como eu disse, acontece. — Comigo acontece mais vezes do que gostaria, digo, não de invadir um carro com uma mulher dentro e, mas sou um pouco distraído e peço desculpas… — Lila, sou Lila Mintas. Ela estendeu a mão para cumprimentá-lo ainda com um sorriso nos lábios pela situação. Os dois ali, sentados lado a lado no carro de Sandal, se cumprimentando como se fosse uma coisa normal de acontecer. Ele não desceu correndo assustado, talvez aliviado por ela não ter gritado por socorro. — Sou Kemar Reilo – disse apertando forte a mão estendida dela –, um prazer, Lila, bem, vou descer agora, puxa, imagine se seu namorado ou marido chegar agora, seria difícil explicar, perdão mais uma vez, Lila. — Estou aguardando minha amiga – ela disse ainda sorrindo. Não ia dizer que não tinha namorado ou marido, sorriu ante a preocupação razoável dele, pois, realmente seria difícil explicar isso para um companheiro. Conforme Kemar se mexeu, uma onda do odor delicioso do que quer que seja que ele usasse, ficou ainda mais nítida dentro do carro, ele cheirava muito bem. — Bem, então é isso, Lila, vou prestar mais atenção de agora em diante, tenha um ótimo fim de semana.
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