Enquanto os lobos se afastavam, vimos Emily se aproximar da matilha, juntamente com Kim e Rachel.
Emily jogou um tipo de manta sobre as costas de Sam, que havia se abaixado a sua frente. Em segundos, Sam retornou a forma humana. Kim e Rachel fizeram o mesmo com Jared e Paul.
Logo, eles estavam enrolados nas mantas e deitados nos colos das suas respectivas companheiras. Os outros lobos ficaram um pouco mais afastados. Renesmee chegou correndo numa velocidade sobre-humana e se juntou a Jacob. Acho que ela era a única que se sentia confortável nos vendo tanto como humanos quanto como lobos. Ele permaneceu como lobo, já que eles tinham uma forma de comunicação única, não precisavam proferir uma palavra se quer, conversavam com os olhares, com os toques. Agora eu os entendia e até conseguiria tolerar a presença daquela meio-sanguessuga.
Deixei Ithan observar toda a cena. Ele precisava digerir todas essas informações que inundavam sua mente. Ver homens se transformando em lobos e voltando a forma humana é muito surreal e para ajudar, chega a meio-vampira correndo. Ela se sentia bem entre nós, não precisava se esconder, não era uma ameaça e não se sentia ameaçada, pelo menos agora que eu já havia me acostumado e me controlado mais.
Continuei abraçada a ele, com a cabeça encostada em seu peito, olhando na mesma direção que ele.
— Ok! Vamos supor que tudo isso que vimos seja verdade, que as histórias quileutes sejam reais, mas o que aquela moça branca faz no meio dos lobos? Quer dizer, ela não é quileute, nem lobo e parece que nem humana… — Falava com a voz oscilante. Estava sendo difícil para ele.
— Eu não posso te falar sobre ela. A história dela não me pertence, mas tenho certeza que um dia Jacob e ela vão te contar, só não posso te falar para respeitar a privacidade deles. É uma história muito complexa… — falei sem graça, mas isso não cabia a mim explicar.
— Tá, tudo bem, eu entendo. — Me abraçou mais forte ainda. — E essa história de quileutes e lobos tem alguma coisa com a sua temperatura? Quer dizer, você é tão quente…
— Sim, vamos dizer que eu sou uma quileute especial… — vacilei. Não queria dizer ainda que eu também me transformava, não queria assustá-lo, por enquanto ele já estava assustado demais.
— Por enquanto ficarei satisfeito com essa resposta, minha quileute especial, mas, me diz uma coisa… — assenti. — Cresci com meus pais se amando muito e o comportamento deles é muito parecido com o que notei de como agem os lobos e suas companheiras. Parecem que os lobos as protegem, as olham, as tratam de um jeito diferente que os demais casais do restante de toda a humanidade. Notei que essas companheiras deles os tratam como se eles fossem o centro do mundo delas, como se mais nada importasse…— refletiu.
— Assim como eu e você agora? — perguntei para ver se ele sentia o mesmo que eu e ele concordou com a cabeça.
— Bem, isso eu posso explicar. Suas companheiras foram escolhidas pelos espíritos para acompanharem os lobos durante suas vidas. É como se fosse o que os brancos chamam de “almas-gêmeas”, elas foram criadas para eles e eles para elas. E eles tem o dever de protegê-las, serem como seus irmãos, seus amigos, seus maridos, tudo que elas precisarem que eles sejam, eles serão, independente da idade ou da situação. O imprinting acontece na primeira vez que o lobo olha nos olhos da pessoa que será sua companheira para o restante de sua vida. — escutou atento. Parecia que das histórias quileutes, essa fazia mais sentindo.
— É exatamente isso que eu sinto por você. Achei que o nosso sentimento fosse único, algo que jamais outras pessoas sentiriam… — sorriu. Meu imprinting era correspondido. — Só não entendi essa última parte, o que é o imprinting mesmo?
Me aconcheguei nos seus braços e falei:
— Quando um lobo vê sua amada pela primeira vez, ele vê o seu mundo mudar. É como se o que o segurasse na terra não fosse mais a gravidade e sim a pessoa direcionada do imprinting, é como se todo o mundo tivesse conspirado para que aquele momento acontecesse…
— Hum… Entendi… E se essa pessoa for comprometida, ou algo assim?
Desmoronei.
Será que deveria contar? Bem, se eu não contasse, alguém contaria. Melhor saber por mim e não adiar mais.
— Assim como aconteceu comigo e com o Sam… — continuei olhando firmemente em seus olhos, que ele havia arregalado. Ele engoliu a seco. Bem, comecei, tinha que terminar. — Ele era meu noivo e Emily, minha prima. Assim que ela voltou para a tribo, depois de passar uns anos fora, ele a viu e teve um imprinting. Meu mundo desmoronou, não havia como fugir. Parecia que os espíritos haviam me amaldiçoado. Fiquei muito revoltada, chateada, rancorosa, não conseguia suportar a felicidade dos dois. Isso me fazia m*l, me matava aos poucos, até que você chegou e tudo fez sentido. Eu não era a escolhida pelos espíritos para o Sam, por que o meu escolhido não tinha chegado na reserva ainda. No momento em que te conheci, todos aqueles sentimentos negativos e rancorosos desapareceram, a partir daquele momento, lá na Cabanha, eu sabia que só seríamos eu e você! — Fiquei atenta, esperando qualquer reação e então… Então ele sorriu:
— Como num imprinting? — acariciou a minha bochecha enquanto esperava a resposta.
Eu sorri de volta e assenti com a cabeça. Ele havia entendido!
— Eu também tive outras namoradas antes de te conhecer e pode ter certeza e hoje eu sei, elas não tiveram nenhum significado para mim! — falou, todo carinhoso.
Ah, como não amar esse homem? Ele entendeu, entendeu tudo!
— Bem, não vamos ficar aqui falando da vida dos outros, não é mesmo! — afirmou isso, me girou em seus braços e me beijou novamente, deitando-se lentamente na rocha em que estávamos, de forma que eu fiquei sobre seu corpo.
Hum, se ele soubesse o que se passava na minha cabeça…
Controle-se Leah, você está indo rápido demais!
Me afastei lentamente do seu rosto e juntando todo o autocontrole que ainda me restava, disparei:
— Queria que você conhecesse minha mãe, ela esta muito ansiosa para conhecer o quileute que mudou a minha vida… — falei com um sorriso nos lábios.
— Sua mãe não é uma loba gigante como seu irmão ou é? — Brincou. Gargalhei alto. Não pude acreditar no que ouvi.
— Não, minha mãe é uma pessoa normal e meu irmão está mais para um cachorrinho adestrado! Não precisa ter medo dele! — falei, entre risos.
— Depois dele se sentar ao nosso lado e eu passar a mão nas suas costas, não tenho mais medo. Difícil vai ser encará-lo quando eu vê-lo novamente. Vou lembrar sempre do “cachorrinho-adestrado”! — deu uma gargalhada gostosa.
Ah, que homem! E ainda tinha um senso de humor. Mais uma habilidade para deixar meu dia iluminado.
Ficamos ali vendo o pôr-do-sol e depois pegamos sua caminhonete e fomos em direção a minha casa.