La Push

1762 Words
Aquele beijo foi tão quente, tão delicioso, que não pensei em mais nada, só me entreguei. Quando ele soltou o meu rosto em brasa das suas mãos e afastou seus lábios dos meus, eu abri os olhos e não podia acreditar no que estava acontecendo.   — Você está muito quente, está pegando fogo! — falou um pouco preocupado. m*l sabia ele que por dentro eu estava muito mais.   — Não se preocupe, é a minha temperatura normal — fiz uma cara contente. Ele não se satisfez com a resposta, mas mesmo assim me envolveu em seus braços e me deu mais um beijo. Ah, como conseguiu ficar melhor.   — Me desculpe se estou sendo precipitado, mas acho que encontrei o que me faltava — falou, separando brevemente os nossos lábios.   — Você não sabe o quanto de tempo eu te esperei! — Aquilo soou quase como um desabafo. Comecei a ouvir muitos uivos vindos da floresta ao nosso redor, e eu conhecia esses sons. Eram de comemoração. A loba chata e m*l-amada tinha encontrado seu verdadeiro amor. No fim nem dei bola, mas Ithan ficou preocupado.   — Tem lobos por aqui! Pode ser perigoso pra você voltar pra casa sozinha! – falou, ainda segurando meu rosto em suas mãos.    Ah, ele se preocupava de verdade...   — Não se esqueça que eu estou na tribo quileute, a tribo dos lobos! Os espíritos vão me proteger! — falei dando um sorriso sapeca.   — Você tem certeza? — perguntou ainda preocupado. Fiz que sim com a cabeça. Ele me deu mais um beijo gostoso, carinhoso, como eu nunca havia recebido. Os uivos silenciaram. Acho que eles perceberam que Ithan havia ficado alarmado. — Eu tenho que ir, meu avô deve estar preocupado. Nunca sai assim. Eu vou, mas não vou olhar pra trás, se não, não resistirei e terei que voltar correndo pra você! Sábado, às 14hs, aqui! — concluiu. Fiz que sim com a cabeça e o beijei novamente.   Ele se afastou, virou de costas e foi correndo para o carro, uma caminhonete GMC vermelha com um adesivo da Cabanha na porta. Entrou, abaixou o vidro e me olhou, deu um sorriso largo, que eu sabia que era só para mim e saiu lentamente pelo acostamento, entrou na pista, acelerou e foi. Quando eu já não o via mais na estrada, saí correndo. Queria ir para casa, contar tudo pra minha mãe. Não queria me transformar, não aguentaria as indagações daqueles lobos safados e idiotas, mesmo assim muitos uivos voltaram a ser ouvidos.   — Ah, como eu sou i****a! Porque sábado?! Podia ter chamado ele para vir aqui amanhã! Arhhh — resmunguei para mim mesma. Teria que passar mais dois dias sem vê-lo. Pelo menos, conversamos bastante pelo celular esses dois dias que nos separaram.    Ah, eu estava apaixonada! Era isso então que o imprinting provocava!? Eu não conseguia passar um segundo sem pensar nele, sem imaginar nosso futuro juntos, sem lembrar de cada detalhe do seu rosto, do seu cheiro... E ele? Ah, ele também parecia estar tão envolvido! Ele era encantador, delicado, romântico, muito melhor do que em qualquer sonho que eu já tive.    Eu percebi que durante todo esse tempo, eu estava errada. Achava que um imprinting era uma espécie de servidão, onde o lobo ficava preso a outra pessoa, mas não! Era liberdade! Era paixão, era calor que aquecia o peito e acelerava a respiração! Era querer proteger e se doar para a pessoa sem esperar nada em troca. E mesmo que não houvesse nada em troca, valeria a pena.   Como eu pude viver tanto tempo sem esse sentimento?   Agora eu sabia. O que eu senti pelo Sam nunca foi nem um décimo do que eu sentia pelo Ithan.     E percebi mais uma coisa. Como o tempo demora para passar quando a gente quer muito uma coisa. Também descobri que pessoas apaixonadas sofrem de ansiedade.   Pelo menos eu não tive rondas por esses dias e pude me esquivar das indagações daqueles lobos inconvenientes! Todos eles sabiam do imprinting, ouviram todas as novas conversas ao redor da fogueira. Maldita audição de lobos! E eles sabiam que Ithan achava que aquela coisa de homens-lobos era só mito, mas agora ele pertencia a tribo quileute, ele precisava saber!   Outro fato que descobri sobre Ithan é que ele era pontual. 14hs estacionou na entrada da reserva e o caminho para a praia era longo, uns dois quilômetros.   — Olá, garoto californiano! — garoto nada, já era um homem feito, muito bem feito por sinal. Sorri e falei enquanto ele descia do carro.   — Olá, garota-lobo quileute! — retribuiu o sorriso. Ele não sabia, não tinha como saber, mas eu adorei o “garota-lobo” sendo pronunciado por aquela voz forte. Ele estava vestido como os meninos da tribo: shorts e regata. Cheguei até a suspirar. Aquela regata marcava muito bem seus músculos e não deixava nada a desejar aos rapazes da matilha. Pela primeira vez, seu cabelo estava solto, balançava ao vento até o meio das costas. Hum, que visão do paraíso! Agradeço aos espíritos em silêncio. Que bom gosto, hein! Papai que deve ter ajudado a escolher... Sorri sem graça com esse pensamento.   — Você prefere ir a pé ou de carro para a praia de La Push? São dois quilômetros até lá — falei depois de um beijo delicioso. Ah, esses beijos me deixam ainda mais quente. Ainda bem que ele não tem o olfato apurado como dos lobos, se não, sentiria o meu cheiro de desejo exalando pelos meus poros.   — Adoraria ir caminhando com você até lá, mas tem muitos lobos por aí. Não quero arriscar que eles nos ataquem! — falou, meio debochado. Ri internamente. Ele me deu a mão, me levou até seu GMC e abriu a porta para mim. Ah, um cavaleiro como jamais os outros rapazes seriam comigo! Bando de brutos e selvagens!   Fomos conversando sobre os nossos dias, as nossas famílias. Ele me contou que ligou para a mãe. Jane ficou feliz pelo filho, disse que em breve queria retornar à reserva e ainda deu um conselho pro filho: “respeite os espíritos e não duvide das lendas!”, ele falou sério dessa vez.   Chegamos a praia e percorremos boa parte da orla de mãos dadas. Estava um dia gostoso, uma brisa leve, talvez 71ºF, sol entre nuvens e eu, quente como sempre. E ele? Preocupado como sempre!   O final da tarde foi chegando. Nos sentamos em uma rocha, onde as ondas calmas batiam despretensiosamente. Ficamos observando o pôr-do-sol abraçados, aproveitando o momento! Ah, como ele me fazia bem! Sentia uma paz, uma calmaria. Depois de um breve silêncio, sua voz proferiu palavras que eu não podia acreditar. Com a boca bem próxima ao meu ouvido, abraçado pelas minhas costas, quase num sussurro, Ithan falou:   — Eu já posso te chamar de minha namorada? Paralisei. Depois de uns segundos, me virei pra ele, olhei profundamente nos seus olhos, escolhendo as palavras perfeitas.   — Isso é um pedido? — o fitei em toda a profundidade de seus olhos negros.    — Quero mais que seja uma realidade, uma constatação... — falou aproximando seu rosto, encontrando nossos narizes...   — Então será assim, sem um pedido oficial? — falei brincalhona, tentando disfarçar meu nervosismo. Isso era real ou um sonho?   — Você quer que eu me ajoelhe? — ele entendeu meu ar brincalhão.   — Não! Eu quero que você seja meu, só meu... para sempre! — ele já era meu e agora eu tinha feito oficialmente o comunicado.   — Juro que não imagino mais minha vida sem você. Parece que tudo que eu vivi até te conhecer ficou para trás, totalmente sem sentido, sem significado. Que só agora eu encontrei um motivo para acordar todos os dias. Você era o que me faltava, você é o pedacinho que completou a minha vida. É nesse lugar que eu quero ficar e é só com você que eu quero passar meus dias... Eu não tinha palavras para descrever o que estava sentindo. Eu tive o imprinting, mas era que sabia exatamente o que ele significava. Só consegui beijá-lo naquele momento.   Uivos se ouviram novamente. Ah, como eram intrometidos! Isso me lembrou que ele precisava saber. Me afastei lentamente do seu rosto, ele estava quente como eu. Vislumbrei aqueles olhos negros como a noite, profundos, que refletiam minha imagem. Só eu cabia dentro dos seus olhos, mais ninguém... Uivos novamente. Ele se preocupou, olhou para os lados, mas eu sabia de onde vinham.   Do alto de um rochedo, a nossa direita, dois grandes lobos uivavam. Sam e Seth.   — Olhe para lá. — Apontei para o rochedo. Ithan estremeceu. — Você lembra das histórias dos quileutes sobre os homens-lobo? — ele fez que sim com a cabeça. — Aqueles lobos no alto do rochedo são Sam e Seth! — ele me olhou incrédulo. Fiz um gesto, os chamando para se aproximarem. Eles logo sumiram dentro da floresta. Em segundos estavam atrás de nós.   Ithan me abraçou apertado, querendo me proteger, e eu? Ah, eu sorria! Um fungado próximo as costas do Ithan, quente, fez ele enrijecer ainda mais...    Sam nos rodeou aos poucos, parando em nossa frente. Seth sentou-se ao meu lado. Estendi a mão e passei em sua cabeça. Ele virou o seu rosto para nós dois, se abaixou, deitando ao nosso lado. Peguei a mão de Ithan  e levei até o pelo das costas de Seth... ele relaxou as poucos.   Ajudou a parte que nenhum dos dois lobos estarem rosnando ou mostrando os dentes. Eles estavam amigáveis. Sabiam que tinham que fazer isso. Eu não tinha pedido nada, mas eles sabiam. Ithan era quileute, precisava saber, acreditar nas histórias. Ele olhava profundamente para Seth e Sam se sentou em nossa frente. Logo, outros lobos apareceram. Paul, Embry, Jared e Quill. Ficaram ao longe, na outra ponta da praia. Jacob, em forma humana, se aproximou aos poucos.   — Olá, Leah e Ithan! — o cumprimentamos, fazendo um movimento com a cabeça. — Sei que parece inacreditável para você, mas como quileute, você deve saber de tudo que se passa em nossa tribo! — Ithan assentiu com a cabeça. — Leah, feche os olhos, por favor. — fechei. Ouvi o barulho dos ossos estralando como sempre acontece durante as transformações. Quando abri os olhos, Ithan estava paralisado, com os olhos arregalados. Jacob estava em forma de lobo na nossa frente.   — Rapazes, podem nos deixar sós por um momento! — era engraçado chamar eles de rapazes naquele instante. Eles se afastaram lentamente e foram se juntar com os demais.
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