Luta Desleal

2130 Words
Se m*l tivesse que dizer do que mais gostava em Auradon, passaria o dia inteiro fazendo uma lista de tudo que não fosse “detestável” na nova escola. Para começar, o colégio não ficava num antigo calabouço úmido e fedorento como Dragon Hall, nos confins da Ilha dos Perdidos. Mal estava impressionada sobretudo com as aulas de artes, nas quais pintava feliz da vida telas cheias de paisagens misteriosas envoltas em neblina, com castelo sombrios e sinistros, em vez de cenas delicadas de pôr do sol e natureza do sol e natureza mortas, como preferia o resto da classe. Como alguém podia gostar de pintar um cesto de frutas sem graça? Isso ela nunca conseguiria entender. Mas ninguém ali se importava com o que o outro estava pintando de “certo ou errado” toda arte era válida no estúdio de artes. Jay estava acostumado a escapar de lojistas irritados e donos de bazar furiosos que notaram suas preciosas mercadorias sumindo nas mãos daquele ladrão superveloz de gorro vermelho e colete roxo e amarelo. Perto disso jogar tourney era fichinha para ele. Pelo menos não tinha que desviar de tomates podres e ouvir ameaças de esquartejamento enquanto ziguezagueara em direção ao gol, tentando se manter longe da chamada zona da morte, a área listrada nas cores vermelho e branco ao meio do campo. A tarde estava perfeita para treinar, o céu azul sem nenhuma nuvem, as árvores verdes e exuberante em volta do campo. As arquibancadas estavam praticamente vazias, fora alguns alunos matando o tempo com os amigos ou fazendo lição de casa, e as líderes de torcida, de blusa amarela e saia azul, ensaiando sua coreografia na lateral do gramado. Quando o chão começou a tremer sob seus pés, Jay nem ligou. Correu para a esquerda, agarrou a bola com o taco, abaixou ao passar pelos canhões carregados e se atirou espetacularmente enquanto lançava a bola direto para o fundo da rede. Ergueu os braços em sinal de vitória e se jogou de joelhos, escorregando até parar, no exato momento em que as vibrações intensas também cessaram. Um leve sorriso de satisfação surgiu lentamente em seu rosto. Fios bagunçados de seu cabelo comprido e escuro estavam colados à testa e ao pescoço, e o uniforme quase pingava de tanto suor. Terremotos não o assustavam. Nada podia impedi-lo de correr o mais rápido possível em direção ao gol. A vida toda, Jay teve que usar os pés ligeiros e reflexos rápidos como relâmpagos para surrupiar e encher, à custa dos outros, as prateleiras da loja de quinquilharias do pai. Mas aqui, na Escola Auradon, esses talentos lhe garantiram um lugar cobiçado no time de tourney. Algumas líderes de torcida que ensaiavam na faixa lateral gritaram o nome de Jay entusiasmadas. Ele deu um salto e tirou o capacete, provocando risinhos nas meninas, que agitaram ainda mais os pompons. Jay foi até a beira do campo para pegar uma garrafa de água. - Bem-vindo ao time – o treinador deu tapinhas em seu ombro e passou para falar com Carlos. - Grande jogo, cara – disse Chad. O filho loiro e mimado da Cinderela não costumava ser muito simpático em campo, mas talvez o príncipe bonitão tivesse algo mais na cabeça além do cabelo arrumadinho. Chad estendeu a mão, Jay a apertou, ainda que meio desconfiado. - Valeu, mano. - Se bem que qualquer um consegue ganhar do Herkie – Chad riu, apertando a palma da mão de Jay e apontando com a cabeça para o filho de Hércules perto do gol. – É todo bondoso, mas tem pé chato, tá ligado? Herkie era tão forte quanto seu pai e tinha músculos suficientes para demonstrar isso, mas não era o mais rápido em campo. Mesmo assim, Chad teve sorte de ele estar longe demais para ouvir o que estava dizendo. - Então você quer dizer que faria igualzinho? – perguntou Jay, com o filho da Cinderela apertando sua mão. - De olhos fechados – disse Chad, chacoalhando a mão do colega com força para cima e para baixo e mostrando os dentes num sorriso convincente – O negócio é o seguinte, Jay é fácil se esquivar de um canhão, mas no tourney você deve tomar cuidado com aquilo que não está esperando. E, com sua arrogância típica, Chad torceu-lhe o pulso e derrubou Jay, fazendo com que ele batesse o rosto no chão. - Chad! – Audrey o repreendeu, vindo da faixa laterais – Tudo bem, Jay? – perguntou, atenciosa. - Pela honra dos Encantados – disse Chad – Ele é da Ilha, está acostumado – Ele bufou e saiu. Chad era um dos melhores jogadores do time... até a chegada de Jay. O príncipe não estava achando graça nenhuma na escala atual do time. Jay bufou e olhou para o céu azul. Tinha trocado uma vida de roubo e sombras para fazer o papel de bonzinho na escola dos heróis. Se fosse na ilha, Chad não estaria rindo daquela forma. Jay poderia facilmente surrupiar seu relógio, a carteira e as chaves durante aquele aperto de mão. Mas o herdeiro de Jafar estava agora em Auradon, e essas coisas pegavam m*l. Por isso deixou barato, ainda que a tentação fosse grande. Agindo de outro modo, só causaria problemas para ele e seus amigos filhos dos vilões, e isso era exatamente o que Chad queria. - Vai ficar deitado aí para sempre? O sinal já tocou – disse uma voz. Jay olhou para cima e viu Audrey ainda de pé ao lado dele, estendendo a mão. - Você ainda está aqui? – ele riu de canto. - Não leve para o pessoal – Ela piscou. Estava usando o cabelo escuro preso num r**o de cavalo alto, o uniforme com contraste azul e amarelo. – A Família Charming leva muito a sério o esporte. Ele se sentou no chão – Tem certeza de que está bem? - Nenhum arranhão, a não ser no meu orgulho – disse Jay, sentindo-se melhor. Ben suspirou, admirando os campos de tourney de longe, observando a arquibancada. Ela não veio... Sentiu uma mão suave em seu ombro, como temesse sua reação, respirou fundo ao ouvir a voz de Carlos. - Tudo bem, aí? – a pergunta foi ingênua. Ben se virou e confirmou com a cabeça – Tudo bem, só preocupado um pouco. Carlos assentiu com a cabeça, se Ben não queria falar no momento, tudo bem, mas o filho da Cruella via a mentira ali. - Treinador uma série de coisas para eu fazer, reforço no heroísmo também – Carlos torceu o rosto. Ben riu de canto – Pode deixar que eu te ajudo – ele traçou o braço em volta do pescoço do menor. Carlos notou a mudança de visão de Ben, seguiu o olhar e viu um cachorro, superveloz indo atacar eles, Carlos meteu a marcha e correu, mais veloz do que nunca. - Carlos! – Ben correu atrás, visto que aquilo chamou a atenção do cachorro e o animal achou que fosse uma brincadeira. Carlos entrou numa parte do bosque, não muito longe, subiu em uma das árvores e começou a quebrar galhos e jogar no cachorro, passou raspando quase atingindo o animal, mas Carlos não erraria novamente. Mas Ben entrou na frente do animal. Pegando o galho com a mão. - CUIDADO, BEN!!! – Carlos gritou, alertando-o do perigo. Ben viu ali um lado que ele não conhecia de Carlos, o pânico visível em seus olhos. - Ele é manso, apenas estava brincando, é o mascote da escola – Ben pegou o cão no colo. – Dude, conheça o Carlos. Carlos, este é o Dude – Ben sorriu. Carlos desceu da árvore ao perceber. - Minha mãe disse que cachorros ou qualquer outro animal não é para ser mascote ou de estimação – Carlos falava sério – São para ser servidos como comida ou como vestes, você sabe, carne e couro – Ben arregalou os olhos – Acho melhor comentar a respeito na aula da bondade – Ben engoliu em seco. Carlos ainda examinava o cachorro, Ben o ofereceu para segurar, o filho de Cruella aceitou. Ele examinou o p***e animal, a carne não serviria, magro demais, e era pequeno demais, daria apenas para fazer uma meia ou uma touca, se bem que um par de orelhas seria ótimo. Mas essas regras pareciam ser apenas de sua mãe. Carlos imitou o gesto de Ben no cachorro, fazendo um carinho em sua cabeça. - Ben – ele levou a cabeça pensativo e curioso. - Sim – o príncipe respondeu. - Por que tudo de sua família envolve pelos? – a pergunta de Carlos foi séria, mas Ben não segurou o riso. - Vamos – disse puxando o amigo – Aliás, você é um bom corredor, com certeza deixou o treinador impressionado. Audrey saia do vestiário quando encontrou Jane e Evie esperando, Jane era sempre a primeira a entrar e a primeira a sair, normalmente sempre estava atrasada para algo, então ficou surpresa ao encontrar ela esperando. A princesa se aproximou cumprimentando as meninas. - Acha que pode abrir uma vaga Evie – Jane perguntou. - Claro, podemos fazer um teste amanhã? - Perfeito – Evie sorriu. - Estava indo para o refeitório com as meninas, querem ir juntos? – Evie ficou um pouco receosa, iria aceitar mas notou o rosto de Jay machucado. - Ah, encontro vocês lá, vou falar com Jay antes – disse sorrindo, as meninas acenaram em seguiram. - Jay – Evie o chamou se aproximando – O que rolou no treino? Jay encolheu os ombros. Passou os dedos em torno do olho direito e sentiu que estava um pouco inchado. Não era um fracote, mas parece que Chad o tinha derrubado com violência do que imaginava. - Foi só um acidente. Ele não queria que meu rosto batesse no chão com tanta força. - Foi o Chad, não foi? – disse Evie, franzindo a testa. - Vou falar com ele ou com Ben, para resolver. - Não, deixa para lá. Você tem problemas mais sérios para resolver – disse Jay. – Eu dou conta do Chad. – A última coisa que ele queria era que o filho da Cinderela saísse espalhando por aí que ele corria pedir ajuda ao rei por qualquer coisinha. Evie olhou fixamente para ele, e ele suspirou, sabia que mesmo ela respeitando sua opinião, em certos casos seria do jeito dela. - Você vai jantar? – perguntou Jay, apontando para o prédio do refeitório, de onde vinha um cheiro delicioso. - Vou me encontrar com as líderes de torcida, assuntos a tratar – Evie piscou um dos olhos de forma bela. Jay sorriu e desejou boa sorte, tocando seu ombro. Jay andou até o vestiário onde Chad saia, os dois se encararam por um momento e seguiram para onde cada um ia. Os olhos de Chad pousaram na presença de Evie, que estava com uma das mãos apoiada na cintura e a cabeça meia deitada. Fada Madrinha havia dito a Evie naquela manhã que nada de r**m acontece em Auradon, não havia pequenos furtos e nem grande roubos, todos eram gentis e educados, então era óbvio que ela ficou curiosa a respeito da atitude de Chad, a final, o que separava ele de Jay? Mesmo sabendo que Jay dava conta, o olhar do amigo, entre o controle e a explosão a preocupava mais do que gostaria de admitir. Ninguém dos quatros esperavam que Auradon fosse perfeitamente bons, ou ao menos perfeitamente bons o tempo todo, mas ao menos tentassem esconder melhor, fazer o melhor possível para não estragar a imagem. Chad não parecia se importar nesse sentido, e muito menos o treinador não falou a respeito até onde ela sabia. - Algum problema? – foi ele a perguntar. - Depende – Evie retrucou – Soube do seu incidente com Jay – ela se aproximou dele, os passos de Evie eram lentos e calculados. Chad franziu o cenho, raciocinando as palavras dela. Ele riu ao ter certeza do que ela falava – É coisa de jogo, fique fora disso, melhor se intrometer entre as líderes de torcida, deixe o campo para os mais fortes, mande o mesmo recado para ele se preferir também. - Achei que vocês Auradonianos tivesse princípios – Evie estalou a língua. - Não vou discutir com você – ele começou a andar, nunca dando as costas – E achei que Jay aguentaria mais, se ele não consegue lidar com isso sozinho, vai quebrar na primeira semana, sem ofensas, mas dessa forma Auradon jamais vão ser para vocês – Antes de Evie pronunciar algo indignada, ele se despediu com uma curta referência debochada, se virou e continuou, sumindo de vista. Evie grunhiu de raiva e saiu andando, indo na direção do refeitório.
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