Cheguei cedo demais

1194 Words
Janeiro de 2025 Cidade do Milharal - São Paulo ~ Carolina — Três passos para frente e já estará na porta.— Breno murmurou bem próximo ao meu ouvido. Ele me conduzia pela cintura enquanto uma venda cobria os meus olhos. — Pode esticar a mão que vai tocar a maçaneta. Fiz o que ele mandou. Mordi os lábios em expectativa. Quando Breno finalmente me deixou ver, fui surpreendida por uma suíte master em um hotel fazenda. Um jantar a luz de velas nos esperava no canto, de frente para a grande janela de vidro que dava para os vinhedos. O abracei e ele me girou. Nos beijamos assim que o homem me devolveu para o chão. — Eu não acredito que você preparou essa surpresa. — Não é todo dia que fazemos sete anos de relacionamento.— Ele caminhou até a mesa posta. Fez questão de nos servir com o melhor vinho da região e logo após o jantar, veio a maior surpresa de todas. Quando cortei a torta com a colher, surgiu um anel de ouro branco e brilhantes entre as migalhas escuras. Fitei o objeto, incrédula, antes dos meus olhos embargarem. — Me dá essa honra?— Perguntou o homem. Eu aquiesci, as lágrimas rolando por minhas bochechas. Estiquei o braço sobre a mesa e após limpar o anel, Breno o colocou em meu indicador direito. Fiquei de pé e fui até ele. Sentei-me no seu colo e o beijei. Dormimos juntos aquela noite, fazia parte da comemoração. No dia seguinte, corri do hotel para o aeroporto. Breno me levou até lá e se despediu com um beijo. — Três meses passarão depressa.— Ele sussurrou. — Para mim serão uma eternidade.— Choraminguei. — Está indo para Londres fazer a sua grande reportagem, meu amor. É tudo o que sempre quis. Eu sorri de felicidade em meio as lágrimas. Por mais que morresse de saudades, sabia que o Breno estaria aqui, esperando por mim. — Eu só estou triste porque vou perder o seu aniversário. — O meu presente é saber que você está feliz, realizando o seu sonho. Deixa de bobagem, Carolina. Estarei aqui te esperando. O beijei mais uma vez, já guardando uma grande saudade. Assim que atravessei o portão do embarque, uma memória do passado invadiu meus pensamentos. Eu já estive no lugar do Breno e acabei não resistindo. — A sua situação é diferente, Carolina.— Falei para mim mesma enquanto caminhava.— Você volta em três meses. Três meses não é nada. O tempo passou depressa, para o meu alívio. Além de ter muito trabalho em Londres, conversava com o Breno por videochamada — todos os dias. Toda a minha dedicação teve um ótimo resultado: Em menos de três meses o material estava pronto e eu já podia retornar para o Brasil. A minha felicidade era indescritível. Chegaria a tempo de comemorar o aniversário do Breno. Decidi fazer uma surpresa, não avisaria a ninguém sobre minha volta antecipada. No caminho preparei todos os detalhes. Encomendei em um ourives londrino um anel em ouro amarelo — com o brasão da família de Breno. Comprei também um lindo buquê de flores de cristais para entregar junto. Peguei o vôo das cinco da manhã. Foram quase 12 horas no avião e mais quatro horas de estrada até Cidade do Milharal. Estava um caco, mas valeria a pena. Ver o sorriso no rosto de Breno e o seu abraço caloroso compensariam tudo. Entrei na sua casa usando minha chave, sem fazer barulho. Deixei minha mala na sala de estar e subi as escadas com as pontas dos pés, carregando apenas a caixinha aveludada do anel e o buquê de flores de cristais. Ouvi o barulho do chuveiro ligado, com certeza Breno estava no banho. Eu entraria no quarto sem fazer barulho, organizaria os presentes e o esperaria deitada na cama. Quando girei a maçaneta e entrei no quarto, meus planos foram por água abaixo. A minha mente parecia ter entrado em colapso, porque no primeiro momento eu não soube o que pensar e em como reagir. O meu mundo virou pelo avesso no instante em que vi outra mulher, completamente nua, cavalgando no colo do meu noivo, completamente nu. O que tornava a situação ainda mais agravante: a tal mulher não era nenhuma desconhecida. Era a minha tia Silvia. O buquê de flores caiu da minha mão para se quebrar no chão. Os cristais rompidos se espalharam pelo quarto. Breno tentava justificar o injustificável, mas eu não ouvia nenhuma palavra. Sua voz estava distante e distorcida. Quando finalmente consegui reagir, me afastei. Desci as escadas correndo e só peguei a minha mala. Vaguei pelas ruas por um bom tempo, até decidir parar no Merci’s. Precisava de algumas doses de uísque antes de voltar para casa e encarar os meus pais. — Eu quero o mais forte que você tiver.— Exigi, assim que sentei de frente para o balcão. O atendente que já me conhecia serviu o que pedi. Assim que o copo chegou, entornei a primeira dose sem nenhum suspense. Um homem que me observava de longe finalmente se aproximou. Também pediu uma dose — como quem não quer nada. Após a minha terceira, ele criou coragem para falar: — Dia difícil? — Após sete anos de relacionamento, peguei o meu noivo na cama com a minha tia.— Respondi, com a língua enrolada. — Isso sim é o que chamo de casos de família.— Brincou o desconhecido. — O cretino é ex noivo. Mas não existe ex tia, não é? Aquela p*uta continua tendo o meu sangue. — É melhor tomar mais uma dose. Você precisa relaxar, te convido para uma rodada completa. — Mais uma dose!— Pedi para o atendente. Bebemos juntos uma boa parte da noite. Aquele homem não estava tão despretensioso quanto queria me fazer acreditar. A primeira investida dele foi colocar uma das mãos na minha coxa. — Não, eu não quero.— Afastei a mão dele. — Deixa eu te ajudar a esquecer.— Ele se aproximou mais um pouco. — Eu não quero … IC!… esquecer.— Rebati, o corpo deslizando pelo banco que eu estava sentada. Precisava me livrar daquele homem, mas já tinha perdido a autonomia das minhas pernas. — Eu te ajudo a se vingar.— Insistente, tornou a segurar minha coxa. Dessa vez enfiou-a no meio das minhas pernas. — Eu não quero… IC!… sai daqui. — Ah, eu te escutei e paguei várias doses de uísque para você. Vai ter que me compensar de alguma forma. — Tire as suas patas imundas dela!— Exigiu uma voz grave. Olhei para cima, surpresa. Aquele som era familiar demais para que eu pudesse esquecer. Encontrei o Victor segurando o aproveitador pelo colarinho e bastou um soco dele para que o outro parasse no chão. — Victor…— Falei o seu nome com a voz falha. — Eu vou te levar para casa.— Retrucou o homem, seco. Ele me ajudou a ficar de pé e me carregou no colo. Sentir o seu cheiro abraçada ao seu corpo fez com que eu resgatasse um passado quase esquecido.
Free reading for new users
Scan code to download app
Facebookexpand_more
  • author-avatar
    Writer
  • chap_listContents
  • likeADD