Menina, Não Vá Desanimar

1742 Words
Finalmente o dia de voltar para casa chegou, eu precisava me alimentar de qualquer outra coisa que não fosse sopa de legumes e gelatina de morango. Gabriel: Pronta para voltar ao lar? - Gabriel questiona pondo uma cadeira de rodas em minha frente e assinto. Não estava pronta para voltar ao "lar", só queria sair daquele hospital. Dr Olavo: Tomar todos os remédios que estão na receita, não fazer esforço e sempre exercitar os músculos. Agatha: Não se preocupe, serei a paciente mais quieta de todo esse hospital, prometo não sair do lugar. - Brinco e Gabriel revira os olhos, me olhando bravo. Pronto agora não posso nem brincar mais, só não me levanto por que é falta de educação, sair assim do nada. Gabriel: Não se preocupe, doutor. Irei cuidar dela como se fosse seu próprio médico. Dr Olavo: Ah verdade, saber que você é médico me tranquiliza muito. Cuide bem dela, para que tenha uma vida mais saudável possível. - Os dois se despedem, enquanto fico ali parada mexendo com meus dedos, a única parte em mim que ainda se podia mexer. Gabriel: Vem, coloque seu braço em minhas costas. - Gabriel fala ao chegarmos em frente ao seu carro. Levanto meus braços e abraço seu pescoço, sendo pega no colo. Ele tinha um cheiro tão bom, como de um abraço aconchegante, de um carinho recheado de amor...Pode parecer estranho, por ser tão raro...mas, essa essência existe e Gabriel usava ela de forma deliberada. Agatha: Me desculpe lhe dar tanto trabalho, da última vez que nos falamos fui tão grossa contigo. - Confidencio, enquanto o mesmo permanece com os olhos na direção. Gabriel: Quando? Eu tenho memória r**m, se fez isso, já me esqueci. - Brinca sorrindo e faço o mesmo, voltando a olhar pela janela a imensidão de tudo ao meu redor. Eu me sentia tão desesperada, era um recomeço de um recomeço...me encontrei imaginando, quantas vezes isso ainda iria acontecer em minha vida. Maria: Você chegou!! Venha, coloque ela no meu quarto Biel. - Maria sorri alegremente, apontando para que Gabriel me leve até seu quarto, onde havia uma cama de casal fofa e confortável. Agatha: Não precisa, dona Maria. Não posso tirar a senhora do seu quarto. - Digo, quando já estou sentada em sua cama. Maria: Aqui é mais confortável para você, eu fico com o quarto que antes era teu. Agatha: Não preciso de nada confortável, estou paraplegica. Gabriel: E então? Será aqui ou no outro quarto? Maria: Aqui! Agatha: No outro quarto! Gabriel: Se decidam, minhas queridas...não vou ficar carregando a senhorita de um lado pro outro. - Gabriel diz falsamente irritado. Lhe entreolhamos e rimos juntos. Agatha: Tia, por favor...não quero dar mais trabalho do que já tenho dado. Me permita dormir onde eu estava, já até me acostumei. Gabriel: Eu trago um colchão melhor, se for esse o problema. Maria: Tudo bem, parece que não irei mesmo mudar sua opinião. Mas, leve o travesseiro pelo menos. Gabriel: Aceita Agatha, se não irá rolar a guerra do travesseiro agora. Agatha: Ok, aceito o travesseiro. Obrigada pelo cuidado. - Digo e Gabriel me coloca na cadeira de rodas, onde a empurro até meu quarto. Gabriel: Pronto! Está bom para você? - Pergunta ajeitando o travesseiro em baixo de minha cabeça, quando já estou deitada na cama. Agatha: Sim. Só não tenho muito o que fazer, agora que ficarei deitada aqui. Gabriel: Posso trazer alguns livros, tenho vários em minha casa. Agatha: Você mora por perto? Sempre está aqui. Gabriel: Nem tão perto, mas, também não muito longe. Já pedi para que mamãe fosse morar comigo, porém, ela não quer deixar essa casa. Agatha: Entendo, as vezes a pessoa cria um valor afetivo com o lugar. Gabriel: Sim, é verdade. Tenho que ir, conseguiu fazer a prova antes de tudo? - Gabriel questiona e me lembro que havia perdido. Como fui tão burra? Deixei de correr atrás do meu futuro, para ir até um moleque que só me enganou e maltratou meu coração. Agatha: Me sinto tão i****a, me deixei levar pelas palavras do Lucas...como pude ser influenciada assim? Gabriel: A paixão é assim, cega os nossos olhos. Quando não se pode ver, acaba-se criando uma linda paisagem em sua mente, para suprir a falta da visão. Agatha: Nunca vou me perdoar... Gabriel: Não foi culpa sua...agora que sabe, como é um relacionamento abusivo, poderá compreender quando o verdadeiro amor aparecer. Afinal, ninguém tem um manual explicativo. - Diz por fim e sorrio. Era tão bom conversar com Gabriel, poderia ficar ali horas e horas. Agatha: Gosto muito de conversar contigo. Gabriel: Fico feliz, moça. Tenho que ir, amanhã acordo cedo para o trabalho. - O mesmo beija-me, levemente testa e segue para fora do quarto. Enquanto sinto a dor em meu peito surgir novamente e as lágrimas descerem, eu estava sozinha e agora poderia voltar a chorar. Pude ver o dia amanhecer com meus olhos ainda abertos, eu estava tão cansada, mas sentia um forte medo de fechar os olhos e nunca mais acordar. Havia acontecido tantas desventuras em minha vida, que essa seria a melhor delas, só assim toda dor se acabaria, todo choro se findaria...morrer, havia se tornado quase como uma dádiva para mim. Gabriel: Bom, dia moça bonita. - Gabriel fala parando em frente a porta de meu quarto e sorrio, agradecida por vê-lo. O mesmo usava uma calça branca e camisa social azul claro. Agatha: Bom dia, estou feliz em vê-lo. Gabriel: Sério? Vim apenas lhe dar um oi, tenho que ir para o hospital. Agatha: Que pena, pensei que poderíamos sair...quer dizer, eu, você e a titia, é claro. - Sinto meu rosto corar, o que estava acontecendo? Gabriel: Podemos sim, já está cansada de ficar deitada? Agatha: Muito, estou quase obrigando meu corpo a se levantar. Gabriel: Não faça isso, não acho que ficaria bonita com dentes faltando. Por que isso acontecerá se cair no chão. Agatha: Você é muito gótico. Gabriel: Bom, não mudei muito depois da adolescência então. - Tira sarro e dou risada. Agatha: Mas, vai lá...não quero lhe atrasar. - Falo e o mesmo concorda, vindo até mim e beijando minha testa mais uma vez. Gabriel: Quer saber, vou te levar para almoçar hoje. Tem um restaurante próximo daqui, com muitas árvores...é delicioso. Agatha: Não sei, sair por ai onde tem várias pessoas, do jeito que estou. - Sussurro me sentindo triste. Gabriel: Eu entendo seu medo, mas, acho que irá adorar...aceite. - Choraminga e sorrio aceitando, era impossível não concordar com o que ele dizia. Agatha: Tenha um bom dia! - Exclamo, enquanto ele corre para fora do quarto, indo em direção a saída. Maria: Vocês parecem estar mais amigos, não é mesmo? - Titia diz entrando no quarto, com algumas roupas lavadas. Agatha: Parece que sim, ele é um bom rapaz. - Digo e a mesma concorda. Maria: Que tal tomar um banho. O Gabriel conseguiu uma cadeira especial para você. - Fala trazendo a cadeira até mim. Me ajudando com as pernas e depois o restante do corpo. A mesma leva-me até o banheiro e liga o chuveiro, que Gabriel havia consertado, deixando derramar sobre mim uma deliciosa água morna. Maria: Posso lhe ajudar ensaboar. Agatha: Não precisa, eu consigo. - Digo e a mesma assente fechando a porta, após colocar o sabonete em minhas mãos. Começo ensaboar os meus braços, a parte de cima do meu corpo, descendo até as pernas, deixando infelizmente o sabonete cair ao chão. Tento esticar o braço para que consiga pega-lo, mas, sem nenhum sucesso. Meu coração começa acelerar, me sinto perdendo o ar de meus pulmões, eu me esforço para respirar, mas, se torna impossível, lagrimas descem por meus olhos e sinto que irei morrer ali, naquele exato momento. Maria: Agatha, filha!! Tudo bem, se acalme, respire fundo...acalme-se. - Maria se ajoelha em meus pés tentando me acalmar, eu não tinha poder sobre o meu corpo, não era capaz de nem mesmo pegar o sabonete no chão. Agatha: Eu quero morrer!!! Eu não aguento mais, por favor, me deixe morrer!!! Maria: Querida, vai ficar tudo...olhe, está aqui o sabonete, viu? Vou ajudar você, tudo ficará bem. - Maria me entrega o sabonete e me abraça, onde choramos juntas. Agatha: Não sei o que me aconteceu, só queria me ensaboar. Não sou capaz de fazer nada mais. - Choro, enquanto Maria, seca meus cabelos com a toalha, após me ajudar vestir um pijama. Maria: Eu lhe disse que tinha um filho, certo? Agatha: Sim... Maria: Quando ele faleceu, pensei não ter mais motivo para viver. Era como se Deus tivesse tirado um pedaço de mim, até mesmo busquei de várias formas morrer, mas, sabe por que tudo isso aconteceu? Agatha: Para te deixar triste e ferida? Maria: Não...para que eu aprendesse a sentir a dor dos outros, como se ela fosse a minha. A solução não é você morrer, mas, sim encontrar um motivo para viver. Gabriel: Oi, tudo bem por aqui? - Gabriel chega, batendo com os dedos na porta entreaberta. Agatha: Não devia estar no hospital? Maria: Eu liguei para ele, afinal temos um médico na família, para esses casos. Tome, termine de secar o cabelo dela. - Maria sai entregando a toalha para Gabriel, que se aproxima de mim. Agatha: Ela não precisava ter te ligado, me sinto bem agora. Pode deixar, já está seco. - Digo tomando a toalha da mão de Gabriel, que se senta na cama, puxando a cadeira de rodas onde eu estava, para próximo de si. Gabriel: Você teve uma crise de ansiedade, não me parece bem e estou aqui para cuidar de você. Agatha: Por que faz isso? Cuidar de mim? Gabriel: Porque...porque eu, eu sou médico. É isso que fazemos, cuidamos das pessoas. - Gagueja levantando-se. Agatha: Está fazendo um ótimo trabalho. Gabriel: Obrigada. Quero lhe levar a um lugar especial. Agatha: Depois de tudo que aconteceu, não sei se quero mais sair. Gabriel: Nesse lugar, ninguém irá se preocupar se anda de a pé ou tem um carro super maneiro, igual o teu. Agatha: Eu duvido muito. Gabriel: Que tal aceitar e depois, conversamos sobre essa sua dúvida. Agatha: Se eu não aceitar, vai me levar a força mesmo. Gabriel: Nunca faria isso, nada que é feito a força, pode ser aproveitado por completo. - Diz olhando-me profundamente. Agatha: Tudo bem, eu aceito. Senhor gótico. Gabriel: Fechado, moça bonita. - Finaliza apertando minha mão.
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