Capítulo 4

2936 Words
— Você sabe o quanto é h******l isso que está fazendo comigo? — Indago Catarina, enquanto visto algo para sair de casa. — Eu sei e já peço desculpas, mas esse show é muito importante para mim. — Faz bico e quero chorar. Como eu cheguei a este momento? Sendo ameaçada por uma adolescente, que utiliza minha compulsão alimentar como moeda de troca? — Claro que é. — Respondo ironicamente e começo a caminhar para fora da casa, esbarrando com Miguel que segurava algumas cenouras nas mãos. — Me desculpe, não havia lhe visto. — Ele diz, retirando fones do ouvido. Apenas forço um sorriso e volto a caminhar em direção ao Jipe. — Onde vão? — Pergunta e Catarina responde em meu lugar. — Ver o namorado gostosão da Giovana. — Fala e meus dentes se juntam, lhe olhando irritada. — Disse alguma coisa errada? — Ele não é meu namorado, Catarina. — Falo com grosseria e a garota cruza os braços, seguindo para o carro rebolando. — Parece que não sou eu o único a achar estranho a relação sua com esse tal. — Diz e o olho mais uma vez, como se perguntasse o que Miguel tinha a ver com minha vida amorosa. — Eu sei que não tenho nada a ver com isso, mas não quero que se machuque Giovana. Eu a amo e me importo com sua felicidade. — Miguel fala e mais uma vez meus olhos estão ardendo, eu queria tanto voltar ao passado e ter dito sim a tentativa de estarmos juntos, mas o nosso orgulho foi maior e agora nada parece certo. — Miguel eu... — Vamos Giovana!! Não quero perder nem mais um segundo! — A garota grita e solto o ar de meus pulmões. Talvez tenha sido melhor aquela interrupção, porque não tinha certeza do que realmente iria dizer. Eu o amava de todo meu coração, mas ainda não havia aprendido a me amar e isso dificultava tudo. Miguel merecia alguém completo e eu me sentia constantemente em construção e reforma. Apesar de toda dor que eu sentia naquele momento, não pude evitar de ver e admirar o dia que estava ensolarado e refrescante ao mesmo tempo. O vento batia em meu rosto e meus cabelos cacheados agora cumpridos, voavam apesar do coque frouxo que os prendera. Catarina havia colocado uma música deliciosa de alguma cantora pop que ecoava em meus ouvidos e apesar de saber que teria um dia difícil, me permiti sentir alegria e paz naqueles momentos. Desde que fui impulsionada por meus pais a vir para cá, eu tive medo e sofri incontáveis vezes com a ansiedade e o desespero. Algo novo me esperava e eu confesso, nunca gostei de recomeços, viver um ciclo sem fim rotineiro sempre me encantou mais. A empresa de Anthony se encontrava no centro da cidade movimentava, bem diferente da freguesia que morávamos. Havia um alto prédio comercial com janelas espelhadas e sua cor era cinza como costumam ser os prédios comerciais. Nos aproximamos da recepção e Catarina se põe a frente tagarelando. — Ei, queremos ver este homem aqui! — Aponta para o seu celular, onde havia uma foto de Anthony usando terno azul marinho e apontando para alguns gráficos. Ele era bom em modelar, isso não se podia negar. — Desculpe, vocês teriam hora marcada? Também precisam me informar qual o andar onde a empresa dele se encontra. Aqui há muitas sedes. — Viu Catarina? Não sabemos onde fica a sala dele, vamos embora. — Digo lhe puxando pelo moletom. A garota discorda, se soltando e sorrindo ao avistar um quadro preso a uma parede. — Veja, aqui tem todas as salas. — Aponta e morde a unha em seguida, enquanto une as sobrancelhas procurando a tal sala de Anthony. — Aqui está "Castro Publicidades", andar dez! — Bate palminhas e corre até a mulher novamente. — Agora precisam me dizer se tem hora marcada, preciso avisar sobre quem vocês são. — A mulher coloca mais um empecilho na vida de Catarina e uma salvação em minha credibilidade. — Ela é a namorada dele, só dizer isso! Estamos subindo, vem Giovana! — Me puxa pelo braço e nem mesmo tenho tempo de desmentir aquela loucura. Adentramos o elevador e Catarina parece tão feliz, que por um segundo me esqueço de que ela é uma chantagista. — Ah meu Deus, não é lindo aqui? — Sim, é lindo! — Sorrio ao admirar o local. A agência era enorme, havia cores por todas as paredes e a sala de espera tinha sofás acolchoados e puffs, além de uma grande TV que passava shows há todo momento. As portas que separam a sala de espera e os escritores são de vidro, então somos capazes de ver todos trabalham em seus computadores e em novas propagandas. Caminhamos até a recepção, uma jovem de longos cabelos e jardineira jeans nos cumprimenta. — Olá, qual de vocês é a namorada do Anthony? — Indaga e Catarina aponta para mim, onde me faz acordar da admiração. — Que? Olha, não é nada disso. Eu não sou namorada dele. — Falo e a jovem nos olha sem entender. Ela pega o telefone e percebo que vamos ser presas. — Mas, ela já dormiu com ele. Então é classificado como namorada! — Catarina exclama animada e sinto que minha cara vai se desintegrar de tamanha vergonha. — Catarina, fica quieta. — Lhe belisco o braço e a loira faz bico. — Moça, eu nunca dormi com o Anthony, nós nos conhecemos, mas nunca dormi com ele. — Isabel, o que está acontecendo...Giiovana? — Anthony sorri ao me ver. Ele parecia tão feliz, que me deixou constrangida. — Anthony, essas jovens estão dizendo que você dormiu com uma delas. Eu deveria chamar os seguranças? — Isabel fala um tanto preocupada. — Essas não, a minha prima Giovana que dormiu. Quer dizer... só não digo que fui eu, pois sou menor de idade. — Ri, pondo a mão nos lábios e mexendo nos fios de cabelos. Lhe olho irritada e a mesma fecha a cara. Como assim? Flertando na cara dura? — Ah claro, sim, Giiovana e eu dormimos juntos. Mas, pensei que eu havia sido apenas um casinho para você, esperei sua ligação e nada. — Faz bico e reviro os olhos, querendo agredi-lo. — Estou indo almoçar, querem também? — Não! — Digo firme. — Sim, é claro! — Catarina entra na minha frente. — Podemos comer em algum restaurante chique? — Questiona animada e Anthony concorda. — Senhor Anthony, não precisa disso. Podemos voltar outra hora, ou melhor, não voltar. — Digo já irritada com toda aquela situação. Só queria enfiar minha cara no primeiro buraco que encontrasse. — Por que está sendo formal comigo? Vamos comer, estou faminto. — Segura minha mão e a recepcionista arregala os olhos. — Isabel, vou tirar a tarde de folga. Passarei um tempinho com minha "namo". — Fala e Catarina segura o riso, enquanto prendo meu queixo no rosto novamente. Entramos no elevador e enquanto desce, Catarina não para de falar sobre a tal banda que ela amava e Anthony sorri aproveitando a conversa. Minha cabeça está baixa e permanece, até eu perceber que ainda estávamos de mãos dadas. — Ei solta a minha mão! — Exclamo me afastando e ambos me olham. — Por que disse a todos que sou sua namorada? Agora vão ficar pensando m*l de mim! — Digo irritada. — Para com isso, não deveria se importar tanto com o que as pessoas dizem ou pensam. — Ele fala, saindo para fora e caminhando um pouco. — Vamos, tem um restaurante aqui ao lado, não precisamos nem dirigir. — Ahh que demais, os ricos caminham porque gostam! — Catarina se anima, dando pulinhos a frente. — Giiovana... — Ele sussurra em meu ouvido e afasto-me. Tudo em Anthony parecia me irritar tanto, ele era completamente avulso a tudo e a todos. — Me desculpe, quando voltar irei dizer que não é minha namorada se isso a ofende tanto. — Comenta levemente, indo ao encontro de Catarina e de repente me sinto triste. Não era exatamente o que eu queria dizer, eu só...Espere, por que estou me preocupando com o que ele sente?! — É aquele restaurante ali? — Catarina aponta e Anthony concorda, caminhando junto a ela. Ele usava calça social preta e uma camisa azul que lhe deixava atraente, por combinar com seus olhos da mesma cor. Anthony era alto e tinha um corpo definido sem exageros, sua pele morena brilhava com o sol e mais uma vez eu estava perdida em admiração, não sabia o que estava acontecendo comigo, só podia ser a mudança de país, eu estava ficando louca. — E então, o que vamos comer? — Anthony pergunta observando o cardápio. O restaurante típico português tinha suas paredes brancas e ornamentos azul céu, as mesas eram de madeira escura com toalhas alvas sobre elas. Os talheres dourados e pratos coloridos enfeitados com gravuras de flores vermelhas. Onde sentamos nos dava uma boa iluminação, pois o teto era coberto por telhado de vidro e isso trazia a luz natural do sol. Confesso ter me sentido um tanto constrangida, pois não usava roupa adequada para a ocasião, tinha vestido o primeiro jeans surrados que encontrei no guarda roupa e uma camiseta escrito I Love Brasil. — O que nos indica? — Catarina questiona, soltando os cabelos, buscando se ajeitar. Ela usava macacão rosa e camiseta de uma boy Band adolescente qualquer. — Ei, não precisam ficar sem graça. Podem pedir o que quiserem, não gosto muito de escolher o que comer para os outros. — Sorri e Catarina concorda, mordendo às unhas enquanto observa a lista enorme de opções a sua frente. — Não é falta de educação fazer isso, afinal nunca viemos aqui e você sim. Não me importo que escolham por mim. — Digo e Anthony me observa, pondo a mão sobre a boca. — Diga o que está pensando, Anthony. — Não é nada, só acho que deixar que escolham algo por você não lhe torna alguém feliz. Acredite, falo com certificado de experiência. — Fala e suspiro. Anthony estava especialmente avassalador naquele dia, acho que essa era a melhor definição para aquele momento. — Vou querer bacalhau. — Catarina fala e digo em seguida, junto de Anthony. — Macarrão para mim. — Dizemos juntos e ele sorri levemente, retribuo sentindo minhas bochechas se aquecerem de repente. — Então, dois pratos de macarronada por favor. Traz queijo extra. — Pede e Catarina faz bico. — Pode pegar um pouco do meu queijo. — Fala e a garota sorri, dando leves pulinhos na cadeira. — E então, sobre os ingressos. Você consegue nos arrumar alguns? — Catarina questiona e volto a atenção para ela. — Catarina, não faça isso. — Lhe repreendo. — Se puder nos vender dois. É que tenho de ir com ela por ser menor de idade. — Ahhh sim, pensei que gostava do BBC. — Se refere a banda de garotos coreanos e move a cabeça repetidamente. — A Giovana não gosta de nada que é bom, acredite. — Catarina responde e Anthony ri levemente, maneando a cabeça. — E então, consegue nos dar dois? — Posso ver se consigo sim. É nossa empresa que está fazendo o serviço de publicidade sobre o show, não teria problema nenhum. — Diz por fim, enquanto me observa. Tudo aquilo me parecia que haveria um custo, então eu precisava encontrar um meio rápido de pagar em dinheiro. Confesso que apesar de toda tensão que senti antes de chegar à empresa de Anthony, aquele almoço havia me deixado um pouco mais relaxada. A comida estava deliciosa e ver Anthony dar atenção a todos assuntos que Catarina puxava, me deixava feliz. Eu não estava pronta para escuta-la o dia inteiro, então fora bom ter com quem dividir. — Posso pegar um sorvete ali na frente? — Catarina pergunta e Anthony retira a carteira do bolso. — Catarina, acho que já é o suficiente. Você comeu bem no restaurante. — Falo e ela revira os olhos, se preparando para fazer birra. — Eu tenho aqui, não tem problema ela pegar algo para adoçar a boca. Me traz um palito, por favor. Quer um? — Pergunta a mim e discordo. Ele entrega a cédula para Catarina que corre ao carrinho de sorvetes. — Não fique pagando tudo para ela, vou acabar lhe devendo horrores até o último dia que ficar aqui. — Digo e Anthony ri, ainda andando ao meu lado. — Não se preocupe, eu vivo sozinho... não costumo ter com quem gastar meu dinheiro. — Responde e suspiro. — Além disso, não tem que me pagar. — Não gosto de doações, prefiro pagar as pessoas o que devo. Me envie a conta, assim que conseguir um emprego lhe retornarei o dinheiro. — Não seja boba, já disse que não precisa pagar. — Fala e o olho f**o. — Tudo bem, vou lhe enviar a conta. Me passe seu telefone, assim consigo enviar por mensagem. — Estende seu celular e penso por alguns segundos se deveria assim fazer. — É apenas para lhe enviar a conta, acredite, não sou do tipo que manda mensagem a noite perguntando o que está fazendo. — Tudo bem, vou acreditar em você. Durmo cedo, então nem pense em fazer algo assim. — Brinco e ele concorda, sorrindo. Após colocar meu número de telefone em seu celular, ele liga para mim e atendo. — Quem é? — O português mais gato que conhecerá nesse país. — Zomba e reviro os olhos, desligando. — Vê se escreve meu nome corretamente. Preciso ir, até mais. — Acena e retribuo o vendo correr para sua empresa. {...} — Ainda não acredito que vamos ver o BBC, estou tão animada!! Gio, me desculpe por ter te chantagiado. — Catarina diz, quando estamos voltando para casa. Apenas sorrio levemente e continuo a dirigir. — De verdade, eu sei que não é algo que deve ser usado contra alguém, afinal deve ser doloroso não ter controle sobre seus sentimentos. — Fala e sinto minha garganta se fechar. Nunca ninguém havia falado isto para mim, mas parecia ser algo que todos pensavam quando viam meus ataques de pânico e vômitos involuntários. — Gio, que bom! Vocês chegaram. — Miguel corre até nós e o olho sem entender toda animação. — Quero lhe contar algo, por favor, me dê um tempo mais tarde. — Fala e concordo, sendo puxada por Catarina para o interior da casa. Meus avós estão preparando o jantar enquanto dançam uma música animada. Acabo não me alimentando por temer ter mais um de meus episódios, o almoço havia sido suficiente para aquele dia. — Querida, pode levar um prato de alimento para o Miguel? — Vovó pergunta e concordo, pegando de suas mãos uma marmita com arroz e carneiro. Coloco um casaco grosso, pois a noite estava gelada e sigo em direção ao celereiro, onde Miguel tomava uma xícara de algo quente. — Gio, oi! — Acena e me esforço para agir normalmente e parecer desinteressada. — Sente aqui, vou pegar um cobertor. — Aponta para uma cadeira aparentemente confortável encostada na parede da casa de madeira. — Ah não, eu vim apenas lhe trazer o jantar. Você não come junto dos meus avós? Eles te tratam m*l? — Pergunto e Miguel move a cabeça em discordância. — Não, eles são ótimos. É que hoje eu estava um tanto ocupado preparando meu currículo. — Sorri animado e me lembro do quanto ele ficava lindo feliz. Por muito tempo apenas me recordava da dor em seus olhos, então fora um alívio ver o seu sorriso novamente. — Sente aqui, comerei depois. Vou pegar um chá para você. — Corre para dentro e penso que deveria dizer o quando odiava chá, mas não quis parecer chata em um momento tão feliz para Miguel. — Mas, me conte. Qual o motivo de tamanha alegria? — Pergunto, pegando o chá em minhas mãos e o segurando ali, sem toca-lo com os lábios. Pensei "Bom, servirá para aquecer as mãos" — Quando cheguei em Portugal após a viagem pela Europa, não tinha como me sustentar e encontrei seu avô. Ele me ajudou com um paciente. — Meu avô? Como ele fez isso? — Sorrio tentando imaginar meu avô agindo como médico. — Acabei encontrando um senhor passando m*l em uma cafeteria, seu avô me ajudou com os primeiros socorros, o carregando na carroça dele. — Conta e acabo rindo, Miguel faz o mesmo. — Acabou que, este homem era dono de um grande hospital aqui em Portugal. — Ahh não acredito. Vai me dizer que irá trabalhar para ele? — Indago e Miguel concorda sorrindo. — Miguel, isso é incrível!! Parabéns!! — Me ânimo o bastante para lhe abraçar. — Me desculpe. — Falo, afastando rapidamente ao perceber. — Isso é ótimo, meus parabéns. — Obrigada Gio, também estou muito feliz. — Sorri sem graça e retribuo da mesma forma. — Começo amanhã, então nos veremos menos. — Talvez seja bom, para nós dois. — Falo e ele assente, observando o céu. — Espero nunca lhe ver no meu trabalho, promete para mim? — Indaga e concordo, ele sorri novamente. — Este momento aqui com você, falando sobre meu futuro parece um sonho, um sonho que sonhei por anos. — Miguel diz e uma lágrima desce por seus olhos no mesmo momento em que salta do meu. — Miguel, eu... — Sou interrompida por meu celular que apita de forma alarmante ao chegar uma mensagem.
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