Capítulo 3

3004 Words
Como o esperado e nada aguardado, o quarto que fora alugado por Antony tinha apenas uma cama e até mesmo um enorme e redondo espelho sobre ela. — Eu não acredito nisso. — Bufo irritada e Antony ri, pondo a mão sobre a boca ao ver que eu estava irritada. — Não disse que era uma pousada? — Talvez uma pousada para casais? — Indaga sorrindo de lado e reviro os olhos. — Não parece ser muito fã dos clichês, o que aconteceu? Teve um amor não correspondido? — Desculpa, realmente precisamos conversar ou devemos apenas dormir para que esse dia termine o mais rápido possível? — Pergunto e o tal se cala, retirando seus sapatos e começando a abrir o cinto de sua calça social azul marinho. — Ei!! O que está fazendo?? — Grito e ele se assusta. — Vai tirar a roupa? Não percebeu que está no quarto com uma mulher? — Calma Gaja, só irei tirar o cinto para não machucar enquanto durmo. Eu já lhe disse, você não faz meu tipo. — Responde olhando-me e se deitando na cama. — Não deveria ser cavalheiro e me deixar dormir na cama? Poderia ficar com o sofá. — Aponto para um minúsculo sofá com madeiras a mostra. — Não vai acontecer, quer ser mimada peça ao seu namorado ou pai. Tem espaço na cama, durma aqui ou vá se espetar nas madeiras. — Informa, se virando para o lado e me deixando só. Deito sobre o sofá e minhas costas são constantemente apunhaladas pelo tempo de garantia vencido do estofado. Meus olhos se enchem de lágrimas e começo a chorar, aquele havia sido o pior dia da minha vida e eu só estava naquele país há vinte e quatro horas. — Pare de ser tonta, deite-se logo na cama. Não é um primor, mas poderá caminhar amanhã até o posto mais próximo. — Estou bem aqui. — Me movo e furo as costas. — Ai!! — Grito, começando a chorar e Antony se levanta rapidamente, me puxando pelo braço, levando até a cama. ele acende o abajur ao lado da cama e observa minhas costas. — Tire a blusa. — Fala e discordo com a cabeça. — Pelo menos abaixe a gola para que eu possa pôr um curativo. — Caminha até um banheiro pequeno e volta com algodão. a madeira afiada, havia ferido meu ombro esquerdo. Quero chorar, não pela dor mas por me sentir impotente. — Não precisa chorar tanto, foi apenas um pequeno corte. — Tudo bem. — Respondo, limpando meus olhos, mas novas lágrimas se derramam. Ele toca meu ombro e me arrepio, sua mão está gelada. — Me desculpe, minhas mãos nunca se esquentam. — Reponde e sorrio levemente. — Não pensou que sou um vampiro, certo? Você costuma ler muitos livros? — Lia muito quando mais nova. Agora não suporto, culpa da faculdade de filosofia. — Respondo e Antony sopra meu ombro e agora já não me arrepio somente por conta do frio. — Pode se deitar, vou me ajeitar no sofá. — Responde se levantando e seguro sua mão, ele a afasta rapidamente. — Me desculpe... você pode ficar aqui, não será problema. — Respondo e ele concorda, se deitando rapidamente. — Estava apenas fingindo, certo? — É claro que sim, quem seria louco de deitar nesse sofá velho? — Ironiza e sorrio mais uma vez. Nos deitamos e observamos o espelho sobre nossas cabeças. — Quartos com espelhos são tão esquisitos. — Não deveriam ser charmosos e luxuriosos? — Pergunto e Antony ri, olhando para mim e desviando o olhar. — Sim, eu não sei muito sobre esse assunto. — Acho que deveríamos dormir, nossa conversa está se tornando profunda demais para o primeiro dia que nos conhecemos. — Fala e meu rosto queima por tamanha vergonha. Por que eu simplesmente comecei a tagarelar? — Boa noite, Giiovana. — Responde, virando-se. Também faço o mesmo. — Falando sobre clichês, já pensou se quando os personagens dormissem juntos acabassem soltando um pum? — Ahh credo! — Exclamo, rindo. Antony gargalha e viro para olha-lo, ele faz o mesmo. — Acho que com certeza um deles já peidou, mas a autora não quis colocar e tirar o charme de toda história. — Eu deveria soltar um pum? — Pergunta e o olho arregalando os olhos. — Brincadeira, não serei o vilão desse romance. — Romance? Pensei que não fazia o seu tipo. — Digo e Antony passa as mãos sobre os cabelos, me observando com careta. — Por que não faço seu tipo? — Muito magricela. — Responde e reviro os olhos, ele ri e volta a ficar de costas para mim. — Devíamos dormir, Giiovana Lemes. — Tudo bem, Antony Afonso de Castro. — Digo por fim e fecho meus olhos, adormecendo. — Ai, acorda dorminhoca! — Sinto meu corpo se mover de um lado para o outro. Anthony está a minha frente, com os cabelos molhados. — Vamos indo, já chamei um guincho para o carro. — Ah claro, estou indo. — Respondo ainda atordoada, por ter sido acordada de forma tão abrupta. — Aqui está, tinha esquecido seu telefone no carro. — Me entrega meu celular e me desespero ao lembrar que não mandara mensagem aos meus avós. — Meus avós devem estar preocupados comigo, por ter passado a noite fora. — Falo a mim mesma e Anthony ri, como se não acreditasse. — Por que riu? — Não é nada. As pessoas só são um tanto despreocupadas por aqui. Vamos, pegaremos uma carona com o guincho até a cidade. — Aponta para o caminhão e o sigo, pensando em como subiria naquele automóvel literalmente "alto". — Suba Gaja! — Um velho de barba ruiva grita, estendendo a mão para mim, ao ver que estou com dificuldades desde a escada. — Precisa de ajuda? — Anthony estende às mãos para segurar em minha cintura. — Não, eu consigo sozinha. — Resmungo e seguro a mão do desconhecido, conseguindo alcançar o banco. Me ajeito sobre ele e Anthony se põe ao meu lado. — Só consigo deixá-los na porta da cidade, tudo bem senhor Castro? — Indaga e Anthony concorda com a cabeça. — Sinto muito não poder ajudar mais, o senhor seu pai é muito bom com todos nós da cidade... — Não se preocupe, até a cidade já é o bastante. — Responde rapidamente, como se o assunto sobre seu pai não parecesse atrativo. Realmente eu estava vivendo um clichê, carinha rico que não suporta o pai? Beleza, renove isso, por favor vida!! Ao chegarmos a cidade, sinto minha alma finalmente voltar para o corpo, mas não parecia suficiente. Eu queria a minha casa e os meus pais, ser amada e acolhida, estar sendo esperada por pessoas que me amavam e se preocupavam comigo. — Senhorita Lemes, vou pedir um carro para levá-la até sua casa. Trabalho aqui próximo e estou atrasado. — Anthony diz, olhando ao redor em busca de um táxi. — Não precisa, posso ligar para algum parente ou ir andando. — Minto, já que não sabia onde estava. — Então eu espero com a senhorita, até que venham lhe buscar. — Não há necessidade Anthony, eu mesma espero sozinha. Agora é dia e você está atrasado. — Não adianta discutir, não posso deixa-lá sozinha, me sinto responsável. Por favor, ligue para alguém. — Tudo bem então. — Forço um sorriso e disco o primeiro número, era de meu avô. Sem sucesso. Disco o segundo, era de minha prima, também sem sucesso. Ela devia estar na escola. — Parece estar com problemas, devo chamar um carro? — Indaga, batendo um dos pés no chão. Ele parecia ansioso. — Não...eu-eu tenho mais alguém. — Respondo, sabendo que me arrependeria amargamente. Disco pausadamente o seu número e torço para que não atenda, mas às coisas não pareciam favoráveis para mim naquele dia. — Gio, oi! Tudo bem contigo? — Pergunta do outro lado da linha. Sua voz é solicita e meu coração dói, suspiro, trazendo todo ar para dentro de mim e o soltando com as palavras. — Miguel, consegue vir me buscar na cidade? — Questiono de uma só vez e apesar de precisar muito, anseio que ele diga estar ocupado. — É claro que sim, me mande a localização e chego ai rapidamente. Há Um Ano... (Brasil) — Gio! — Diz o meu nome, correndo até mim. suspiro sentando-me em um banco de madeira á frente do salão. — Por que saiu correndo? — Não, não foi nada. Miguel, foram meus pais que lhe contaram sobre a viagem que farei? — Pergunto e ele assente, respirando fundo. — Eles não deveriam ter feito isso. — O que, como assim? Não iria me contar? — Indaga desacreditado. Me levanto e caminho, buscando fugir dali. Eu acabaria contando que era mentira, que estava apenas brava por ter me deixado. — Giovana, fale comigo. Conte o que há em seu coração. — Esse é o problema, eu não sei! — Grito, deixando que lágrimas descessem por meus olhos. Nunca fui boa em discutir, sempre choro em momentos de estresse. — Pensei que daria certo um relacionamento á distância, que seríamos capazes de enfrentar tudo, mas não sei se somos como Rafael e Sophia. — Mas, como saberemos se não tentarmos? E outra, não devemos esperar ser como eles, mas unicamente nós mesmos. — Tenta me ajudar em minhas próprias confusões. Mas, eu já não era como antes e nem mesmo conhecia essa nova Giovana. — Miguel, eu...eu preciso ir. Viajarei para Portugal e ficarei um tempo na casa de meus avós. Por favor, não me peça para ficar. — Repito a mentira que se tornaria verdade. — Por que eu não pediria? Já que a amo e voltei para estar contigo? Parece brincar sempre com meu coração, tornando nossa relação um eterno IOIÔ. — Diz com a voz embargada. Suas palavras me ferem, por saber que ele estava machucado por tantas indecisões. Eu precisava fazer o certo, se o amava. Fora naquilo que pensei. — Sim, você está certo. É por isso, que devo terminar aqui, para que não sofra mais com idas e vindas. Por favor, transformamos isto em algo bom para ambos. Eu amei como me fez sentir, pela primeira vez pude perceber como é amar e ser amada, sou grata por tudo. — Como achar melhor, Giovana. Também lhe agradeço por tudo que me fez sentir, pela forma como me ensinou ser alguém melhor a cada dia. — Ele diz enfim, como se houvesse entendido que eu não estava pronta para receber o seu amor. No dia em que dissemos adeus um ao outro, era uma linda noite estrelada. Todos estavam felizes, era o casamento de minha melhor amiga e do seu melhor amigo. Ele havia me dito que lutaria por nós não importasse onde eu estivesse, ainda não sabia que me mudaria para Portugal, inventei sobre a viagem em um momento de desespero, ansiando por vingança após sua ida para a Espanha sem nenhuma relutância. Nossos olhos se encontraram pela última vez, ele com certeza pensara que eu não estava pronta para receber o seu amor e talvez não estivesse. Mas, a culpa não fora de minha futilidade e sim de uma completa falta de amor a mim mesma. Me perguntei por horas naquela noite se eu deveria ter respondido sim e como tudo estaria agora, se teríamos nos casado ou nos separado para sempre. Eu não pude saber, pois lhe disse Não da mesma forma que ele havia feito comigo. — Gio, oi!! — Ele acena e me pergunto como qualquer roupa o deixava incrivelmente lindo. Até mesmo jeans surrados e camisetas xadrez. — E aquele é? — Anthony sussurra em meu ouvido. Desperto do transe que me tomou ao admira-lo. — Meu namorado...quer dizer, meu ex namorado. — Respondo, ainda o olhando. — Como é rápida, não disse que chegou aqui ontem? — Questiona e o olho rapidamente. — Ah entendi, longa história... — E aí, pulou cedo da cama? — Pergunta, intercalando seus olhos entre mim e Anthony. — De qual cama você diria? — Anthony arqueia as sobrancelhas e semicerro os dentes para o mesmo, que levanta as duas mãos. — Desculpe, mas quem é você? — Miguel pergunta, puxando minha mão e pondo-me ao lado dele. — Ah claro, não me apresentei. Sou o cara com quem ela passou a noite. Muito prazer, Anthony Afonso de Castro. — Estende a mão e Miguel me olha incompreendido. — Não foi bem assim... — Murmuro, sem saber muito bem o que dizer. — Bom, já que está entregue vou indo. Até mais, senhorita Giiovana. Ah, vou deixar contigo meu número. — Fala, puxando minha jaqueta e colocando um cartão em meu bolso. — Até mais, ex namorado. — Acena para Miguel e coloca as mãos no bolso de sua calça social, caminhando com elegância. — Ah meu Deus. — Solto o ar dos pulmões que prendia, durante toda aquela longa conversa de minutos. — Giovana o que está acontecendo? Você passa a noite fora com um estranho e ele te toca dessa forma? — Miguel indaga e o olho sem acreditar no que dizia. — Eu deveria pegar um táxi ou ir andando sem rumo. Não acredito que fui tola para pedir uma carona a você. — Respondo começando a caminhar e sou puxada por ele mais uma vez. Nossos corpos se unem e por um momento eu desejo abraça-lo e me esquecer de toda dor que já senti. — Me desculpe, vamos para casa. — Segura minha mão e caminha comigo até o jipe que nos esperava. Ele abre a porta e adentro, logo o vendo ao meu lado. — Você está bem? Quer comer algo? — Não precisa, estou sem fome. — Minto, escutando minha barriga roncar. Ótimo, nem mentir estou podendo mais. — Vamos tomar café, ainda não comi nada também. — Informa, dirigindo em silêncio até uma cafeteria. Passamos pela porta e nos sentamos em cadeiras de madeira em frente a janela de vidro, respiro fundo e solto meus ombros que se encontravam erguidos. — Buenos días, que quieres? — A garçonete pergunta, segurando uma caderneta. — Dos cafés por favor. trae algunas galletas. — Fala e a mulher concorda, seguindo para a cozinha. — Você está linda. — Ele diz e desperto de meus pensamentos. — Não fale sobre minha aparência. — Respondo e Miguel abaixa sua cabeça. — Gio, quando vai me perdoar? Sinto sua falta, sinto nossa falta. — Revela e o observo, sentindo meus olhos arderem pela vontade de chorar. — Podemos ir? Preciso mais de um banho do que comida. — Me levanto, seguindo para fora e o mesmo me acompanha. — Eu vou te esperar, quando estiver pronta, estarei aqui. — Fala por fim e abre a porta, eu entro e ele dirige até a casa de meus avós. Ao chegar na fazenda, agradeço que estejam na lida e subo para o quarto sentindo todo meu estômago revirar, passo pela porta do banheiro e jogo minhas frustrações descarga a baixo. Havia algum tempo que aquilo não acontecia e um medo de estar regredindo, me invade novamente. Após tomar um longo banho busco informações sobre meus pais, mas não atendem. Eles estavam trabalhando, todos pareciam viver suas vidas menos eu. Deito em minha cama e desperto com os gritos de Catarina. — Eu não acredito!!! Eu preciso ir a esse show!!! — Ela pula em cima cama, com o telefone celular preso ao rosto. — Catarina, o que está acontecendo? — Abro os olhos mais uma vez em desespero. Por que não tenho o direito de acordar calmamente? — A banda de KPop que eu amo estará fazendo um show em uma cidade ao lado. Eu preciso ir, Giiovana! — Ela se aproxima, segurando-me pela gola da blusa. Não consegui entender exatamente o que aquele gesto dizia, mas me pareceu ameaçador. — É só você ir, qual a dificuldade? — Pergunto, afastando suas mãos de mim e me levantando da cama, preparando para sair dali. — Como eu vou? Sou menor de idade, não tenho habilitação. — Faz bico e movo a cabeça em discordância. — Por favor, faça esse favorzinho a sua prima. — Eu não conheço nada deste lugar, Catarina. Acabaria nos perdendo. Além disso, você não parece ter os ingressos para um show assim. — Ah mas isso é fácil! — Sorri animada, se aproximando novamente e quase tropeço nas escadas, tentando fugir de suas garras. — Vamos pedir ao seu amigo! — Bate palminhas e arregalo os olhos, arqueando as sobrancelhas. — Que amigo? Não conheço ninguém aqui, além de você e dos nossos avós. — Respondo, torcendo a cara ao lembrar que também conhecia Miguel. — Esse amigo! — Mostra a cara esnobe de Anthony na tela do celular. — A empresa dele é quem está cuidando dos ingressos! — Ahh nem pensar! Eu nunca iria pedir algo para esse cara, ele é extremamente atrevido e ordinário. — Como assim? Você não passou a noite com ele? — Questiona cruzando os braços e me assusto, ao pensar em como ela descobrira aquilo. — Eu encontrei esse cartão no seu bolso e não veio dormir em casa ontem a noite. — Você é o que? Uma agente do FBI? Por que está me investigando dessa forma? Tudo por um show de uma bandinha qualquer. — O que você disse? Eles não são "uma bandinha qualquer", são o amor da minha vida!! — Grita estendendo a mão para me esbofetear. — Catarina, eu já disse! Não vou ir a lugar algum contigo, nem mesmo pedir nada a ninguém. Me deixe em paz! — Digo por fim, começando a descer as escadas e me afastar daquela maluca. — Tudo bem então, talvez a vovó e o vovô vão querer saber o que você faz no banheiro com às portas fechadas!! — Me ameaça e a olho horrorizada. — E então, como vai ser?
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