Os Senhores das Chamas

2234 Words
5 anos depois -Você é completamente louco, sabia? A voz da garota saiu um pouco arrastada. Talvez fosse pelo cigarro, ou a bebida ou ainda pelas drogas que estavam no banco traseiro do carro. Anastácia queria apenas se divertir e esquecer a chatice da rotina de sua vida. Estudar. Naquele ano ia completar dezoito anos.. O sonho tão almejado de partir para uma cidade grande desabava com a doença da avó. Small Moutain era uma cidade que não tinha nada. Uma pequena escola com poucos alunos. Um posto de saúde com ala hospitalar para emergências que não fossem graves. Se a coisa fosse feia era torcer para chegar em las Vegas bem rápido. Ficava mais ou menos a uns 80km ao norte da cidade de Rachel. O último censo de 2018 informava que 78 habitantes moravam na localidade. Havia um hotel de um único andar, um posto de gasolina e uma loja que abastecia a necessidade do pessoal por ali. O inferno de qualquer adolescente que pensa em algo melhor para se distrair. - Mas que merda, Ane. Você trouxe pouca cerveja.  Pouca bebida. E o maço de cigarros já estava pelo meio. O pagamento da quinzena tinha sido um fiasco depois de descontar uma falta e os copos quebrados. Dezoito anos. Nada de uma droga de cartão de crédito ou de uma carteira de motorista e não importava senão tivesse um carro. semana ruim de gorjetas. Estava cheia de dívidas para pagar e a carteira praticamente vazia. Só mesmo assim para concordar com aquele passeio idiota pela rodovia dos alienígenas. - E você? Comprou mais cigarro? - ela resmungou ajeitando a alça do sutien. Mike era o típico filhinho de papai. Sem preocupação ou contas para pagar. Bastava esperar a mesada do final do mês. O mundo era injusto, mas o avô dele era um dos homens mais ricos da cidade. -Mas eu...- Mike começou a se irritar e parou inquieto.- Ouviu  isso? Uma rodovia deserta. Tarde da noite. Não havia mais ninguém por ali. Ou havia? Podia jurar ter reparado num movimento entre os arbustos escassos do terreno ressecado. No carro o som de uma play list fantástica de Justin Bieber quebrava o silêncio da noite. -Que barulho? - Ane resmungou com irritação.- Maldição. Você bebeu demais. Mas que desculpa esfarrapada. Grande  noite de sábado. Esperava diversão e uma noite de grandes orgasmos. Do jeito que Mike bebia teria que se contentar em se divertir sozinha. Ele estava bêbado. Não era uma coisa inacreditável? -Bebi demais? E aquilo lá?  A luz brilhante do lado também é alucinação? Ane o encarou séria por algum momento e depois desviou o olhar para o lugar que o namorado apontava. Uma luz branca no meio de nada e começava a ficar mais forte. -Se for mais uma das brincadeiras de mau gosto de seus amigos, Mike... Eu juro, juro que... A frase ficou esquecida no ar. E dessa vez não foi bem impressão. O som metálico de alguma coisa arranhando a lataria do carro velho. Mike podia ter um carro novo do ano se fosse melhor aluno na escola, mas seu passatempo preferido era outro. Seu pai estava furioso com as notas do segundo semestre. Chamar a atenção de Mike significava falar sobre capacetes,Face mask, protetor bucal ou ainda um Shoulder Pad. O pai dele tinha ficado furioso quando deu por falta de alguns dólares na carteira e não foi preciso muito para saber o que tinha acontecido quando o filho apareceu em casa com uma chuteira que custava uma pequena fortuna. Pelo menos para Ane que ia demorar quatro ou cinco meses para conseguir juntar tanto dinheiro. Alguma coisa fez barulho logo atrás do carro. Outra vez. E Mike xingando palavrões colocou a cabeça para fora do carro irritado. Dessa vez Ane também ouvia. -Por favor... Vamos sair daqui... Agora mesmo, Mike.  E Ane gritou alucinada. Um tipo de mão agarrou o corpo atlético de Mike com garras afiadas. Uma mão que lembrava vagamente uma forma humanoide. O corpanzil do garoto foi puxado com uma rapidez assustadora para fora. Ficou petrificada.  Os subterrâneos depois da fuga inexplicável de um alienígena tinham sido desativados enquanto negociações ocorriam muito longe dali. O Senado da Confederação dos Planetas Unidos temia mais incidentes que pudessem trazer uma desastrosa revolta entre as cobaias humanas se descobrissem a verdade. Para quem passava por ali, via apenas o normal. E a famosa invasão...Dia 20 de setembro de 2019.Data marcada para a infame invasão da área 51, o grande assunto da internet. Imaginem a emoção de  invadir a base militar e resgatar alguns aliens... Mas  alguém conhece mesmo os detalhes sobre a Área 51? Ser preso por seis meses ou levar uma multa de mais de mil dólares, ou até as duas coisas ao mesmo tempo não parece muito divertido. Mesmo assim os rumores correram pela cidade de Small Moutain. Em Rachel muito se falou de alienígenas. O fato foi que o rádio do lugar informou que havia acontecido um acidente com um dos funcionários que tinham escapado.Informaram um acidente com gás e isolaram o lugar. Verdade ou  não, o homem foi encontrado perambulando sozinho e perdido pela rodovia. As roupas rasgadas e sujas de sangue. Não sabia o próprio nome. Nem mesmo quem era. Os olhos escuros mostravam terror genuíno. Falaram também de transtorno de estresse pós-traumático. Tipo uma  paranóia constante e a incapacidade de funcionar no ambiente familiar, social e profissional. Ele mostrava aversão ao contato com as pessoas na semana que ficou em Small Moutain até saberem de onde vinha. Não interagia com nenhuma pessoa. A história preferida da garotada que se reunia durante a noite no único bar que era uma lanchonete. E com muita porções de batata-frita que nunca faltam no local. -Pois eu digo que há mais do que falam. Conhece o ditado. Onde há fumaça, há sempre fogo.- falava Mary enquanto carregava a bandeja e as cervejas para uma mesa cheia. Cidade pequena. Em cidade pequena, tudo realmente é pequeno. O sonho da maioria dos adolescentes é terminar o ensino médio e mudar para uma cidade maior. É quase impossível alguém não se conhecer, porque sempre tem um amigo em comum. E você nunca está imune às fofocas. E por que não fazem logo de uma vez o reality show? Lugares assim sempre tem muitos jovens e muitos velhos. Quem é jovem acha que os mais velhos só querem proibir tudo, e o pessoal com mais idade acha essa galera da balada apronta demais. O grupinho intermediário está ainda no eterno dilema.A galera que não sabe bem o quer da vida. O mal do pessoal entre 30 e 40 anos. Não sabe o que faz da vida. Acha que vai ter o tempo  à disposição para decidir.  Vou casar?Comprar um carro? Ou uma casa? E o pior de tudo. Experimente colocar uma tatuagem, ou um piercing ou ainda um cabelo colorido. Você se torna o novo rebelde problemático da localidade. Não se sabe nome das ruas. É muito mais fácil falar que mora perto de tal lugar. perto da escola, por exemplo. - Caramba. Viram aquele homem que levaram? Como ninguém procurou por ele? O cara não tinha família? Uma semana depois um furgão escuro com médicos levou o paciente para exames detalhados num hospital com mais recursos. O papo todo do desaparecimento da garota que tinham dito ter sido abduzida já não tinha muita graça.  - Pois eu digo que o tal sujeito trabalhava lá para aquelas bandas. Aconteceu mais ou menos na mesma época do desaparecimento da filha adotiva de Ana. Pobre garota. mas que sina triste ter aquela gente como família. -Susan cuidou do tal homem lá no posto de saúde. O coitado falava coisas estranhas. Falava de garras, tentáculos e nem sei mais o quê.  Dizia ainda que o tempo estava chegando ao fim. Comentários baixos correram o pequeno salão. Alguns assentiram, fazendo observações inúteis. -Sempre achei essa história toda meio esquisita. A coisa toda, se querem saber. Viram como tudo desapareceu de repente? A tal invasão da base... Não aconteceu nem mesmo o desastre que as autoridades esperavam... Novamente teve mais gente concordando. -Tinha mais de com mais de 2 milhões de “confirmados”. E a página simplesmente sumiu das redes sociais.  O evento foi um desastre total. Nem chegaram a colocar planos emergenciais para os visitantes na prática. Uma risada sobressaiu alto. -E o Storm Area 51 Basecamp, em Hiko? Foi cancelado no segundo dia.Imaginem? 5 mil ingressos?- um disse. -Uma “fauna” de adolescentes fantasiados de personagens de anime,  curiosas, garotos solitários com máscaras de alienígenas e cinquentões hippies. Um fiasco de festival Burning man doido.- outro completou. -A verdade é que estão escondendo muitas coisas aqui dos cidadãos americanos. Acham que nós não aguentamos saber a verdade, mas a verdade é que aqui tem extraterrestre.”- uma homem mais velho completou de forma filosófica. - Pois eu digo que nem eram guardas de verdade. Eram uma versão alienígena criada na Área 51 para espantar os visitantes.- o rapaz do caixa emendou animado o papo. Todo mundo ali tinha um palpite para dar. Ainda mais depois que outro ataque suspeito acontecia. O xerife para variar não tinha muitas explicações. Não havia lobos ou predadores que justificassem ataques como aqueles. Tinham encontrado um corpo abandonado nos limites da rodovia. Sem documentos ou qualquer outra identificação. A repercussão em uma cidade tão pequena tinha sido como colocar fogo empalha seca. E todos de repente pararam o falatório olhando para quem entrava no bar. Era uma moça jovem. Os cabelos despenteados escapando do rabo de cavalo. A blusa estava rasgada na altura da cintura ena perna exposta pela minissaia um grande corte sangrava. Demorou alguns instantes para reconhecerem Anastácia e associar à imagem desnorteada e maltrapilha que entrava. -Misericórdia, garota, mas o que foi que aconteceu?- alguém gritou pouco antes das luzes se apagarem e a confusão toda começar. - Kory encarava seus amigos com resignação.Não era bem o que poderíamos chamar de humano apesar de viver por aqui a tanto tempo. Ele pensava em voltar para casa após uma perseguição atrás de  criaturas perigosas. Seus pensamentos se perdiam em reflexões. Pensava no continente que existiu nos tempos antigos e afundou sob o oceano como resultado de uma mudança geológica cataclísmica. Até 200 mil anos houve uma variedade nativa de humanoides na superfície do Planeta Azul. A primeira civilização do planeta Terra. -Esperava mesmo que deixasse aquela coisa matar a garota? Não ia mesmo assistir o espetáculo dele drenando a energia vital dela enquanto seu corpo se mumificava. Temos tecnologia muito mais avançada do que essa gente por aqui, Volrack. -Nossa civilização foi o berço da Raça onde nasceu e começou a desenvolver-se a inteligência humana. -Claro. Os Andróginos Divinos de uma deslumbrante tonalidade vermelha dourada, indescritivelmente brilhantes e esplêndidos...A magnificência do seu aspecto posta em destaque pelo olho singular no centro da fronte. -Evoluimos, meu caro amigo. Não temos mais pele avermelhada de matizes variados; a fronte inclinada para trás, e um cérebro de pequenas proporções ou o nariz achatado com mandíbulas volumosas e salientes. -Temos cidades ciclópicas e templos gigantescos em nossa morada. Vê com que olhos esses humanos? Usa a visão física? Ou nossos olhos psíquicos? Essa humana foi contaminada. Seja piedoso e deixe que morra. -Shalmali sempre abrigou a todos nós. Ainda somos metade homem e metade animal. Luz da Mónada! Estamos falando de uma criatura viva. -Como espera explicar uma estranha aos Kshatriyas? É por isso que não somos mais de natureza andrógina! -Foi um sacrifício que aceitamos em prol da evolução. Você não é um Mago negro que se deixa levar por coisas apenas materiais. Somos Instrutores da Humanidade. Ajudamos antes na descoberta do fogo e do uso da linguagem para eles. -Somos Senhores de Vênus. Somos descendentes de Assuras. Somos progenitores da Raça Atlante. Sobrevivemos ao final trágico da Lemúria consumida pelo fogo, lavas incandescentes e sacudida por espantosas explosões dos gases em contacto com o fogo e a água. Ondas gigantescas afogaram as ilhas, uma após outra, até o doloroso final da extinção de nosso continente para sempre. Mas ainda assim sobrevivemos. -Conheço bem a Batalha de Kurukshetra, meu irmão, e também o fim de Lemúria.Resisti aos prazeres e não sucumbi na embriaguez da matéria. Jamais esqueci de nossa origem Divina. -Pois então imploro que não a leve conosco. Não traga  humanos para Shamballah. Kory desviou o rosto tenso, forçando-se a não notar os traços delicados da garota que trazia nos braços. E seus olhos psíquicos viam muito mais.Lembrava que no início os Senhores das Chamas modelavam corpos para si. Muitos de seu povo tinham encarnado naquele planeta assim. Mas aquela humana era... -Não deixarei que a humana traga problemas para Shamballah. Assim como não deixarei que demônios da noite assombrem outra vez a humanidade. Já chega uma dessas criaturas soltas por aí. -Vai trazê-la conosco? Isso tem um nome de onde viemos. Misericórdia, irmão. Chamam de abdução. Eles ainda acreditam que estão sozinhos no Universo. Chamam a nós de alienígenas. se soubessem que existe um universo lá fora nas estrelas com tantos povos diferentes... Kory sorriu com indulgência. -Pois sou então um alienígena e estou no momento abduzindo essa humana. Preparem nossa nave. O laboratório perdeu toda a segurança. Passamos para o protocolo de emergência. Se eles chegarem até aqui será o fim. Não podem encontrar o que procuram.
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