Eu não aceito perder.

1684 Words
Quando o primeiro momento do susto passou, Maria Eugênia reagiu como sempre. Primeiro, ficou furiosa por Rodrigo estar à espreita, segundo, odiava ser interrogada, encostada na parede, como o seu irmão estava fazendo. Como se já não bastasse Rafael para incomodá-la… - Diga, María Eugênia… Por que estava queimando aquele livro? Que livro era aquele?- - Não é da sua conta.- Rosnou a mulher, aproximando-se ameaçadoramente do outro.- Não tenho que te dar satisfações por querer me desfazer das minhas coisas. E quer saber? Por que não vai cuidar da sua vida? Por esses dias, a sua namoradinha estará chegando em Girassóis. Acho que não poderá ficar indo com tanta frequência para as festas na casa do filho do prefeito. Acho que a Paloma não vai gostar muito de saber como você costuma confraternizar com várias mulheres, quase peladas.- Continuou a mulher, antes de dar de ombros, e voltar para o primeiro andar da casa. Ao menos estava satisfeita por ter se livrado daquele maldito livro. Agora, Noah e Dalila teriam que procurar outras atividades para fazerem juntos, já que, antes de se deitar, ela pretendia queimar a televisão do quarto de sua irmã. A julgar pelas limitações de Dalila, Noah não teria muito o que fazer ao lado dela. - Você é um gênio, Maria Eugênia.- Disse a garota para si mesma, antes de ir para os seus aposentos. Na manhã seguinte, Eugênia acordou com o canto dos passarinhos. Aquilo costumava ser bastante apreciado nos filmes, mas na vida real… Maria Eugênia desejaria caçar cada um deles. Odiava aquelas aves irritantes, principalmente quando era arrancada de seu sono por causa delas. O café da manhã era servido logo cedo. Apenas os mais velhos faziam a primeira refeição do dia naquele horário, já que os mais jovens, que preferiam desfrutar da vida noturna do campo, ainda estavam dormindo. Devido ao seu estado de ansiedade, Maria Eugênia não conseguiria ficar com os olhos fechados por muito tempo. Saiu do quarto na ponta dos pés, ficando à espreita ao ouvir os passos pelo corredor. Devido a hora dos remédios de Dalila, o seu desjejum era servido logo cedo. Não ficou muito feliz ao constatar que Noah também estava acordando mais cedo, apenas para acompanhar Dalila em suas refeições. - Eu nem sei como te agradecer por estar me fazendo companhia.- Disse Dalila para o rapaz, enquanto devorava alguns bagos de uvas frescas. - Não precisa agradecer, é um prazer.- Noah abriu um sorriso largo, antes de levar a boca o seu copo de suco de laranja. - Eu sei que preferia estar cavalgando ou nadando de rio… Sei que gosta de ler, mas fazer isso o dia inteiro, quando se está na casa de campo…- - Não me importa o que esteja fazendo, Dalila.- O rapaz a interrompeu, com franqueza.- O que importa é que esteja com você.- Prosseguiu, com sinceridade. Dalila arregalou os olhos, ficando surpresa com aquela confissão. - C-como é?- - Já se passaram algumas semanas desde que chegamos… Confesso que não sabia como falar, mas vejo que não adianta ficar de muita introdução.- Naquele momento, Noah olhou diretamente nos olhos da moça. Da porta, ainda os espiando, Eugênia gelou. Quando ele abriu a boca, prestes a sibilar as palavras necessárias para a ruína de Eugênia, a mesma entrou em cena. - Ah, vejo que já está acordada.- Eugênia irrompeu o ambiente, ficando satisfeita ao ver a frustração estampada no rosto de sua irmã.- O Hugo já me mandou uma mensagem, em alguns minutos ele estará vindo para te avaliar.- - O Hugo já me avaliou ontem. Não vejo a necessidade de fazer isso hoje, novamente.- Resmungou Dalila. - Foi o que eu disse ontem.- Opinou Noah. - Bom… Acho que teremos tempo de continuar o nosso café da manhã, e depois, de continuarmos com nosso livro. Faltam poucas páginas para acabarmos.- - Tenho certeza que hoje o terminaremos, e amanhã já poderemos começar outro.- Disse o rapaz. - Olha só… Vejo que esses dias de cama vão te fazer muito bem, Dalila. Ficará mais culta.- Falou Eugênia, não perdendo a oportunidade de soar provocativa. Noah ficou de pé para buscar o livro que estava do outro lado, mas ficou intrigado ao não vê-lo ali. - Acho que a moça da limpeza o guardou em outro lugar.- Disse Noah, voltando-se para Dalila.- O livro não está aqui.- - Não é possível. Estava aí quando dormi, e olha que não dormi tão cedo. A limpeza de hoje ainda não foi feita.- Dalila interrompeu as próprias palavras, mordendo os lábios, apreensiva, quando uma ideia lhe ocorreu a mente. Ela olhou para Eugênia, de imediato, que continuava a encarando com o seu melhor olhar perverso.- Não tem problema. Lembro exatamente o capítulo e a página que paramos, tem um manuscrito disponível na internet, eu até tenho o arquivo.- Continuou a moça, falando com Noah, mas sem tirar os olhos da irmã. - Ah, então ótimo. Depois podemos procurar o seu livro por aí.- O rapaz voltou para o lugar, percebendo um clima de competição entre as irmãs, mas decidindo não se posicionar. - Vamos continuar com o nosso café da manhã. Infelizmente não posso mover as pernas com frequência por alguns dias, mas podemos nos divertir de outras formas.- - Eu me comprometo a te acompanhar no que puder.- Disse Noah, novamente, olhando para Dalila daquela forma, que a tirava completamente de órbita. Naquele momento, Eugênia precisou engolir, com dificuldade, a sua raiva. Não contava com a maldita internet para atrapalhar os seus planos. Suspeitava que, mesmo com a televisão estando queimada, e os aplicativos de filme, hackeados, Dalila, com sua perspicácia, daria um jeito de prender a atenção de Noah para si. Por alguma razão, ele parecia enfeitiçado por ela. - Quer se juntar a nós para o café da manhã, Eugênia?- Perguntou Dalila, também usando um tom de voz provocativo para se dirigir a irmã. - Agradeço o convite, mas já mandei que servissem o meu café da manhã no quarto.- Eugênia permaneceu parada, apenas para impor sua presença. Torcia para que Hugo chegasse logo. Tinham trocado mensagens a pouco, e ele estava a caminho. A casa era bem próxima, não tardaria muito para que estivesse lá. - Vai ficar aí parada?- Perguntou Dalila, já incomodada com aquilo. Eugênia já não tinha mais truques para usar. Por sorte, Hugo chegou justo a tempo de conseguir evitar que sua cúmplice tivesse que sair, para deixar aqueles dois a sós. - Como vai a minha paciente favorita?- Perguntou Hugo, assim que adentrou o quarto. - Terminando o meu café da manhã. Servido?- Ofereceu Dalila, por educação. - Vou aceitar. Afinal, acordei muito cedo.- Hugo puxou uma das cadeiras que tinha na mesa próxima a cama. Já que Noah já estava sentado no colchão, de frente para Dalila, o outro precisava se contentar com aquela distância. - Não entendo o porquê de precisar de uma consulta hoje, já que já analisou o tornozelo da Dalila ontem.- Disse Noah para Hugo, não conseguindo conter aquela curiosidade. Hugo precisou respirar fundo, antes de explicar. - Esses primeiros dias são importantes no quadro de evolução. É apenas para ver se esse tratamento está surtindo efeito, já que o mais apropriado seria a Dalila ser atendida no hospital… Mas a estrutura do hospital de Girassóis, não é uma das melhores.- Noah não fez nenhum comentário. Continuou quieto, embora não estivesse convencido. Depois do café, Hugo avaliou o tornozelo de Dalila, constatando que não mudou muito a situação de um dia para o outro. Ele indicou que a moça deveria levar um pouco de sol, nem que precisasse do auxílio de uma cadeira de rodas. Como não tinha mais desculpas para inventar, Hugo precisou sair do quarto, assim como Eugênia, que, com palavras brandas, foi educadamente expulsa por sua irmã. - Vamos retomar nossa leitura.- Disse Dalila para Noah, esticando um dos braços para segurar o tablet que estava sobre a mesa de cabeceira, e com a mão livre, bateu no espaço vazio do colchão, ao seu lado, para que o rapaz se acomodasse ali. Sem demora, Noah ficou ao lado dela. Assim que colocou na página certa, Dalila começou a ler o conteúdo. Do lado de fora, Eugênia ainda os observava, quase sendo consumida por seu ódio. - Vamos, Eugênia. As vezes é necessário reconhecer a derrota.- Murmurou Hugo, parado logo atrás da moça. - Eu queimei o livro. É um livro antigo e inédito, eu tinha certeza que não teriam mais volumes por aí.- - Com a internet fica bastante difícil ter essa garantia. Mas não se preocupe, foi apenas a primeira luta, vamos continuar interferindo.- - Aquela desgraçada sempre consegue virar tudo ao favor dela.- Rosnou, trincando os dentes com força. - O que é isso, Maria Eugênia? “ Desgraçada”? Tudo bem que são rivais no amor, mas ela é sua irmã.- Eugênia voltou-se para o seu cúmplice, com cara de poucos amigos. - Já disse que não gosto de ser censurada quanto as minhas atitudes, menos ainda quanto as minhas palavras.- - Shhh, não vamos discutir aqui, estamos de frente para a porta do quarto da Dalila.- Hugo segurou em um dos punhos da moça, puxando-a para o outro lado do corredor. - Não gosto que me peguem dessa forma.- Eugênia puxou o braço para baixo, com rispidez. - Ei… Calma. Estamos do mesmo lado, temos os mesmos interesses, lembra? Não é conveniente para nenhum de nós dois que Dalila e Noah possam se relacionar.- - Eu sei… Eu sei, você tem razão. Eu tenho que pensar com frieza.- Eugênia fechou os olhos para respirar fundo, em seguida, tornou a encarar o seu aliado.- Vamos dar a volta por cima, Hugo. As artimanhas de Dalila não vão ajudá-la a conseguir o que quer. Eu não aceito perder, e não vai ser diferente com o Noah.- - Não adianta só ficar atrapalhando. Precisamos fazer algo decisivo. O Noah precisa acreditar que a Dalila está comigo. Mas, para isso, preciso conseguir ficar a sós com ela.- - Não se preocupe, Hugo. Pode deixar que vou pensar em algo.-
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