A proposta perigosa

1422 Words
Peter não a perdeu de vista desde que ela colocou os pés na fábrica, naquela manhã. Passados os esperados quinze dias, quando finalmente Ellie pôde investir na sua nova produção, a diretoria da empresa decidiu comemorar aquele avanço com um evento de “ brunch”.. Um evento de “ brunch” que coincidiu com a chegada de Sasha Thompson. — Eu esperava mais consideração da sua parte, Peter.— Resmungou Sasha, percebendo que a atenção dele estava longe. Pela primeira vez em muitos minutos, Peter prestou atenção nela. — Eu esperava no mínimo um coquetel. Ao invés disso você me oferece um simples “ brunch”. — Já olhou todo o nosso cardápio, “dear”. Se tem uma coisa que esse “ brunch” não tem, é simplicidade. Sasha não rebateu aquilo. Ao invés disso, mudou de assunto. Ela lançou um olhar curioso na direção da Ellie que recepcionava as outras pessoas que estavam ali presentes. — Muito ousada a ideia da sua sócia em criar uma linha para a classe menos favorecida.— Comentou a moça, em tom de elogio. Peter revirou os olhos. Tudo o que não precisava era de mais uma admirada da Ellie. A cada dia que passava a sua antipatia por aquela garota aumentava. — Eu não vou repetir pela milésima vez que eu acho isso uma falta de respeito a nossa tradição. — Não seja retrógrada, Peter. A rede social da Dynasty nunca esteve tão movimentada. Todas essas mulheres simples respondendo as enquetes é super interessadas em ser o rosto que essa nova linha está promovendo… — Sasha, minha querida, por favor… Eu escuto essa mesma ladainha há semanas. Será que poderíamos mudar de assunto? Porque não falamos sobre suas aventuras na Escandinávia? — Eu estava no Egito, querido. Vejo que você não anda acompanhando as minhas redes sociais.— Sasha segura o queixo dele para pousar um beijo no rosto do mesmo.— A propósito, eu preciso fazer um “ vlog”. Depois conversamos. Em seguida, ela se afastou. Peter teria aproveitado uns poucos minutos sozinho, antes de respirar fundo, se Thomas e Edgar não tivessem chegado logo em seguida. — A Ellie fez mesmo um bom trabalho.— Comentou Thomás. Peter revirou os olhos. — Essa é a milésima vez que escuto isso.— Retrucou Peter, com cara de poucos amigos. — E vocês viram como ela está bonita?— Observou Edgar. Peter avaliou rapidamente, apenas por curiosidade. Ellie tinha curvas bonitas e que chamavam bastante atenção, não tinha como negar. Ela usava um vestido azul e sem alças, que ia até pouco acima dos joelhos. O modelo era justo e tinha um caimento leve, marcando principalmente a área da cintura e do quadril. Por algum motivo Peter estava ficando incomodado com a forma em que seus companheiros de trabalho olhavam para ela. Por mais que Ellie fosse apenas a filha insuportável do melhor amigo do seu pai, era bem incômodo presenciar aquele assédio visual. — Eu não acho nada demais. Eu sempre achei a Eleanor bem sem sal, apagada demais. — Ah, deixa de despeito. Você só fala isso porque ela é a única mulher que você não conseguiria levar para a cama com essa sua conversa furada.— Provocou Thomás. — A Eleanor seria a última mulher da face do planeta terra que eu teria o interesse de levar para a cama. Os outros dois riram alto. — Acham que eu não conseguiria levar uma caipira para cama? Os homens da cidade dela entendem mais de vaca do que de mulher.— Rebateu Peter, irritado. — De vaca você entende muito bem.— Edgar deu de ombros após fazer a insinuação. Peter lançou um olhar fulminante para o amigo, antes de se afastar. — Pegou pesado.— Observou Thomas. — Eu acho que o Peter não quer falar sobre o histórico das mulheres que ele fica. — Eu acho que ele se sente balançado pela Ellie.— disse Thomas novamente. — Hum… Talvez. Fernsby não está acostumado a ser contrariado. Essa garota é a única que deixa os cabelos dele em pé.— Edgar observou o outro se afastar. Peter não perdeu a oportunidade de aproveitar que Ellie estava distraída com a própria felicidade para alfinetá-la. Ela tinha terminado de fazer uma live com uma das “ influencers” que falava sobre o seu novo projeto, quando Peter aproveitou a deixa. — Aproveita os seus cinco minutos de fama. Quando tudo se tornar um fiasco, você vai virar motivo de piada.— ele murmurou, os lábios roçando no lóbulo da orelha dela. Ellie deu um pulo para o lado após o susto. De longe, Sasha observava a aproximação dos dois, com cara de poucos amigos. — Ah, Peter. Você não aceita que pela primeira vez na vida você não é o centro das atenções. Desculpa, mas vai precisar lidar com o seu narcisismo.— ela retrucou, com ironia. Ele apenas repuxou o canto da boca, simulando um sorriso torto. — Eu faço uma posta com você, Eleanor Lowell. Eu vou ser bonzinho e te dar um prazo de um ano. Isso, um ano. Trezentos e sessenta e cinco dias para você perceber que não tem o menor jeito para dirigir uma empresa. Ellie se aproximou com o mesmo sorriso provocador. Ela deu dois tapinhas no ombro dele. — Eu aposto o que você quiser como sou capaz de calar essa sua boca arrogante.— Ellie involuntariamente desceu os olhos para a boca dele. Por que precisou chamar a própria atenção para aquela parte do corpo dele? A boca do Peter era mesmo capaz de desviar qualquer olhar atento para ela. Mas por que reparar nisso? Ela nunca achou Peter Fernsby nada atraente. — Te proponho um acordo, Eleanor. Aquele que perder o cargo de CEO sai da empresa. Ellie engoliu em seco. Não que subestimasse as suas próprias habilidades, mas havia a possibilidade de perder. O seu pai havia dedicado toda a vida por aquela fábrica. Estar ali significava ter o seu pai próximo. — É impressão minha, ou você não está tão confiante de que possa ganhar? Ela chegou a abrir a boca, mas a chegada de alguns dos convidados a interrompeu. O fluxo de gente era bem grande. A maioria queria a atenção da Ellie para que ela desse explicações da sua ideia ousada. — Eu espero a sua resposta.— ele murmurou, antes de se afastar. Ellie ficou tensa o restante da noite. Aquele deveria ser o seu momento, mas ao invés de aproveitar aquela nova fase da sua vida, ela precisava tirar “selfies” e aparecer em “ vlog’s”. O problema era que a proposta indecente do Peter martelava a todo instante em sua cabeça. A única forma de tentar ficar em paz com os seus pensamentos, era se isolando na sala de descanso. Por sorte, as pessoas costumavam esquecer que existia aquela salinha isolada no enorme salão de festas. Ali não era exatamente o lugar de tentar ficar só para pensar em algo, mas Ellie precisava respirar. Só a presença do Peter a perturbava muito. Sempre que ele insistia em abrir a boca para dizer algo, só piorava a situação. A chegada inesperada do Peter a fez prender o ar por meio minuto. — Vai ficar me perseguindo durante a festa inteira?— Perguntou a garota, irritada.— Não é a hora e nem o lugar para se tratar desses assuntos. — É impressão minha, ou está com medo? Eu acho que você não confia tanto em si mesma como gosta de mostrar. — Eu estou entendendo o seu jogo, Peter.— ela caminhou alguns passos para a frente, diminuindo a distância que os afastava.— Está usando os seus métodos baratos para me assustar. Peter inclinou o rosto para a frente, no intuito de fazê-la recuar. Ellie se manteve firme, no mesmo lugar. — E você está assustada. Está assustada desde o dia em que colocou os pés para fora de SunFlowers do Sul. — Eu estou. Mas sou eu quem dobro os meus medos, Peter, não o contrário. Ele se aproximou mais um pouco, dessa vez, levando os seus lábios na direção da orelha dela. — Pensa na minha proposta. Se você é tão boa quanto acha, pode sair ganhando. Ela decidiu ignorar o leve arrepio que sentiu quando os lábios mornos tocaram sua pele também quente. Peter se afastou, com aquele mesmo sorriso provocador. Ele estava tentando deixá-la confusa, e o pior é que estava conseguindo.
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