— Inacreditável como hoje não era dia de sair de casa.— Resmungou Ellie.
Ela tinha as mãos paradas no volante e estava furiosa.
A essa hora, Ellie já estaria em casa, aproveitando as últimas horas de sua folga. Mas ao invés disso, estava presa dentro do carro - que atolou na lama- e acompanhada de Peter Fernsby - a pior companhia do mundo-.
— Ao menos eu consegui chegar no meu destino.— Comentou Peter, sem perder a chance de tirá-la do sério.
Ellie mais uma vez lançou aquele olhar fulminante.
Estava chovendo tão forte, que era quase impossível enxergar o movimento da rua - se é que existia movimento com um temporal como aquele-.
— Eu não estou achando a menor graça, Peter. Eu preciso voltar para casa.
Não dando a menor importância para o problema dela - ou ao menos era isso o que parecia-, Fernsby deixou o carro.
Ellie se recusou a ficar ali sozinha e fez o mesmo que ele.
— Eu não estou acreditando nisso… É tão cretino que vai me abandonar presa nesse lamaçal e na chuva?
Ele já andava na direção do casarão, que ficava há poucos metros dali.
— Você tem duas opções, Eleanor.— ele se deteve antes de atravessar o portão que dava para o jardim.— Ou empurra o carro até que ele saia da lama, ou entra na casa e espera até amanhã para que o reboque venha te socorrer.
— Que espécie de homem é você? Vai mesmo me negar ajuda?
— Bom, eu estou te oferecendo a minha casa. Não espere que eu vá sujar meus sapatos de couro italiano, não é?
Ellie revirou os olhos.
Não existia ninguém mais insuportável do que aquele homem.
Ela não se atreveria a tentar empurrar aquele carro sozinha, o mínimo que lhe aconteceria era ficar cheia de lama dos pés a cabeça.
— Última chance.— Peter abriu o portão e a olhou por cima do ombro.
Não tendo outra alternativa, Ellie o seguiu.
Já estava ensopada, mais um pouco e acabaria ficando resfriada.
Após usar a banheira com água morna e as toalhas secas de Peter Fernsby, Ellie ocupou o seu escritório.
Aquele era o ambiente mais quente e aconchegante da casa. Também era ali onde ficavam os uísques caros.
Ela ficou na ponta dos pés para espiar a primeira prateleira, que parecia mais interessante. Foi surpreendida com a chegada repentina de Peter.
Na verdade, ele já a observava em silêncio.
Precisou pigarrear para que a mente parasse de maquinar ideias tão absurdas, e foi esse pigarro que chamou a atenção de Ellie.
Ela estava de costas, o corpo coberto por um roupão minúsculo.
O volume acentuado das nádegas deixava a peça ainda mais curta, o tecido grosso e aveludado tocava a metade das coxas grossas e bem marcadas dela.
Peter ficou bastante incomodado com as reações do próprio corpo.
— Aqui é a parte mais quente da casa. E eu só estava olhando…
Peter não deu a mínima para a explicação dela. Atravessou o ambiente, escolheu uma garrafa qualquer e serviu o próprio copo que já estava vazio sobre a mesa.
— Aceita?— Perguntou educadamente.
Ellie apenas aquiesceu, concordando com a oferta.
Ela caminhou até o sofá que ficava no canto, permitindo o corpo cansado afundar por entre as almofadas confortáveis.
Peter foi logo em seguida, levando os dois copos.
Ela suspirou ao observar pela janela de vidro a chuva cair forte lá fora.
— Uma caminhonete nessas horas teria bem mais serventia do que esse carro caro.— Ellie bufou, contrariada.
— Daqui a pouco você vai querer transitar por Londres, de boi.
— Por que você sempre tem que fazer essas piadinhas com SunFlowers do Sul? Qual é o seu problema com a minha cidade, afinal? Pelo que me lembro, você adorava passar os finais de semana entre as “vacas” e as “galinhas”.— Rebateu a garota, com insinuações no seu tom de voz.
Peter arqueou a sobrancelha, sabia perfeitamente de quem ela estava falando.
Aquela noite seria longa e difícil. Peter sabia exatamente onde aquele discurso iria terminar.
Prontamente se certificou de entornar o seu copo de modo que não sobrasse nenhuma gota no fundo.
— Eu não tenho culpa por Melissa Seyfried ter te trocado por um fazendeiro tão bilionário quanto você. Acho que esse é o problema de vocês que têm tanto dinheiro que não sabem onde enfiar. Acham que no mundo todos precisam se curvar a…
Ellie não conseguiu terminar de falar.
Não conseguiu, simplesmente porque a boca de Peter Fernsby tapou a sua, e aquilo foi assustador.
Ele nem sabia se queria beijá-la de verdade.
O problema é que quando Eleanor Lowell começava a falar, não sabia parar.
Estrategicamente ela estava bem próxima, sentada ao seu lado no sofá, porém com o corpo virado para a frente dele.
Ellie estarreceu o corpo a princípio.
A mão grande de Fernsby segurava a sua nuca com pouca gentileza, enquanto os lábios investiam entre a calmaria e a intensidade.
O gosto forte de uísque na boca dele a fez entender que foi o sangue quente que o ajudou a tomar aquela decisão.
Primeiro Ellie se debateu contra o corpo alto e razoavelmente forte, mas logo ela cedeu. Ao perceber que estava sendo correspondido, Peter introduziu suavemente a língua, girando-a em círculos para tocar toda a pele macia da boca dela.
Com as mãos firmes na cintura dela, Peter a puxou contra o seu corpo. Ellie arquejou quando o seu tórax rígido pressionou as curvas suaves dos s.eios dela. Ele a deitou no sofá e se colocou por cima, cada mão ocupava uma lateral dela e os seus braços apoiavam todo o seu peso, para que ele não desabasse de vez por cima dela.
Ellie afastou as pernas involuntariamente e o encaixou por entre elas.
Peter acariciou primeiramente as coxas grossas que escapavam pelas frestas do roupão, em seguida, subiu para as nádegas volumosas e arredondadas.
Ellie era completamente diferente do tipo de mulher que ele estava acostumado. Peter sempre saiu com as magras e altas, embora isso nunca fosse especificamente uma regra.
Nunca passou por sua cabeça a hipótese de se sentir atraído por ela.
Peter não sabia o que estava acontecendo. O seu corpo parecia entrar em combustão.
Um lampejo de consciência passou pela cabeça de Ellie quando ela se viu por debaixo de Peter Fernsby, e a sua pele febril com os toques dele.
As pernas dela estavam trêmulas, a sua i********e lubrificada ainda que coberta.
— Peter, espere.
Prontamente ele se afastou, parecia atordoado.
— O que está acontecendo?— Perguntou para si mesmo, em voz alta.
— Será que você pode sair de cima de mim, por favor?— ela perguntou, ofegante.
Ele franziu o cenho e rapidamente olhou para baixo. Não lembrava que estava sobre ela.
Saiu de cima da moça, em seguida.
— Que loucura foi essa?— Ellie perguntou mais para si mesma do que para ele.
— Eu não faço ideia.
— Isso nunca mais poderá se repetir.
— E você acha mesmo que eu quero que isso repita?
— Você não cansa de ser desagradável? Escuta aqui, Peter, foi você quem me beijou.
— Para calar essa sua boca que não para nunca.
Os olhos dourados de Ellie escureceram de raiva perante o comentário machista de Peter.
— Claro, para você, essa é a única forma de calar a boca de uma mulher.— ela ficou de pé com um pulo.
— Não haja como se não tivesse me retribuído. Você gostou.
— Essa conversa se encerra aqui. Eu não vou perder meus minutos discutindo com um cretino como você. E ouça muito bem, Peter Fernsby, que essa tenha sido a última vez que você se atreveu a encostar em mim.— ela caminhou até a porta de saída, pisando duro.
— O resto da casa está sem aquecedor.
— Eu prefiro passar frio do que dividir os mesmos metros quadrados com você.— ela girou a maçaneta e bateu a porta.
Peter bufou, incomodado.
O que tinha acabado de acontecer?
O pior é que o seu corpo ainda sofria os reflexos do forte desejo que ele sentiu por Eleanor há poucos minutos.
Peter nunca se imaginou capaz de se sentir atraído por ela.