Um beijo inesperado

2072 Words
Por mais que estivesse ansioso pelo encontro com Sofia na vila, por muitas vezes o Tom precisou se obrigar mentalmente a prestar atenção no seu trabalho. Naquele dia, em especial, ele iria intermediar uma transação importante para Eugênio Santiago, aquele seria o momento de demonstrar a sua capacidade e o seu valor. Pouco a pouco, ele conseguia impressionar o seu chefe com o seu conhecimento e suas habilidades - até conseguiu fechar um negócio muito importante, que rendeu para a Dinástia das jóias bastante dinheiro-. Aquela admiração que Eugênio parecia estar criando pelo outro deixava o Rodrigo bastante enciumado, mas o ponto xis que fez com que o rapaz criasse uma grande antipatia pelo novo advogado, foi quando um dos novos investidores mais importantes da Dinastia apertou a mão dele em um cumprimento respeitoso, seguido de muitos elogios. Eugênio estava concordando com todos. No final do expediente, enquanto se arrumava para sair, flagrou o outro o observando no banheiro masculino. – Algum problema?– Tom se voltou para trás, na direção do outro homem. – Nada. Só estava pensando no muito curioso que é o fato de você ser um homem com tantas experiências pelo mundo e vim parar justo em Aventine. Algo dentro de Tom sorriu. Rodrigo claramente o via como uma ameaça. Ele não admitia que ninguém, além dele, se destacasse. – Resolvi ficar mais próximo da família sem realmente estar tão próximo.– Tom deu de ombros. – Sei... – Bom descanso para você.– Tom estava prestes a sair do banheiro quando Rodrigo se colocou na frente dele. – Imagino que pela produção vá sair com alguma garota. – Isso te diria respeito?– Tom retrucou a constatação com outra pergunta.– Não é com a sua namorada que eu vou sair, não vejo porque seja problema seu. – Todo esse seu mistério me faz ter certeza que você esconde algo. Tome muito cuidado, porque estarei com os olhos bem abertos em você. – Cuidado ao ficar com os olhos bem abertos em mim, a sua noiva pode ter ciúmes. – Seu pulha de uma figa...– Rodrigo fez menção em se alterar, mas Tom continuou na mesma posição, sem demonstrar medo. – Tenha uma boa noite, rapaz.– disse Tom, se afastando. Rodrigo o acompanhou com o olhar. Por dentro, já imaginava todas as atrocidades que poderia fazer com ele. Tom, no entanto, não estava nada preocupado. Tudo no que conseguia pensar era no seu encontro com Sofia. Matt de certo o mataria se ele tardasse demais para entregar a encomenda, mas ele não perderia a oportunidade de se encontrar a sós com ela. Júlia também não perderia essa oportunidade, embora nem ela mesma soubesse o que esperava com aquilo. No fundo, sabia que estava apaixonada por Tom, mas não teria a coragem necessária para desmanchar o noivado com Rodrigo. Outro dia ela martelaria aquele assunto na cabeça, porque tudo no que conseguia pensar era no seu encontro. Por isso, na hora combinado, enquanto Patrícia comunicava a todos de sua repetina e forte dor de cabeça, a moça se preparava para pular a janela de seu quarto. Precisou esperar um tempo para se certificar de que ninguém procuraria por ela e logo em seguida executou o seu plano. Júlia tinha prática o suficiente para sair sem ser vista, por muitos anos usou essa tática. A moça tomou um carro de praça e logo foi até a vila, aonde Matt já estava esperando por ela. Novamente ela experimentou aquela sensação de ter o seu coração quase saindo pela boca a cada passo que dava ao encontro dele.Os olhos não desencontravam, ambos esperavam pelo momento ao menos das mãos se tocarem. Tom segurou a mão da jovem e apenas encostou os lábios em uma das mãos cobertas pelo tecido rendado. – Por um momento achei que não viesse.– Confessou Tom. – Peço desculpas pelos minutos que atrasei. – Não se preocupe. Valeram muito a pena, você está linda. – Você acha? – Desde o primeiro dia que te vi.– O olhar de flerte de Tom a fez estremecer. Júlia apenas deu um sorriso desconcertado, antes de voltar-se para frente e seguir até a sorveteria. Os dois resolveram caminhar pela vila enquanto degustavam os sorvetes. O assunto fluiu tranquilamente, eles conversaram sobre diversos temas, conversas leves e interessantes das quais Júlia nunca teve com Rodrigo. Falaram sobre música, cinema, teatro, livros... Tom era um homem muito culto embora fosse muito simples e aquilo deixou Júlia ainda mais encantada. Deitados no gramado verde do parque da vila, Júlia e Tom olhavam para os desenhos das estrelas, enquanto continuavam com a conversa. – Qual o seu real próposito de vida?– Perguntou Tom, ainda encarando o céu azul escuro. Ele tinha os braços cruzados para trás, apoiando a cabeça. Júlia o lançou um olhar curioso, ninguém nunca tinha feito uma pergunta como aquela. – Eu quero ser mais do que a mãe ou a esposa de alguém. Quero fazer coisas úteis, quero liberdade, quero me sentir capaz. O olhar de Tom encontrou o dela, ele achou a resposta verdadeiramente interessante. – Eu acredito que você vai conseguir. Não parece ser o tipo de mulher que aceita algo facilmente. – Você acha?– Júlia virou-se de lado, seus olhos ainda na direção dos dele. – Bom... O que dizer de uma mça que vai trabalhar disfarçada na fábrica e que pula a janela para um encontro as escondidas. – Eu gosto de você, Thomas. Você pensa diferente da maioria dos homens que conheço, e acredite, isso é um elogio. Instintivamente ele levou uma das mãos para o rosto dela, as pontas de seus dedos acariciando a pele pálida e macia. Júlia arquejou com o contato dos dedos gelados em sua pele morna. Involuntariamente, a jovem fechou os olhos e projetou o queixo para frente, nitidamente ansiando por algo mais. Tom sabia que talvez estivesse adiantando as coisas, mas já estava há dias pensando naquele momento. A sensação de tocar os lábios dela com os seus foi exatamente como ele imaginou: maravilhosa. As bocas se exploraram devagar, ainda se conhecendo, em seguida, as línguas também participaram dos toques suaves e envolventes. Um não tinha pressa para apreciar o gosto do outro, era como contar as estrelas do céu,impossível não se perder. A mão grande do homem agarrou a cintura feminina e delicada, antes de puxá-la para mais próximo. Júlia arquejou com a aproximação, nunca tinha sentido um corpo masculino contra o seu. Ainda ofegante, a moça passou a mão coberta pela luva rendada por entre os cabelos escuros e lisos de Tom, seus dedos se prendendo aos fios curtos. Júlia sentiu formigar uma parte sensível no meio de suas coxas, algo primitivo e agressivo parecia querer explodir de dentro dela. Ela estava ali, sozinha com um estranho, beijando-o como se o conhecesse de uma vida. Estranhamente, era assim como ela se sentia. Se não fosse o sorvete de pistache a escorrer e sujar as pontas dos dedos do Tom, ele não saberia parar. Não era apenas o coração dele que pulsava forte, uma zona proibida encontrava-se em estado p.ior. Júlia tinha as bochechas ainda vermelhas como resultado de seu estupor, e chegou a rir alto de felicidade. Tom passou o indicador pelo doce e sujou o nariz da moça com os requícios que ficaram no seu dedo. Júlia retribuiu o gesto do outro e logo os dois começaram a se sujar naquela breve disputa. Ela nunca tinha se divertido tanto com algo tão simples, ele também não. Os dois se sentiram crianças novamente. ... Na manhã seguinte, Júlia ainda pensava naquele beijo proibido. Ela não deveria ter beijado o homem daquela forma tão desesperadora, ainda mais estando noiva de outro. De qualquer forma, ela ainda conseguia sentir o gosto dos lábios do Tom e o p.i.o.r é que estava desejando por mais. Quando Soraia adentrou o seu quarto poucos minutos antes do café da manhã, flagrou-a tocando os próprios lábios. – O que está acontecendo com você?– A moça franziu o cenho, se aproximando, em seguida, da amiga. Júlia saiu de seu estado de transe, tomando um susto com a entrada brusca da outra. – O que faz aqui tão cedo? – Vim aproveitar o seu café da manhã, já que sua cozinheira é melhor do que a minha, e também vim saber das novidades de ontem. Como foi o encontro? – Thomas e eu nos beijamos. Soraia arregalou tanto os olhos que Júlia teve a sensação de que cairiam no chão. – Como é?– Soraia tinha certeza de que não havia entendido bem. – Não me faça repetir.– Júlia sussurrou, em seguida, inclinou o corpo para frente.– Thomas e eu nos beijamos. Agora, sim, Soraia estava pálida e perplexa. – Agora eu tenho certeza, estou apaixonada por ele. – Você só pode ter ficado maluca das ideias! Não pode se apaixonar justo por um advogado da fábrica, é questão de tempo para o teu pai descobrir essa aventura. – Não se trata de uma aventura, Soraia, eu realmente estou apaixonada. – A sua festa de noivado com o Rodrigo é daqui a quinze dias. Se alguém sequer suspeitar... – Eu tenho quinze dias para pensar. Eu posso simplesmente desistir desse casamento. – Você não seria louca de abrir mão de um partidão por um homem que nem conhece. – Se achas que o Rodrigo é tão bom partido assim, casa com ele.– Provocou Júlia. – Seria um escândalo.– Soraia ignorou a alfinetada da amiga.– Estou com um mau pressentimento. – Quando ele apertou a minha cintura eu senti calores diferentes no corpo.– Novamente o olhar de Júlia parecia perdido, antes da mesma suspirar. Soraia ficou ainda mais boquiaberta. – E que " calores" são esses? Júlia chegou a abrir a boca enquanto pensava na resposta, mas por sorte, Patrícia irrompeu o ambiente: – Você trate de me contar tudo agora mesmo. Quase não dormi a noite de tanta preocupação. – Ela beijou o tipo.– Murmurou Soraia. Patrícia olhou para a sobrinha com os olhos arregalados. – Aconteceu. Estávamos conversando, olhando as estrelas e de repente, quando m.al dei conta, a minha boca estava sobre a dele... De repente, um movimento abrupto da porta se abrindo fez com que as três mulheres recuassem. Era Eugênio, com sua costumeira cara de poucos amigos. – O que está acontecendo aqui? Que conversa é essa que acabei de escutar?– O homem encarou a filha com o seu melhor olhar sombrio. Júlia engoliu em seco, temerosa. Soraia imediatamente se encolheu, assim como Patrícia, que temia pelo possível castigo que a sobrinha sofreria se não tivesse uma boa justificativa. – Eu estava contando para as meninas sobre a nova radionovela, " Amor perigoso". Apenas atualizava o capítulo que perderam. – Como se as mulheres já não fossem tolas o suficiente, ainda inventaram essas baboseiras de radionovelas.– Resmungou Eugênio. Júlia suspirou, aliviada, assim como as outras. – Mas o que traz o senhor aqui tão cedo, meu pai?– Perguntou Júlia. – Vim ver como estava, já que não passou bem a noite.– Justificou o homem. – Já estou melhor. – Ótimo, porque venho te trazendo uma notícia maravilhosa. – Qual?– Os olhos de Júlia brilharam diante da empolgação do pai.– O senhor me deixará trabalhar na fábrica? – Esqueça essa tolice.– De repente, o mau humor costumeiro voltou para o rosto de Eugênio.– Eu já disse para nunca mais mencionar essa sandice. Júlia tornou a ficar cabisbaixa. – Mudamos a data do seu noivado com o Rodrigo.– Eugênio continuou a falar. Júlia sorriu por dentro. Aquilo era justamente o que ela precisava. Se conseguisse adiar o noivado para mais um mês, seria tempo o suficiente para convencer a sua família de que Thomas seria um partido tão bom quanto Rodrigo. Júlia não entendia muito bem a origem dos negócios de sua família, mas sabia que o prefeito era muito útil para as transições de seu pai. – Ah, eu acho até melhor. Assim poderei organizar a festa com mais calma e até escolher um vestido melhor... – A festa de noivado será na semana que vem.– disse Eugênio, antes de sair do quarto. Júlia ficou quase sem ar. O seu pai não havia adiado a sua festa, mas sim, adiantado. Aquilo a obrigava a tomar decisões ainda mais rápido.
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