Capítulo 2

5000 Words
- Agora entendo o seu desespero em se casar, o senhor foi um irresponsável.- Falou Jade, caminhando de um lado para o outro, enquanto Ian permanecia sentado no sofá de sua casa.-  - E agora eu preciso arrumar uma esposa temporária, ou vou destruir os negócios do meu pai.- - Céus, Ian… Eu não sei como te ajudar.- Jade respirou fundo, tentando imaginar alguma solução, mas nada lhe parecia claro.- Não conheço muitas pessoas para tentar arranjar uma esposa temporária para o senhor.- - E se fosse você?- Jade engasgou com a própria saliva. - Como é?-  - Eu prometo que não vou tocar em você, e que em troca, pode ter o que quiser. Faremos um bom acordo.- - Não faremos acordo algum!- Exasperou Jade.- Eu mal conheço o senhor, como pode…- - Não é um casamento de verdade, Jade. Só precisa passar um ano ao meu lado. Você vai poder continuar a sua vida normalmente, eu prometo.- - Isso é tão absurdo.- Jade pressionou as próprias têmporas.  - Deve existir algo que eu possa fazer por você em troca.- Antes mesmo de Jade responder, a campainha de sua casa tocou por mais uma vez. Ela praticamente correu para abrir a porta, se agarrando a aquilo como se fosse sua salvação.  Quando girou a maçaneta, se deparou com o espectro de um homem esquisito. Ele era algo, magro e de cabelos escuros. - Mário Di Fiori está?- Perguntou o senhor. - Não, ele não está. Quem é o senhor?- - Sinto muito, jovem. Mas o meu assunto só pode ser tratado com ele.- - Sou Jade Di Fiori, neta dele.- - Apenas entregue isso ao seu avô.- O homem esticou a mão para Jade, entregando para a moça uma papelada.- Se o seu avô não quitar as hipotecas do bar em dez dias, irá perdê-lo.- A garota estava tão desolada quando fechou a porta, que esqueceu da presença de Ian. O bar era o ganha pão deles, e sem o bar, a família de Jade estaria perdida. - Eu acabei escutando tudo.- Disse Ian, aproximando-se sorrateiramente da moça, que estava encostada na parede.- Te dou uma semana para pensar, Jade. E é bom que não demore, ou vai acabar perdendo o bar, e toda a sua família pagará as consequências.- Ian disse suas últimas palavras, antes de sair da casa dela. … Enquanto dirigia de volta para casa, Ian se sentiu o pior dos homens. Ele podia ajudar o avô de Jade a quitar a dívida, mas era egoísta demais para prestar um favor sem receber nada em troca. Precisava se casar, e para que fosse Jade a sua esposa temporária, ela precisava se ver sem saída. Por mais orgulhosa que fosse aquela mulher, ao contrário dele, não era egoísta a ponto de colocar a família depois das próprias necessidades. Ian chegou em casa praticamente de madrugada, e se sentiu aliviado por não ter que enfrentar Luciana ou Soraia, que disputavam por ele como dois cães raivosos que não queriam largar o osso. Mas em compensação, ele sabia que devia explicações ao seu pai, que não estava nada satisfeito por ele ter largado o jantar para ir á sabe-se Deus aonde.  - Vejo que ser um impulsivo e irresponsável está mesmo intrínseco em você.- Falou o mais velho, que estava sentado na confortável poltrona de sua sala de estar. Ian respirou fundo, jogando a chave do carro sobre a mesa, antes de afundar o corpo no sofá. - O senhor quer que eu arrume uma esposa temporária, e eu já sei quem eu quero como esposa.-  - E quem é a felizarda?- - Felizarda não seria a palavra correta…- Falou Ian, ponderando tudo o que tinha acabado de acontecer.- Bom, de qualquer forma, eu o comunico quem é a pessoa daqui a uma semana, como o combinado.- - É alguém que eu conheço?- Perguntou Leandro. - Talvez, pai, mas não adianta tentar descobrir antes do tempo. Eu não darei sequer uma pista.- - Não entendo o porquê de tanto mistério.- Resmungou Leandro.- Só espero que não me venha com nenhuma de suas façanhas, já me basta aquela ruiva de…- O homem levou a mão para frente de seu corpo, gesticulando movimentos que faziam menção aos generosos se.ios de uma das mulheres que estava com Ian.- - O senhor realmente implicou com ela, meu pai.- Ian esboçou um sorriso malicioso. - O que quer dizer com isso, seu patife?- Leandro fuzilou o filho com os olhos.- Aquela pequena idiota fez uma proposta indecente para os meus investidores.- Ian gargalhou, contorcendo o corpo para frente. - Ah, pai… Os turcos ficaram horrorizados.- - Isso não tem a menor graça, Ian.- Repreendeu-o Leandro.- Se eles desistirem da sociedade…- - Além do mais…- Ian o interrompeu.- Ela não fez proposta alguma, simplesmente se enganou. Achou que todos estavam convidados para a festa.- Ian tornou a gargalhar, parando ao levar uma cotovelada nas costelas.- - Chega disso! Acho bom me apresentar uma boa esposa, ou do contrário, servirei a sua cabeça em uma bandeja para os turcos.- Falou Leandro, ficando de pé e saindo da sala. … Os dias pareciam passar mais rápidos para Jade. Ela sabia que precisava tomar uma decisão em prol de toda a sua família, e não apenas pensar nela, mas casar com um estranho sempre a deixaria apavorada. Ian se mostrou ser gentil e prestativo inúmeras vezes, como também se mostrou ser egoísta, impulsivo e irresponsável. Um ano não parecia ser muito tempo, mas Jade refletiu e chegou à conclusão de que um ano poderia passar tão devagar quanto quarenta anos, se a pessoa vivesse em um inferno.  Chegou o dia da tão esperada prova que Jade pensou em desistir, mas Ian deu sua palavra de que ele não iria interferir no resultado, até mesmo se ela recusasse a sua proposta. Não que a palavra dele fosse confiável, mas não era justo que, depois de se preparar tanto, Jade nem sequer fizesse o teste.  Na saída, enquanto aguardava em expectativa o resultado, a garota esbarrou em alguém quando deu um passo longo para trás. Ela vez ou outra se aproximava do relógio para checar as horas, e dava um passo largo para trás quando constatava de que ainda faltavam vários minutos.  - Me desculpe, eu…- Ela tentou se desculpar, mas a sua voz falhou quando percebeu de quem se tratava.  - Ansiosa?- Perguntou Ian, com o irritante sorriso de canto que sempre levava qualquer um a perder os eixos. - Um pouco.- Ela engoliu em seco. - Não fique. Sei que está bem preparada, com certeza se saiu bem.- Ian fez menção de caminhar para longe, mas Jade agarrou o seu braço, fazendo-o parar. Na exata hora em que a mão de Jade tocou o braço de Ian, Soraia cruzava o corredor com um monte de papelada no braço. Ao ver a intimidade que aparentemente existia entre os dois, a mulher estarreceu com bastante surpresa, se escondendo em uma das pilastras para observar melhor e sem ser vista. - Sei que faltam poucos dias para cumprir o prazo que me deu, mas eu já tenho a resposta para a sua proposta.- Falou Jade, parecendo decidida. Soraia engoliu em seco, temendo a resposta que seria dada. - Então me diga, qual é a sua resposta.-  - Os cobradores diminuíram o prazo, e meu avô está desesperado…- - E eu posso quitar a dívida hoje mesmo, se você aceitar ser minha esposa temporária.- Por mais uma vez, Ian se repreendeu. Estava se aproveitando do desespero de uma mulher para conseguir tirar suas vantagens. - Eu sei.- Ela respirou fundo.- E infelizmente não vejo outra alternativa.- - Obrigado pela parte que me toca, as mulheres sempre reagem assim com os meus pedidos de casamento.- Brincou Ian. - Eu aceito.- Falou Jade. - Você aceita?- Ian parecia incrédulo. De alguma forma ele pensava que a garota recusaria, por mais que torcesse para que não acontecesse. Se Jade rejeitasse o seu pedido, ele não saberia a qual outra alternativa recorrer.  Não queria ter que depender de Soraia ou Luciana para salvar os negócios de seu pai. - Eu aceito ser sua esposa temporária.-  … Depois da confirmação que o deixou atônito, Ian levou a garota para a sua sala com a finalidade de terem mais privacidade para conversarem. Soraia, que a todo o momento os observava, seguiu os dois cautelosamente até o escritório de Ian. A mulher permaneceu encostada na porta, com o ouvido colado á madeira, tendo nítido acesso a toda a conversa. - Aqui poderemos conversar melhor.- Disse Ian, assim que adentraram a sala. - Nunca pensei que o meu casamento seria literalmente como comprar uma casa.- Desabafou Jade. - É… Isso aqui está parecendo um contrato de compra e venda.- Concordou Ian. - Na verdade, um aluguel.- Disse Jade. - Am?- Ian parecia confuso. - É… Um aluguel, já que vai durar um ano. Trata-se de um casamento temporário.- Explicou a garota. - Justo.- Ian deu de ombros.- Então me diga quais as suas condições, que eu digo as minhas.- - A primeira o senhor já sabe, seria quitar as dívidas do meu avô.-  Ian aquiesceu, concordando com a primeira.  - A segunda condição, é que eu quero e vou continuar estudando normalmente, e que se eu passar na prova, quero ocupar o cargo que me foi destinado, mas sem preferências.-  - Eu concordo com a primeira parte, Jade. Mas qual o problema de ocupar um cargo melhor?- - Quero conquistar as coisas por mim mesma, e não por influência do senhor.-  - Justo.- Ele acabou cedendo. Ela o encarou com um severo olhar de desconfiança, e em retribuição, ele ergueu um sorriso sedutor, o que a fez revirar os olhos. - Terceira e última, o senhor não vai encostar um dedo em mim… Nunca.-  - Nunca?- Ian pareceu incomodado com o peso daquelas palavras. - Nunquinha.- Confirmou Jade. - Tudo bem, Jade. Não irei tocá-la se não quiser. Sou contra a esse tipo de atitude, mas…- Ian deu uma longa passada para frente, diminuindo a distância entre ele e Jade.- Não pode me impedir de tentar.- Ao recuar para trás, a garota bateu com as costas na porta, o que causou um forte estrondo ao ouvido de Soraia, que gemeu de dor.- - Ouviu esse barulho?- Perguntou Jade, desconfiada.  E ao mesmo tempo, aquilo serviria como justificativa para escapar das garras de Ian. - Não tente fugir do assunto.- - Pode tentar o quanto quiser, desde que o senhor não me force a nada.- Disse secamente a garota. - Não sou um mau caráter, Jade.- Ian adquiriu uma expressão séria ao falar. - Não chamei o senhor de mau caráter.- A jovem encolheu os ombros. - A minha segunda condição é que pare de me chamar de senhor.- - Mas o s…- Ela mordeu os lábios ao perceber que iria chamá-lo de “ senhor novamente.- Mas você nem disse á primeira.- - É claro que eu disse á primeira.- Ian levou uma de suas mãos a colocar uma das mechas soltas do cabelo de Jade para detrás da orelha.- A minha primeira condição é que me deixe tentar comquistá-la.- - No seu caso não se trata de conquista.- Falou Jade, tentando disfarçar o nervosismo por ele estar tão perto.- Se trata de sedução barata.- - Eu poderia fazê-la mudar de ideia aqui mesmo, sobre aquela mesa ali.- Ele apontou para a fatídica mesa, que foi testemunha de seus vários casos de paixão e aventura.- Mas, respeitarei a sua ingenuidade, e quando for a sua vez prometo que será em um local mais apropriado.- - Você é um convencido, o que te faz pensar que eu vou…- Antes que Jade pudesse completar suas palavras, um barulho estrondoso repercutiu na madeira da porta. A verdade é que simplesmente se tratava de alguém batendo, mas devido a tamanha força, Jade ficou em dúvida se era uma pessoa, ou um trator. Ian se afastou com impaciência, e em seguida levou uma de suas mãos a cintura de Jade, puxando-a para longe da porta. Ele respirou fundo para retomar a calma - já que todos sabiam que ele odiava ser interrompido, principalmente em uma reunião de negócios- , e girou a maçaneta, encontrando Soraia na soleira da porta. Obviamente Soraia, que estava próxima demais, ouviu a conversa dos dois tomando rumos que ela não gostou. Sabia que precisava impedir aquilo, e melhor ainda, precisava evitar que Ian se casasse com uma simples garçonete.  Assim que viu Jade entrar para fazer a prova, Soraia tinha certeza de que a conhecia. Precisava impedir que Ian cometesse um desatino. Faria de tudo para que ele não se casasse com uma golpista, nem que para isso, utilizasse as armas mais baixas e sórdidas que alguém pudesse usar. - Desculpe interrompê-lo, Ian. Mas chegaram papeladas importantes sobre o acordo entre o seu pai e os sócios italianos. É imprescindível que olhe AGORA.- Soraia esticou a mão, entregando para Ian os papéis ao enfatizar a palavra AGORA. Deixando claro que Ian não deveria se distrair com meras situações desnecessárias. O rapaz segurou os papéis com uma cara de poucos amigos, e sem ao menos agradecer, ele bateu com a porta na cara de Soraia. Desconfiava que a mulher estivesse ouvindo, e conhecia Soraia a tempo o bastante para saber de suas estratégias, principalmente quando se tratava de enredá-lo.  - Acha que ela ouviu?- Perguntou Jade. - Não.- Mentiu. - Bom, acho que não temos mais nada para conversar.- Jade fez menção em segurar a maçaneta, mas Ian colocou sua mão sobre a dela, impedindo-a de continuar. - Não tão rápido, Di Fiori.- Ele levou seus lábios a tocarem o lóbulo da orelha dela, quando sussurrou.- Ainda não marcamos a data do casamento.- Ian se divertiu ao ver a moça dar praticamente um pulo para trás.  - Escolha o dia que quiser. Acredito que vamos nos casar apenas no civil.- - Se quiser, podemos…- - Não, eu não quero. Apenas me casarei na igreja quando o meu casamento for por amor, e não uma estratégia sórdida para os seus negócios.- Com a sua deixa, Jade conseguiu girar a maçaneta e sair da sala de Ian. Ian suspirou de alívio, jogando o corpo em sua cadeira estofada. Ele estava muito feliz. Não que o casamento fosse deixá-lo feliz, mas conseguiria resolver os problemas que trouxe para o seu pai, e sem ter dores de cabeça futuras. Estava tudo indo muito bem, até o seu próprio pai invadir a sua sala, com a boca espumando de raiva. - Pode me explicar que história é essa de que vai se casar com uma garçonete?- Perguntou Leandro, quase gritando.- Quer me arruinar de vez? Seu imbecil!- - Boa tarde para o senhor também, pai. Já almoçou?- Perguntou Ian com ironia. - Me poupe de suas gracinhas.- Falou Leandro, fuzilando o filho com os olhos. - Pelo visto as notícias correm rápido aqui no escritório.-  - Fale que isso é apenas um mal entendido.- Leandro parecia mais ordenar, do que pedir. - Não, pai, não é. Vou me casar com a Jade e salvar os seus negócios.- - Quem diabos é Jade?- - Neta do Mário, que é o dono do bar daqui de perto.- - Vai se casar com a neta garçonete do dono do bar.- Leandro parecia incrédulo. - Quando se tornou tão preconceituoso?- - Isso é suicidio social!- Gritou Leandro.- Quando houver o divórcio, vão te achar mais inconsequente ainda, e vão levantar suspeitas de que era um casamento por interesse.- - Mas é um casamento por interesse. Principalmente para mim.- Ian sorriu com malícia, levando, logo depois, um forte tapa na nuca. - Cresça, seu moleque idiota, cresça!- Ian coçou o lugar que levou a pancada, ficando de cara feia. - Admita que o senhor tinha esperanças que eu continuasse casado, caso fosse a Luciana, ou a língua grande da Soraia.- - E tinha mesmo. Você precisa criar estabilidade e amadurecer. Nada melhor para conseguir isso, do que tendo a própria família. Ainda mais com uma mulher centrada e de estirpe, como a Luciana.- - Talvez ainda tenha a minha família com a Jade.- Provocou Ian. - Estou me referindo a uma moça de sua classe, idiota!- - Escreva o que lhe digo, pai. Ou me caso com a Jade, ou o senhor pode servir a minha cabeça em uma bandeja para os turcos, ou até me enviar para o oriente médio e mandarem arrancar o meu…- - Não se atreva a usar esse linguajar comigo!- Gritou Leandro, exaltado. - Faça como preferir!- Ian também ficou exaltado.- Mas se eu não me casar com a Jade, eu não me caso com ninguém.- … Jade saiu atordoada da sala de Ian, e estava prestes a cruzar o corredor que a levaria para os elevadores, e assim, finalmente, ela conseguiria sair daquele mausoléu, quando sentiu alguém agarrar o seu ombro. Devido ao susto, seu coração bateu mais forte, e por um momento achou que Ian a tivesse seguido, até ter o infortúnio de se virar para frente e se deparar com uma mulher loira e magra. Soraia era apenas um pouco mais alta do que Jade, e devido ao salto que usava, ela ganhava pelo menos uns quinze centímetros a mais de altura. - Algum problema?- Perguntou Jade, quando recuperou a respiração. - Eu conheço você, querida. Não se faça de idiota.- - Eu também conheço você. É cliente do bar do meu avô.-  - Bar do seu avô.- Soraia riu com desdém.- Eu só vou naquela espelunca, porque fica ruim andar quase um quilômetro de salto.- Jade, que até então tinha a expressão plácida, enrijeceu as feições, e caminhou de forma intimidante para a frente. - O que você quer?- - Ah… O que eu quero?- Soraia também não se deixou abalar.- Eu quero que você volte para o inferno de onde saiu e que deixe o Ian em paz. Ele não é para uma garçonete de quinta que nem você.- Jade costumava ser tranquila e pacífica, mas tudo ia até certo ponto. Ao ouvir as ofensas da outra mulher, ela sentiu as orelhas esquentarem, e uma raiva descomunal cresceu dentro de si. - Não posso fazer nada se o seu patrão prefere uma garçonete de quinta, do que a você, como esposa. Deveria refletir mais quando estivesse de frente pro espelho, Soraia.- Jade esboçou um sorriso psicótico.- Deve haver algo muito errado com você, para que o Ian te olhe apenas como uma pedra de tropeço.-  - Eu vou fazer você engolir suas palavras, vaga…- As bochechas de Soraia ganharam uma tonalidade corada, e ela apontou o indicador para a outra garota enquanto praguejava. - É mesmo? Então tenta. Acho bom não me enfrentar, porque eu acabo com você.- Jade tentou novamente caminhar, mas Soraia voltou a agarrá-la pelo braço. - Cuidado, menina. É muito fácil pisar e esmagar uma barata.- Falou Soraia. - Então toma cuidado, Soraia, para que eu não te pise.- Jade empurrou a outra mulher para trás, fazendo com que as costas se chocassem contra o extintor de incêndio.  Após a sua deixa, Jade continuou a caminhar para a saída de empresa, e Soraia tentou controlar a respiração - que estava ofegante pelo ódio que sentia-, para tomar uma providência cabível áquele absurdo. Ela odiava Luciana, e o último que queria era perder o Ian para aquela mulher de novo. Mas era preferível perder para alguém de sua classe, do que para uma golpista pobretona. Soraia tirou o celular do bolso de sua calça e procurou o número da ex namorada de Ian em sua agenda, ligando para ela assim que o encontrou.  - É muito urgente. Precisamos conversar.- Disse Soraia, quando ouviu a voz da mulher do outro lado da linha. … - O Ian vai casar com uma garçonete?- Perguntou Luciana, parecendo incrédula. - Ninguém me disse, eu mesma escutei a conversa dos dois.- Soraia levou a xícara de café a pousar nos lábios, deglutindo em seguida o líquido escuro. As duas mulheres estavam em uma cafeteria acerca do edifício empresarial, e claro, tomaram as devidas precauções para que ninguém as visse juntas, já que o ódio recíproco que uma sentia pela outra, era de conhecimento público. - A sua nova especialidade na advocacia é ouvir atrás das portas?- Provocou Luciana. Soraia olhou para a outra mulher de cara feia. - Acha mesmo que estamos na hora de brincar?- - Por que eu acreditaria em você? Justamente você, que foi o pivô do término do meu relacionamento.- Luciana fez menção de segurar a bolsa, que estava apoiada na cadeira, para ir embora. - Espere!- Soraia a deteve, tocando sua mão. Luciana, devido a repulsa que sentia, logo puxou sua mão de debaixo da mão de Soraia, respirando fundo para canalizar o resquício de paciência que ainda poderia ter. - Eu também detesto você. Mas entre perder o Ian para alguém da mesma estirpe, e perder o Ian para uma simples garçonete sem eira e nem beira, me parece menos humilhante perder para você.- Continuou Soraia. - Devo concordar. Claro que não somos totalmente iguais, já que eu jamais me submeteria a ser a outra… A ser a amante, enquanto você… Bem, não preciso nem comentar. Mas de fato somos da mesma classe social, embora a minha fortuna seja maior e…- - Chega, Luciana. Sem perder tempo com o seu falatório.- Luciana olhou de cara feia para Soraia após o comentário da mesma. - Certo. E o que pretende fazer? Arrumar um triângulo amoroso para a relação garçonete-Ian?- Perguntou Luciana. - Embora essa ideia seja boa, um triângulo amoroso já existe. Ou melhor, dois.- Respondeu Soraia, respirando com impaciência ao perceber que Luciana não entendeu o comentário.- Garçonete-Ian-Luciana, e Garçonete-Ian-Soraia.- - E ainda existe o Luciana-Ian-advogada vaga.bun.da.- Falou Luciana. - Entre a garçonete, você e eu, querida. Você fica em último lugar.- Disse Soraia. - Eu não teria tanta certeza.- Luciana deu de ombros.- Afinal, o Ian nunca te levou a sério.- - Não vou perder tempo com essas picuinhas. Quer prestar atenção no plano, ou não?-  - Diga, Einstein, o que pretende?- Provocou Luciana. - No dia do casamento, provaremos que a Jade tem um amante. Imagine só o escândalo? O Ian será obrigado a desistir dela, já que isso o doutor Leandro não irá suportar.-  - Mas não sabemos se a garçonete de fato tem um amante.- Disse Luciana. - Faremos com que ela tenha. Ou que ao menos pensem que ela tem.- Falou Soraia, com um sorriso diabólico,  … A conversa com sua família sobre o contrato de casamento temporário não foi nada fácil. Mário, o avô de Jade, parecia relutante logo de início, mas depois, ao constatar que estavam todos sem saída, ele foi obrigado a concordar. Já Safira, a irmã caçula de Jade, parecia encantada com a ideia de se tornar a cunhada de um empresário multo-milionário, nem que seja por um ano. - O que me deixa aliviado, é que ao menos o seu futuro estará garantido. Será um bom casamento.- Falou o mais velho. - Eu não quero nada daquela família, vovô. Só aceitei o casamento para salvar o nosso bar.-  - Eu sei.- Disse Mário, abraçando a neta. - Se você não quer, eu quero. Além do mais, o senhor Ian Esposito…- Safira levou o indicador ao queixo, como se ponderasse algo.- Acho que devo chamá-lo de Ian, já que agora será meu cunhado.-  Jade revirou os olhos, com impaciência. - Prefiro que continue tratando-o por “ senhor”, já que eu mesma irei me referir a ele desse modo.- Disse Jade. - Bom, seja como for, o senhor seu futuro marido é lindo, e não será sacrifício nenhum ter uma noite de núpcias com ele.- - Você é muito saliente para uma menina de dezesseis anos, Safira.- Repreendeu Jade, virando-se para Mário, que parecia perdido em pensamentos.- Está ouvindo isso, vovô?- - Estou ouvindo o que?- Perguntou o homem, sem entender a discussão que se instaurou entre as netas.  - Não se faça de puritana. Você é apenas dois anos mais velha do que eu.-  - Eu tenho vinte anos, Safira.- Jade ergueu a sobrancelha com um ar autoritário que pertencia apenas as irmãs mais velhas. - Seja como for… O que eu falei, não é nenhuma mentira.- - O que ela falou?- Perguntou Mário, impaciente. Para a sorte de Jade, a campainha tocou antes de que ela tivesse que responder ao seu avô. Seria muito desconfortável ter que falar de assuntos como aquele com um homem, principalmente com um homem da idade de Mário. - Ian?- A garota perguntou surpresa, ao abrir a porta e se deparar com… Ela não sabia de que forma se referir á ele.  Era seu noivo? Ou apenas um conhecido que logo em breve seria seu marido. - Surpresa em me ver?- Ian estava desconfiado que, de fato, era um maldito sádico. Era indescritível a forma em que se divertia com o desconforto da garota. - O que faz aqui?- Ela perguntou sem rodeios. - É o meu cunhado?- Perguntou Safira, colocando a cabeça para o lado de fora, e levando uma forte cotovelada de sua irmã mais velha. - Vejo que já tiveram uma conversa em família.- Brincou Ian, percebendo que as duas irmãs se fuzilavam com os olhos. - Não vai convidar o seu noivo para entrar? Não é educado deixá-lo esperando do lado de fora.- Provocou Safira, com uma voz de satisfação. Ian não tardou em perceber que se daria muito bem com a cunhada. Ela tinha o mesmo humor afiado que ele, e parecia ser mais sua irmã, do que irmã de Jade.  - Gostei dessa menina.- Disse Ian. Aquele ar de cumplicidade entre os dois deixou Jade ainda mais irritada. - Ele não é o meu noivo.- Ela disse á Safira, dando espaço com o corpo para que Ian adentrasse a casa. - Se ele vai casar com você e não é o seu noivo, do que devo chamá-lo?- Perguntou Safira, nitidamente querendo irritá-la ainda mais. - Vovô, eu juro que vou matá-la.- Jade trincou os dentes ao falar. Ian nem sequer tinha percebido que Mário estava na sala de estar, já que parecia longe e muito pensativo. - Boa tarde, senhor.- Cumprimentou Ian, e Mário o olhou, fazendo apenas um sútil movimento de cabeça. - Deve estar nostálgico, ou melancólico, ou… Seja lá que os velhos sentem.- Disse Safira. Ian comprimiu os lábios para não cair na gargalhada. - Não tem a menor graça se referir ao nosso avô dessa maneira.- Jade a repreendeu. - Ele nem ouviu.- Safira deu de ombros. - Não é porque ele não está ouvindo que você pode falar o que bem entender. Tenha respeito.-  - Ela é sempre tão chata assim?- Ian perguntou á Safira. - Sim, e as vezes costuma ser pior. Boa sorte.- Respondeu Safira. Jade respirou fundo para não cometer um sororicídio. E respirou mais fundo ainda para não cometer um matricídio. Na verdade, ainda não era um matricídio, já que os dois ainda não se casaram, então pode-se dizer que Jade apenas respirou fundo para não cometer um assassinato. Ou dois, já que o pescoço de sua irmã irritante estava tentadoramente próximo.  - Não vai me dizer o que veio fazer aqui?- Jade decidiu ignorar os dois, e repetir a pergunta. - Achei que devia alguma satisfação a sua família.- Explicou Ian. - Eu acabei de conversar com a minha filha, e todos entraram no acordo.- Disse Jade. - Então todos vamos nos casar com o senhor Espósito?- Comentou Safira, que não podia perder a piada. - Uma esposa já é um trabalho árduo demais, senhorita Di Fiori.- Brincou Ian. - Safira, vá para o quarto e leve o vovô junto, ele parece muito esgotado.- - Está tentando me enxotar da sala?- Perguntou Safira. - Que bom que percebeu.- Jade esboçou um sorriso provocador. - Você é uma patife, espero que saiba disso.- Falou Safira, fazendo o que a mais velha mandou. - Não acredito que tenha vindo aqui só para falar com a minha família, até mesmo porque, o nosso casamento temporário não é relevante a esse ponto.- - Ah, Jade, assim você me ofende…- - Sem gracinhas, Ian. Diga logo o que quer.- - Está me chamando pelo nome, já é um progresso e tanto.- O rapaz não perdeu a chance de alfinetá-la. Jade ergueu uma das sobrancelhas de forma arrogante, e cruzou os braços em seguida. - Bom…- Ian pigarreou.- Vim para resolvermos todos os trâmites de nosso casamento.- - O que quer dizer com “trâmites”?-  - Estou me referindo a dívida de seu avô, e ao nosso casamento civil.- - Para hoje?- Jade perguntou boquiaberta. - E por que não?- - Espera… Está me dizendo que vamos nos casar hoje?- - É isso mesmo que estou dizendo. O seu vestido já está no carro.- - Como conseguiu arranjar um casamento em apenas um dia? E quem serão nossas testemunhas?- - Você pergunta demais. Ainda não aprendeu que eu dou os meus jeitos?-  - Você extrapola os limites de convencido.- - Vamos?- Ian estendeu o braço para Jade, que aceitou de imediato. … A cerimônia foi menos do que simples. Só existia o juiz, as testemunhas, e claro, os noivos. Após assinarem os devidos papéis, Ian colocou uma belíssima aliança de ouro 18 quilates com pedrinhas cravejadas de diamantes, no dedo da mão direita de Jade.  - Colocou na mão errada. É a esquerda.- Murmurou Jade, com os dentes trincados.- - Como eu imaginei, você fica deliciosamente atraente de vermelho.- Murmurou Ian, tirando disfarçadamente a aliança da mão direita, para colocá-la na esquerda. - Eu não acredito que você não sabia que a aliança de casamento ficava na mão esquerda.- - Me perdoe se eu não sou tão apto a essas coisas.-  - Agora já pode beijar a noiva.- Disse o juiz.   Ian inclinou o seu corpo para frente, tocando o rosto de Jade, e aproximando perigosamente os seus lábios.
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