De Repente VI

2153 Words
( Alice Durant) — Então, vocês moram em Madureira? — O japonês mais musculoso e bonito, que vi na vida, questiona, enquanto dirige. Eu sei que não tenho tido o melhor dedo para escolher alguém e nem pretendo fazer isto com Victor, mas, quero deixar exemplificado sua ficha técnica para eventuais pesquisas, completamente profissionais, sem nenhum interesse pessoal, totalmente imparcial. Olhos: Escuros e levemente puxados, por ser mestiço. Pele: Eu diria branco, mas, parece bronzeado. Deve correr na praia, essas coisas que riquinhos fazem. Cabelo: Preto e escorrido, até o início do pescoço. Mas, estava bagunçado, como se já tivesse sido irritado naquele dia. Altura: Talvez 1.80 ou pouco mais. Não sei, tenho 1.70 e ele ainda é mais alto do que eu. Rosto: Uma mistura de "Sou bonito demais" com "Minha autoestima é péssima, salve-me". Estilo: Acho que formal, não o imagino usando jeans, só se for com Polo e sapatenis. Lábios: Ahhh, os lábios...Vermelhos como uma maçã, como da Bruxa em "Branca de Neve". Ele ri pouco, mas, quando faz é muito alto, sua voz é rouca e traz cócegas aos ouvidos. — Sim, nossa casa fica na primeira rua do bairro. — Meu irmão responde, tentando se ajeitar no espaçoso banco de um onix. — Seu carro é bem legal. — Daniel comenta. — Pensei que teria um porsche. — Digo impulsivamente e os dois riem. — O que foi? Ele é rico! — Meu pai é rico, sou apenas filho dele. Por enquanto é o que consigo parcelar no cartão, mas, um dia arrumo um Porsche. — Diz, olhando para mim no retrovisor e sorrio. — Estamos perto? — Sim, apenas virar a direita e nossa casa é logo a frente. — Dani aponta para a próxima rua. — Aqui mesmo, vou me trocar e volto logo. — Claro, tudo bem. Estou aguardando. — Responde e descemos do carro. — Daniel, temos visitas? Olhaa, um rapaz...quem é essa moça? — A mulher de cabelos desgrenhados e louros, sai para fora nos observando. — Muito prazer, sou Victor Aikyo. — Victor estende a mão e ela ri, tossindo, soltando todo bafo de cachaça sobre o rosto do garoto. — Estela, o que a senhora está fazendo aqui fora? — Sussurro entre os dentes e a mesma me olha, parecendo reconhecer. — Aliceee!! — Grita correndo até mim e me afasto rapidamente. — Alice, por que me causa tanta dor, afastando-se de mim? — Estela, por favor. Não crie caso, vá para dentro. — Digo, sentindo meu rosto se queimar. — Desculpe Victor. — Abaixo minha cabeça e o mesmo sorri despreocupado. — Está tudo bem, deixe-me ajudar a senhora. — Estende a mão para minha mãe, que caminha com o mesmo até a parte interna da casa. Agradeço em silêncio por Daniel e eu termos arrumado tudo, no dia anterior. — Gostaria de um copo com água? — Ele questiona e Estela discorda. — Não precisa, querido. Irei me deitar novamente, estou com uma dor de cabeça h******l. — Beija a bochecha de Victor e volta para o seu quarto, no fim do corredor. — Estou tão envergonhada, peço mil desculpas. — Falo, apontando para que se sente no sofá. — Não tem porque ficar envergonhada, nem nos conhecemos. Na verdade, não ligo para a sua vida. — Ironiza e dou risada, sentindo-me um pouco mais confortável. — Faz muito tempo, que ela bebe? — Nem mesmo me lembro, quando não bebeu. Parece que minhas primeiras memórias, são Estela com uma garrafa de cachaça nas mãos. — Se me importasse, sentiria muito pela sua situação. — Zomba mais uma vez e agradeço. — Então, seu apelido é jujuba? — Sim, não sei exatamente a história deste apelido, acredito que deve ser porque amo jujubas. — Ou talvez, seja porque você é um doce. — Flerta e abaixo a cabeça, buscando não me importar tanto com aquilo. — Peço perdão, não queria lhe deixar constrangida. — Imagina, não tem nada a ver com você. Como disse anteriormente, estou em uma fase "Anti-homens". — Bom, isso facilita muito as coisas para mim. É difícil ser asiático e gato no Brasil, as garotas não param de dar em cima, recebo bilhetinhos todos os dias. — Hahaha, eles têm dois quadradinhos e as perguntas "SIM ou NÃO"? — Nossa, como adivinhou? Caramba, só não peço para ler a minha mão, pois sou cristão. — Diz e dou risada, um pouco mais tímida do que esperava. Victor era cristão, com toda certeza...agora era ele, quem não iria pensar em mim como nada além, da irmã de seu colega de trabalho. — Não gosta de Cristãos? — Não, quer dizer...não tenho nada contra. São pessoas como outras qualquer, só acho que...Deus gosta de pregar peças em mim. — Forço um sorriso, passando as mãos sobre meu jeans distroyed. — Peças? Nunca ouvi ninguém falar assim sobre Deus. Posso parecer enxerido, mas, que "peças" seriam essas? — Indaga e somos interrompidos por meu irmão, que sai do quarto vestido de advogado, se posso dizer assim. — Uauu! Está incrível. Até parece alguém responsável e que merece respeito. — Zombo e os dois riem. — Agora vá logo, não quero que sejam mandados embora, antes mesmo de serem contratados. — Tudo bem. Tem certeza que consegue ficar aqui com a mamãe? Ela parece difícil hoje. — Daniel fala e me aproximo, beijando sua bochecha. — Me tire de sua mente, apenas se preocupe em fazer o seu melhor. Precisamos de dinheiro para...você sabe o que. — Refiro-me as fraldas e Daniel ri, me abraçando e caminhando até a porta. — Então...tchau, Aiki...vou pensar em um apelido para você. — Ah por favor, se fizer isto estarei em débito contigo e sua descendência para sempre! — Exclama e sorrio levemente. — Espero lhe ver novamente, senhorita Alice. — Aproxima-se, beijando levemente minha testa e segue com meu irmão, para a empresa. (Vitor Aikyo) Paramos em frente a cumprida escadaria da empresa de meu pai "Aikyo Advocacia", respiramos fundo e subimos rapidamente, passando por uma porta giratória, adentrando ao salão principal onde existe um enorme balcão arredondado, a sorridente recepcionista e três elevadores, por onde pessoas sobem e descem a todo momento. O piso é quadriculado preto e branco, as pilastras são de cor cinza com estampas pretas e telefones tocam ao nosso redor, como reféns. — Olá, boa tarde. Viemos fazer a entrevista para estagiário Junior. — Digo a mulher, que segue até o computador. Eu não iria fazer a entrevista, na verdade nunca quis trabalhar com o meu pai. — Na verdade, vou fazer para auxiliar de escritório, lembra senhor Victor? — O irmão de Alice fala com timidez. — Não se preocupe, fará para estagiário. Você está ainda mais á frente do que eu, Daniel. — Digo por fim e a mulher nos entrega dois cartões, para que possamos acessar o segundo andar. — Venham comigo, irei leva-los até a sala de espera. — Caminhamos até o elevador, onde subimos para o segundo andar. — Caramba, acho melhor eu nem tentar. — Daniel suspira, ao ver a quantidade de pessoas, que haviam dentro daquela sala. — Se pensar assim, acho que é o certo desistir. Precisa confiar em quem é e no que Deus pode fazer por você. — Tento lhe animar e o mesmo força um sorriso, sentando-se ao meu lado em uma cadeira. — Aikyo? Também está concorrendo pela vaga de estagiário Júnior? — Um dos rapazes pergunta e todos começam se aproximar, me cumprimentando. — Sei que conseguirá, você é ótimo e tem uma inteligência fora de série. — Bajulam-me. — Eu agradeço, mas não pensem que tenho algum poder sobre meu pai, sou igual a todos vocês. — Respondo e todos se afastam, voltando a se sentar. — Victor, o senhor Aikyo quer lhe ver. — Uma secretária diz e assinto, caminhando para dentro de sua sala. Meu pai está sentado na grande e estofada cadeira de chefe, com prateleiras repletas de livros atrás de si, um ótimo cenário para conferências online. — Victor, meu filho. Pensei que se atrasaria menos desta vez. — Recebe-me de forma "acolhedora". Colocaria mais aspas, porém ficaria redundante. — Olá, papai. Parece que cheguei até mais cedo, tentei atrasar, porém sabe como sou pontual de forma espontânea. — Ironizo sorrindo e o mesmo respira fundo, ajeitando seus óculos arredondados. — O senhor sabe que não irei fazer entrevista. — Não precisa mesmo, pode ficar com a vaga. Está sobrando apenas essa. — Mas, tem um monte de jovens lá fora. Não disse que haviam dez vagas? — Sim, haviam. Porém os filhos de alguns companheiros importantes precisavam de uma lição, sabe como são os jovens de hoje. — Pai, não pode fazer isso. Estes jovens que diz ter dado o trabalho, nem mesmo precisaram fazer entrevistas, imagine como os que estão aqui hoje se esforçaram para lhe dar o melhor. — Victor, o mundo não é justo. Parece viver em uma bolha ou pior, em um conto de fadas. Não se preocupe, estes rapazes que estão lá fora, fazem parte dos filhos de meus companheiros. Serão distribuídos em todas as redes. — Mas, eu tenho um amigo lá fora e ele não é filho de nenhum desembargador, magnata ou sei lá com quem você faz negócios. — Ahhh claro, agora entendi. Ainda com essa mania de querer salvar a todos e acabar com a fome no mundo. — Zomba de meu desejo em fazer o bem. — Dê a minha vaga a ele, Daniel é um rapaz inteligente e muito estudioso. Está no último ano da faculdade. — A é? De quem ele é filho? — Pergunta, procurando a ficha de Daniel. — Não importa, por que não o intrevista e tome sua decisão pela forma como ele trabalha? — Digo e o mesmo ri, ainda pensando que sou um garoto mimado. — Eu trabalho aqui e faço o que quiser. Só dê essa chance ao rapaz. — Falo por fim. Meu pai olha para mim por alguns segundos e suspira, respondendo: — Tudo bem, vou entrevista-lo. Mas você terá que começar de baixo, como auxiliar de escritório e quem sabe, um dia possa crescer. — Sim senhor, posso fazer isto. — Sorrio, seguindo para a sala de espera. Não havia saído totalmente do jeito que pensei, mas, pelo menos Daniel teria a oportunidade de conseguir um bom emprego e assim cuidar de Alice e sua mãe. (Alice Durant) — Alice, podemos conversar? — Mamãe surge na porta de meu quarto, enquanto tento ajeitar as roupas em uma cômoda que ali havia. — Gostaria de poder evitar, se possível. — Respondo, rispidamente. A mulher força um sorriso, passando pela porta e se sentando em minha cama. — Daniel me contou, que está grávida. — Sorri gentilmente e respiro fundo, olhando a mesma rapidamente. — Estou feliz, espero que tenha encontrado a pessoa certa. — Infelizmente, sou igual ao meu pai, quando se refere a gostar das pessoas, um dedo bem podre. — Digo irritando-me com aquela situação. — Alice, ainda guarda tanto ódio por mim. Por quê? — Questiona e acabo rindo, lhe fazendo me olhar sem entender. Seus olhos eram fundos e tristes. — Sabe, eu passei os primeiros cinco anos perguntando ao papai, por que a mamãe não tinha vindo conosco...mas, o tempo passou e chegou um momento, que não perguntei mais. — Me perdoa, eu juro que tentei de todas as formas parar com a bebida naquela época, mas, tudo desmoronou quando Remy disse que não me amava mais. — Então, decidiu que seus filhos não importavam também? Por sua causa, Daniel e eu nos afastamos, mudei para um país onde era lembrada todos os dias que não fazia parte de lá, como posso lhe perdoar? — Eu sinto muito, Alice. Nunca quis lhe ferir ou machucar o Remy, amava o seu pai como nunca amei e amarei ninguém em minha vida. — Como posso acreditar? Volto para cá depois de doze anos e continua do mesmo jeito, uma bêbada sem perspectiva de vida! — Grito e a mesma se assusta, começando a chorar. — Estela, eu... — Tento corrigir minhas palavras e a mulher segue para fora, deixando-me ali sozinha. — Só faço m***a! — Exclamo, deixando as roupas ali e saindo para caminhar um pouco. O dia se findou e a noite surgiu, junto dela uma chuva forte que deixavam-me encharcada por completo. Tenho questionado o universo de como ainda estou viva, qual o propósito e para que? Parece que onde toco ou falo, desmorona e deixa corpos em meu caminho. Sou como uma bomba de tinta, prestes a explodir e marcar todos ao meu redor. — Me diz, o que queres de mim?!!! — Esbavejo rodando pela avenida, onde passam carros há poucos centímetros de mim. Uma buzina estronda em meu ouvido, fazendo com que eu caia dentro de uma poça.
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