Sofia acabou adormecendo no meio do filme e precisou esperar que os pais de Victor fossem para o quarto para poder voltar para a sua casa. Por consequência, chegou ao seu destino beirando as três da manhã e mesmo girando a maçaneta com cuidado e pisando cautelosamente na ponta dos pés, foi surpreendida por uma luz que acendeu repentinamente.
- Aonde esteve?- Perguntou Pamela, com os braços cruzados.
- Mãe, eu...-
Sofia abriu e fechou a boca várias vezes, mas a voz não saía.
- Acha que não percebi a sua ausência depois do jantar?-
- Eu vi o carro do Victor lá embaixo.- Pontuou Francisco.
Sofia olhou de cara feia para o irmão caçula.
- Mamãe teve filhos demais.- Ela resmungou
- Onde esteve, Sofia?-
- Na casa da Jade.- Sofia encolheu os ombros.
- Mas a Jade estava aqui.- Interferiu Francisco.
Pamela fuzilou o menino com os olhos.
- Volte para a cama, isso não são horas de criança estar acordada.-
Francisco subiu os degraus batendo os pés, resmungando alto incoerente.
Pamela voltou a olhar uma de suas filhas, com a sobrancelha erguida e os braços cruzados.
- Estou esperando a sua explicação.-
- Fui assistir filme com o Victor e acabei dormindo. Não queria que os pais dele me vissem e pensassem que fizemos algo errado, então esperei que fossem para o quarto.
- A Mirela e o Breno te viram nascer, Sofia. Jamais te tratariam mal.-
- Mãe, eu sei.-
- O Victor pode estar respeitando o seu tempo, mas ele só quer uma coisa de você, Sofia.-
- Eu gosto dele desde o primeiro ano, mãe... E eu acho bom que... Bem... Eu gosto que ele preste atenção em mim.-
- Eu sei como funciona... Mas se valorize antes de tudo, e não queira estar com alguém que só te enxerga pela sua beleza. Não que o Victor seja um m*l menino... Mas ainda é imaturo demais.
- Eu já tenho dezenove anos, mãe. Eu sei me cuidar e sei o que devo fazer.-
- Se quiser sair com ele, saia... Mas não faça nada escondida a ponto de perder a minha confiança e a do seu pai.-
Pamela acariciou os cabelos da filha, deixando um beijo em sua testa.
- Agora vamos dormir um pouco, precisamos descansar.-
...
Na manhã seguinte, quando a claridade do sol invadiu as frestas da cortina da janela de Laura as oito horas da manhã, ela abriu preguiçosamente os seus olhos, encontrando o seu amigo ainda adormecido ao seu lado. Rafael tinha o sono extremamente pesado, e acordá-lo não era uma tarefa tão fácil. Ela soprou o ar próximo as suas pestanas longas e escuras, que apenas se moveram suavemente, mas sem revelar o verde intenso da cor de seus olhos. Laura respirou fundo enquanto pensava em outra alternativa, e logo lhe ocorreu que poderia usar a ponta de uma das suas fronhas para fazer cócegas no nariz de Rafael.
O espirro alto dado pelo rapaz quando Laura encostou a fronha em seu nariz o fez acordar um pouco atordoado, e ela não evitou achar graça da situação.
- Já está quase na hora do almoço.-
Rafael pulou da cama ao achar que em breve daria meio dia, mas ao conferir a hora em seu relógio viu que passava poucos minutos das oito da manhã.
Ele olhou para ela com uma carranca.
- Você precisava de estímulo.- Laura deu de ombros, também ficando de pé.
Um barulho intenso que veio do andar debaixo chamou á atenção dos dois, ao que parecia era alguma confusão entre Alice e Francisco.
Laura e Rafael se entreolharam antes de descerem as escadas, encontrando Alice agarrada á gola da camisa de Francisco, que tinha quebrado um dos enfeites de sala de sua mãe ao correr ao redor dos móveis para fugir da irmã.
- Socorro!- Gritou Francisco.
- Mas que diabos... Eu nunca consigo trabalhar em casa.- Resmungou Léo, se levantando do sofá.- O que houve dessa vez?-
- A Alice quer me bater!-
Léo respirou fundo, demonstrando impaciência.
- Ele colocou o meu número em um aplicativo de vendas! Eu não paro de receber mensagens.-
- Não fui eu! Não pode me acusar sem nenhuma evidência.-
- Todo mundo sabe que é você!- Alice fechou o punho para acertá-lo em seu irmão caçula, mas Léo separou os dois antes de que continuassem com as agressões físicas.
- Não fui eu!-
- Foi!- Insistiu Alice.
Laura comprimiu os lábios para abafar uma risada, e Rafael fez o mesmo.
- Se não acontecesse alguma discussão entre Alice e Francisco não seria um dia comum na sua casa.- Brincou Rafael.
- Não mesmo.- Concordou Laura.- Vamos comer?-
- Estou faminto.-
- Você sempre está.- Laura o empurrou de leve para o lado, e ele a empurrou de volta.
...
Depois do desjejum, Laura e Rafael pedalaram ao ar livre pela extensa área verde do condomínio. Eles pararam á beira de um lago que tinha ali próximo, para se refrescarem, e devido ao calor, Laura mergulhou os dois pés na água fria. Rafael também mergulhou os pés, roçando o solado de um deles sobre a perna de Laura, que estava descoberta, no intuito de lhe fazer cócegas.
- Acho que hoje, no time de vôlei, só teremos nós dois de jogadores.-Falou Laura.
- Duvido que nossos amigos troquem umas horas a mais de sono. Estão aproveitando para descansar.-
- Tem a festa do Max, não é? Todos estavam esperando por ela.- Laura joga um pouco de água na direção de Rafael.
O rapaz olhou para as ondulações azuis emitidas logo abaixo dos pés de sua amiga, e a olhou com um certo quê de malícia.
- O dia está quente demais hoje, não acha?-
- Ah, eu acho. m*l estou conseguindo...-
Rafael não esperou Laura terminar de falar, ele logo a empurrou para dentro da água.
- Peste!- Ela gritou indignada, ao vê-lo gargalhar.
Ele se divertiu com a expressão de susto no rosto de Laura, e achava ainda mais engraçado o fato de que agora ela tentava puxá-lo para dentro da água.
Apesar da força de Rafael ser superior a sua - o que causou uma resistência bem maior para que Laura pudesse concluir o seu objetivo-, o rapaz escorregou e caiu por cima da garota.
Laura explodiu em uma intensa risada extravagante ao ver a preocupação estampada no rosto de seu amigo por achar que a tinha machucado. Ao contrário dela, Rafael continuava com a linha da boca rígida, e Laura percebeu a medida que a sua respiração ofegante foi se regularizando, que ele não se divertiu com a situação. Os s***s da garota subiam e desciam devido ao tamanho da exasperação, e Rafael não evitou observá-los enquanto se moviam.
Ele sentiu vontade de tomar cada um daqueles contornos bem desenhados com as mãos e em seguida fazer o mesmo com a boca.
Laura sentiu o hálito quente de Rafael soprar contra o seu rosto quando ele abriu a boca para falar algo, e foi aí que percebeu que eles estavam assustadoramente próximos demais. Ela afastou uma das mechas escuras e onduladas que caiam sobre o rosto meio pálido do rapaz, prestando atenção na curva avantajada do lábio inferior masculino quando desceu os olhos para aquele ponto específico.
Ela estremeceu ao pensar em como a boca de Rafael parecia macia.
Ela quis passar os dedos para conferir a textura de sua pele.
Ela queria passear com a língua apenas naquela curva tão tentadora.
Ela queria mordê-la, sugá-la com os próprios lábios e descobrir o sabor que tinha.
Pela primeira vez na vida, uma coisa incrivelmente estranha aconteceu.
Laura queria beijá-lo.